segunda-feira, 9 set 2019
Os temores em relação à inteligência artificial, à automação
e aos robôs estão por
todos os lados.
Um dos redutos favoritos é a Amazon.com, onde vários
livros — como Os
robôs e o futuro do emprego, de Martin Ford — preveem o fim do
trabalho. Tais livros seguem um caminho já bem conhecido. Vinte e dois anos
atrás, Jeremy Rifkin escreveu The End
of Work. Por ironia, quase que imediatamente, o mundo entrou em um dos
maiores períodos de criação de emprego na história.
O fim do trabalho é algo que jamais temos de temer. E
por uma questão de lógica: a necessidade de trabalhar e produzir bens e serviços
só se esgotará quando não houver absolutamente mais nada que queremos e
desejamos.
Trabalhos são apenas coisas que fazemos
Trabalhos são apenas tarefas que realizamos com o
objetivo de produzir
e obter as coisas que desejamos.
Nós nunca acabaremos com
nossos desejos de consumidor, não importa quantos robôs
ou outras tecnologias criemos.
Quando as tecnologias se encarregam de saciar algumas
de nossas necessidades, isso significa que elas estão nos liberando do ônus de
ter de trabalhar para produzir aquilo. Consequentemente, elas estão nos dando a
oportunidade de irmos
buscar outras atividades que nos dão mais prazer e satisfação — uma
oportunidade que deveríamos agarrar com avidez.
Grande parte da angústia em relação à tecnologia
parece ser em relação à expectativa de vida dos empregos que existem atualmente.
Mas eis o fato: o objetivo jamais deve ser o de preservar os empregos que existem
hoje. Não foi assim que a humanidade evoluiu, prosperou e enriqueceu. Nós não evoluímos
protegendo empregos obsoletos e maçantes, mas sim acabando com eles e, em seu
lugar, criando novos empregos mais modernos, em linha com as demandas dos
consumidores.
Assim, o objetivo de uma sociedade que quer
prosperar e enriquecer tem de ser o de criar os trabalhos que serão realmente
necessários no futuro.
São inúmeras as pessoas que parecem querer, de
alguma forma, combinar empregos dos anos 1950 com um estilo de vida do século XXI.
Mas a razão pela qual desfrutamos do padrão de vida que usufruímos hoje é
porque efetuamos os trabalhos de hoje, e não aqueles da década de 1950. Para
ser mais preciso, realizamos os trabalhos que fazemos hoje para produzir os
bens e serviços que queremos e desejamos hoje,
e não aqueles que desejávamos no passado.
Eis uma realidade que muitos se recusam a aceitar: a
maneira como as pessoas ganham dinheiro depende diretamente da maneira como
elas gastam dinheiro. Não adianta você querer ganhar dinheiro fabricando
máquinas de escrever se as pessoas querem gastar dinheiro comprando
computadores.
Por isso, à medida que progredimos, iremos continuar
renunciando a alguns
empregos e criando outros, adaptando nosso trabalho (a maneira como
ganhamos a vida) a como queremos viver e ao que as tecnologias podem fazer por
nós.
Na década de 1860, mais da metade das pessoas ainda trabalhava
no campo. Desde então, a mecanização da colheita, a criação do milho híbrido, a
automação do processo de produção de ovos e outras tecnologias para reforçar a
produtividade agrícola eliminaram os empregos de muitas pessoas. Mas essa mecanização
da agricultura não eliminou a lista — em constante expansão — de tudo aquilo que
as pessoas desejem além de alimentos. Nem de longe.
Hoje, apenas 2% da população vive no
campo. No século XVIII, ninguém acreditava que isso seria possível. E não
apenas esses 98% não estão morrendo de fome, como estão prosperando — levando
vidas melhores, trabalhando em empregos mais confortáveis e, em alguns casos,
até mesmo lutando contra a obesidade por causa do excesso de comida disponível.
Ao liberar mão-de-obra, as tecnologias agrícolas nos
deram a oportunidade de nos concentrarmos em satisfazer outras necessidades. Ao
mesmo tempo em que ainda existiam dezenas de milhões de agricultores, havia
apenas dezenas de milhares de médicos. Hoje, há mais de 10 vezes mais; centenas
de milhares de médicos. Não seria possível haver esse tanto de médicos se as
pessoas ainda estivessem amarradas ao trabalho no campo, tendo de trabalhar manualmente
para produzir a comida de que necessitam para viver.
Abolindo
trabalho e criando empregos
Quando as tecnologias eliminam alguns trabalhos, é
como se estivéssemos riscando alguns itens da nossa lista de tarefas. Quando
fazemos isso, não nos acomodamos e ficamos ociosos, sem fazer nada; partirmos em
busca de outras atividades que irão produzir outros bens e serviços que ainda
estamos demandando.
Quando as tecnologias eliminam algumas tarefas, isso
nos dá a oportunidade de ampliarmos nossos horizontes. Por exemplo, em 1900,
nos EUA, cerca de uma em cada vinte pessoas na força de trabalho era empregada
por uma ferrovia. A invenção do automóvel e do avião liberou muita dessa mão-de-obra
– e, consequentemente, liberou o mundo para ir buscar novos desejos e
necessidades. Hoje, quase um em cada vinte americanos é um engenheiro ou
cientista, de acordo com o Congressional Research Service.
Se 5% da força de trabalho — cerca de oito milhões
de pessoas hoje — ainda fossem empregadas pelas ferrovias (como eram em 1900),
talvez não houvesse pessoas suficientes para produzir todos os avanços
tecnológicos que a engenharia e a ciência geram.
Quando as tecnologias eliminam empregos, elas
geralmente criam outros novos. Nos tempos mais recentes, vimos novas
tecnologias visível e rapidamente remodelando o mercado de trabalho. Por causa
da internet, não precisamos mais de tantos agentes de viagens, funcionários de
livrarias e de lojas. Em vez disso, precisamos de desenvolvedores de
aplicativos e de sites online.
Devido ao streaming de vídeo e aos
canais de filmes digitais, não precisamos mais de dezenas de milhares de
funcionários de locadoras. Consequentemente, temos mais pessoas disponíveis
para realizar serviços de cuidados pessoais, fornecer suporte técnico por
telefone e trabalhar em centros de atendimento a clientes de empresas online.
Quando as tecnologias eliminam empregos em um lugar,
elas geralmente os geram em outros lugares. Os caixas eletrônicos diminuíram a
necessidade de caixas bancários nas agências. E aí, dado que menos pessoas são
necessárias na equipe de uma agência, os bancos podem abrir mais agências em
áreas menos populosas.
Regozije-se
Desde o início do capitalismo moderno, estamos
constantemente envolvidos em um processo de substituição de uma tecnologia por
outra. Mas não olhamos para o passado com tristeza e saudade dos empregos que
perdemos — tais como limpadores de chaminés, entregadores de leite e cortadores
(e
entregadores) de gelo.
Em vez disso, já aceitamos como naturais as
conveniências de que desfrutamos. E é por causa delas que temos hoje os nossos
empregos.
Querer que a mecanização, a automação e a robótica
sejam bloqueadas e que toda a economia seja engessada e impedida de progredir
simplesmente porque "as pessoas perderão seus empregos" é um recurso
meramente emocional, sem qualquer base na lógica. Nenhuma economia rica se
desenvolveu "protegendo empregos", pois a destruição de empregos obsoletos
representa o próprio sinal do progresso.
Há vários empregos que existem hoje e que nem sequer
eram imaginados há 10 anos. E vários empregos que existiam há 10 anos não mais
existem hoje. E a maioria dos empregos que existirá no futuro ainda não existe
hoje. Querer frear esse progresso em nome da proteção de alguns empregos é
uma atitude que, caso tivesse sido seguida lá atrás, faria com que ainda hoje
estivéssemos vivendo no campo e com uma enxada na mão.
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