Economia
A automação de empregos: é assim que uma sociedade progride
Uma sociedade rica e avançada não é aquela que “protege empregos”
A automação de empregos: é assim que uma sociedade progride
Uma sociedade rica e avançada não é aquela que “protege empregos”
Analistas gostam de discutir a automação de empregos recorrendo a cenários apocalípticos. Da maneira como eles falam, parece que os robôs e as máquinas se erguerão dos oceanos como um Godzilla, causando destruição em massa em uma Tóquio formada por empregos estáveis, deixando apenas caos e destruição em seu rastro.
De acordo com dados da consultoria PWC, até 2030, 38% dos empregos nos EUA serão automatizados. Mas há estudos universitários garantindo que simplesmente a metade de todos os empregos americanos será substituída pela automação.
Em comum, todas essas profecias apresentam a mesma falha: ignoram que a automação e o aumento de produtividade gerado por ela não têm nada de novo. Desde as máquinas que retiravam os caroços do algodão até o computador, a automação vem ocorrendo há séculos.
Considere a maneira como a automação aperfeiçoou a indústria extrativa ao longo dos últimos 100 anos. Quando não havia máquinas, os homens eram obrigados a se rastejar ao longo de passagens instáveis abertas nas minas e escavar as rochas utilizando ferramentas primitivas. Simultaneamente, tinham de estar continuamente alertas ao sempre presente perigo da intoxicação por gases e, principalmente, do risco de desmoronamentos.
Não apenas essa maneira de trabalhar era péssima para a saúde dos trabalhadores, como também representava um uso extremamente ineficiente da habilidosa mão-de-obra humana.
Já quando as máquinas passaram a fazer todo o serviço pesado, a sociedade se mostrou capaz de direcionar recursos escassos para a construção, o serviço e a manutenção deste maquinário.
Hoje, são poucas as pessoas que ainda fazem esse trabalho físico intenso e extenuante. E esse avanço é celebrado, e não lamentado. Ao permitir que as máquinas lidem com as tarefas mais maçantes e tediosas -- e, em muitos casos, mais perigosas --, as pessoas foram liberadas para usar sua mão-de-obra em atividades mais eficientes, efetivas e, acima de tudo, mais gratificantes.
Os críticos da automação sempre ignoram esse ponto. Ninguém trabalha apenas por trabalhar. O trabalho não é um fim em si mesmo. As pessoas trabalham para criar valor, o que em troca lhes garante um salário que os ajuda a sustentar suas famílias. Houve uma época em que praticamente todos os seres humanos tinham de trabalhar no campo -- querendo ou não -- apenas para sobreviver. A tecnologia acabou com a necessidade de utilizar seres humanos para fazer trabalhos agrícolas pesados, e os liberou para ir buscar outras vocações fora do campo. Foi assim que começou nosso processo de enriquecimento e de melhora no padrão de vida.
A automação, ao libertar o ser humano da necessidade de fazer trabalho físico extenuante e monótono, efetivamente o libera para se aventurar em novos empreendimentos mais prazerosos e produtivos, abrindo as portas para novos esforços e atividades que irão elevar nossa espécie a façanhas mais altas. Apenas pense: se, ao final do dia, todos estivessem exaustos por causa de seu trabalho físico no campo, ninguém teria tido o tempo necessário para inventar o trator. Felizmente, já tinha havido alguma mecanização à época, o que liberou alguns indivíduos do fardo do trabalho pesado, permitindo que eles então pudessem se dedicar à invenção do trator.
E como o mundo melhorou por causa disso.
Mas é claro que haverá dor
Se há algo que a história mostra é que a inovação, em si mesma, é a grande criadora de novas formas de trabalho. Apenas pense na internet. Vinte e três anos atrás, a maioria de nós praticamente desconsiderava essa invenção; hoje, em 2018, milhões de pessoas ao redor do globo têm um emprego que está diretamente relacionado a isso que era irrelevante em 1995. E milhões mais têm um emprego relacionado ao crescimento da internet.
Assim como as gerações passadas abandonaram as minas em troca de profissões e carreiras melhores e mais satisfatórias, os trabalhadores modernos cujos empregos serão afetados pela automação verão seu papel na sociedade evoluir em vez de desaparecer.
Mas essa transição, obviamente, não será indolor.
Durante qualquer período de transição, as pessoas perdem seus empregos, sofrem e lutam para conseguir novos trabalhos. Essa é a história da humanidade.
Há aqueles que se recusam a aprender novas habilidades, que não querem se mudar para uma nova área, ou que não possuem as habilidades necessárias para prosperar neste novo ambiente. No entanto, de uma perspectiva geral, esses problemas -- embora significativos para aqueles afetados por eles -- são apenas temporários.
Querer que a automação seja bloqueada e que toda a economia seja engessada e impedida de progredir simplesmente porque "as pessoas perderão seus empregos" é um recurso meramente emocional, sem qualquer base na lógica. Nenhuma economia rica se desenvolveu "protegendo empregos", pois a destruição de empregos obsoletos representa o próprio sinal do progresso.
Se a ideia de "proteger empregos" houvesse prosperado lá atrás, não haveria nem carros (que acabaram com empregos na indústria de carroças), nem tratores (que acabaram com empregos manuais na agricultura), nem computadores (que não só acabaram com empregos na indústria de máquinas de escrever, como provavelmente destruíram mais empregos do que qualquer outra inovação tecnológica na história da humanidade), nem luz elétrica (que acabou com empregos na indústria de velas), nem smartphones (que a acabou com a indústria de telefones fixos e de celulares obsoletos) nem praticamente nada de moderno que existe hoje.
À medida que a automação foi seguidamente mudando o mundo, a sociedade sempre foi descobrindo novas aplicações para a mão-de-obra que foi demitida. A invenção da roda certamente desempregou vários homens especializados em carregar cargas, bem como homens especializados em cuidar dos cavalos que faziam o transporte de carga. E o que eles fizeram? Provavelmente se tornaram condutores de carroças repletas de produtos para as cidades, as quais se tornaram pujantes por causa da profunda melhoria ocorrida na cadeia de suprimentos em decorrência da criação da roda.
Hoje, apenas 2% da população vive no campo. No século XVIII, ninguém acreditava que isso seria possível. E não apenas esses 98% não estão morrendo de fome, como estão prosperando -- levando vidas melhores, trabalhando em empregos mais confortáveis e, em alguns casos, até mesmo lutando contra a obesidade por causa do excesso de comida disponível.
As pessoas demonstravam a mesma preocupação em relação à máquina a vapor que demonstram hoje em relação aos computadores e à inteligência artificial: "Desta vez é diferente! É verdade que já fizemos outras transições antes, mas nunca algo desse tipo!".
Mas a única coisa que é diferente na automação moderna é o uso de software para realizar a mudança. No passado, apenas o hardware nos libertou das tarefas pesadas. Repentinamente, o software se tornou capaz de impulsionar o hardware e produzir resultados exponencialmente maiores. Esse novo componente não acrescenta nada de fundamentalmente diferente à equação -- todos os avanços são criados por humanos e servirão às necessidades dos humanos.
Uma questão de economia básica
Se passamos a utilizar menos mão-de-obra e menos recursos em um determinado processo produtivo, essa mão-de-obra liberada e esses recursos poupados estarão livres para ser utilizados em outros processos de produção, em novas idéias e em novos empreendimentos.
Investidores -- cujo capital cria empresas e empregos -- são atraídos por lucros. Se os processos produtivos atuais forem automatizados, e com isso pouparem mão-de-obra e reduzirem custos operacionais, essa automação irá gerar lucros maciços, os quais poderão ser direcionados e investidos nas empresas e nas ideias do futuro.
Essa realidade é frequentemente ignorada por economistas, políticas e comentaristas. A robótica gera eficiências que aumentam os lucros, e isso permitirá um enorme surto de investimentos, os quais nos brindarão com todos os tipos de novas empresas e de avanços tecnológicos que criarão novos tipos de empregos hoje inimagináveis.
Há vários empregos que existem hoje e que nem sequer eram imaginados há 10 anos. E vários empregos que existiam há 10 anos não mais existem hoje. E a maioria dos empregos que existirá no futuro ainda não existe hoje. Querer frear esse progresso em nome da proteção de alguns empregos é uma atitude que, caso tivesse sido seguida lá atrás, faria com que ainda hoje estivéssemos vivendo no campo e com uma enxada na mão.
O recurso mais valioso de todos
A engenhosidade humana é algo que sempre foi de baixa oferta e alta demanda. Acrescente a isso o fato de que os desejos e necessidades da humanidade são insaciáveis, e você verá que sempre serão necessários trabalhadores para realizar esses serviços e saciar essa demanda.
Empreendedores não podem inovar em um vácuo. Eles necessitam de recursos (inclusive um time formado por outros humanos) para criar coisas novas. Seja um comércio online ou um restaurante, cada novo empreendimento exige instalações, insumos e empregados. Se esses empregados estiverem ocupados trabalhando em outras profissões, novos empreendimentos não poderão ser efetivados.
Aquele recurso mais valioso de todos, a engenhosidade humana (trabalho), tem de ser distribuído de maneira eficiente, sendo direcionado às causas que forneçam o melhor retorno para o investimento. À medida que a automação aumenta a produtividade, o padrão de vida da sociedade aumenta, pois agora há mais bens e serviços disponíveis (quanto maior a quantidade e a diversidade de bens e serviços ofertados, maior será o padrão de vida da população). Com um maior padrão de vida permitido pela automação, as pessoas poderão se dedicar a novas idéias. Assim, maiores serão as oportunidades de empreendedores criarem coisas novas. E, consequentemente, maiores serão as oportunidades de os trabalhadores assumirem funções mais produtivas.
Conclusão
Como é da natureza de todas as mudanças revolucionárias, é praticamente impossível prever os empregos que a nova tecnologia irá criar. Várias pessoas perderão seus empregos à medida que a automação irá tornar alguns postos de trabalho desnecessários. Mas essas mesmas pessoas estarão agora disponíveis para ajudar a criar os empregos do futuro. Os operadores de carroças, ao verem passar uma locomotiva impulsionada por um motor a vapor, podem ter pensado que estavam destinados à mendicância, mas jamais imaginariam que eles se tornariam os maquinistas, os engenheiros das estações e os planejadores de rotas.
As necessidades do futuro só se tornam aparentes quando a mudança já está completa; e, quando isso ocorre, elas parecem bastante óbvias.
O fato é que empreendedores sempre estarão ávidos para iniciar novos empreendimentos. Se eles terão o capital humano necessário para buscar seus sonhos é algo que irá depender de como a automação irá liberar trabalhadores de empregos maçantes e sem perspectivas.
Não, a transição não será nem rápida, nem confortável e nem fácil para os trabalhadores. Entretanto, os resultados serão extremamente benéficos -- como foram até hoje.
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