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Economia

A automação irá nos empobrecer? Muito pelo contrário

Quais são as boas notícias que não estão lhe contando

10/01/2017

A automação irá nos empobrecer? Muito pelo contrário

Quais são as boas notícias que não estão lhe contando

A crescente automação em vários setores da economia se transformou em uma grande preocupação nos últimos anos. Com os algoritmos dos computadores se tornando cada vez mais sofisticados, as máquinas estão se tornando cada vez mais capacitadas para realizar trabalhos que são o ganha-pão de várias pessoas.

Carros sem motorista já estão, há um bom tempo, sendo testados nas estradas americanas e européias. Embora ainda não estejam disponíveis comercialmente, é apenas uma questão de tempo para que o sejam. Quando isso acontecer, eles irão substituir não apenas os taxistas, como também as pessoas que hoje trabalham para empresas como Uber e Lyft. Afinal, se os empregadores puderem remover os gastos relacionados ao pagamento de motoristas, eles poderão fornecer seus serviços a preços muito menores. Simultaneamente, ainda conseguirão reter um maior lucro líquido.

Veículos automatizados (e autônomos) também irão substituir caminhoneiros.

Mas não é só nessa área que a automação irá sacudir o mercado de trabalho. Nos países mais ricos, já vemos a integração de várias máquinas de auto-atendimento nas grandes redes de supermercado, substituindo os caixas humanos. Mesmo restaurantes fast-foods estão adotando essa tendência. O McDonald's atualmente possui quiosques em várias localidades que permitem aos clientes pedir e receber sua comida sem qualquer interação humana. As redes Carl's Jr. e Hardees também já anunciaram que irão testar quiosques automatizados em seus estabelecimentos.

Ainda em 2012, uma startup de robótica chamada Momentum Machines apresentou um protótipo de uma máquina totalmente autônoma que recebe os pedidos dos clientes, cozinha a carne, fatia os vegetais, monta o hambúrguer, embala-o, e entrega ao cliente. Esta máquina se mostrou capaz de preparar 400 hambúrgueres em uma hora. A empresa já comprou um prédio na cidade de San Francisco e pretende inaugurar um restaurante totalmente autônomo em breve. Tal restaurante ainda irá necessitar de alguns poucos humanos, que terão as funções de garantir que as máquinas funcionem harmoniosamente, retirar o dinheiro das máquinas e efetuar outras tarefas menores.

Obviamente, caso essa hamburgueria automatizada se comprove lucrativa, é de se esperar que as grandes cadeias sigam essa tendência.

A pergunta que está na cabeça de várias pessoas é: se as máquinas podem conduzir as pessoas em carros e processar pedidos e fazer sanduíches, o que ocorrerá com os milhões de indivíduos que atualmente estão empregados nessas profissões?

Os mercados mudam -- e isso vem ocorrendo desde o surgimento dos mercados

Mas o fato é que essas tendências, embora surpreendentes, realmente não têm nada de novo. O mundo se desenvolveu e enriqueceu exatamente dessa maneira.

As impressoras eliminaram a necessidades de escribas (pessoas que literalmente tinham de escrever a mesma coisa várias vezes para assim difundir uma obra). E, mais recentemente, a mídia online reduziu a necessidade de impressoras (hoje, você mesmo pode publicar seu livro online, sem ter de recorrer a editoras).

As máquinas de venda automática -- tanto para tickets quanto para cervejas, refrigerantes e guloseimas -- já substituíram os vendedores humanos há muito tempo. E não nos esqueçamos de que ascensoristas eram extremamente comuns no passado, pois apenas eles sabiam como operar um elevador.

Voltando ainda mais no tempo: no passado, a maioria das pessoas trabalhava no campo. A automação acabou com 99% desses empregos. Literalmente, 99%. Eles não existem mais. O trator substituiu o arado e a enxada.

A criação do automóvel e do caminhão tornou obsoleto todo o setor de transporte manual, em que cargas eram carregadas nas costas por vários trabalhadores. Já o computador provavelmente destruiu mais empregos do que qualquer outra inovação tecnológica na história da humanidade, com a possível exceção do automóvel.  Por sua vez, a eletricidade destruiu um sem-número de empregos na indústria de velas e na indústria de carvão. 

Ao mesmo tempo, todas essas invenções destruidoras de empregos acabaram criando outros novos empregos que até então ninguém jamais havia imaginado serem possíveis.

Quem gostaria de voltar a viver em um mundo sem carros, computadores, internet e eletricidade, considerando todos os empregos que tais invenções destruíram? Quem gostaria de voltar a viver em um mundo em que praticamente todos os seres humanos tinham de trabalhar exaustivamente no campo -- querendo ou não -- apenas para sobreviver? 

Hoje, ninguém se queixa de nenhuma dessas invenções. Ninguém se queixa da falta de empregos para escribas, para ascensoristas, e para operários em fábricas de carroça e de máquinas de escrever. Sabemos que esses empregos desapareceram porque tais tarefas podem hoje ser efetuadas muito mais econômica e rapidamente por outros meios.

O mesmo continua ocorrendo hoje, só com que outros empregos.

Outro fato digno de menção é que a automação cria luxos com os quais a humanidade jamais havia sonhado. Mais ainda: ela nos entrega serviços que jamais sequer sabíamos que queríamos. Por exemplo, antes de inventarmos os automóveis, o ar condicionado, as televisões de tela plana e o cinema, ninguém que vivia na Roma antiga sonhava com a possibilidade de assistir a filmes em um televisor de tela plana enquanto se locomoviam para Atenas dentro de um veículo confortável e climatizado.

Adicionalmente, a automação nos possibilitou empregos com os quais jamais havíamos sonhado. A industrialização e suas máquinas fizeram mais do que apenas aumentar nossa expectativa de vida. Ao libertar a humanidade da necessidade de efetuar trabalhos pesados, maçantes, brutos e monótonos, ela levou uma grande fatia da população a decidir que humanos foram feitos para ser músicos, filósofos, bailarinos, matemáticos, atletas, artistas, designers de moda, professores de ioga, escritores de romances e, hoje, pessoas com profissões mais "exóticas", como YouTuber, Instagramer, jogador profissional de videogame etc.

O mesmo é válido para a atual tendência da automação. No futuro, olharemos para o passado (hoje) e teremos vergonha do fato de que seres humanos eram utilizados para fazer determinados tipos de trabalho braçal, monótono e intelectualmente desestimulante.

Reduzindo o custo de vida

Em economias livres e dinâmicas, os empreendedores estão continuamente se esforçando para implantar inovações que os tornem mais eficientes e, consequentemente, mais lucrativos e mais preparados para agradar os consumidores. Uma maior automação apenas intensificará esse processo.

Isso, no entanto, leva a um questionamento bastante comum: sim, é fato que todas essas inovações permitidas pela automação irão criar empregos para as pessoas mais capacitadas e qualificadas, como os engenheiros que constroem essas máquinas, os programadores e cientistas da computação que irão desenvolver os algoritmos para essa máquinas, e os profissionais da Tecnologia da Informação, que irão lidar com os problemas de software e de hardware sempre que estes ocorrerem.

Mas e os trabalhadores pouco qualificados? É certo que nem todo mundo tem o privilégio (ou o tempo, dado que várias famílias são obrigadas a ter vários empregos para pagar suas contas) de se tornar criadores, codificadores e reparadores de máquinas.

E mesmo que absolutamente cada empregado das redes de fast-food, cada taxista e cada caminhoneiro adquirisse uma nova habilidade, isso faria com que os outros mercados se tornassem saturados de mão-de-obra qualificada à procura de um novo emprego.

O que fazer?

Com o efeito, a resposta está à nossa volta: o benefício da automação, hoje e sempre, é o de reduzir o custo de vida (os preços relacionados à tecnologia estão ou em queda ou estáveis) e o de fazer com que todo e qualquer trabalho seja mais produtivo (salários maiores em termos reais).  

Analisando o que ocorreu ao longo das últimas décadas com itens como tecnologia, alimentação e vestuário, veremos que houve uma queda dramática nos preços -- quando mensurados em termos de horas de trabalho necessárias para se adquirir a mesma quantidade de cada item -- e uma sensível melhora na qualidade dos produtos. 

Isso, aliás, vem ocorrendo desde a invenção da roda e de todas as outras máquinas que reduzem a necessidade de esforço físico.

Isso, no entanto, leva a outra objeção: de nada adianta haver bens mais abundantes e baratos se ninguém tiver emprego (e renda) para comprá-los. Qual a resposta?

Nada muda. O cenário mais realista é o de que, com os preços em queda (como já estão nos países de economia estável), serão necessários menos empregos e menos horas de trabalho para se manter uma família.

Isso, aliás, foi exatamente o que ocorreu ao longo do século XX, quando a jornada de trabalho foi continuamente reduzida -- graças aos avanços tecnológicos e à acumulação de capital -- e os trabalhadores passaram a trabalhar cada vez menos. Simultaneamente, o padrão de vida subiu continuamente.

Para fazer esse exercício de previsão, todos os fatos têm de ser considerados: a inovação nos negócios poderá acabar com empregos obsoletos; porém, com a maior eficiência permitida pela automação, bens e serviços custarão cada vez menos.

Peguemos, por exemplo, os carros autônomos. Embora seja de se lamentar que eles irão gerar um desemprego temporário para vários motoristas profissionais, a queda nos preços do transporte serão uma dádiva para todo o resto da humanidade.

Isso poderá ser especialmente benéfico para várias famílias de baixa renda, que gastam uma grande fatia de sua renda mensal com manutenção, seguro, combustível e impostos de seu carro. E as que nem sequer têm carro, vêem seu salário descontado por causa do vale-transporte. Para todas essas pessoas, não apenas ter um carro passará a ser desnecessário, como também os gastos com transporte serão cada vez menores. Elas agora poderão usar automóveis esporadicamente -- como muito já fazem ao recorrer ao Uber --, e a preços irrisórios. Isso terá um efeito excepcional sobre a sua renda.

Com efeito, várias famílias já relataram que não têm como pagar caso seu carro necessite de um serviço de manutenção de emergência [no Brasil, é ainda pior]. Consequentemente, para muitas famílias, a possibilidade de seu carro estragar representa um assustador risco econômico. Por outro lado, o surgimento de transportes autônomos em larga escala irá reduzir acentuadamente este risco para o orçamento das famílias.

Muitas outras famílias também irão perceber que não mais será economicamente sensato ter um carro próprio e incorrer em todas as suas despesas de manutenção, seguro, combustível e impostos. Ato contínuo, irão optar pelos transportes autônomos e baratos. Consequentemente, terão mais dinheiro para gastar em outras coisas, ou mais dinheiro para poupar e investir.

Conclusão

Embora a inovação tecnológica possa eliminar os empregos de algumas pessoas, outras várias pessoas serão enormemente beneficiadas.

Se os preços de vários bens e serviços caírem em decorrência da automação, os salários mais baixos passarão a ser suficientes para que várias pessoas vivam confortavelmente. Isso é o que é chamado de "amento na renda real", e é o que realmente importa.

De resto, como a história repetidamente já demonstrou, a automação sempre representou uma libertação para o ser humano, não só livrando-o da necessidade de realizar trabalhos braçais pesados e desumanos, como ainda permitindo um aumento exponencial da sua renda: a renda média diária mundial, que era de $ 3 há dois séculos, hoje é de $ 33, já descontando a inflação. E, nos países ricos, é de US$ 100 por dia;

Essa libertação material nos permitiu viver vidas mais confortáveis, mais humanas e muito mais gratificantes do que outras gerações jamais experimentaram. Se isso, por si só, não é um argumento convincente, então nenhum outro pode ser.

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Thomas Woods é um membro sênior do Mises Institute, especialista em história americana.  É o autor de nove livros, incluindo os bestsellers da lista do New York Times The Politically Incorrect Guide to American History e, mais recentemente, Meltdown: A Free-Market Look at Why the Stock Market Collapsed, the Economy Tanked, and Government Bailouts Will Make Things Worse. Dentre seus outros livros de sucesso, destacam-se Como a Igreja Católica Construiu a Civilização Ocidental (leia um capítulo aqui), 33 Questions About American History You're Not Supposed to Ask e The Church and the Market: A Catholic Defense of the Free Economy (primeiro lugar no 2006 Templeton Enterprise Awards). Visite seu novo website.

Aaron Bailey é articulista do site Modern Survival Online, veterano da Marinha, professor de violão e piano.

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