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Filosofia

A importância de saber o que realmente se quer

16/03/2015

A importância de saber o que realmente se quer

Não, eu não quero golpe.  E não quero a volta dos militares. Também não vejo motivo para que qualquer candidato derrotado nas últimas eleições assuma o poder.

Impeachment?  Depende. Impeachment sem investigação é legalmente um golpe -- e golpe é aquilo que eu já disse que não quero, logo na primeira frase desse texto. Se há razões jurídicas para a saída da presidente, aí o jogo muda de figura -- e nesse caso, eu confesso que não estou nem aí se quem irá assumir legalmente não esteja tão bem na fita, se isso causará uma instabilidade política momentânea, ou qualquer outra desculpa que você queira dar.

Quando se insiste no discurso de que não deveríamos investigar um presidente porque seu sucessor imediato não é do agrado, ou porque nada irá mudar simplesmente trocando de nomes, ou porque é preciso ter, mais do que isso tudo, "consciência", você está abrindo mão de fortalecer as instituições do país.  Você está permitindo que os piores não sejam penalizados por seus eventuais crimes e criando um incentivo para que políticos permaneçam exercendo seus desmandos, sabendo que nada lá na frente acontecerá a eles.

Eu não chamaria isso exatamente de "consciência", seja lá o que você queira dizer com isso. Quando há razões jurídicas para uma punição, todo o resto não se discute -- presidente que comete um crime e permanece no cargo exerce um golpe. E golpe eu já disse duas vezes aqui que não quero.

É bacana ir protestar nas ruas?  Depende.  Protestar contra o quê?  Contra tudo isso que aí está?  Por mais direitos, um termo perigosamente vago? Não, obrigado. Nesse caso, é melhor permanecer esparramado no sofá. Protestar é bacana, é legal, é "exercer a democracia e a liberdade de expressão" e tudo mais -- político impopular adora repetir esse discurso --, mas é necessário ter pautas bem definidas, não?

Sabe uma que eu acho bacana? Lutar para que a justiça exerça seu poder de uma forma verdadeiramente independente e que se investigue todo mundo que deva ser investigado.

Só que há um problema nessa história toda: enquanto as instituições brasileiras permanecerem fragilizadas, como são as nossas, talvez isso tudo não passe de um sonho utópico, e continuaremos testemunhando o Legislativo e o Executivo exercendo uma injusta pressão sobre o Judiciário para se livrarem de possíveis incômodos.  Continuaremos vendo ministro do Supremo Tribunal Federal fazendo conluio em salas fechadas um presidente da República; e permaneceremos de mãos atadas ao fato inquestionável de que os políticos ocupam uma casta superior da sociedade, intocáveis, acima do bem e do mal.

Por tudo isso, apenas lutar para que "se investigue" não acrescenta muita coisa. É necessário algo a mais.

Apesar de toda a narrativa oficial, eu não colocaria na conta da corrupção a queda livre na popularidade de Dilma e de seu partido. Sim, você provavelmente não aguenta mais ligar a televisão e encarar aquelas notícias, que mais parecem estar em looping todos os dias, sobre desmandos, esquemas, desvios, e todos os tipos de crimes causados pela classe política.

A corrupção certamente tem um papel nesse bolo todo, mas eu pegaria o velho slogan do então candidato americano Bill Clinton, que virou gabarito e jargão no universo político-econômico, para justificar toda essa comoção em torno do "Fora Dilma":

"It's the economy, stupid!" ("É a economia, idiota!")

É a boa e velha economia: o aumento nas contas de luz e dos impostos, o aumento da inflação de preços, o baixo crescimento, o dólar alto, a dilapidação das contas públicas, o baixo emprego, tudo isso somado aos desmandos na Petrobras, fazem com que apenas 7% da população aprove a atual presidente.

A camada mais pobre da população, a mais afetada por todos esses problemas, simplesmente cansou, desistiu, abriu mão. E sabe por que isso tudo aconteceu? Porque a política econômica defendida pelo Partido dos Trabalhadores se esgotou, provou-se insustentável.

Mas e então, será que existe alguma pauta "simples", objetiva, que permita combater a atual política econômica fracassada ao mesmo tempo em que se luta contra a corrupção?  A resposta é positiva.  Aliás, se você não está satisfeito com a atual situação do país, eis aí um bom motivo para sair do sofá e tomar conta das ruas.

Não pense que a solução é mágica -- em economia, mágicas não funcionam, e nem no combate à corrupção.  Economicamente, mais do que lutar contra tudo isso que aí está, de modo a promover o crescimento e aumentar a produtividade do brasileiro, é necessário encampar bandeiras corajosas como a da diminuição da burocracia e da carga tributária, o fim dos subsídios estatais aos empresários amigos do governo (ou você quer continuar pagando pela ascensão e queda de novos Eikes?) e a retirada do estado de setores que ele regula com o claro intuito de proteger empresas e prejudicar o consumidor.

É necessário mudar o atual modelo, no qual o governo exerce um forte e irracional controle econômico, empurrando o país para a 118ª posição no ranking de liberdade econômica e para a 120ª posição no ranking de facilidade para fazer negócios --e permitir algo ainda inédito por aqui: uma maior liberdade econômica.

Onde entra a corrupção nesse bolo todo?  Fácil.  Mais do que melhorar a economia, lutar por liberdade econômica é também lutar contra a corrupção -- afinal, quanto menor for o controle do governo sobre a economia, menos os políticos terão para surrupiar

Como demonstrado empiricamente neste artigo, poucas ações são mais contundentes como antídoto à corrupção do que apostar na abertura de mercado. Quanto mais livre economicamente for um país, menos corrupto ele será.

Assim, você mata dois coelhos de uma vez só. A liberdade econômica é a única bandeira capaz de fazer com que o Brasil volte a crescer, solidificando a economia e as nossas instituições, e diminuindo o poder exercido pelos políticos ao mesmo tempo em que se combate a corrupção.  Há uma vasta literatura que comprova que esse foi o caminho seguido pelos países mais desenvolvidos do mundo.

E não se engane: essa pauta (aquilo que o PT chama burramente de neoliberalismo) é a maior inimiga do PT. Poucas coisas traduzem melhor o partido de Dilma do que a oposição ao livre mercado.  Por isso, se há realmente uma forte razão para você sair do sofá, é essa.

Quando for tomar as ruas movido por uma insatisfação com o atual governo e estiver pensando em um país melhor, seja objetivo. Lute pela diminuição dos impostos, pela desburocratização na hora de montar um negócio (se você é um comerciante, sabe melhor do que ninguém como é complicado sustentar todo esse peso estatal), pela diminuição do papel do governo na economia. 

Lutar simbolicamente por menos corrupção pode parecer bacana, mas é a mesma coisa que pedir educadamente para o ladrão parar de roubá-lo, clamando por mais decência (dica: não irá adiantar muito).

Quando você entrega quase 40% da sua renda -- a qual você ganha trabalhando dignamente -- para políticos que estão mais interessados em dificultar a maneira honesta como você ganha dinheiro, é claro que sobrará pouco para você no fim das contas.

Por tudo isso, não caia no papo furado de gente que rotula insatisfação de "golpismo". Se há um bom motivo para protestar, que um bom protesto se inicie. E se há alguma bandeira para defender contra o atual governo, ela atende pelo nome e sobrenome de liberdade econômica

Nas ruas, essa é a única luta que o PT verdadeiramente abomina e a única que realmente vale a pena.


Sobre o autor

Rodrigo da Silva

É o editor do site Spotniks

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