A desumanização de Charlie Kirk veio do establishment
Nota da edição:
O ativista político conservador Charlie Kirk, conhecido pelos seus debates nas universidades americanas e pela fundação do movimento político Turning Point USA, foi brutalmente assassinado no dia 10 de setembro de 2025, enquanto palestrava em uma universidade americana. Logo após esse trágico acontecimento, parte considerável da esquerda e do establishment, no Brasil e no mundo, comemorou e/ou relativizou a morte do ativista. O texto a seguir mostra como a desumanização reflete o cenário político americano.
Nós do Mises Brasil prestamos condolências à família, aos amigos e a todos que admiravam o importante trabalho feito por Charlie Kirk.
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A América moderna está passando por choques constantes: décadas de guerras, instabilidade econômica, lockdowns, resultados de eleições contestados, escalação política crescente e violência política decorrente. Apesar desse cenário contemporâneo, o assassinato de Charlie Kirk é um momento que se destaca na forma que uma única morte, com um rosto, uma família, uma história, um contexto particular, é sempre mais fácil de processar do que um evento amplo, por mais horrível que este seja.
Kirk era um pai jovem de 31 anos e, talvez, o principal “influencer político” dos Estados Unidos, em uma era definida por essa profissão. Seu cartão de visitas tradicional, o que o levou para o campus da Grand Valley State University [local onde Kirk foi assassinado], foi caracterizado por debates e diálogos que foram desprezados por seus inimigos na esquerda como truques baratos e por alguns na direita como ingênuos. Independentemente da visão que você tenha sobre as visões particulares de Kirk, aquilo representava um retorno das visões românticas sobre persuasão e o valor das conversas quando muitas vozes defendiam a dominação e a conquista política.
Foi exatamente o desejo de Kirk de discutir com aqueles com os quais discordava que o colocou no caminho de uma bala fatal. Esse acontecimento vai moldar para sempre a forma como gerações de americanos enxergarão a nossa sociedade politizada.
Essa sendo a era das redes sociais, a resposta foi previsível. Chamados por vingança e retaliação em setores da direita da internet, que há muito veem a relutância em usar plenamente o poder do estado como uma fraqueza de sua tribo política. Celebrações vindas de parcelas crescentes da esquerda da internet, que há tempos abandonaram a fachada da decência humana. É fácil focar nesses extremos e descartar a toxicidade da nossa sociedade moderna como pressões surgidas de opiniões de outsiders fora do mainstream.
A realidade é algo muito mais sinistro.
Em 1958, Ludwig von Mises discursou na Sociedade de Mont Pelerin (SMP) sobre o tópico da linguagem e no seu papel em moldar as massas. Referenciando o trabalho de Victor Klemperer sobre a linguagem do Terceiro Reich, Mises discutiu como a evolução da linguagem popular na Alemanha moldou as visões fundamentais de grandes parcelas da população, permitindo tanto a consolidação do poder político quanto a racionalização da ação estatal. Ele temia que a linguagem popular adotada pela profissão de economia de sua época, incluindo colegas membros da própria Sociedade Mont Pèlerin, estivesse moldando a compreensão popular dos fenômenos econômicos de modo a assegurar o controle gradual do estado sobre a economia. Mais uma vez, Mises mostrou-se profético.
De forma similar, nossa sociedade moderna é moldada pela pela popular politização da linguagem, não apenas em comunidades mais extremas da internet, mas por instituições importantes do nosso país, resultado na desumanização de figuras como Charlie Kirk, plantando as sementes para o tipo de violência horrível que aqueles que usam as redes sociais não serão capazes de desver.
Isso estava bem evidente na MSNBC que, mesmo sendo famosa por seu viés partidário, continua sendo um veículo da mídia mainstream para comentários políticos bem longe dos lugares mais obscuros dos círculos online de esquerda. Matthew Dowd, um comentarista político cuja fama inclui ter trabalhado como consultor nas campanhas de Bush e Cheney, descreveu Kirk como alguém que “[promoveu] constantemente esse tipo de discurso de ódio, dirigido a determinados grupos. E eu sempre volto à mesma conclusão: pensamentos odiosos levam a palavras odiosas, que muitas vezes levam a ações odiosas”.
A MSNBC posteriormente demitiu Dowd, mas os sentimentos base expressos não se limitaram a ele nas transmissões da emissora. Outros veículos da esquerda institucional, como The New Republic, rotularam imediatamente Kirk como um “troll”. O The Guardian acusou os que lamentavam a morte de Kirk de ignorarem sua própria “retórica incendiária”. Embora a celebração aberta da morte de Kirk deva ser vista como uma postura restrita a radicais, racionalizar sua própria cumplicidade ao fomentar o terreno para a violência política não é.
Essa normalização gradual da violência política na esquerda está documentada para além de anedotas selecionadas da internet. No início deste ano, um estudo revelou que cerca de metade dos entrevistados “de centro-esquerda” consideraria o assassinato de Donald Trump ou Elon Musk “de certa forma justificado”.
Embora perturbador, isso não deveria causar surpresa. Afinal, a cultura intelectual dos EUA, particularmente em universidades e faculdades, confundiu a noção de linguagem e violência a tal ponto que 40% dos estudantes universitários acreditam que a violência pode ser uma resposta justificável ao discurso, incluindo a morte. Somando-se a isso a ampliação contínua do que constitui “discurso de ódio”, tem-se um ambiente cultural promovido por instituições de prestígio, muitas vezes subsidiadas por recursos estatais, que normaliza o tipo de violência política que presenciamos.
Esse não é o resultado de uma radicalização proveniente de almas perdidas que vagam em círculos marginais da internet, mas sim uma mudança coordenada, sistemática e subsidiada de círculos da elite.
A questão que enfrentamos agora é como uma sociedade responde pacificamente a essa quebra fundamental das virtudes cívicas tradicionais americanas. Uma sociedade funcional iria reconhecer as virtudes de escaladoras da descentralização política e do domínio da criação moderna da democracia como conquista.
Infelizmente, a América atual parece estar longe de uma sociedade funcional.
Este artigo foi originalmente publicado no Mises Institute.
Recomendações de leitura
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Relembrando os crimes de estados totalitários
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Nota: as visões expressas no artigo não são necessariamente aquelas do Instituto Mises Brasil.
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