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A ONU e as origens do “Great Reset”

11/05/2023

A ONU e as origens do “Great Reset”

Há cerca de dois mil e quatrocentos anos, o filósofo grego Platão teve a ideia de construir o estado e a sociedade de acordo com um plano elaborado. Platão queria “homens sábios” (filósofos) no comando do governo, mas também deixou claro que seu tipo de estado precisaria de uma transformação dos humanos.

Nos tempos modernos, os promotores do estado onipotente querem substituir o filósofo de Platão pelo especialista e criar um novo homem por meio da eugenia, que agora é chamada de transumanismo. As Nações Unidas e suas várias suborganizações desempenham um papel fundamental neste projeto que atingiu seu estágio atual no projeto da Agenda 2030 e do Grande Reset.

 

A luta por um governo mundial

O Grande Reset não surgiu do nada. As primeiras tentativas modernas para criar uma instituição global com função governamental foram criadas pelo governo de Woodrow Wilson, que presidiu os Estados Unidos de 1913 a 1921.

Sob a inspiração do Coronel Mandell House, o principal conselheiro e melhor amigo do presidente, Wilson queria estabelecer um fórum mundial para o período após a Primeira Guerra Mundial. No entanto, o plano de participação americana na Liga das Nações falhou e o impulso em direção ao internacionalismo e ao estabelecimento de uma nova ordem mundial retrocedeu durante os conturbados anos 1920.

Um novo movimento em direção a administrar uma sociedade como uma organização, no entanto, ocorreu durante a Grande Depressão Americana. Franklin Delano Roosevelt não deixou passar a crise sem levar adiante a agenda com seu “New Deal.” O presidente Roosevelt estava especialmente interessado nos privilégios executivos especiais que vieram com a Segunda Guerra Mundial. A resistência era quase nula quando ele avançou para criar as bases de uma nova Liga das Nações, que agora seria chamada de Nações Unidas (ONU).

Sob a liderança de Stalin, Churchill e Roosevelt, vinte e seis nações concordaram em janeiro de 1942 com a iniciativa de criar a Organização das Nações Unidas (ONU), que passou a existir em 24 de outubro de 1945. Desde sua criação, a ONU e suas filiais, como o Banco Mundial e a Organização Mundial da Saúde (OMS), têm preparado os países do mundo para cumprir as metas que foram anunciadas em sua fundação.

No entanto, os pronunciamentos untuosos de promover “paz e segurança internacional”, “desenvolver relações amistosas entre as nações” e trabalhar para “progresso social, melhores padrões de vida e direitos humanos” escondem a agenda de estabelecer um governo mundial com poderes executivos cuja tarefa não promove a liberdade e o livre mercado, mas um maior intervencionismo e controle por meio das organizações culturais e cientificas. Isso ficou claro com a criação da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), em 1945.

Eugenia

Após a fundação da UNESCO em 1945, o biólogo declaradamente evolucionário eugenista e globalista, o inglês Julian Huxley (irmão de Aldous Huxley, autor de Admirável Mundo Novo), tornou-se seu primeiro diretor.

No lançamento da organização, Huxley pediu um “humanismo mundial científico, global abrangente” (p.8) e pediu para manipular a evolução humana para um fim “desejável.”  Referindo-se ao materialismo dialético com “a primeira tentativa radical de uma filosofia evolutiva” (p.11), o diretor da UNESCO lamentou que a abordagem marxista para mudar a sociedade estava fadada ao fracasso devido à falta de um “componente biológico” indispensável.

Com essas ideias, Julian Huxley estava em uma companhia respeitável. Desde o final do século XIX, o apelo para uma melhoria genética da raça humana por meio da eugenia vem ganhando muitos seguidores proeminentes. John Maynard Keynes, por exemplo, considerou a promoção da eugenia e do controle populacional como uma das questões sociais mais importantes e uma área crucial de estudo.

Keynes não estava sozinho. A lista de defensores de uma criação do aperfeiçoamento da raça humana é bastante abrangente e impressionante. Esses “reformadores iliberais” incluem entre muitos outros nomes conhecidos, os escritores HG Wells e GB Shaw, o presidente dos Estados Unidos Theodore Roosevelt, o primeiro-ministro britânico Winston Churchill, bem como o economista Irving Fisher e os pioneiros do planejamento familiar Margaret Sanger e Bill Gates Sr., pai de Bill Gates, cofundador da Microsoft e chefe da fundação Bill e Melinda Gates.

Em seu discurso na fundação da UNESCO, Julian Huxley foi bastante específico sobre os objetivos e métodos da instituição. Para alcançar o desejado “progresso evolutivo” da humanidade, o primeiro passo deve ser enfatizar “a necessidade fundamental de unidade política mundial e familiarizar todos os povos com as implicações da transferência da soberania total de nações separadas para uma organização mundial”.

Além disso, a instituição deve considerar a troca entre a “importância da qualidade em relação à quantidade” (p. 14), o que significa que deve levar em conta que existe “uma faixa de tamanho adequada para cada organização humana como para cada tipo de organismo” (p. 15). A organização educacional, científica e cultural da ONU deve dar atenção especial à “unidade na variedade da arte e cultura do mundo, bem como à promoção de um único conjunto de conhecimento científico”. (p 17).

Huxley deixa claro que a diversidade humana não é para todos. Variedade para “fracos, tolos e deficientes morais… não podem deixar de ser ruins ” e porque “uma porcentagem considerável da população não é capaz de lucrar com o ensino superior” e uma “porcentagem considerável de jovens” sofre de “fraqueza física ou instabilidade mental” e “esses fundamentos são muitas vezes de origem genética” (p. 20), esses grupos devem ser excluídos dos esforços de avanço do progresso humano.

Em seu discurso, Huxley diagnosticou que, no momento em que escrevia, o “efeito indireto da civilização” é bastante “disgênico ao invés de eugênico” e que “em todo caso, parece provável que o peso morto da estupidez genética, fraqueza física, instabilidade mental, e a propensão a doenças, que já existe na espécie humana, será um fardo muito grande para que o progresso real seja alcançado” (p. 21). Afinal, é “essencial que a eugenia seja trazida inteiramente para dentro dos limites da ciência, pois, como já foi indicado, em um futuro não muito remoto o problema de melhorar a qualidade média dos seres humanos provavelmente se tornará urgente; e isso só pode ser realizado aplicando as descobertas de uma eugenia verdadeiramente científica” (pp. 37-38).

Uso da ameaça climática

O próximo passo decisivo para a transformação econômica global foi dado com o primeiro relatório do Clube de Roma . Em 1968, o Clube de Roma foi iniciado na propriedade Rockefeller Bellagio, na Itália. Seu primeiro relatório foi publicado em 1972 sob o título “Os limites do crescimento”. 

O presidente emérito do Clube de Roma, Alexander King, e o secretário do clube, General Bertrand Schneider, informam em seu Relatório do Conselho do Clube de Roma que quando os membros do clube estavam em busca de identificar um novo inimigo, eles listaram a poluição, o aquecimento global, a escassez de água e a fome como os itens mais oportunos a serem atribuídos à humanidade, com a implicação de que a própria humanidade deve ser reduzida para manter essas ameaças sob controle.

Desde a década de 1990, várias iniciativas abrangentes em direção a um sistema global de controle foram realizadas pelas Nações Unidas com a Agenda 2021 e a Agenda 2030. A Agenda 2030 foi adotada por todos os estados membros das Nações Unidas em 2015. Ela lançou seu projeto para a mudança global com uma meta para atingir dezessete objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS). O conceito-chave é o “desenvolvimento sustentável”, que inclui o controle populacional como um instrumento crucial.

Salvar a terra tornou-se o slogan dos guerreiros da política verde. Desde a década de 1970, o cenário de horror do aquecimento global tem sido uma ferramenta útil em suas mãos para ganhar influência política e, finalmente, dominar o discurso público. Nesse ínterim, esses grupos anticapitalistas obtiveram uma influência dominante na mídia, no sistema educacional e judicial e se tornaram atores importantes na arena política.

Em muitos países, particularmente na Europa, os chamados partidos verdes tornaram-se um fator central no sistema político. Muitos dos representantes são bastante abertos em suas demandas para compatibilizar a sociedade e a economia com altos padrões ecológicos que exigem uma profunda redefinição do sistema atual. 

Em 1945, Huxley (p. 21) observou que é muito cedo para propor um programa de despovoamento eugênico definitivo, mas avisou que será importante para a organização “ver que o problema eugênico seja examinado com o maior cuidado e que a mente do público seja informada das questões que estão em jogo, de modo que muito do que agora é impensável pode pelo menos se tornar pensável”.

A cautela de Huxley não é mais necessária. Nesse ínterim, as filiais das Nações Unidas ganharam tal nível de poder que mesmo suborganizações originalmente menores da ONU, como a Organização Mundial da Saúde (OMS), puderam comandar governos individuais em todo o mundo para obedecer às suas ordens. A OMS e o Fundo Monetário Internacional (FMI) — cuja condicionalidade para empréstimos mudou de restrição fiscal para o grau em que um país segue as regras estabelecidas pela OMS — tornaram-se o par supremo a trabalhar para estabelecer a nova ordem mundial.

Como Julian Huxley apontou em seu discurso em 1945, é tarefa das Nações Unidas acabar com a liberdade econômica, porque “laissez-faire e sistemas econômicos capitalistas” “criaram muita desigualdade” (p. 38). Chegou a hora de trabalhar para a emergência “de uma única cultura mundial” (p. 61). Isso deve ser feito com a ajuda explícita dos meios de comunicação de massa e dos sistemas educacionais.

Conclusão

Com a fundação das Nações Unidas e suas suborganizações, o impulso para o avanço dos programas de eugenia e transumanismo deu um grande passo à frente. Juntamente com as atividades do Clube de Roma, eles têm palco para iniciar o “Grande Reset” que está acontecendo atualmente. Com o advindo da pandemia, a meta de controle governamental sobre a economia e da sociedade deu mais um salto rumo à transformação da economia e da sociedade. A liberdade enfrenta um novo inimigo. A tirania vem sob o disfarce de governo especializado e ditadura benevolente. Os novos governantes não justificam seu direito de domínio por causa da providência divina, mas agora reivindicam o direito de governar o povo em nome da saúde e segurança universais com base em evidências científicas presumidas.


Este artigo é parte de uma série de quatro artigos do professor Antony Mueller.

A primeira parte desta serie de artigos pode ser lida aqui.

A segunda parte desta serie de artigos pode ser lida aqui.

Assista à entrevista de Antony Mueller no podcast Radio Roundabout sobre tecnocracia e globalismo.

Sobre o autor

Antony Mueller

É doutor pela Universidade de Erlangen-Nuremberg, Alemanha e, desde 2008, professor de economia na Universidade Federal de Sergipe.

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