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O progressismo do futuro é, na verdade, apenas o socialismo do passado

A “nova ordem mundial” visa ao fim da liberdade individual

28/04/2023

O progressismo do futuro é, na verdade, apenas o socialismo do passado

A “nova ordem mundial” visa ao fim da liberdade individual

Este é o primeiro de uma série de artigos do professor Antony Mueller sobre tecnocracia, globalismo e o "great reset" liderado pelo Fórum Econômico Mundial. Leia os demais artigos: A "Quarta Revolução Industrial" será distópica e muito diferente da primeiraA ONU e as origens do “Great Reset”.

Assista também à entrevista do professor Mueller ao podcast Radio Roundabout sobre o tema:

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O mundo está atualmente no meio de um novo impulso agressivo para trazer uma nova ordem socialista por meio de um estado tecnocrático poderoso e "eficiente". Essa nova ordem foi rotulada como "progressista", mas é apenas a versão mais recente do impulso socialista que vimos antes na forma de socialismo e comunismo.

 

Uma guerra contra a propriedade privada

Resumidos em uma única frase, os planos dos comunistas visam à abolição da propriedade privada. A partir daí, seguem-se as outros grandes objetivos, como abolir a família, a nação e os países e, finalmente, como observou Marx, “o comunismo abole as verdades eternas, abole toda religião e toda moralidade”. Na medida em que o programa do liberalismo “se condensado em uma única palavra…. é a propriedade privada dos meios de produção” (como descrito por Ludwig von Mises), o programa dos comunistas é a abolição da propriedade privada.

 

Uma promessa de eficiência e expertise

No entanto, o socialismo marxista — isto é, o comunismo — não encontrou muitos seguidores nos Estados Unidos. O apelo comunista à justiça e à igualdade encontrou mais ressonância no velho mundo. Para atrair os americanos, o socialismo precisava ser embalado de maneira diferente. Nos Estados Unidos, o culto do socialismo apareceu sob o nome de “progressismo” e foi pregado para levar a sociedade ao mais alto grau de eficiência.

Sob o presidente Woodrow Wilson, o progressismo atingiu seu primeiro pico como a filosofia dominante do estado. A sociedade era, para esses socialistas, uma única organização. Os burocratas como administradores públicos encontraram uma expressão vívida no romance político Philip Dru: Administrator: A Story of Tomorrow, de Edward Mandell House, que era um amigo muito próximo de Wilson e que serviu como o mais importante conselheiro político e diplomático do presidente.

Essa visão do progressismo requer:

  • Representação governamental e trabalhista no conselho de cada corporação;
  • Partilha dos lucros das empresas de serviço público;
  • Propriedade governamental dos meios de comunicação;
  • Propriedade governamental dos meios de transporte;
  • Um sistema abrangente de pensão por velhice;
  • Propriedade governamental de todos os serviços de saúde;
  • Proteção trabalhista total e arbitragem governamental de disputas industriais.

Além disso, outras demandas e programas apresentados e  realizados pelo movimento progressista incluíram  eugenia, controle de natalidade, planejamento familiarproibiçãolegislação antitrusteeducação públicabanco central e imposto de renda.

Isso ecoa das pranchas do Manifesto Comunista, que incluíam demandas para:

  • Centralizar os meios de comunicação e colocar os meios de transporte na mão do Estado;
  • Estender o controle do estado sobre as fábricas e sobre todas as terras;
  • Implementar um pesado imposto de renda progressivo e abolir os direitos de herança;
  • Centralizar o crédito nas mãos do Estado e estabelecer um banco central de monopólio monetário exclusivo.

Ao contrário do Manifesto Comunista, os progressistas não pregavam uma revolução proletária, mas falavam em nome da eficiência e exigiam o governo burocrático de administradores públicos especializados. De maneira específica, o movimento progressista apresenta um programa ainda pior do que o marxismo. Como Murray Rothbard resumiu, o movimento progressista trouxe uma profunda transformação da sociedade americana:

“de uma sociedade praticamente livre e laissez-faire do século XIX, quando a economia era livre, os impostos eram baixos, as pessoas eram livres em suas vidas diárias e o governo não era intervencionista em casa e no exterior, a nova coalizão conseguiu em pouco tempo transformar a América em um estado imperial de bem-estar e guerra, onde a vida diária das pessoas era controlada e regulada em grande escala”.

 

Socialismo disfarçado

Guiar a humanidade para o céu na terra, transformando a sociedade, é a principal mensagem do socialismo, começando com o “socialismo utópico” do século XIX e chegando até nossos dias com a demanda por uma “utopia concreta”. No entanto, diferente da mitologia marxista de que o socialismo seria o sucessor imparável do capitalismo, a história mostra que o “fenômeno socialista” apareceu repetidamente ao longo da história. Em vez de ser o modelo do futuro, o socialismo é, de fato, uma ideia fracassada do passado.

O socialismo é a tentativa de criar uma nova ordem social à vontade. No entanto, não se pode construir uma “ordem” de acordo com os desejos de alguém. A realização volitiva de um sistema socioeconômico resulta em estabelecer a sociedade como uma única organização dominada pelo Estado e, como tal, é necessariamente hierárquica e deve ser baseada no comando e na obediência, em vez da livre associação das pessoas, como ocorre em uma ordem espontânea .

O presidente Wilson falhou em seu plano de trazer os Estados Unidos para a  Liga das Nações e estabelecer uma organização para promover uma nova ordem mundial em sintonia com as visões dos progressistas. Por algum tempo, os americanos retomaram a tradição do individualismo e do isolacionismo. No entanto, com a Grande Depressão e a Segunda Guerra Mundial, a chance de transformar a sociedade e colocar especialistas burocráticos no topo voltou com força total sob a presidência de Franklin Delano Roosevelt . Com o fim da guerra mundial, voltou a chance de estabelecer uma rede de organizações internacionais com a missão de organizar a sociedade e a economia sob os auspícios de especialistas burocráticos. Isso aconteceu com a fundação das Nações Unidas e seus vários subgrupos e organizações irmãs para se tornarem ativos em finanças, educação, desenvolvimento e saúde.

 

O “empurrão” internacional

Com o lançamento das Nações Unidas, o progressismo como um programa - ao que James Ostrowski chama de “destruir a América” - alcançou uma escala global. A sede principal desta filosofia mudou-se para a sede da Organização das Nações Unidas. Desde o seu início, as Nações Unidas têm sido o portador da luz do progressismo global.

A proteção do meio ambiente  e da “saúde global” se revelaram os pretextos ideais para fazer avançar a agenda do progressismo. Em junho de 1994, a Agenda 2021 da ONU foi iniciada pela Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento no Rio de Janeiro e pedia a imposição do “desenvolvimento sustentável” em escala global. Enquanto a Agenda 2021 ainda era relativamente modesta em suas demandas e não vinculante quanto à sua plena execução, a posterior Agenda 2030 deixou “o gato subir no telhado”. A nova agenda foi adotada quando os chefes de estado e de governo e altos representantes se reuniram na sede das Nações Unidas em Nova York, em setembro de 2015. Nessa reunião, eles aprovaram a adoção de “Objetivos Globais de Desenvolvimento Sustentável ” sobre metas e objetivos universais e transformadores abrangentes e de longo alcance.

A nova agenda descreve um programa de dominação abrangente pelo governo de quase todos os aspectos da vida pessoal. Sem nenhum aceno à liberdade humana e à coordenação do mercado, o documento lista dezessete objetivos que devem ser alcançados por meio de uma tomada burocrática da sociedade em escala mundial. Por trás de promessas populares, como o fim da pobreza e da fome, vidas saudáveis, educação equitativa e igualdade de gênero, está a agenda para impor o socialismo global. Demandas como a redução da desigualdade de renda dentro e entre os países, padrões sustentáveis ​​de consumo e produção e construção de sociedades inclusivas para o desenvolvimento sustentável fazem parte de um plano primordial para acabar com a economia de mercado e impor um planejamento estatal abrangente.

Alegando a “perpetuação das disparidades entre e dentro das nações, um agravamento da pobreza, fome, problemas de saúde e analfabetismo, e a contínua deterioração dos ecossistemas dos quais dependemos para o nosso bem-estar” (capítulo 1, preâmbulo), a conferência clama por uma “parceria global para o desenvolvimento sustentável”.

Sob o título de “áreas programáticas”, a agenda enfatiza “as ligações entre as tendências e fatores demográficos e o desenvolvimento sustentável”. O crescimento da população mundial combinado com “padrões de consumo insustentáveis” põe em perigo o planeta, pois “afeta o uso da terra, água, ar, energia e outros recursos”. Sob o ponto 5.17 de seu objetivo, a conferência exige: “Integração total das preocupações populacionais no nos processos de planejamento nacional, político e de tomada de decisão”. Proteger o meio ambiente requer a regulamentação total da população mundial, o que, por sua vez, torna necessário controlar o comportamento pessoal.

Em suma, a adoção dessa "nova ordem mundial" significaria a abolição da propriedade privada, ou o que Mises considerava o programa liberal — um mundo baseado na propriedade privada. Se aprovado, esse projeto fracassará no final, mas trará imenso sofrimento nesse meio tempo.

Sobre o autor

Antony Mueller

É doutor pela Universidade de Erlangen-Nuremberg, Alemanha e, desde 2008, professor de economia na Universidade Federal de Sergipe.

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