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Economia

Jim Rogers sobre o ouro e a agricultura mundial

23/04/2013

Jim Rogers sobre o ouro e a agricultura mundial

Jim Rogers é famoso não apenas por sua presciência em relação ao colapso econômico global e ao boom das commodities, mas também, principalmente, por seu histórico como investidor.  Fundador, ao lado de George Soros, do hedge fund Quantum Fund, Rogers obteve miraculosos 4.200% de retorno durante um período de 10 anos, ao passo que a S&P 500, nesse mesmo período, obteve apenas 47%.

Em outubro de 2012, o lendário gestor fez uma previsão a respeito dos preços do ouro que deixou vários entusiastas do metal balançando negativamente a cabeça, descrentes.  Embora Rogers tenha admitido que ele não iria de modo algum vender nenhum de seus ativos metálicos, ele previu uma consolidação e uma correção de curto prazo nestes mercados.

Prevendo este declínio de curto prazo, Rogers alertou que o ouro já vinha subindo ininterruptamente há doze anos consecutivos, uma tendência sem paralelos.  Isso foi no ano passado.

Na semana passada, sua previsão se concretizou, e o ouro e a prata sofreram um enorme baque.  Como resultado, o preço do ouro está hoje aproximadamente 30% menor em relação ao ápice atingido em agosto de 2011.

De acordo com Rogers, os preços do ouro podem cair ainda mais.

Continuo tendo ouro em minha carteira, não vendi um só grama do metal e comprarei ainda mais sempre que o preço cair.  O ouro subiu durante 12 anos seguidos, sem que houvesse um único ano que tenha sido pior que o anterior.  Isso é extremamente atípico; desconheço qualquer outro ativo na história que possua esse histórico.  Pode ser que haja, mas eu desconheço.

Durante esses 12 anos, o ouro teve somente uma correção de 30%.  Há algo de errado aí.  O ouro estava excessivamente na moda, estava forte demais e cheio de seguidores entusiasmados.  Por isso está tendo essa forte correção agora, algo que considero normal.  E espero que essa correção continue, de modo que ela possa dar uma sacudida naquelas pessoas -- aventureiros, modistas e desinformados -- que não deveriam estar no mercado de ouro.  Quando o mercado se livrar destas pessoas, o ouro atingirá um piso, e então voltará a subir.

Não sei qual será esse valor mínimo, pode ser uma queda de 40%, de 50% ou até mesmo de 60%.  Ou pode ser que já tenhamos atingido o nível mínimo.  Esse tipo de correção é normal, não é nada atípico.  Aliás, eu saúdo esse tipo de correção.

A minha previsão é que o ouro não apenas voltará a subir, como também subirá bastante nas próximas décadas, chegando a valores bem mais altos que os de agosto de 2011.  Mas tal processo não ocorrerá -- e nem poderá ocorrer -- sem que haja correções normais.  

Rogers citou quatro forças essenciais que geraram a acentuada redução no preço do ouro vista na semana passada:

1) A Índia elevou sua tarifa de importação de ouro de 4% para 6%, o que restringiu a demanda por ouro naquele que hoje é o maior mercado mundial do metal.

2) Analistas técnicos e estudiosos das tendências dos preços vinham afirmando repetidamente que os preços do ouro cairiam.

3) Muitos proprietários da moeda digital Bitcoin também possuíam ouro.  O colapso do Bitcoin ao longo das duas últimas semanas desencadeou uma venda de ouro por parte dessas pessoas.

4) A exigência da Alemanha para que o Chipre vendesse parte de seu ouro para arrecadar euros -- e com isso aliviar preocupações geradas pela dívida do país -- ajudou a intensificar a queda nos preços do metal.

Naturalmente, Rogers pode se regozijar com o momento.  Sua previsão foi certeira.

Mas é a segunda parte da sua recomendação de outubro que merece atenção, muito embora ela não tenha recebido tanto alarde quanto a previsão do ouro.  Ao mesmo tempo em que ele alertava sobre o ouro e a prata, ele também dizia que havia uma enorme oportunidade na agricultura e nos mercados de soft commodities, como café, cacau, açúcar, milho, trigo, soja e frutas. 

Para qualquer um que esteja prestando atenção, o setor agrícola permanece sendo uma área primordial em um mundo cujos fundamentos mais óbvios apontam para sérios problemas no horizonte no que concerne à oferta de alimentos.

Preocupação nos mercados agrícolas globais

Com efeito, Rogers tem sido o exército de um homem só em sua cruzada para alertar sobre a deterioração do estado do setor agrícola.  Segundo ele, a idade média dos agricultores ao redor do mundo está em níveis historicamente altos, e não se vê pessoas jovens entrando nessa indústria. 

A idade média do agricultor americano é de 58 anos.  No Japão é de 66 anos.  Há mais gente estudando relações públicas do que agronomia.  Os velhos estão morrendo ou se aposentando, e os jovens estão estudando outras coisas.  Há cada vez menos capital e menos recursos humanos sendo direcionados para o setor agrícola.  O futuro aponta para uma restrição na oferta.

A teoria básica de Rogers é bem simples: a demanda por alimentos está muito maior do que a oferta de alimentos, os agricultores continuam se aposentando ao redor do mundo, há mais agricultores saindo do que entrando no mercado, e os estoques globais de ração estão em níveis historicamente baixos.  Tudo isso aponta para preços mais altos no futuro.

Acrescente a este cenário as prolongadas preocupações quanto à seca paralisante ocorrida na última safra americana e uma potencial escassez de comida no futuro, e você entenderá por que o milho foi o ativo que apresentou um dos maiores desempenhos no segundo semestre de 2012, algo que provavelmente continuará assim por boa parte desta década.

E não são apenas investidores que estão apontando os motivos para um encarecimento dos alimentos no futuro.  De acordo com a ONU, a população mundial, que hoje é de 7 bilhões, chegará a quase 9 bilhões em 2040.

O verdadeiro propulsor da demanda por alimentos advém dos crescentes salários globais e do fato de que a classe média se expandirá em três bilhões de pessoas, o que significa um crescimento exponencial na demanda por alimentos.

De acordo com estimativas da ONU, o mundo necessitará de um aumento de 50% na produção de alimentos, de um aumento de 45% na produção de energia, e de um aumento de 30% na oferta de água.  Mas ao passo que esses problemas podem assustar o cidadão comum, tais preocupações sempre foram aliviadas pela resiliência e incomparável capacidade do setor agrícola em inovar para se adequar a novos desafios.

E há várias outras maneiras de ganhar dinheiro com estas tendências do que apenas comprando terras.  Não é apenas a produção de grãos que oferece aos investidores uma oportunidade de ganhar dinheiro com terras.  O setor agrícola é altamente consolidado com várias empresas especializadas que dão ênfase à inovação tecnológica a fim de suprir a crescente demanda por alimentos.

Com a demanda por carne em alta, a indústria de nutrição animal tende a ser um bom investimento.  Empresas com especialidade em nutrição animal desempenharão um papel essencial em atender o florescente mercado asiático, onde uma transição no padrão alimentar e uma crescente classe média estão gerando uma explosão na demanda por suínos e outros produtos à base de carne.

Mais da metade dos suínos de todo o mundo -- aproximadamente 476 milhões -- estão na China, e a produção de suínos é hoje algo tão dominante na dieta chinesa, que o governo chinês criou uma reserva estratégica de suínos junto às suas reservas estratégicas de petróleo e grãos.

À medida que a demanda mundial por alimentos tiver seu crescimento puxado pelas economias emergentes -- principalmente Brasil e China --, o preço das commodities agrícolas só tem um caminho a seguir: para cima.

Não, você não pode comer ouro.  Mas você pode investir em agricultura e auferir grandes lucros à medida que a demanda ultrapassar a oferta nos mercados agrícolas globais.

 

Reportagem do site Money Morning

 

Sobre o autor

Jim Rogers

Lecionou finanças na faculdade de negócios da Columbia University e é hoje um comentarista financeiro na mídia mundial. Ele é o autor dos livros Adventure Capitalist...

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