Economia
Política monetária expansionista versus Política monetária contracionista
Política monetária expansionista versus Política monetária contracionista
Muitos veem a economia como uma espécie de nave espacial que, ocasionalmente, sai da rota de crescimento econômico estável e de estabilidade de preços, e precisa ser reconduzida ao rumo certo pelos “especialistas” em política monetária. Quando a atividade econômica desacelera e cai abaixo dessa trajetória de estabilidade, considera-se dever do banco central dar um “empurrão” na economia, recolocando-a no caminho correto. Esse “empurrão” ocorre por meio de uma política monetária expansionista, isto é, a redução artificial das taxas de juros mediante a expansão da oferta de dinheiro e crédito.
Em contrapartida, quando a atividade econômica é percebida como “superaquecida” (ou seja, quando a inflação de preços se eleva demais e/ou há risco de desvalorização monetária), cabe ao banco central “esfriar” a economia por meio de uma política monetária contracionista. Isso implica elevar as taxas de juros e reduzir o ritmo das injeções monetárias. O objetivo seria neutralizar os efeitos da postura monetária expansionista anterior.
Uma política monetária restritiva não pode desfazer os efeitos de uma política expansionista
A má alocação de recursos provocada por uma política monetária expansionista não pode ser revertida simplesmente por meio de uma postura mais restritiva. De acordo com Percy L. Greaves Jr. na coletânea de textos The Causes of the Economic Crisis and Other Essays Before the Great Depression:
“Mises também aponta que a deflação jamais pode reparar os danos causados pela inflação prévia. Em seus seminários, ele frequentemente comparava esse processo ao de um motorista que atropela uma pessoa e tenta remediar a situação voltando de ré sobre a vítima. A inflação embaralha de tal forma as mudanças na riqueza e na renda que se torna impossível desfazer seus efeitos. Além disso, as manipulações deflacionárias da quantidade de dinheiro são tão destrutivas para os processos de mercado, os quais deveriam ser guiados por preços, salários e taxas de juros livres, quanto as manipulações inflacionárias dessa mesma quantidade de dinheiro”.
Ao libertar a economia da interferência do banco central na oferta de moeda e nas taxas de juros, o processo de destruição de riqueza tende a ser interrompido. Isso fortalece o processo de geração de riqueza. Com um volume maior de capital acumulado, torna-se muito mais fácil absorver os diversos recursos que foram mal alocados. As manipulações do banco central nesses sinais de mercado minam o processo de criação de riqueza, exercendo, assim, uma pressão ascendente sobre as preferências temporais dos indivíduos e empurrando as taxas de juros de mercado para cima.
As políticas do banco central podem manter a economia em um caminho de crescimento estável?
A maioria dos especialistas acredita que o principal obstáculo para alcançar um crescimento econômico estável são as variações da taxa básica de juros estabelecida pelo banco central (chamada de federal funds rate nos EUA ou taxa Selic no Brasil) em relação à taxa de juros “neutra”. Considera-se que a taxa neutra é aquela compatível com preços estáveis e uma economia equilibrada. Assim, o que se exige dos formuladores de política do Fed é a capacidade de direcionar a federal funds rate de forma bem-sucedida para esse nível de taxa de juros neutra.
Nessa forma de pensar, a taxa de juros neutra é determinada no ponto de interseção entre as curvas de oferta agregada e demanda agregada. Se a taxa de juros de mercado cair abaixo da taxa neutra, o investimento superará a poupança, o que implica que a quantidade demandada excederá a quantidade ofertada. Supondo que essa demanda excedente seja financiada pela expansão dos empréstimos bancários, isso leva à criação de novo dinheiro, o que, por sua vez, eleva os preços. Em contrapartida, se a taxa de juros de mercado subir acima da taxa neutra, a poupança superará o investimento, a oferta agregada excederá a demanda agregada, os empréstimos bancários e o volume de dinheiro se contrairão, e os preços cairão. Assim, sempre que a taxa de juros de mercado estiver alinhada à taxa de juros neutra, a economia estará em um estado de equilíbrio, sem pressões de alta ou de baixa sobre o nível geral de preços.
O principal problema dessa teoria é que a chamada taxa de juros neutra não pode ser observada diretamente. Como se pode saber, então, se a taxa de juros de mercado está acima ou abaixo da taxa neutra? Ainda assim, muitos economistas acreditam que ela pode ser estimada por diversos meios indiretos. Para determinar essa taxa neutra não observável, os economistas recorrem hoje a métodos matemáticos sofisticados. No entanto, resta a pergunta: tudo isso realmente faz sentido?
No processo de tentativa de estabelecer um caminho de crescimento estável, os economistas partem da suposição da existência das curvas de oferta agregada e demanda agregada. O ponto de interseção entre essas curvas gera o chamado equilíbrio, que supostamente corresponde à taxa de juros neutra e, portanto, à taxa de crescimento associada à estabilidade econômica.
Contudo, as curvas de oferta e demanda, conforme apresentadas pela economia mainstream, não se originam em fatos da realidade, mas sim em construções imaginárias elaboradas por economistas a partir de premissas equivocadas. Nenhum dos valores que fundamentam essas curvas provém do mundo real – elas são inteiramente fictícias. Como afirma Mises, “é importante compreender que não temos qualquer conhecimento ou experiência acerca da forma dessas curvas”. Ainda assim, economistas debatem intensamente as supostas propriedades dessas curvas invisíveis e suas implicações sobre as políticas governamentais e dos bancos centrais.
Por que o equilíbrio geral é uma ficção
A existência de um “equilíbrio geral”, tal como representado pela interseção entre a curva de oferta e a curva de demanda de toda a economia, é, no mínimo, questionável. A economia, enquanto entidade independente, não existe separadamente dos indivíduos. Portanto, algo que não existe por si mesmo não pode tender a algum tipo de equilíbrio geral. O conceito de equilíbrio só faz sentido quando aplicado aos indivíduos em uma economia dinâmica e em constante transformação, fruto de incontáveis decisões subjetivas.
O equilíbrio, no contexto do comportamento consciente e intencional dos indivíduos, nada tem a ver com o equilíbrio imaginário descrito pela economia convencional. O equilíbrio é alcançado quando os fins dos indivíduos são atingidos. Quando um fornecedor consegue vender sua mercadoria a um preço que lhe gera lucro, diz-se que ele atingiu o equilíbrio. Da mesma forma, os consumidores que adquiriram esse bem o fizeram para satisfazer seus próprios objetivos. Cada indivíduo, dentro de seu próprio contexto, alcança uma forma de equilíbrio sempre que realiza seu propósito.
Na ausência de interferência do banco central, a taxa de juros de mercado estará alinhada aos objetivos dos indivíduos, e não aos desejos dos planejadores do banco central. Assim, alguns indivíduos podem descobrir que a taxa de juros que precisam pagar é muito menor do que estariam dispostos a pagar. Para outros, a taxa de juros determinada pelo livre mercado pode se mostrar excessivamente alta, levando-os a sair do mercado.
Quando políticas são implementadas para alcançar a chamada taxa de juros neutra, que supostamente reflete o “equilíbrio geral” definido por modelos matemáticos, isso entra em contradição com o que o livre mercado naturalmente estabeleceria. O resultado é a má alocação de recursos e o enfraquecimento do processo de geração de riqueza. (Ao definir a taxa-alvo de juros, os formuladores de política do banco central agem como se possuíssem um conhecimento numérico exato da taxa de juros correspondente ao crescimento econômico estável e à estabilidade de preços.)
O fracasso de diversas economias centralmente planejadas, como a da antiga União Soviética, é uma prova de que quando as autoridades centrais tentam direcionar a economia para uma trajetória de crescimento determinada por burocratas governamentais, o resultado inevitável é o desastre econômico.
Conclusão
A ideia de que a economia pode ser comparada a uma nave espacial é equivocada, pois a economia é composta por inúmeros seres humanos em ação, interagindo entre si. Os indivíduos se engajam conscientemente na busca de seus diversos objetivos, utilizando diferentes meios para alcançá-los. Os danos causados por uma política inflacionária do banco central não podem ser neutralizados por uma política deflacionária. A política deflacionária também é uma forma de intervenção e, nesse sentido, desencadeia uma nova modalidade de má alocação de recursos. Em outras palavras, tenta-se combater distorções anteriores criando novas distorções.
Este artigo foi originalmente publicado no Mises Institute.
Recomendações de leitura:
A política monetária no livre mercado
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Nota: as visões expressas no artigo não são necessariamente aquelas do Instituto Mises Brasil.
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