Política
Acabem com o instituto de estatísticas do governo!
Pelo fim do Bureau of Labor Statistics
Acabem com o instituto de estatísticas do governo!
Pelo fim do Bureau of Labor Statistics
O presidente Trump causou um considerável alvoroço em Washington quando demitiu a Comissária de Estatísticas do Trabalho, Erika McEntarfer, em 1º de agosto. A demissão ocorreu logo após a divulgação de um relatório fraco sobre o mercado de trabalho referente a julho, que Trump acredita ter sido impreciso. “Precisamos de números de empregos precisos”, escreveu ele na rede Truth Social em resposta ao relatório. “Determinei que minha equipe demitisse IMEDIATAMENTE essa nomeação política de Biden. Ela será substituída por alguém muito mais competente e qualificado”.
Trump também afirmou que McEntarfer teria “falsificado” os números de empregos antes da eleição com o objetivo de ajudar Kamala Harris a vencer.
Em uma postagem posterior, datada de 4 de agosto, Trump enfatizou que as revisões significativas nos relatórios de empregos, tanto as divulgadas próximas à eleição quanto a de julho, despertaram a sua desconfiança. “Esses grandes ajustes foram feitos para encobrir e nivelar os números políticos FALSOS, que foram INVENTADOS para fazer com que um grande sucesso republicano parecesse menos extraordinário”, escreveu ele.
A lista de figuras proeminentes que condenaram a decisão de Trump foi, naturalmente, extensa. “Ninguém está falsificando números”, afirmou Daniel Koh, ex-chefe de gabinete do Departamento do Trabalho. “Revisões acontecem o tempo todo”.
Max Stier, CEO da empresa Partnership for Public Service, expressou em voz alta o que muitos observadores provavelmente estavam pensando: “O presidente Trump está, mais uma vez, destruindo a credibilidade do nosso governo ao demitir especialistas e servidores públicos apartidários apenas porque não gosta dos fatos que eles apresentam”, declarou. “Governos que seguem esse caminho rapidamente se veem em um terreno sombrio”.
David Harsanyi, colunista sênior do Washington Examiner, compartilhou o mesmo sentimento: “Essa demissão tem o cheiro de uma república de bananas, independentemente do que se pense sobre a precisão ou as revisões dos dados do BLS”, escreveu ele.
Trump não está errado ao apontar que as revisões recentes dos dados do BLS (sigla para Bureau of Labor Statistics ou o Departamento de Estatísticas do Mercado de Trabalho) têm sido maiores do que o normal. Contudo, como observa Tho Bishop, há uma explicação inofensiva para isso: as taxas mais baixas de participação nas pesquisas dificultam capturar com precisão o estado real da economia no curto prazo. Trump pode suspeitar que alguém esteja manipulando os números para que seu governo pareça ter resultados ruins, mas, como não apresentou nenhuma evidência sólida nesse sentido, parece mais provável que ele esteja apenas seguindo a antiga tradição dos governantes que “atiram no mensageiro” em vez de encarar a possibilidade de que eles próprios sejam os responsáveis pelas más notícias. Como diz o provérbio, a história pode não se repetir, mas frequentemente rima.
De forma irônica, embora talvez não surpreendente, o substituto “muito mais competente e qualificado” indicado por Trump está sendo acusado de ser terrivelmente despreparado para o cargo. O nomeado por Trump é E. J. Antoni, atualmente economista-chefe da Heritage Foundation e conhecido por ser um fervoroso apoiador de Trump. Comentando sobre a nomeação na revista National Review, o editor de economia Dominic Pino não poupou críticas.
“Antoni está longe de ser qualificado para ser comissário do BLS”, escreveu Pino, após apontar a falta de experiência de Antoni e apresentar exemplos de seu raciocínio econômico falho:
“Se fosse realmente verdade que Trump desejava modernizar e aprimorar o BLS, ele teria indicado alguém com ampla experiência na coleta de dados econômicos, que tivesse publicado pesquisas sobre metodologia estatística e possuísse ideias sobre como aprimorar o funcionamento técnico da instituição. A nomeação de Antoni prova que o que Trump quer, no lugar, é um capacho”.
Com o Bureau of Labor Statistics atraindo toda essa atenção, muitos estão aproveitando a oportunidade para destacar suas supostas falhas e propor formas de reformá-lo e aperfeiçoá-lo. Mas há uma questão muito mais fundamental que deveríamos estar nos perguntando: O BLS deveria sequer existir?
O Argumento contra a existência do BLS
Para responder a essa pergunta, é preciso voltar no tempo e compreender por que o BLS foi criado e, de forma mais ampla, como as estatísticas governamentais se transformaram na imensa estrutura que conhecemos hoje.
Em seu artigo publicado em 1989 no Journal of Libertarian Studies, com o título “World War I as Fulfillment: Power and the Intellectuals” [A Primeira Guerra Mundial como Realização: Poder e os Intelectuais], o economista Murray Rothbard observou que foi a ideologia da Era Progressista e, em especial, o desejo crescente de formar uma classe de intelectuais especialistas encarregados de gerir a economia, que levou os governos, pela primeira vez, a coletar grandes volumes de dados estatísticos. Rothbard cita economistas como Richard T. Ely (1854–1943), Henry Carter Adams (1851–1921) e Wesley Clair Mitchell (1874–1948) como pioneiros dessa abordagem. Mitchell, segundo Rothbard, foi particularmente explícito ao tratar as estatísticas como uma ferramenta de planejamento estatal. Rothbard cita as palavras da esposa de Mitchell, que colaborava estreitamente com ele:
“(...) ele [Mitchell] vislumbrou a grande contribuição que o governo poderia oferecer à compreensão dos problemas econômicos e sociais se os dados estatísticos coletados de forma independente por diversas agências federais fossem sistematizados e planejados, de modo que as inter-relações entre eles pudessem ser estudadas. A ideia de desenvolver estatísticas sociais, não apenas como um registro, mas como uma base para o planejamento, surgiu ainda nos seus trabalhos iniciais” (ênfase adicionada no artigo original).
Rothbard destaca que muitas intervenções governamentais seriam completamente impossíveis, ou, no mínimo, ridículas sem as estatísticas. Afinal, como um governo poderia lidar com o desemprego se não tivesse dados sobre as taxas de emprego, por exemplo? Por isso, Rothbard cita Samuel B. Ruggles, delegado norte-americano no Congresso Estatístico Internacional em Berlim, em 1863, que afirmou: “As estatísticas são os próprios olhos do estadista, permitindo-lhe observar e examinar, com uma visão clara e abrangente, toda a estrutura e a economia do corpo político”.
Não é de se surpreender, portanto, que o Bureau of Labor Statistics tenha nascido e se desenvolvido dentro desse ambiente intelectual. Criado em 1884 como o Bureau of Labor, o órgão foi transferido entre vários departamentos governamentais ao longo de algumas décadas, até finalmente se estabelecer no recém-criado Departamento do Trabalho, em 1913, onde permanece até hoje. O departamento cresceu consideravelmente ao longo do século XX e, atualmente, é a segunda maior agência estatística do governo dos Estados Unidos, ficando atrás apenas do departamento responsável pelo censo (Census Bureau), com um orçamento de aproximadamente 700 milhões de dólares e cerca de 2.300 funcionários. Além de coletar dados sobre emprego, o BLS também reúne informações sobre inflação, condições de trabalho e produtividade do trabalho, entre outros indicadores.
Quase três décadas antes de seu artigo de 1989, Rothbard já estava plenamente consciente da profunda ligação entre as estatísticas e o planejamento governamental. Em 1960, ele publicou um paper chamado “The Politics of Political Economists: Comment” (Um Comentários sobre A Política dos Economistas Políticos), uma resposta a um artigo de George Stigler, na qual destacava que “o impulso pela intervenção governamental e o impulso por mais estatísticas sempre caminharam lado a lado”. Ele desenvolveu argumento semelhante em 1961, em um artigo publicado na revista The Freeman, chamado “Statistics: Achilles’ Heel of Government” (Estatísticas: o Calcanhar de Aquiles do Governo), onde escreveu o seguinte:
“As estatísticas, para repetir, são os olhos e ouvidos dos intervencionistas: do intelectual reformista, do político e do burocrata governamental. Corte esses olhos e ouvidos, destrua essas diretrizes cruciais para o conhecimento, e toda a ameaça da intervenção governamental é quase completamente eliminada.
“(...) Assim, entre o vasto conjunto de medidas propostas ao longo dos anos para controlar e limitar o governo ou revogar suas intervenções, a simples e discreta abolição das estatísticas governamentais provavelmente seria a mais completa e eficaz. As estatísticas, tão vitais para o estatismo, origem do seu nome, são também o calcanhar de Aquiles do estado”.
Alguns, sem dúvida, dirão em objeção que abolir o BLS privará os formuladores de políticas das informações essenciais de que precisam para realizar seu trabalho, mas esse é exatamente o ponto! Não devemos querer que intervencionistas tenham as ferramentas necessárias para exercer suas funções, pois seu trabalho consiste justamente em atrapalhar a concorrência e o progresso econômico. A paralisia para eles significa liberdade para os cidadãos e dinamismo para a economia.
É claro que isso não significa rejeitar todas as estatísticas. Algumas são, de fato, valiosas, e o setor privado é perfeitamente capaz de produzi-las conforme a demanda dos consumidores. O ponto central é simples: as agências de estatísticas governamentais existem principalmente para auxiliar os intervencionistas em seu intervencionismo. Por essa razão apenas, devemos ser contrários à sua existência.
Naturalmente, não há grandes esperanças de que elas sejam abolidas em breve. Afinal, os estatistas também sabem muito bem o quanto as estatísticas são fundamentais para o seu projeto político. Qualquer ataque a um ativo tão central do inimigo inevitavelmente encontrará resistência feroz.
Este artigo foi originalmente publicado no Mises Institute.
Recomendações de leitura:
A estatística, o ponto fraco do governo
Previsões econômicas e seus modelos infundados
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Nota: as visões expressas no artigo não são necessariamente aquelas do Instituto Mises Brasil.
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