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Economia

Trump está cavando a própria cova na economia

03/10/2025

Trump está cavando a própria cova na economia

Recentemente, exatamente um mês depois do Departamento de Estatísticas do Mercado de trabalho (BLS) soltar um relatório sobre as estatísticas de emprego ruim o suficiente para convencer o presidente Trump a demitir o comissário do órgão, o departamento lançou um novo relatório de empregos com resultados ainda piores.

De acordo com esse último relatório, toda a economia americana adicionou apenas 22 mil empregos em agosto. Além disso, os números reportados em junho foram revisados para baixo pela segunda vez. Eles mostram que a economia perdeu 13 mil empregos naquele mês. Nos últimos três meses, a economia conseguiu adicionar apenas uma média pífia de 29 mil empregos por mês, muitos dos quais são de meio período, o que indica um mercado de trabalho que está enfraquecendo rapidamente.

Depois, o BLS publicou outra revisão, na qual eles dizem que a economia acrescentou 911 mil postos de emprego a menos do que o reportado anteriormente entre março de 2024 e março de 2025.

E todos esses resultados vieram duas semanas depois que um relatório da JOLTS [pesquisa sobre vagas de emprego e rotatividade da mão de obra feita mensalmente pelo BLS] afirmou que atualmente existem mais pessoas desempregadas nos Estados Unidos do que vagas de emprego, uma vez que o número de vagas continuou caindo.

Como argumentei anteriormente, é sempre positivo ser cético em relação a dados do governo sobre a economia. Entretanto, considerando todos os indicativos, se os burocratas do governo estiverem enganando a população com dados durante os governos Trump e Biden até agora, foi para fazer com que a economia parecesse estar mais forte do que realmente está, não mais fraca.

Até mesmo o próprio Trump está se mantendo incomumente em silêncio sobre esses novos lançamentos de dados e não tem, até agora, repetido a sua alegação de que o BLS tem soltado dados falsos sobre o mercado de trabalho, mesmo que ainda não tenha colocado seu indicado como comissário deste departamento ainda. Isso pode ser explicado pelo fato de Trump reconhecer que dados negativos sobre emprego aumentam a probabilidade do Federal Reserve votar para reduzir a taxa de juros na sua próxima reunião.

Mas Trump não deveria esperar que os cortes nas taxas de juros que ele está pressionando para acontecer resolvam o número crescente de problemas econômicos que tem. Isso ocorre pois, apesar de ele estar longe de ser o único culpado pelo grande sofrimento econômico que foi trazido pelas políticas monetárias e fiscais pós pandemia, sua própria agenda econômica e políticas públicas prioritárias neste segundo mandato estão destinadas a piorar a situação para ele, para sua equipe econômica e para o país como um todo.

Trump concorreu e venceu com uma boa mensagem na economia. Primeiramente, ele reconheceu o sofrimento econômico que grande parte do país estava enfrentando com a disparada dos preços durante o governo Biden, num momento no qual o governo e seus aliados na mídia estavam ativamente negando esse sofrimento. E ele (novamente) conversou com as frustrações de uma população que tem dificuldade em sobreviver financeiramente em um sistema que é tão claramente manipulado para beneficiar aqueles que estão no topo.

E é justo reconhecer que ele trouxe Elon Musk e deu, tanto para ele quanto para o seu Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), muito poder e acesso, tudo em nome de cortar programas do governo.

Entretanto, esse esforço foi prejudicado pela aversão comum entre os republicanos de reconhecer as formas específicas pelas quais todos esses gastos governamentais estão prejudicando a população americana. Eles fizeram concessões ao argumento progressista de que os gastos governamentais simplesmente ajudam a solucionar qualquer problema que nos dizem que está sendo combatido, em proporção direta à quantidade de dinheiro que está sendo gasta.

Não houve quase nenhuma discussão sobre como praticamente todo o absurdo montante de dinheiro que o governo federal gasta anualmente é usado para proteger e expandir verdadeiros esquemas que direcionam a maior quantia de dinheiro possível para os bolsos de membros do governo e seus amigos bem conectados na indústria, ao mesmo tempo em que os problemas que os programas supostamente deveriam resolver vão piorando.

Em vez disso, o governo Trump e o DOGE apenas aceitaram a ideia progressista de que maiores gastos governamentais simplesmente tornam a vida dos americanos melhor, o que paralisou os esforços de cortes quando eles tiveram que entrar em detalhes sobre o que cortar. Então, eles arruinaram completamente a oportunidade de reduzir significativamente nossa corrupta burocracia governamental.

Logo depois, enquanto o DOGE estava desmoronando, Trump mudou e jogou todo o peso do seu governo para apoiar o seu pior programa econômico: o aumento dos impostos de importação para empresas estrangeiras que escolheram fazer negócios com os americanos.

O presidente e seus apoiadores comemoraram a implementação histórica de tarifas em bens e produtos provenientes de centenas de países em abril como “Dia da Libertação”. Nos foi dito, explicitamente, que essas novas restrições ao comércio iriam trazer uma nova era de ouro para a América.

Agora, a teoria econômica por si só não ajuda a fazer previsões particularmente, porque a política ou o conceito em questão é apenas uma do número inconcebivelmente grande de fatores que determinam como a economia cresce ou contrai. Tudo o que a teoria econômica pode fazer é nos dizer como ficará um mundo com uma política econômica específica em comparação com um mundo idêntico, mas sem a política em questão.

E o que a teoria econômica deixa bem claro é que tarifas alfandegárias criam uma inevitável escassez de produtos no mercado interno que tornam as coisas na economia necessariamente mais caras para a população do que elas seriam sem as tarifas. A adoção de tarifas por Trump significa que o melhor que seu governo poderia esperar é que esses novos impostos apenas desacelerem uma economia que está em expansão por outros motivos, como aconteceria caso eles cortassem significativamente a burocracia federal.

Mas eles mantiveram essa burocracia federal. A economia americana não foi suficientemente destravada para diluir os efeitos penosos das tarifas.

Isso pode ser visto nos dados de empregos. Reconstruir o setor de manufaturas americano de volta para os níveis do meio do século XX é um dos objetivos dos protecionistas que defendem os tipos de tarifas implementadas por Trump. Ainda assim, os empregos nas manufaturas têm caído nesses últimos três meses, juntamente com empregos na construção e na mineração.

Na verdade, de acordo com dados do Institute of Supply Management, o setor de manufaturas vem apresentando contração nos últimos seis meses. De acordo com os próprios fabricantes, isso não ocorre apesar das tarifas, mas por causa delas.

Os defensores das tarifas protecionistas muitas vezes querem nos fazer acreditar que os novos impostos irão, na pior das hipóteses, diminuir as importações de bens de consumo baratos que poderiam ser produzidos pelos americanos. Mas a maior parte dos produtos afetados pelas tarifas são, na realidade, bens de capital e recursos naturais adquiridos por empresas americanas que já produzem internamente. Portanto, não deveria ser surpresa que os fabricantes americanos estejam sofrendo com toda a escassez decorrente dos novos tributos sobre os insumos de que dependem. E, mesmo que a economia eventualmente volte a crescer, esses efeitos nocivos permanecerão enquanto as tarifas forem mantidas.

Trump e sua equipe aderiram por completo à versão da história econômica propagada pelo New York Times, que caracteriza o status quo vigente desde, pelo menos, a década de 1980 como um sistema de capitalismo totalmente livre e comércio irrestrito, no qual a crença definidora do governo federal dos EUA não seria a de manipular regras e regulações em benefício próprio e de seus amigos ricos, mas sim a de abdicar de todo o seu poder e não interferir em nada no comércio. E, portanto, de que os problemas econômicos que enfrentamos hoje seriam simplesmente resultado de o povo americano desfrutar de excesso de liberdade.

Em vez de admitir que essa narrativa é exatamente o oposto da realidade, a administração Trump está mantendo em vigor seu novo regime tributário e apostando tudo que o Federal Reserve inundará o setor financeiro com mais dinheiro fácil.

Um corte de juros pelo Fed vai diretamente contra a meta declarada pela administração de “colocar a Main Street [termo americano utilizado para caracterizar pessoas comuns] à frente de Wall Street. E, como a inflação de preços não desacelerou muito nos anos desde que o Fed imprimiu trilhões de novos dólares durante a pandemia e os injetou diretamente na economia, há o risco de que imprimir mais dinheiro acelere novamente a inflação, somando-se a todos os aumentos de preços já causados pelas tarifas.

A menos que ele corrija o rumo e comece a escutar, pelo menos uma vez, conselhos econômicos corretos, o melhor que Trump pode esperar é que os custos econômicos das políticas adotadas por Washington na pandemia sejam apenas adiados por um pouco mais de tempo, enquanto o Fed ajuda o setor financeiro e os ricos bem conectados a ficarem ainda mais ricos, às custas diretas de todos os demais.

Em outras palavras, no caminho em que estamos, o melhor cenário possível é que o mesmo status quo terrível, inflacionário e corrupto contra o qual Trump concorreu continue exatamente como tem sido.

 

Este artigo foi originalmente publicado no Mises Institute.

 

Recomendações de leitura:

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Nota: as visões expressas no artigo não são necessariamente aquelas do Instituto Mises Brasil.

Sobre o autor

Connor O’Keeffe

Possui mestrado em economia e bacharelado em geologia.

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