Economia
Os bancos centrais não previnem crises financeiras nem controlam a inflação
Os bancos centrais não previnem crises financeiras nem controlam a inflação
Nota do Editor:
Os bancos centrais são o problema. Os bancos centrais funcionam como chefes de um verdadeiro cartel bancário. O atual sistema bancário de moeda fiduciária é capaz de criar dinheiro do nada, via expansão do crédito. Embora essa ferramenta seja altamente lucrativa para os bancos, eles se colocam em posição de risco: uma corrida bancária deixaria evidente que não há reservas suficientes para financiar essa expansão creditícia. O resultado seria a quebra de bancos. É aí que entra em cena o banco central.
Chamado de emprestador de última instância, o banco central resgata bancos que se colocam em apuros por terem expandido o crédito de forma irresponsável. E esse resgate acontece com dinheiro do pagador de impostos e às custas do poder de compra da moeda.
Essa é apenas uma característica nefasta do banco central. Poderíamos adicionar a isso o financiamento de governos, a regulação do sistema bancário e a tara por vigiar as transações dos cidadãos.
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Os bancos centrais tornaram-se a força dominante nos mercados financeiros.
As decisões de afrouxamento ou aperto monetário movem todos os ativos, desde os títulos públicos até participações em capital privado. Supostamente, seu papel é controlar a inflação, garantir a estabilidade de preços e assegurar o funcionamento normal dos mercados. No entanto, há poucas evidências de sucesso em alcançar tais objetivos. A era de domínio dos bancos centrais tem sido marcada por ciclos de expansão e contração, crises financeiras, políticas que incentivam o aumento dos gastos públicos e do endividamento governamental, além de uma inflação persistente. Recentemente, os bancos centrais das economias desenvolvidas assumiram um papel cada vez mais intervencionista.
A criação e a disseminação dos bancos centrais ao longo do último século prometeram maior estabilidade financeira. Contudo, como a história e os acontecimentos atuais mostram repetidamente, os bancos centrais não impediram crises financeiras. A frequência e a gravidade dessas crises oscilaram, mas não diminuíram desde que os bancos centrais se tornaram a figura central na regulação dos mercados financeiros e nas intervenções monetárias. Em vez disso, a atuação dos bancos centrais introduziu novas fragilidades e mudou a natureza, mas não a recorrência, das turbulências financeiras.
As evidências empíricas desfazem o mito de que os bancos centrais encerraram a era das crises financeiras frequentes. Independentemente da supervisão exercida pelos bancos centrais, um em cada três colapsos bancários foi precedido por uma expansão de crédito. E quem criou esses booms de crédito? Os próprios bancos centrais, por meio da manipulação das taxas de juros. De acordo com o abrangente banco de dados de Laeven e Valencia, ocorreram 147 crises bancárias apenas entre 1970 e 2011, em uma era de domínio quase universal dos bancos centrais. Crises financeiras permanecem um fenômeno global persistente, ocorrendo em ciclos que coincidem com episódios de expansão do crédito. Os bancos centrais, frequentemente, prolongaram os períodos de expansão com taxas de juros baixas e volumosas compras de ativos, para depois desencadear momentos abruptos de colapso ao errarem na avaliação da inflação e dos riscos de crédito.
Segundo os trabalhos de Reinhart e Rogoff, a taxa de crises não mudou de forma significativa com a atuação dos bancos centrais. O que mudou, na verdade, foram os formatos das crises. Crises gêmeas (bancária e cambial) continuam comuns, e sua gravidade, medida na redução do PIB ou em custos fiscais, muitas vezes aumentou, especialmente à medida que instituições financeiras e governos se tornaram mais entrelaçados com as autoridades monetárias.
A Grande Crise Financeira de 2008, a crise da dívida soberana na zona do euro e a onda inflacionária de 2021–2022 estão entre os eventos de maiores custos da história, contrariando a visão de que os bancos centrais neutralizaram o risco ou o peso das crises.
Os bancos centrais atuam como “credores de última instância” e reguladores. Contudo, a cada nova crise, a solução é sempre a mesma: programas de compra de ativos cada vez maiores e mais agressivos e taxas reais negativas. Isso significa que os bancos centrais passaram gradualmente de credores de última instância a credores de primeira instância, um papel que ampliou vulnerabilidades. Devido à globalização da atuação dos bancos centrais modernos e às inovações financeiras, as crises tendem a ser mais extensas em escala e mais complexas, afetando a maioria das nações. O envolvimento profundo dos bancos centrais nos mercados, por meio de políticas como liquidez emergencial ou compra de ativos, oculta riscos sistêmicos, resultando em falhas adiadas, mas muito mais dramáticas.
Em muitas economias avançadas, as ondas recentes de crises foram desencadeadas pela acumulação de dívidas e por distorções de mercado orquestradas pelos bancos centrais, muitas vezes sob o pretexto de preservar a estabilidade. O FMI e o Banco Mundial apontam que cerca de metade dos episódios de acumulação de dívida em mercados emergentes desde 1970 envolveram crises financeiras e esses episódios, associados a crises, são caracterizados por crescimento mais acelerado da dívida, resultados econômicos mais fracos e esgotamento das reservas, independentemente da atuação dos bancos centrais.
Grandes crises nas últimas décadas evidenciaram que os bancos centrais não impedem rupturas sistêmicas. Frequentemente, suas intervenções apenas adiaram o ajuste inevitável, mas tornaram os desequilíbrios subjacentes, em especial a dívida pública, ainda piores. Os bancos centrais não evitam crises financeiras. Eles as reconfiguram, muitas vezes ampliando seu alcance e deslocando os custos para o público por meio da inflação e da monetização da dívida.
A prioridade crescente: apoiar o governo em vez de combater a inflação
Como argumentei recentemente, os bancos centrais estão cada vez mais priorizando a distribuição da dívida pública em detrimento do combate à inflação. Eles têm uma prioridade central: manter a bolha da dívida governamental viva. Para isso, injetam liquidez continuamente a fim de estabilizar os emissores soberanos, em vez de assegurar a estabilidade de preços. Só em 2025, os vencimentos da dívida global alcançarão cerca de US$ 2,78 trilhões, e os bancos centrais devem continuar a adotar políticas monetárias expansionistas, mesmo diante da persistência da inflação.
Os bancos centrais utilizam seu imenso poder para disfarçar a insolvência dos emissores soberanos e tornar suas dívidas mais caras, o que leva, em seguida, a uma tomada excessiva de riscos e à inflação nos preços dos ativos. Além disso, a ideia de que juros baixos e compras de ativos são ferramentas que ajudam os governos a reduzir seus desequilíbrios fiscais e a conduzir uma gestão orçamentária prudente é desmentida pela realidade. Taxas artificialmente baixas e compras de ativos legitimam déficits persistentes e elevados níveis de endividamento.
Os bancos centrais estão promovendo a inflação e a instabilidade financeira quando deveriam contê-las. Ao ignorarem os agregados monetários e os riscos criados pelo aumento da intervenção governamental na economia e pela emissão de moeda via instrumentos de dívida, os bancos centrais estão permitindo a lenta estatização da economia.
A equivocada política de expansão monetária e de juros negativos de 2020, mantida até 2022 apesar da escalada inflacionária, é um exemplo claro. Os governos se beneficiaram, naquele período de expansão, com enormes compras de dívida que possibilitaram um aumento imprudente dos gastos públicos e do endividamento. Enquanto isso, cidadãos e pequenos negócios sofreram com a alta inflação. Assim, quando os bancos centrais finalmente reconheceram o problema inflacionário que eles mesmos ajudaram a criar, mantiveram políticas frouxas priorizando a liquidez, o que estimulou ainda mais a irresponsabilidade governamental; e, ao elevar as taxas de juros, prejudicaram as finanças das famílias e das pequenas empresas que já haviam sofrido o impacto inicial da inflação. Os governos, por sua vez, não se preocuparam com as altas de juros, pois aumentaram os impostos.
A resposta do Federal Reserve ao aumento dos déficits governamentais tem consistentemente favorecido maior intervenção do governo e níveis crescentes de endividamento, mesmo ao custo de uma inflação mais elevada, o que acabou por minar sua independência e credibilidade.
A independência desapareceu quando os bancos centrais abandonaram ou ignoraram a estabilidade de preços, atribuindo a inflação a diversas “absurdidades”, em vez de reconhecerem sua verdadeira origem nos gastos do governo e no crescimento da oferta monetária.
O Banco da Inglaterra, por exemplo, continua reduzindo as taxas de juros e afrouxando a política monetária mesmo com a inflação em alta.
Os bancos centrais tendem a afrouxar a política monetária quando os governos aumentam gastos e impostos. Entretanto, os formuladores de políticas afirmam ser rígidos e dependentes de dados quando os governos reduzem impostos e despesas. Por quê? Porque os bancos centrais deixaram de ser autoridades monetárias independentes, voltadas a proteger o poder de compra da moeda e a controlar a inflação, e passaram a facilitar a distribuição da crescente dívida pública e a mascarar a insolvência crescente dos emissores soberanos.
A experiência do banco central moderno mostrou que nenhuma autoridade única deveria definir taxas de juros e liquidez. Os bancos centrais consistentemente erraram em favor do aumento do tamanho do governo na economia e fizeram estimativas equivocadas sobre inflação e crescimento do emprego. A razão para isso é simples: à medida que o peso do governo na economia e a dívida soberana, frequentemente considerada o ativo mais seguro, aumentam, o papel do banco central torna-se cada vez mais crucial para a manutenção da estabilidade dos mercados.
Muitos bancos centrais afirmam não interferir na política fiscal e permanecer independentes… exceto quando alguém ousa reduzir impostos e gastos políticos. Dessa forma, os bancos centrais não representam um limite ao apetite por risco, ao aumento dos gastos governamentais e à irresponsabilidade orçamentária, mas sim um instrumento que possibilita os excessos do mercado e do governo.
Este artigo foi originalmente publicado no Mises Institute.
Recomendações de leitura:
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Nota: as visões expressas no artigo não são necessariamente aquelas do Instituto Mises Brasil.
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