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Economia

Por que o Bitcoin importa

Uma alternativa para quem vive à margem do sistema bancário

25/08/2025

Por que o Bitcoin importa

Uma alternativa para quem vive à margem do sistema bancário

Introdução

Nos países ricos, falar de Bitcoin ainda é visto por muitos como um capricho tecnológico, um investimento arriscado ou uma ferramenta para especuladores. Mas para grande parte da população mundial que vive em países em desenvolvimento, sem acesso a um sistema bancário estável ou à proteção contra a inflação, o Bitcoin não é luxo: é necessidade.

O sistema financeiro global, construído sobre redes de bancos centrais, inflação planejada e intermediários de alto custo, funciona como um clube fechado. Quem está fora dele paga um preço alto. É nesse cenário que o Bitcoin se apresenta como alternativa real de liberdade, poupança e acesso a transações internacionais.

 

Exclusão bancária e vulnerabilidade monetária

De acordo com dados do Banco Mundial, mais de 1,4 bilhão de pessoas no mundo continuam sem conta bancária formal. A grande maioria vive em países pobres, onde as instituições financeiras são frágeis, os governos recorrem frequentemente à inflação como forma de financiar seus déficits e a população é obrigada a conviver com moedas locais em permanente desvalorização.

No Brasil, na Argentina, na Venezuela e em tantas outras economias frágeis, o dinheiro estatal funciona mais como uma armadilha do que como instrumento de troca. Os governos imprimem moeda para pagar gastos crescentes, corroendo a poupança da população. Sob a ótica austríaca, essa prática não é um acidente, mas uma política deliberada de transferência de riqueza do cidadão comum para o Estado e seus aliados.

 

Remessas internacionais e a barreira dos custos

Outro aspecto crítico é o das remessas. Milhões de trabalhadores que vivem nos Estados Unidos e na Europa sustentam suas famílias em países pobres enviando parte do salário para casa. Esse mercado movimenta mais de 600 bilhões de dólares por ano.

O problema é que o sistema tradicional cobra caro por isso. Transferências via Western Union, MoneyGram ou bancos convencionais podem consumir de 5% a 10% do valor enviado, fora o tempo de espera e as burocracias. Para famílias que dependem de cada dólar, essas taxas são devastadoras.

Com Bitcoin e, sobretudo, com a rede Lightning, uma remessa internacional pode ser feita em segundos, com taxas irrisórias, sem depender de bancos ou intermediários. Isso devolve às famílias a riqueza que antes era drenada por sistemas financeiros parasitários.

 

A crítica austríaca: inflação como política de Estado

A economia dominante trata a inflação como “natural” ou até “desejável” dentro de uma meta de 2% ao ano. Para a Escola Austríaca, esse discurso é uma falácia: inflação não é sinal de crescimento saudável, mas um mecanismo de expropriação.

Ludwig von Mises demonstrou que a expansão monetária é uma forma de redistribuição coercitiva: o Estado e os bancos próximos a ele recebem o dinheiro novo primeiro, enquanto a população arca com a perda de poder de compra. Hayek reforçou que nenhum governo pode gerir eficientemente a moeda, pois o conhecimento é disperso e não pode ser centralizado.

Nesse sentido, o Bitcoin representa o oposto da moeda estatal: sua emissão é limitada, transparente e não depende da vontade política. Ele encarna, em código, a defesa austríaca da moeda sólida.

 

O caso de El Salvador e as lições globais

A adoção do Bitcoin como moeda legal em El Salvador em 2021 chamou a atenção do mundo. Embora a experiência esteja longe de ser perfeita — ainda mais em um país pequeno, com fragilidades institucionais — ela mostrou que é possível oferecer à população uma alternativa ao sistema bancário e à dolarização.

Mais importante do que a experiência governamental em si é o movimento que ela inspirou: comunidades inteiras, ONGs e pequenos empreendedores em países pobres passaram a testar o Bitcoin como meio de poupança e pagamento (exemplos aqui). Isso reforça o ponto central: não é necessário esperar por governos, pois o Bitcoin nasce como ferramenta de liberdade individual.

 

Além da especulação: poupança, dignidade e futuro

Para investidores em Wall Street, o Bitcoin pode ser apenas mais um ativo em carteira. Para quem vive em economias frágeis e não tem acesso a bancos, ele pode ser a diferença entre preservar ou perder totalmente a renda de uma vida.

A população excluída do sistema bancário global não precisa de mais promessas de “inclusão financeira” feitas por governos ou organismos internacionais. Precisa de acesso direto a um dinheiro que não possa ser confiscado, inflacionado ou manipulado por burocratas.

O Bitcoin não resolve todos os problemas de pobreza ou desigualdade, mas oferece algo essencial: a possibilidade de poupança verdadeira e de transações sem fronteiras. Ele devolve às pessoas a dignidade de planejar o futuro em moedas sólidas, sem depender da benevolência do Estado.

 

Conclusão

O Bitcoin não é apenas uma inovação tecnológica. É uma ruptura moral e econômica com séculos de monopólio estatal sobre o dinheiro. Para países em desenvolvimento e populações excluídas do sistema bancário, ele representa uma alternativa concreta à inflação, às barreiras artificiais das fronteiras financeiras e à dependência dos bancos centrais.

A pergunta não é se os ricos de Nova York ou Londres devem comprar Bitcoin para diversificar seus portfólios. A verdadeira questão é: por que negar às populações mais vulneráveis do mundo o acesso a uma moeda que devolve liberdade, dignidade e autonomia?

A resposta, como sempre alertou a Escola Austríaca, é que os Estados temem perder o controle sobre o dinheiro. Mas quanto mais avançar a centralização, mais urgente será o papel do Bitcoin como instrumento de emancipação financeira.

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Nota: as visões expressas no artigo não são necessariamente aquelas do Instituto Mises Brasil.

Sobre o autor

Marcos H. Giansante

É médico cirurgião do aparelho digestivo e escritor, com atuação em São Paulo. Pós-graduando em Economia Austríaca, Filosofia, Direito e Ciência Política pelo Mises Academy, programa de formação do Instituto Mises Brasil, contribui para debates acadêmicos e públicos sobre liberdade, ciência e poder estatal a partir de uma perspectiva liberal clássica. Também colabora com o Mises Wire e com a revista MISES Journal.

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