Política
O regime não se importa com energia acessível e confiável
Uma lição do apagão na Espanha e em Portugal
O regime não se importa com energia acessível e confiável
Uma lição do apagão na Espanha e em Portugal
Há muitas informações conflitantes sobre a causa dos mega apagões em abril passado na Espanha e em Portugal – os maiores apagões de sua história. Embora tenha se falado em causas "indefinidas", dado o histórico pouco confiável de transparência por parte dos governos nacionais, suspeito que as verdadeiras causas dos apagões estejam claras para aqueles que estão em posição de saber.
O que nós, de fora, sabemos com certeza é que Espanha e Portugal, assim como a maioria dos países europeus, passaram anos tentando substituir fontes de energia tradicionais, confiáveis e comprovadas por alternativas mais caras e instáveis, tudo em nome de “emissões líquidas zero” ou do “New Deal Verde Europeu”.
Alguns críticos das políticas populares da Europa voltadas para as energias renováveis sugeriram que os apagões eram previsíveis, considerando a busca imprudente do continente por fontes de energia pouco confiáveis, como a solar e a eólica. Recentemente, por exemplo, Nigel Farage, líder do partido Reform UK, previu que “as luzes vão se apagar aqui também” se o Reino Unido continuar com essa “loucura das energias renováveis”.
Um símbolo dessa política pode ser a destruição, em 2022, da usina termelétrica a carvão de Teruel, na Espanha. Em vez de modernizar a planta ou substituí-la por uma usina a carvão com tecnologia de queima mais limpa, a instalação foi desativada e, posteriormente, demolida em 2022, como parte do esforço europeu por uma matriz energética “renovável”. Como descreveu um artigo que expressava apoio à transição da Espanha para longe das fontes tradicionais (e altamente confiáveis) de energia:
“Ao longo de sua existência, a usina de 1,1 GW produziu 224.000 GWh, o equivalente ao consumo de energia de toda a Península Ibérica durante um ano inteiro. Após quarenta anos, a era do carvão chegou ao fim em Andorra, e o tempo das energias renováveis começou.
“Em um futuro próximo, a área se tornará um polo ‘híbrido’, com usinas solares, parques eólicos, sistemas de armazenamento por baterias e uma fábrica de hidrogênio verde”.
Esse tipo de coisa, é claro, vem acontecendo por toda a Europa. Um dos casos mais notáveis foi a destruição das usinas nucleares da Alemanha apenas alguns meses depois que o regime ucraniano, possivelmente com assistência dos Estados Unidos, sabotou o gasoduto Nord Stream, cortando os alemães de uma fonte essencial de energia. Desde então, a indústria alemã passou a pagar preços de eletricidade “significativamente mais altos do que aqueles pagos por empresas em outros países concorrentes importantes”. Isso impactou o setor de manufatura alemão, que “tem enfrentado dificuldades desde 2021 devido ao aumento dos custos de energia (...)”. Além disso, nos períodos de menor incidência de sol e vento, a Alemanha precisa importar energia de países vizinhos.
Outros países enfrentam problemas semelhantes e, mesmo com o aumento substancial dos preços da energia, a elite política europeia continua insistindo na “energia verde”, que ainda não conseguiu fornecer o nível de produção energética necessário. Anca Gurzu resumiu essa situação em 15 de janeiro deste ano:
“Os preços da eletricidade industrial na Europa dispararam nos últimos anos, acentuando sua desvantagem competitiva em relação aos Estados Unidos em um momento crucial da transição energética, justamente quando ambas as regiões tentam conquistar seu espaço no emergente mercado de fabricação de tecnologias limpas, atualmente dominado pela China.
“Entre 2019 e 2023, os preços da energia elétrica industrial no Reino Unido aumentaram 124%, na Hungria 171%, na Polônia 137% e na França 93%, segundo dados do Departamento de Segurança Energética e Emissões Líquidas Zero do Reino Unido, que reúne informações da Eurostat e da Agência Internacional de Energia”.
(Em comparação, nos Estados Unidos, os preços da energia cresceram 21% no mesmo período).
No entanto, preços extremamente altos não são a mesma coisa que apagões. Por isso, não está claro se a mudança para fontes de energia renovável é necessariamente a causa direta do apagão. O fato de o apagão ter ocorrido é apenas mais uma evidência do mesmo fenômeno que impulsiona a transição para uma energia “renovável” e mais cara. Ou seja: os regimes que governam a Europa simplesmente não consideram prioridade fornecer energia barata e confiável às pessoas comuns, justamente aquelas que mais sofrem quando ocorrem apagões e aumentos bruscos nos preços.
Na Europa Ocidental, os regimes nacionais começaram a nacionalizar o setor energético a partir do início dos anos 1950. A justificativa oficial para essas estatizações era o aumento da eficiência ou a promessa de que os governos poderiam oferecer energia mais acessível. Já se passaram mais de setenta anos, e seria de se esperar que os governos nacionais tivessem se tornado especialistas em fornecer energia em abundância para suas populações. Aparentemente, isso é esperar demais, mas não porque esses governos não tenham os meios. Afinal, estamos falando de países ocidentais ricos, com orçamentos públicos enormes. O orçamento nacional da Espanha, por exemplo, é de quase 600 bilhões de dólares, nada austero para um país com menos de 50 milhões de habitantes.
Ainda assim, o regime espanhol, como a maioria dos regimes europeus, não demonstra qualquer motivação para garantir que seus contribuintes não precisem se preocupar se as luzes vão acender ou não. E isso apesar do fato de que as alíquotas marginais do imposto de renda na Espanha estão entre as mais altas do mundo, além de outros tributos, como o imposto corporativo e o imposto sobre o valor agregado, que também não são exatamente baixos.
Os recentes apagões revelam que as prioridades do regime estão em outro lugar. Está claro que a obsessão com “emissões líquidas de carbono zero” se sobrepõe a qualquer preocupação com energia confiável e acessível para as pessoas comuns, que pagam a conta. O que realmente importa para os políticos é poder se gabar, no próximo encontro da União Europeia, de que seu país instalou mais alguns parques eólicos, independentemente de isso realmente beneficiar a população ou não. Certamente, há outras prioridades também. Talvez a classe dirigente da Espanha esteja ocupada demais fazendo campanha por uma guerra permanente contra a Rússia para se incomodar com assuntos “chatos”, como garantir uma rede elétrica confiável, algo pelo qual os contribuintes já foram cobrados muitas vezes.
Diante das receitas tributárias e dos recursos disponíveis ao regime espanhol, o descaso com a energia confiável é, claramente, uma escolha deliberada. Infelizmente, como o setor energético foi socializado há décadas, os pagadores de impostos estão à mercê dessas escolhas.
Este artigo foi originalmente publicado no Mises Institute.
Recomendações de leitura:
O apagão da Europa e a confiabilidade elétrica em xeque
Por fim, sabemos para que serve o kit de sobrevivência da Comissão Europeia
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Nota: as visões expressas no artigo não são necessariamente aquelas do Instituto Mises Brasil.
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