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Inflação por design

Como a política monetária brasileira fabrica a instabilidade econômica

21/07/2025

Inflação por design

Como a política monetária brasileira fabrica a instabilidade econômica

Introdução

No Brasil, a inflação não é apenas um efeito colateral da economia — é uma política deliberada. Em vez de ser tratada como uma anomalia, a erosão do poder de compra tornou-se um resultado normalizado e institucionalizado da ação governamental. A ilusão de um “estado empreendedor”, exaltado por políticos e burocratas como motor do desenvolvimento, oculta um aparato coercitivo que fabrica expansões artificiais por meio da expansão monetária, da manipulação do crédito e de incentivos ao consumo. Este artigo examina a política monetária brasileira pós-2022 sob a ótica da Escola Austríaca de Economia, especialmente os ensinamentos de Ludwig von Mises, para demonstrar que a inflação não é um acidente, mas um projeto.

 

A miragem do estado empreendedor

A retórica brasileira contemporânea glorifica o estado como agente de inovação e prosperidade. No entanto, o chamado “governo empreendedor” não é criador de riqueza, mas mero redistribuidor de recursos que não lhe pertencem. Ao controlar o crédito e a emissão de moeda, orquestra distorções de mercado que culminam em ciclos inflacionários. Em vez de estimular uma atividade empreendedora genuína, premia a proximidade política, penaliza a poupança e incentiva o consumo de curto prazo.

Como alertou Mises em Ação Humana, os gastos do governo não podem criar riqueza; só podem redistribui-la. O governo brasileiro, por meio de programas fiscais expansivos e empréstimos direcionados politicamente, tem se envolvido em um experimento perigoso: utilizar a inflação como mecanismo de controle econômico.

 

Expansão e ilusão: a experiência recente no Brasil

Entre o final de 2022 e meados de 2025, o Brasil passou por uma expansão monetária significativa, em parte obscurecida por narrativas oficiais e subnotificada pelas autoridades do Banco Central. Apesar de alegar perseguir metas inflacionárias, o Banco Central do Brasil (BACEN) supervisionou um aumento substancial dos agregados M2 e M3, ao mesmo tempo em que divulgava seletivamente componentes do seu balanço.

A ilusão de prosperidade, artificialmente gerada por crédito barato e transferências fiscais, refletiu a clássica dinâmica do ciclo econômico austríaco: alocação incorreta de capital, investimentos malsucedidos (malinvestments) e bolhas de ativos. Como explica Rothbard em Indivíduo, Economia e Estado, a inflação distorce os sinais de preços, levando empreendedores a decisões de investimento insustentáveis. No Brasil, essas distorções foram amplificadas por pressões políticas para manter o crescimento a qualquer custo.

 

O ciclo: expansão, ilusão, recessão

A inflação não é apenas resultado da criação excessiva de moeda — é um mecanismo de planejamento central. O medo do governo diante da deflação ou da desaceleração econômica se torna justificativa para estímulos permanentes. Mas, como Mises frequentemente apontava, todo boom artificial carrega em si as sementes do seu colapso.

O ciclo é previsível:

- A expansão monetária cria a ilusão de crescimento;

- Consumidores, temendo altas de preços, antecipam seus gastos;

- Produtores interpretam o boom como demanda real;

- A expansão via crédito leva à inflação de ativos;

- Eventualmente, a realidade intervém: escassez, disparada de preços, alta dos juros;

- Segue-se a correção: recessão, desemprego e crise fiscal.

Ainda assim, os formuladores de políticas raramente reconhecem a causa raiz. Em vez disso, clamam por mais estímulos, mais intervenção — reiniciando o ciclo sob o pretexto de combater a própria crise que causaram.

 

Inflação como coerção: a dimensão moral

A inflação não é neutra. Ela constitui um imposto oculto que prejudica desproporcionalmente os mais pobres e aqueles com renda fixa. Beneficia devedores às custas dos poupadores, transfere riqueza da periferia para o centro e consolida o poder estatal.

Como ensina Jesús Huerta de Soto em Moeda, Crédito Bancário e Ciclos Econômicos, a inflação é a forma mais sutil e eficaz de expropriação. No Brasil, essa expropriação é sistêmica, legitimada por instituições e celebrada por uma elite tecnocrática que vê a manipulação monetária como forma esclarecida de governança.

 

Por uma política monetária honesta

O caminho a seguir exige uma reavaliação radical da governança monetária. O regime inflacionário brasileiro não é fruto da ignorância, mas de um projeto deliberado. Romper esse ciclo não requer apenas reforma técnica, mas uma revolução moral e institucional: transparência monetária, responsabilidade fiscal e retorno à moeda sólida.

Como conclui Mises em Ação Humana, a questão é a seguinte: o governo ou o mercado? Não há uma terceira solução.

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Nota: as visões expressas no artigo não são necessariamente aquelas do Instituto Mises Brasil.

Sobre o autor

Marcos H. Giansante

É médico cirurgião do aparelho digestivo e escritor, com atuação em São Paulo. Pós-graduando em Economia Austríaca, Filosofia, Direito e Ciência Política pelo Mises Academy, programa de formação do Instituto Mises Brasil, contribui para debates acadêmicos e públicos sobre liberdade, ciência e poder estatal a partir de uma perspectiva liberal clássica. Também colabora com o Mises Wire e com a revista MISES Journal.

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