Deseja a formação de mais famílias? Acabe com a inflação
Nota da edição:
O presente artigo é uma resenha do livro Inflation and the Family [Inflação e a Família, em tradução livre], do economista Jeffery L. Degner. Como o próprio título sugere, a resenha aborda os pontos principais da perspectiva austríaca sobre a formação de famílias contidas no livro.
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No recém-publicado Inflation and the Family, Jeffery Degner apresenta uma obra envolvente, acessível e profundamente necessária, que escancara as consequências reais e exaustivas das políticas inflacionárias sobre as famílias americanas comuns. Para quem se preocupa com a política econômica e suas repercussões sociais, o livro de Degner não é apenas oportuno, mas essencial.
Por décadas, os americanos ouviram que uma inflação moderada é sinal de uma economia saudável. Banqueiros centrais e economistas do mainstream repetem o mantra de que uma inflação anual de 2% é uma meta desejável, algo a ser buscado, não evitado. Mas, como Degner demonstra com uma clareza devastadora, esse tipo de pensamento está completamente desconectado da experiência vivida pelas pessoas comuns, especialmente pelas famílias que tentam construir uma vida estável e segura em meio aos estragos provocados por décadas de expansão monetária.
Um dos efeitos mais evidentes e imediatos da inflação persistente tem sido o aumento nos preços dos ativos, especialmente dos imóveis. A obra de Degner é mais impactante justamente ao mostrar que a inflação corroeu dramaticamente a acessibilidade à moradia. Considere o seguinte: em 1980, o preço médio de uma casa era de aproximadamente US$ 47.200, enquanto a renda familiar mediana girava em torno de US$ 21.000. Ou seja, uma casa típica custava pouco mais de 2,2 vezes a renda mediana. Avançando para 2022, o preço médio de uma casa ultrapassou os US$ 428.000, enquanto a renda familiar mediana mal passava dos US$ 70.000 - o que significa que o custo de uma casa passou a ser mais de seis vezes a renda mediana. E isso sem considerar o impacto da alta nas taxas de juros. Em outras palavras, uma família que antes esperava razoavelmente comprar uma casa com um único salário agora se depara com uma aritmética brutal que praticamente exclui a possibilidade de adquirir um imóvel, a menos que herde patrimônio, tenha renda dupla ou se submeta à servidão da dívida de longo prazo.
Degner aponta, com razão, que a inflação dos preços dos ativos não é um fenômeno natural, mas uma consequência deliberada da política dos bancos centrais. Dinheiro barato e taxas de juros artificialmente baixas alimentaram uma verdadeira guerra de lances por imóveis, ações e outros ativos, beneficiando desproporcionalmente os mais ricos e excluindo os jovens e as famílias trabalhadoras do mercado. Enquanto isso, justamente as pessoas mais afetadas pela alta dos custos, aquelas com renda baixa ou fixa, são informadas de que a inflação é “transitória” ou, pior ainda, de que é “boa para elas”.
A abordagem do livro em relação ao custo de vida é igualmente urgente. Como Degner documenta, o verdadeiro custo de vida disparou nas últimas duas gerações, mesmo com o crescimento real dos salários praticamente estagnado. Embora as estatísticas oficiais apontem uma inflação modesta, qualquer pessoa que paga contas, faz compras no mercado ou abastece o carro sabe que a realidade é bem diferente. Os preços dos itens essenciais, como alimentação, combustível, saúde e creches, aumentaram de forma acentuada, muitas vezes de maneiras que passam despercebidas nos relatórios do índice de preços ao consumidor, por meio de ajustes de qualidade ou precificação hedônica. Mas, como Degner mostra, nenhuma ginástica estatística consegue esconder a verdade: hoje é mais difícil sustentar uma família com um único salário do que em qualquer outro momento desde a Grande Depressão.
Degner também não hesita em apontar o verdadeiro culpado. A inflação não é uma força misteriosa fora do nosso controle, ela é resultado de decisões políticas. É fruto das escolhas feitas por bancos centrais, autoridades fiscais e agentes políticos que priorizam a monetização da dívida, os mercados financeiros e os interesses da elite em detrimento das famílias trabalhadoras. O livro defende (com razão) que a inflação atua como um imposto silencioso, um tributo oculto que corrói a poupança, penaliza a prudência e distorce a estrutura da economia.
O que torna o livro especialmente eficaz é a maneira como Degner fundamenta esses argumentos em termos concretos e identificáveis pelo eleitor médio. Ele entrelaça histórias, exemplos e dados de uma forma que nunca soa excessivamente técnica, mas que ainda assim respeita a inteligência do leitor. Há uma clareza moral em sua escrita que remete ao melhor da tradição austríaca: o reconhecimento de que a inflação não é apenas uma questão monetária, mas uma questão profundamente humana, com consequências de longo alcance para a comunidade, a família e as gerações futuras.
Para aqueles de nós que se preocupam com os rumos da vida americana, sua fragilidade econômica, a queda nas taxas de natalidade e o colapso da confiança social, o livro de Degner é um alerta sóbrio de que muitas dessas tendências têm raízes no nosso regime monetário. Ao desvalorizar continuamente a moeda, acabamos desvalorizando os próprios alicerces de uma sociedade estável, próspera e moralmente coesa.
Inflation and the Family deveria ser leitura obrigatória não apenas para economistas e formuladores de políticas públicas, mas para qualquer pessoa que esteja tentando entender por que hoje parece tão mais difícil progredir do que era uma ou duas gerações atrás. É um livro que desafia a ortodoxia, defende a dignidade da família e exige que levemos a sério os efeitos corrosivos da era inflacionária em que vivemos.
Portanto, esqueça as promessas de democratas e republicanos de imprimir ainda mais dinheiro para incentivar as pessoas a terem filhos: acabe com a inflação!
Este artigo foi originalmente publicado no Libertarian Institute.
Recomendações de leitura:
A origem da propriedade privada e da família
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Nota: as visões expressas no artigo não são necessariamente aquelas do Instituto Mises Brasil.
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