A oferta ótima de dinheiro: um argumento simples
Como economista, frequentemente me perguntam qual deveria ser a velocidade de crescimento da oferta de dinheiro. A resposta é simples: não deveria crescer. Na verdade, uma vez que uma economia já possui uma oferta de dinheiro, qualquer quantidade é considerada ótima. Essa resposta costuma causar confusão, pois está muito distante das expectativas das pessoas. Para fundamentar meu ponto de vista, vamos construir um argumento simples.
O escambo é o sistema econômico que antecede um mundo com dinheiro. Num contexto de escambo, as pessoas trocam diretamente bens entre si. Por exemplo, alguém pode trocar maçãs por mirtilos. Tanto as maçãs quanto os mirtilos possuem o que se chama de “valor de uso”. O valor de uso é a satisfação subjetiva que se obtém de um bem ou serviço, como ocorre com maçãs e mirtilos.
Como qualquer economista dirá, o escambo é extremamente ineficiente. Os custos de transação são tão elevados que muitas pessoas preferem suportar a hiperinflação em vez de recorrer a uma economia de escambo puro. Para superar esses custos altos, como demonstrou Carl Menger, o dinheiro surge de forma natural a partir de uma economia baseada no escambo. Imagine duas pessoas (A e B) que possuem maçãs e mirtilos. Suponha que a pessoa B (que tem mirtilos) não queira maçãs e prefira cerejas. Assim, a pessoa A encontra a pessoa C (que tem cerejas e está disposta a aceitar maçãs) e troca as maçãs pelas cerejas. Por fim, A troca as cerejas pelos mirtilos, e todos ficam mais satisfeitos. Por que a pessoa A trocou pelas cerejas? Talvez a pessoa A nem goste de cerejas. Talvez seja alérgica a cerejas. Então, por que fez essa troca? A resposta é evidente: as cerejas eram um meio para atingir um fim. A pessoa A trocou as maçãs pelas cerejas para obter o que realmente desejava: os mirtilos.
Neste exemplo, as cerejas possuem valor de uso porque as pessoas B e C atribuem utilidade ao seu consumo. No entanto, elas também adquiriram algo adicional: valor de troca. A pessoa A não tinha qualquer interesse no valor de uso das cerejas e só lhes atribuía valor como meio para alcançar seu objetivo final. Em outras palavras, ela valorizava as cerejas apenas porque podia trocá-las pelos mirtilos. Para uma exposição detalhada sobre os conceitos de valor de uso e de troca, veja Man, Economy, and State, de Rothbard (a partir do Capítulo 2, seção 2). À medida que os bens com valor de troca competem entre si no mercado, aquele que prevalece recebe o nome de dinheiro.
O dinheiro fiduciário é aquele que possui apenas valor de troca. Ele não tem valor de uso. A maioria dos dólares existe apenas como números digitais registrados em contas eletrônicas. Um ponto curioso sobre os dólares fiduciários é que, quando eles são utilizados, não se consomem. Quando uso um dólar, ele permanece um dólar inteiro. Ele não se reduz pelo fato de eu entregá-lo ou recebê-lo. Em contraste, quando utilizo uma maçã, ela é consumida. O mesmo ocorre com bens duráveis: eles também são consumidos, embora a uma taxa muito mais lenta. Mas o dinheiro é diferente, e é justamente essa diferença que importa.
Não precisamos criar mais dólares para substituir dólares usados. Além disso, ao introduzirmos mais dólares fiduciários no sistema econômico, nenhum valor de uso adicional é incorporado à economia. E, ao aumentarmos a oferta de dólares fiduciários, também não estamos acrescentando valor de troca à economia. Estamos apenas dispersando o valor total de troca já existente por um número maior de dólares. Com isso, reduzimos o poder de compra de cada dólar. Em outras palavras, não há ganho algum, nem de valor de uso nem de valor de troca, quando criamos novos dólares. (Para mais detalhes sobre como a emissão de mais dólares não agrega valor à economia, consulte o artigo clássico de Rothbard sobre a Teoria Austríaca do Dinheiro.)
A lição principal é que os dólares não desaparecem à medida que são usados, e criar mais dólares não acrescenta valor à economia. Portanto, não existe razão econômica para alterar a oferta de moeda. Qualquer quantidade de dinheiro é considerada ótima.
Este artigo foi originalmente publicado no Mises Institute.
Recomendações de leitura:
Sobre déficits, oferta monetária e inflação
Qual é a oferta monetária “adequada” para uma economia?
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Nota: as visões expressas no artigo não são necessariamente aquelas do Instituto Mises Brasil.
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