Por que a piscina está vazia?
Um grande amigo costuma dizer que "a piscina está vazia" para se referir ao mercado financeiro do Brasil. Neste caso, a piscina é a bolsa de valores brasileira, representada pelo índice IBOV. O que ele quer dizer é que falta participação de grandes investidores — tanto institucionais quanto estrangeiros. E ele acredita que, justamente por isso, este é o melhor momento para entrar: porque quando esses agentes voltarem à piscina, o volume de água (ou seja, os preços) irá subir.
Mas por que a piscina está vazia há tanto tempo? Será mesmo que esses investidores voltarão?
Para tentar responder a essas perguntas, precisamos observar um fator crucial e muitas vezes negligenciado: o comportamento da base monetária brasileira nos últimos anos.
O aumento da base monetária: o que mudou?
Na minha visão, o aumento de cerca de 900% da base monetária em 26 anos afetou profundamente nossa bolsa. Ludwig von Mises certamente concordaria.
Para simplificar a análise, vamos deixar de lado julgamentos sobre se esse aumento foi necessário ou positivo. O fato é: a base monetária brasileira cresceu de forma expressiva nas últimas décadas.
Segundo Mises, a expansão da base monetária é:
- A principal causa da inflação;
- Um fator de desorganização da economia;
- Um motor de ciclos artificiais de crescimento.
Segundo a Escola Austríaca de Economia, a expansão monetária artificial não promove prosperidade sustentável, mas apenas posterga crises inevitáveis ao incentivar investimentos desequilibrados e distorções no mercado. Para Mises, esse tipo de intervenção monetária cria uma ilusão temporária de crescimento, que culmina em correções dolorosas quando os recursos alocados erroneamente são expostos. Friedrich Hayek complementa ao argumentar que esse processo, ao invés de estabilizar a economia, frequentemente exige novas intervenções estatais, aprofundando o ciclo de desequilíbrio.
Realidade em reais versus realidade em dólares
É verdade que tivemos um aumento significativo do índice da bolsa em reais nos últimos anos. No entanto, quando analisamos o desempenho em dólares, percebemos que a bolsa brasileira está praticamente estagnada.
Ou seja, os preços sobem em moeda local, mas não há valorização real quando olhamos sob uma ótica internacional. Isso reforça a ideia de que a piscina continua vazia — os grandes investidores estrangeiros ainda não retornaram em peso.
A ilusão de uma piscina cheia
A bolsa brasileira continua subindo — mesmo com a queda no número de investidores ativos. Isso revela que não houve um aumento real de demanda, mas sim uma valorização artificial dos preços, provocada pelo excesso de moeda na economia.
O fenômeno não se restringe à bolsa. Os preços em geral estão subindo no Brasil, não porque estamos consumindo mais — muito pelo contrário —, mas porque há mais dinheiro circulando, disputando a mesma quantidade de produtos.
Aqui entra um princípio básico da economia:
- Quando algo se torna mais abundante, tende a perder valor;
- Quando algo se torna mais escasso, tende a ganhar valor.
A analogia clássica ilustra:
- Água é essencial para a vida, mas é abundante — por isso, tem baixo valor de troca.
- Ouro é escasso — mesmo sem utilidade vital, possui alto valor de troca.
Nossa moeda, como a água, está cada vez mais abundante. Como resultado, seu valor real está derretendo.
Quantos litros de água você pagaria por uma ação da Vale3? E quantos quilos de ouro?
Obviamente, pagaria muito mais água do que ouro. O mercado funciona da mesma forma. A bolsa sobe porque estamos pagando em uma moeda cada vez mais fraca. Quando expressamos os preços em dólares, vemos a estagnação.
Bolsa cara ou barata?
A resposta pode soar contraintuitiva para quem olha apenas o índice em reais:
A bolsa está cara. Inflada. Artificial.
A piscina parece cheia — mas a água que preenche essa piscina não é capital produtivo: é excesso de liquidez.
De acordo com Hayek, ao expandir a moeda, corrompemos os sinais de preço, levando a investimentos descoordenados que só são corrigidos com crises dolorosas.
Mais cedo ou mais tarde, o ajuste virá:
- Pela redução da base monetária;
- Pela desvalorização abrupta da moeda;
- Ou por uma crise financeira profunda.
Quando o inevitável ajuste chegar, estaremos preparados? Ou seremos apenas nadadores desatentos, surpreendidos pela água que, de repente, desaparece?
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Nota: as visões expressas no artigo não são necessariamente aquelas do Instituto Mises Brasil.
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