A Vida de Bento XVI
Nota da Edição
Com o início do Conclave no Vaticano para a escolha do novo Papa, publicamos a seguinte resenha feita pelo professor Jesús Huerta de Soto do livro Benedict XVI: A Life, Volume 1: Youth in Nazi Germany to the Second Vatican Council 1927–1965 [traduzido para o Brasil com o título Bento XVI: A Vida, Livro 1: Juventude na Alemanha Nazista até o Concílio Vaticano II].
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Peter Seewald publicou recentemente uma extensa biografia do Papa Emérito Bento XVI, e a obra é uma verdadeira obra-prima que, uma vez iniciada, torna-se impossível de largar. Seewald escreve com agilidade e brilhantismo. Ele descreve com clareza e estabelece conexões entre os eventos da vida e o pensamento de Joseph Ratzinger, situando-os no contexto histórico da evolução da humanidade e da Igreja Católica ao longo do último século. Seewald, que iniciou sua carreira como jornalista, cumpre essa tarefa de maneira muito lógica, honesta e perfeitamente compreensível, demonstrando, assim, que se tornou um historiador talentoso. Arrisco até dizer que este livro logo se tornará um verdadeiro clássico e leitura obrigatória para todos que desejam conhecer e compreender a essência, a história e o caminho futuro da Igreja Católica e do mundo ao seu redor nos séculos XX e XXI.
Além disso, acredito que a biografia despertará especial interesse entre todos os defensores da Escola Austríaca e amantes da liberdade que, sejam ou não crentes, condenam persistentemente a “arrogância fatal” do estatismo. De fato, a ditadura e o imperialismo do politicamente correto, a manipulação das massas e, em suma, a deificação da razão humana — que está por trás e alimenta o enorme poder político e a onda de engenharia social que dominam o mundo moderno — são denunciados repetidamente e têm sido, por assim dizer, alguns dos principais ideais no pensamento e na obra de Joseph Ratzinger ao longo de toda a sua vida.
Seewald apresenta seu biografado como uma pessoa extremamente humilde e afável, sempre aberta ao diálogo e disposta a acolher os adversários, independentemente dos ataques e das manipulações tendenciosas que sofre. Essa qualidade, no entanto, não impede Ratzinger de defender a verdade com a força do raciocínio próprio (ou obtida por meio da oração), de modo que “ele não podia permanecer em silêncio ao ver coisas que estavam erradas”. Nesse sentido, a postura de Ratzinger está alinhada com o lema de Ludwig von Mises, expresso nas famosas palavras de Virgílio: “Tu ne cede malis sed contra audentior ito” (“Não cedas ao mal, mas avance com ainda mais ousadia contra ele”). De fato: “Nos debates profissionais, [Ratzinger] não fazia concessões”. Vejo essa como a única postura aceitável para um estudioso que busca a verdade, e tenho tentado, humildemente, adotá-la eu mesmo: no que diz respeito à teoria e à busca da verdade, devemos ser intransigentes.
Além disso, Seewald destaca que, na visão de Ratzinger, “era desastroso aceitar o que é falso, desonesto ou errado, ou comprar sucesso e prestígio público ao custo da verdade, ou ainda aprovar a opinião dominante se esta se baseasse em inverdades”. Assim, o destino dos homens bons e responsáveis é sempre “nadar contra a corrente”, o que coincide claramente com o destino dos amantes da liberdade que se opõem ao estatismo em nossos dias, pois este se baseia na “arrogância fatal” (nas palavras de Hayek), ou na “arrogância com a qual os seres humanos, presunçosamente, afirmam tornar-se criadores autônomos de um paraíso terrestre” — algo que só pode levar à autodestruição do ser humano.
Assim como todo libertário vê a história da humanidade como o registro da luta entre a liberdade e a coerção e servidão características do Estado, Ratzinger enxerga, em última instância, a história como o registro da luta entre a fé e a descrença, entre o bem e o mal — sendo este último representado por todas as tentativas humanas de alcançar a perfeição pelos próprios esforços (acrescento aqui: especialmente através do uso do poder político e da engenharia social), tentativas estas fadadas ao desastre. Ratzinger reconhece o poder formidável das forças do Maligno, que acredito se encarnarem particularmente no Estado e no poder político sustentado pela mentira (e que constantemente frustra a liberdade humana, nossa principal característica, e a ordem espontânea do mercado e da sociedade). No entanto, Ratzinger sustenta que o poder do Altíssimo é sempre mais forte do que todas as outras forças reunidas. O futuro não é algo que simplesmente virá, mas algo a ser construído, e cabe a nós e a Deus realizá-lo. Aconteça o que acontecer, jamais veremos triunfar o destrucionismo (para usar o termo de Mises) típico do socialismo estatista, que é uma das principais manifestações da tentativa constante do Diabo de destruir, por inveja, a obra de Deus e sua principal criatura: o ser humano.
Seewald escreveu uma biografia repleta de pequenos detalhes e informações surpreendentes sobre a vida de Ratzinger. Por exemplo, lemos que seus pais se conheceram e se casaram graças a um anúncio que seu pai, um honesto policial local, publicou em um jornal católico procurando uma namorada. Descobrimos também que Ratzinger não gosta de revelar nem comemorar seu aniversário. Seewald ainda narra sobre o tio-avô e sacerdote Georg Ratzinger, que foi delegado no Reichstag em Berlim no século XIX e combateu com veemência o militarismo prussiano e a “mania nacionalista alemã de grandeza” de Bismarck e seus seguidores — uma visão que, aliás, coincide plenamente com a do líder dos verdadeiros liberais alemães, Eugen Richter, embora Seewald não o mencione. Além disso, lemos que Joseph Ratzinger, por ocasião de seu septuagésimo aniversário em 1997, recebeu o título de doutor honoris causa da Universidade de Navarra. Também homenageado foi o economista norte-americano Julian Simon, membro da Sociedade Mont Pelerin e grande teórico populacional de linha hayekiana (a quem tive o privilégio de conhecer antes de sua precoce morte). Seewald ainda escreve com riqueza de detalhes sobre o período de formação acadêmica de Bento XVI. Descobrimos que sua vocação principal sempre foi o estudo, o ensino e a pesquisa, e que ele jamais buscou progredir ou fazer carreira dentro da Igreja Católica. Por isso, o autor atribui ao destino, isto é, à providência divina, a ascensão contínua de Ratzinger (um caminho que ele nunca procurou deliberadamente nem previu), culminando com sua eleição como papa.
Para um professor como este que vos escreve, é especialmente atraente e interessante descobrir, por meio de Seewald e da documentação e numerosos testemunhos de alunos presentes no livro, que Joseph Ratzinger sempre foi um excelente docente, que inspirava seus estudantes. Dotado de uma memória extraordinária e capaz de escrever não apenas com a cabeça, mas também com o coração, sua principal habilidade consistia em tornar simples até mesmo as questões teológicas mais complexas. Apesar de sua humildade, modéstia e voz aguda, ele sempre falava com segurança, conhecimento e entusiasmo contagiante, chegando até mesmo a dar um toque poético aos seus pensamentos (como quando explicou que a Igreja recebe e projeta a luz de Cristo da mesma forma que a lua recebe e reflete a luz do sol). Como todo bom professor, Ratzinger sempre reconheceu sua dívida para com seus principais mestres e os pensadores que mais influenciaram seu desenvolvimento intelectual, entre eles Santo Agostinho, São Boaventura, o cardeal Henry Newman (a quem o próprio Ratzinger beatificou), os teólogos Henri de Lubac e Hans Urs von Balthasar, e o filósofo e cientista político Eric Voegelin (que, por sinal, foi participante assíduo do seminário vienense de Mises nos anos 1930). Que um professor assim, cujas aulas estavam sempre lotadas enquanto as de seus colegas ficavam semivazias, tenha sido alvo de todo tipo de inveja e intriga universitária não surpreenderá ninguém minimamente familiarizado com o funcionamento das instituições acadêmicas. E Peter Seewald nos oferece uma descrição detalhada de todas essas vicissitudes, permitindo ao leitor compreender os motivos do percurso que levou o professor de teologia dogmática Joseph Ratzinger às universidades de Bonn, Münster, Tübingen e Ratisbona, até que o Papa Paulo VI o nomeou, em 1977 e aos cinquenta anos de idade, arcebispo de Munique e, pouco tempo depois, cardeal.
Talvez nada tenha elevado mais Joseph Ratzinger do que sua participação, ainda jovem, como teólogo assessor do cardeal Frings durante os trabalhos do Concílio Vaticano II. De fato, o próprio Papa João XXIII ficou muito impressionado com uma palestra principal proferida por Frings, e lhe disse: “Você disse tudo o que eu pensei e quis dizer, mas que não fui capaz de expressar”. Um tanto constrangido, Frings respondeu: “Santo Padre, na verdade eu não escrevi a palestra. Foi um jovem professor [Ratzinger] quem a redigiu”. Ao que João XXIII replicou: “Eu também não escrevi minha última encíclica sozinho. Você só precisa ter o assessor certo”. Embora, no Concílio, Ratzinger sempre tenha lutado por uma reforma e um aggiornamento da Igreja para que escapasse da estagnação, ele viria mais tarde a observar, com grande decepção, que os postulados presentes nos documentos conciliares e por ele promovidos foram manipulados e distorcidos pela maioria da imprensa, que explorava uma tendência de “progressismo avassalador que se esquivava da verdadeira fé e oferecia uma visão turva e jornalística do Concílio”. Como exemplo, Ratzinger menciona um colega “teólogo que eu sabia que havia perdido a fé (ele próprio me disse isso), alguém que não acreditava em nada e, mesmo assim, passou a ensinar que suas ideias sobre o Concílio representavam o autêntico catolicismo”. A dor que isso causou a Joseph Ratzinger (que é a bondade em pessoa) só pode ser comparada àquela que sentiu ao ver muitos teólogos de língua alemã se voltarem contra ele. Seewald explica e documenta em detalhes a influência particularmente destrutiva e manipuladora de Hans Küng, até hoje tratado como o “menino de ouro” da teologia pelos meios de comunicação mais hipócritas e arrogantes que, liderados pela revista alemã Der Spiegel, sempre buscaram qualquer pretexto para criticar João Paulo II, Bento XVI e, de modo geral, a Igreja Católica. Joseph Ratzinger sempre conseguiu suportar essa dor sem a menor queixa e com grande fortaleza e, após sua eleição como papa, chegou a receber calorosamente o próprio Küng, que havia acabado de anunciar com estardalhaço sua “enorme decepção” com o resultado do conclave que elegeu Ratzinger como o Papa Bento XVI.
Seewald também nos oferece uma explicação brilhante e detalhada das grandes contribuições de Ratzinger ao ecumenismo e à unidade com as Igrejas Anglicana, Ortodoxa e Protestante, assim como de seus esforços para forjar uma relação mais próxima com judeus e muçulmanos, sempre com o objetivo de construir pontes e enfatizar mais o que une do que o que separa, “pois todas contêm muito do que é verdadeiro e sagrado”. No entanto, como é natural, Ratzinger jamais chegou ao extremo de diluir a verdadeira fé católica ou deixar de defendê-la. Uma prova disso é o fato de que, em diversas ocasiões e apesar de todas as campanhas midiáticas manipuladoras, tanto judeus quanto muçulmanos reconheceram que, graças a Bento XVI, as relações da Igreja Católica com o judaísmo e o islamismo atingiram um nível de entendimento e aceitação sem precedentes na história da Igreja.
Outro tema recorrente e de grande importância para Ratzinger tem sido a estreita e inescapável relação entre fé e razão, uma vez que “o grande conhecimento moral é tão razoável e verdadeiro quanto o grande conhecimento das ciências naturais e da tecnologia; a lei natural é a lei moral”. Pois a fé sem razão se torna fanatismo, e a razão sem fé se torna fútil e destrutiva. Nesse contexto, é especialmente brilhante a crítica de Ratzinger à teologia da libertação. Esse movimento é uma verdadeira heresia do século XX, com raízes no pensamento de intelectuais marxistas ocidentais, uma tradição muito distante da cultura latino-americana, e amplamente responsável pela debandada de muitos ex-católicos sul-americanos para igrejas evangélicas. Em outro momento, apresentei um resumo detalhado da crítica brilhante, pertinente, equilibrada e também devastadora de Ratzinger à teologia da libertação (vejam minha resenha do volume 10 da Obra Completa de Joseph Ratzinger em Procesos de Mercado: Revista Europea de Economía Política 16, n. 1 (Primavera de 2019): 489–492. As observações ali contidas aplicam-se também aqui).
Em resumo, sob a perspectiva de Bento XVI, a Igreja Católica surgiu e evolui como uma verdadeira ordem espontânea, estabelecida e guiada por Cristo, uma ordem constantemente enriquecida por inúmeras iniciativas comunitárias, e alimentada e sustentada, sobretudo, pela fé “simples e direta” de muitos cristãos comuns. Segundo Ratzinger, o que realmente dá vigor à Igreja é a fé dos pescadores, das “pessoas simples,” daqueles que são “pobres de espírito”, que são verdadeiramente bem-aventurados, em contraste com a “religião fria dos acadêmicos”, sempre prontos a complicar as coisas.
Seewald também aborda o surgimento e a evolução de diversas crises amplificadas e manipuladas pela mídia e pelos adversários de Bento XVI, como, por exemplo, o levantamento da excomunhão do bispo Williamson, negacionista do Holocausto, a palestra de Ratisbona (que foi distorcida e tratada como um insulto ao mundo muçulmano) e a chamada “crise dos preservativos”. Entre essas, destaca-se a crise de pedofilia na Igreja, que foi duramente condenada e eficazmente enfrentada justamente por Joseph Ratzinger, como Peter Seewald demonstra em detalhes em sua obra. Nenhuma dessas crises explica a renúncia, um evento sem precedentes na Igreja Católica, de Bento XVI, após oito anos de um papado muito frutífero e intenso. Joseph Ratzinger justificou repetidamente sua decisão com base em sua saúde debilitada e na perda de vigor físico para continuar, aos quase 87 anos de idade, realizando adequadamente o trabalho vital que o cargo exige.
A figura do Papa Francisco que emerge, ainda que, em boa parte, nas entrelinhas, no livro de Seewald é bastante intrigante. Por um lado, lemos que um papa deve fazer “declarações que sejam claras e não confundam, mas também conciliadoras, para evitar dividir o rebanho”, e que ele “deve ter uma aparência agradável, ou pelo menos não ser feio” (!). Por outro lado, deduz-se que, embora ainda seja cedo para avaliar o pontificado de Francisco, seus dois predecessores — um, João Paulo II, já canonizado como santo e o outro, Joseph Ratzinger, talvez o teólogo católico mais importante e bondoso dos tempos recentes — são referências muito difíceis para se igualar. De todo modo, não é de surpreender que o Papa Francisco corra o risco de ser considerado uma decepção para aqueles da ala mais “progressista” quando virem suas expectativas ousadas, sempre aumentadas pela mídia, darem em nada ou quase nada; ou ser considerado um papa desestabilizador que, em vez de unir, causa confusão e divisão no povo de Deus sempre que faz declarações precipitadas ou facilmente manipuláveis. Ele pode ser visto como o último por aqueles da ala mais “conservadora” da Igreja e, em geral, por todos que observam como o papa, nessa situação difícil, muitas vezes se refugia nos ângulos mais mundanos, políticos e, portanto, mais fáceis (cultura do “descarte”, desigualdade, meio ambiente, a necessidade de um “governo mundial” etc.). O livro contém um relato muito esclarecedor de como Bergoglio era o candidato preferido dos membros do chamado “Grupo de Saint Gallen” de clérigos progressistas que, liderados pelo Cardeal Martini, Arcebispo Emérito de Milão, eram adversários ferrenhos de Wojtyla [Papa João Paulo II] e Ratzinger e conspiraram o quanto puderam para impedir que Bento XVI fosse eleito. Apesar de tudo isso, a profunda bondade de Ratzinger vem à tona novamente quando ele declara repetidamente que sua amizade pessoal com o Papa Francisco não apenas permanece, mas está se tornando cada vez mais profunda.
Todo trabalho, por melhor que seja, inevitavelmente contém algumas deficiências ou afirmações surpreendentes que, como Marañón costumava dizer, podem torná-lo ainda mais atraente, como marcas de beleza adornando a pele de uma mulher adorável. Há poucos pontos fracos a serem observados no trabalho de Seewald. (A propósito, ele foi magnificamente traduzido e publicado em espanhol com tão poucas falhas que mal posso contar nos dedos das duas mãos os erros que encontrei nas 1.150 páginas do livro). No entanto, é possível notar que, embora Seewald destaque claramente a natureza socialista do nazismo e o fato de que a Igreja Católica alemã reuniu uma das frentes mais eficazes contra ele (em contraste com o apoio tradicional dos protestantes ao estatismo alemão desde a época de Bismarck), ele não se aprofunda no papel principal que a economia social de mercado promovida por Erhard desempenhou no Wirtschaftswunder, ou milagre econômico alemão (embora Seewald reconheça que Ratzinger admirava muito Adenauer). Seewald também deixa de mencionar o magnífico discurso que Bento XVI fez perante o Bundestag [parlamento alemão] em 22 de setembro de 2011, no qual, seguindo os passos de Santo Agostinho, ele se referiu a qualquer governo que não esteja sujeito à lei como um “bando de ladrões”. (Esse foi um verdadeiro insight anarcocapitalista, pois, como bem sabemos, hoje em dia a principal ameaça à Lei - com L maiúsculo - vem invariavelmente do próprio governo). Além disso, eu gostaria de saber qual foi a influência de Ratzinger na encíclica Centesimus Annus de João Paulo II. (Seewald indica que Ratzinger, como prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, examinou meticulosamente cada encíclica). Essa encíclica de João Paulo II é de grande importância, pois nela ele se posiciona claramente a favor do capitalismo em oposição ao socialismo, que considera um sistema intrinsecamente imoral, postura que contrasta com certa imparcialidade expressa por Ratzinger em algumas ocasiões posteriores. O mesmo poderia ser dito das concessões tardias de Ratzinger ao ambientalismo, embora ele sempre tenha enfatizado que o ser humano também faz parte do meio ambiente natural que deve ser protegido e que, portanto, não há contradição maior do que, por exemplo, defender espécies animais enquanto se aceita o aborto. Além disso, podemos mencionar as revelações surpreendentes feitas por Seewald a respeito da sutil “objeção” de Frings e Ratzinger à proclamação feita por Paulo VI (em 21 de novembro de 1964), declarando a Virgem Maria como Mãe da Igreja. Aparentemente, Frings e Ratzinger consideravam que tal declaração poderia criar uma barreira adicional e desnecessária entre católicos e protestantes. Por fim, há também uma referência, pouco explicada, à reformulação feita por Ratzinger de suas ideias sobre a concessão da Comunhão a divorciados em nova união, registrada no volume 4 de suas Obras Completas (publicadas em espanhol em 2014).
Embora a importância deste livro justifique uma resenha extensa, é chegada a hora de encerrá-la. É evidente que, em um mundo anarcocapitalista, no qual não existiriam Estados, nem política, nem polarizações entre esquerda e direita, a Igreja poderia finalmente se libertar e dedicar-se inteiramente ao cumprimento de sua missão fundamental: transmitir a fé em Cristo. Para essa missão vital, como bem observa o perspicaz Nicolás Gómez Dávila em Scholia to an Implicit Text, Jesus, o fundador, não deixou escritos, apenas discípulos. Assim, também nos tempos atuais, nas palavras de Ratzinger:
“Acima de tudo, o que mais necessitamos neste momento da história são homens que, por meio de uma fé vivida e iluminada, tornem Deus crível neste mundo (...). Precisamos de homens cuja inteligência seja iluminada pela luz de Deus e cujos corações Ele mesmo abra, de modo que sua inteligência possa falar à inteligência de outros, e seus corações possam se abrir aos corações dos outros”.
O restante deve ser deixado à providência divina, que, como sabemos, sempre age de forma sutil, silenciosa, quase imperceptível, mas, sem exceção, com caridade e benevolência.
Esse texto foi originalmente publicado no Mises Institute.
Recomendações de leitura:
A doutrina social da Igreja Católica e o capitalismo
Catolicismo, protestantismo e capitalismo
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Nota: as visões expressas no artigo não são necessariamente aquelas do Instituto Mises Brasil.
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