Mercados livres promovem a cooperação pacífica e a harmonia racial
No livro Ação Humana, Ludwig von Mises destaca a importância da cooperação humana como pré-requisito para a divisão do trabalho e a troca livre. Sem isso, a humanidade continua mergulhada na pobreza:
O “estado natural” que os reformistas e os utopistas descrevem como paradisíaco foi, na verdade, um estado de extrema pobreza e sofrimento. A “pobreza”, dizia Bentham, “não é o produto das leis; é a condição primitiva da raça humana”. Mesmo aqueles que se encontram na base da pirâmide social estão em condição muito melhor do que estariam se não houvesse a cooperação social. Eles também se beneficiam com o funcionamento da economia de mercado e participam das vantagens da sociedade civilizada.
Mises enfatiza que a troca livre não beneficia apenas grupos específicos, mas sim toda a sociedade. Ele argumenta que “todos têm interesse na preservação da divisão social do trabalho, o sistema que multiplica a produtividade dos esforços humanos.” Ele chama isso de “o teorema da harmonia dos interesses corretamente compreendidos de todos os membros da sociedade de mercado”, pois todos se beneficiam da livre troca no mercado. Ele refuta a teoria propagada pelos marxistas de que o capitalismo se baseia na “afiliação de classe” e na ideia de que a economia serve para promover os “interesses de classe” da burguesia em detrimento do proletariado. Em teorias frequentemente descritas como “neomarxistas", os interesses de classe passaram a ser vistos por muitos como análogos aos interesses raciais. Assim, retratam a economia como um instrumento para promover os interesses de uma raça em detrimento de outra, argumentando que as raças “opressoras” representam uma ameaça aos interesses econômicos das raças “oprimidas”. Ao não compreenderem os benefícios sociais e econômicos da livre troca, esses críticos se apegam à falsa noção de que o desenvolvimento econômico é um jogo de soma zero - ou seja, que qualquer pessoa só pode enriquecer às custas de outras que devem empobrecer.
Esse é o mesmo erro fundamental cometido por agitadores raciais que afirmam que os negros são pobres porque os brancos são ricos. Para eles, o mercado não passa de mais uma arena de conflito racial, onde diferentes grupos competem por uma quantidade fixa de riqueza. Com isso, promovem hostilidade racial e desprezam a cooperação pacífica. Eles travam todos os tipos de guerra - reais e metafóricas -, como a “guerra contra o ódio” e a “guerra contra o racismo”, que buscam atribuir culpas para problemas sociais e econômicos com base em divisões raciais. Um exemplo disso é um artigo publicado pelo Economic Policy Institute, que afirma que o modelo econômico do sul dos Estados Unidos é deliberadamente racista e tem como objetivo “extrair a mão de obra de negros e latinos pelo menor custo possível.”
Embora a escravidão nos Estados Unidos tenha sido abolida em 1865, esses economistas afirmam que “o modelo de desenvolvimento econômico do sul garante que as empresas continuem tendo acesso à mão de obra negra barata, mesmo após a abolição da escravidão”. Eles são adeptos da distorcida noção orwelliana de que “guerra é paz”, ao tentarem, sem sucesso, promover o progresso econômico não por meio da cooperação pacífica e do livre comércio, mas através da incitação ao conflito racial. No entanto, essa retórica racialista - longe de impulsionar o progresso econômico - apenas perpetua a hostilidade e o ressentimento, o que, por sua vez, gera mais pobreza e miséria.
Punidos com pobreza
No livro Punished with Poverty, Ronald e Donald Kennedy rejeitam essa insistência em ver a economia do sul pelo prisma da raça. Os Kennedy ressaltam que, após a guerra de 1861-1865, políticas de subjugação e pobreza foram deliberadamente adotadas para prejudicar todo o sul. Eles argumentam que isso foi prejudicial a todas as raças - e os mais pobres foram os que mais sofreram. Na época, era comum a opinião de que submeter o sul à pobreza era o mínimo que um povo que perdeu uma guerra deveria esperar. Os Kennedys ilustram isso com o exemplo de Horace Greeley, que em maio de 1861 disse:
“Quando os traidores rebeldes forem derrotados no campo e dispersos como folhas diante de um vento furioso, não devem voltar para lares pacíficos e contentes. Eles devem encontrar pobreza em suas lareiras e ver a privação nos olhos ansiosos das mães e nos trapos das crianças.”
Embora as opiniões de Greeley, como as de muitos outros, possam ter evoluído com o desenrolar da guerra, a opinião que ele expressou em 1861 foi novamente apresentada durante a era da Reconstrução, em um artigo publicado em 1872 pelo The New York Times. Está claro que a política econômica da Reconstrução não foi projetada para reconstruir o sul, mas para “puni-lo com a pobreza”, como disseram os Kennedys. Em uma linha semelhante, Tom DiLorenzo observa que:
“O principal objetivo (e efeito) das políticas de “Reconstrução” de 1865 a 1877 foi centralizar e consolidar o poder do Estado e estabelecer a hegemonia política do Partido Republicano. Não era para “curar as feridas da nação” ou revitalizar economicamente o sul. Na verdade, a Reconstrução criou novas feridas e destruiu economicamente o sul. Seu objetivo era continuar a pilhagem econômica dos estados do sul pelo maior tempo possível e estabelecer um monopólio político nacional do Partido Republicano.”
Portanto, os Kennedys argumentam que os interesses econômicos do sul durante a Reconstrução não devem ser compreendidos apenas a partir da perspectiva racial, mas sim como um interesse comum de toda a região. Eles destacam que “o desejo do norte de colocar as crianças sulistas em ‘trapos’ não era direcionado apenas aos sulistas brancos, mas a todos os sulistas, tanto brancos quanto negros”. Dessa forma, os desafios econômicos contemporâneos não podem ser entendidos como exclusivos de determinadas raças. Assim, os Kennedys afirmam que:
“(...) o empobrecimento do sul não será corrigido melhorando uma parte (branca ou negra) da população do sul enquanto deixa a outra na pobreza. Os propagandistas do Império Federal fizeram um trabalho excelente convencendo os sulistas negros que, se o sul branco ganhar, logo o sul negro irá perder. Essa falsa narrativa Yankee começou durante a Guerra [de Secessão] e a Reconstrução e persiste até hoje”.
A narrativa dos Republicanos Radicais, que afirmava que os sulistas brancos eram contra o progresso econômico dos negros, foi contestada tanto por palestrantes negros quanto brancos em um evento organizado por um grupo negro, a Pole-Bearers’ Association, em julho de 1875. Em um discurso proferido nesse evento, Gideon Pillow enfatizou que “as duas raças têm um interesse comum uma na outra e no bem-estar de ambas… os interesses das raças branca e negra no sul estão inseparavelmente entrelaçados e dependem uma da outra. O que beneficia os interesses de uma também beneficia a outra.” Pillow ecoava as palavras de Nathan Bedford Forrest, que, em seu discurso no evento, declarou: “Tenho a oportunidade de dizer algo que sempre senti - sou seu amigo, pois meus interesses são os seus interesses, e os seus interesses são os meus. Nascemos na mesma terra, respiramos o mesmo ar e vivemos no mesmo solo. Por que, então, não podemos viver como irmãos?”
Este artigo foi originalmente publicado no Mises Institute.
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Nota: as visões expressas no artigo não são necessariamente aquelas do Instituto Mises Brasil.
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