Economia
O custo oculto das tarifas de importação
Uma lição do que se vê e o que não se vê de Bastiat
O custo oculto das tarifas de importação
Uma lição do que se vê e o que não se vê de Bastiat
As tarifas de importação são frequentemente retratadas como uma solução simples para proteger indústrias nacionais e gerar empregos. Políticos, como Trump, as utilizaram como ferramenta política, prometendo benefícios imediatos por meio da redução da concorrência e do aumento da produção doméstica. No entanto, essa narrativa ignora uma lição econômica fundamental articulada por Frédéric Bastiat em seu princípio de "o que se vê e o que não se vê". Quando aplicado às tarifas, esse conceito revela os danos ocultos e de longo prazo que as políticas protecionistas podem causar a uma economia. Para o Canadá, responder às tarifas dos EUA com retaliação apenas agravaria o problema - em vez disso, o país deve adotar uma estratégia que maximize a liberdade econômica e promova reformas estruturais.
Qual é o princípio do que se vê e o que não se vê de Bastiat?
Em seu famoso ensaio O que se vê e o que não se vê, Bastiat argumentou que decisões econômicas geram tanto efeitos imediatos e visíveis (o que se vê) quanto efeitos ocultos e de longo prazo (o que não se vê). Os formuladores de políticas frequentemente se concentram no que é visível - os benefícios diretos de uma medida - sem considerar os efeitos secundários, muitas vezes negativos, que só se manifestam quando já é tarde demais.
No caso das tarifas de importação, o efeito visível é fácil de entender. Preços mais altos para produtos estrangeiros deveriam incentivar os consumidores a comprar bens nacionais, protegendo assim indústrias locais e empregos. Mas e o que não se vê? A resposta está nos impactos mais amplos e de longo prazo sobre a produtividade, a estrutura da produção, as relações comerciais e o crescimento econômico.
O que se vê: proteção temporária para indústrias domésticas
Quando taxas de importação são impostas, os produtores locais inicialmente se beneficiam. Ao tornar os produtos importados mais caros, as tarifas dão às indústrias locais uma vantagem competitiva no curto prazo. Os políticos destacam esse benefício como evidência de que as tarifas “funcionam” para proteger empregos e aumentar a produção interna. No entanto, essa proteção temporária tem um custo significativo.
O que não se vê: danos de longo prazo para a economia
Custos mais altos para consumidores e empresas: Tarifas funcionam como um imposto sobre os consumidores, que acabam pagando preços mais elevados por produtos importados ou por seus equivalentes nacionais. O que não se vê é o impacto cumulativo nos orçamentos familiares e a consequente redução do consumo em outras áreas da economia. Além disso, empresas que dependem de insumos ou componentes importados enfrentam custos mais altos de produção, tornando-se menos competitivas tanto no mercado interno quanto no exterior.
Disrupção das cadeias de suprimentos: Os processos produtivos modernos, especialmente em setores como o automotivo e o industrial, envolvem cadeias de suprimentos complexas que atravessam fronteiras. Um único carro, por exemplo, pode cruzar a fronteira entre Canadá e EUA diversas vezes ao longo de sua fabricação. Quando impostos são aplicados a cada passagem, os custos aumentam rapidamente, tornando os produtos finais mais caros e menos competitivos. O efeito invisível é a disrupção em cascata de setores inteiros que dependem de cadeias produtivas integradas e sem barreiras tarifárias.
Retaliação e guerras comerciais: Tarifas raramente existem de forma isolada. Quando um país impõe tarifas de importação, seus parceiros comerciais geralmente retaliam, desencadeando uma espiral de restrições que reduzem o fluxo de comércio. O Canadá sentiu isso na pele durante a era Smoot-Hawley, nos anos 1930, quando a retaliação global às tarifas dos EUA contribuiu para uma queda de 60% no comércio mundial. Os danos invisíveis incluem a perda de oportunidades de exportação, a redução de investimentos estrangeiros e o enfraquecimento das relações comerciais.
Queda na produtividade e inovação: Políticas protecionistas blindam indústrias nacionais da concorrência, reduzindo o incentivo para inovar e melhorar a eficiência. Com o tempo, isso leva à estagnação e à queda da produtividade. O que não se vê é o custo de oportunidade: o crescimento perdido que poderia ter sido alcançado por meio da competição livre e da exposição ao mercado global.
Danos estruturais de longo prazo: À medida que as tarifas de importação distorcem os incentivos de mercado, os recursos são alocados de forma ineficiente. Indústrias que não seriam competitivas sem proteção recebem um estímulo artificial, enquanto setores mais eficientes sofrem com a redução de investimentos. A consequência invisível é uma fragilidade estrutural duradoura, tornando a economia mais vulnerável a choques externos.
A resposta estratégica do Canadá: abraçar a liberdade econômica
As ameaças tarifárias de Trump, especialmente contra o Canadá, fazem parte de uma estratégia mais ampla de nacionalismo econômico. Embora a retaliação possa parecer uma resposta natural e trazer uma certa satisfação emocional, ela apenas agravaria os danos invisíveis ao aprofundar os impactos negativos das políticas protecionistas. Em vez de retaliar, o Canadá deve aproveitar a oportunidade para enfrentar problemas estruturais de longa data que têm limitado seu potencial econômico. Aqui está como:
Reduzir tarifas e barreiras comerciais globalmente: Ao reduzir unilateralmente as tarifas, o Canadá pode diminuir os custos para consumidores e empresas, tornando suas indústrias mais competitivas. Essa abordagem também demonstra um compromisso com o livre comércio, atraindo investimentos internacionais.
Eliminar barreiras ao comércio interprovincial: As barreiras internas ao comércio no Canadá representam um grande entrave à produtividade. Removê-las permitiria um fluxo mais livre de bens, serviços e mão de obra, destravando um crescimento econômico significativo.
Incentivar investimentos eliminando o imposto sobre ganhos de capital: O imposto sobre ganhos de capital desencoraja investimentos de longo prazo e o empreendedorismo. Eliminá-lo liberaria capital, impulsionaria a inovação e estimularia a diversificação econômica.
Revogar restrições ao desenvolvimento de recursos naturais: Os vastos recursos naturais do Canadá são uma de suas maiores vantagens econômicas, mas regulamentações restritivas têm limitado seu aproveitamento. Remover esses obstáculos aumentaria as exportações, geraria empregos e reduziria a dependência do mercado dos EUA.
Diversificar as relações comerciais: Expandir acordos comerciais com Europa, Ásia e mercados emergentes ajudaria a reduzir a dependência canadense dos Estados Unidos e abriria novas oportunidades de crescimento.
Conclusão: prosperidade e resiliência de longo prazo por meio da liberdade econômica
A lição de Bastiat sobre o que se vê e o que não se vê nos lembra que o verdadeiro custo do protecionismo vai além do que é imediatamente visível. Ao focar nos benefícios de curto prazo, os países correm o risco de enfrentar estagnação econômica de longo prazo e danos estruturais. Para o Canadá (e para a América e todas as nações), o caminho a seguir é claro: adotar a máxima liberdade econômica, reduzir barreiras comerciais e implementar reformas estruturais que liberem a produtividade e a inovação. Em vez de reagir a ameaças protecionistas, o Canadá pode liderar pelo exemplo - criando uma economia resiliente e globalmente competitiva, que prospere com o livre comércio e mercados abertos.
Este artigo foi originalmente publicado no Mises Institute.
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Nota: as visões expressas no artigo não são necessariamente aquelas do Instituto Mises Brasil.
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