A pobreza intelectual do polilogismo racial
Nesta era do "currículo descolonizado", as universidades se propuseram a descolonizar as ciências humanas, sociais e naturais. Por "descolonizar", eles simplesmente querem dizer que todos os campos do conhecimento devem refletir todas as culturas e não apenas o que eles veem como ciência "ocidental". A epistemologia também foi descolonizada.
Em um campo conhecido como "filosofia da raça e do racismo", argumenta-se que a própria filosofia – como os seres humanos raciocinam e entendem o mundo – é determinada pela raça. Por exemplo, Charles W. Mills escreve que a filosofia como disciplina é "branca", argumentando que "a filosofia aspira ao universal, enquanto a raça é necessariamente local, de modo que os sem raça (brancos) se tornam a norma". O argumento de Mills sugere que a ideia essencial de uma busca objetiva da verdade é "branca". Se fosse esse o caso, seguir-se-ia que, ao contrário dos "sem raça" que buscam a verdade objetiva, os "com raça" não precisam buscar a verdade em nenhum sentido objetivo. A busca da verdade é apenas uma predileção dos "sem raça".
A filosofia da raça vê o próprio racismo como um método filosófico e descreve verdades racialmente determinadas como uma justificativa para rejeitar a ideia de que se deve buscar a verdade em um sentido objetivo porque a própria razão é determinada pela raça. Ludwig von Mises descreve isso como "o polilogismo dos racistas"; a saber, a ideia de que "existe entre várias raças uma diferença na estrutura lógica da mente". Pierre Perrin define polilogismo da seguinte forma:
Polilogismo é uma visão epistemológica baseada na proposição de que a estrutura lógica da mente é substancialmente diferente entre os grupos humanos. Implica, assim, que as leis lógicas do pensamento (isto é, a lei da não-contradição, modus ponens [Se A, então B; A, portanto, B] etc.) são diferentes entre os grupos aos quais os indivíduos pertencem.
Apagando fatos objetivos
Os polilogistas raciais argumentam que a proposição "Se A, então B; A, portanto, B" só é verdadeira para os europeus porque foi proposta pela primeira vez por filósofos gregos antigos. As implicações disso são de longo alcance. Os polilogistas não argumentam apenas que os contextos culturais ou a identidade pessoal influenciam nossos valores subjetivos e visão de mundo, uma visão que seria incontroversa. Como escreve Mises em Ação Humana, "os juízos de valor de um homem e suas escolhas de fins refletem suas características corporais inatas e todas as vicissitudes de sua vida".
Os polilogistas não apenas afirmam que variações nas experiências subjetivas de vida ou variações na cultura influenciam nossa visão de mundo, mas vão além ao assumir que não existe uma realidade objetivamente cognoscível. Por exemplo, jornalistas brancos que escrevem sobre assuntos negros são assumidos como não objetivos e, mais importante, não capazes de serem objetivos. A alegação é que, quando jornalistas brancos pretendem ser objetivos, eles estão simplesmente representando uma perspectiva branca: "As visões e inclinações da branquitude são aceitas como neutras objetivas... [mas] nenhum processo jornalístico é objetivo. E nenhum jornalista individual é objetivo, porque nenhum ser humano o é".
O argumento é que, em vez de "fingir" ser objetivo, os jornalistas deveriam procurar simplesmente ser "precisos". Isso ignora o fato de que a precisão também se baseia na premissa de que é possível determinar, em algum sentido objetivo, o que é ou não exato. A precisão não pode ser simplesmente uma questão de opinião subjetiva sobre alguma verdade incognoscível, como implicam os polilogistas que dizem que "minha verdade" varia de "sua verdade".
Ao negar que uma visão objetiva dos fatos possa ser apurada por qualquer pessoa de qualquer raça, o polilogismo racial é incompatível com princípios básicos da justiça natural e do Estado de Direito, como a presunção de inocência e a consequente exigência de que um caso deve ser provado com evidências objetivas. Os adeptos das teorias raciais críticas argumentam que esses princípios de justiça são eurocêntricos e não têm relevância para as raças não brancas em um contexto multicultural. Em sua opinião, a defesa de tais princípios no contexto de processos judiciais apenas defende a "supremacia branca" e o "privilégio branco", uma vez que esses princípios, tal como definidos atualmente, foram estabelecidos no contexto da civilização ocidental. Esses adeptos questionam toda a ideia de justiça de acordo com a lei, sendo sua alegação de que tanto a justiça quanto o direito são construções determinadas pela identidade do grupo.
De sua proposição de que não existe evidência objetiva, segue-se que não só a ciência deve cair, mas o próprio Estado de Direito deve cair com ela. É uma visão de mundo incompatível com a civilização – uma questão que não os incomoda minimamente, pois acreditam que a barbárie é "outra forma de conhecer" que é igual a qualquer civilização.
O contra-argumento correto
Alguns críticos tentaram combater os polilogistas raciais negando que exista qualquer coisa como raça. Esta não é a abordagem de Mises. Em Ação Humana, ele observa que "é um fato estabelecido que a humanidade está dividida em raças", mas não se segue que a razão humana seja determinada pela raça. Mises acrescenta: "Está muito longe do reconhecimento desse fato a crença de que a herança racial ou a filiação de classe determinam, em última instância, os juízos de valor e a escolha dos fins".
Da mesma forma, algumas pessoas tentam combater o polilogismo racial negando que a raça tenha qualquer relação com o QI. Mais uma vez, esta não é a abordagem de Mises. Em Governo Onipotente, ele observa que "alguns homens podem ter pensamentos mais profundos e refinados do que outros... mas, na medida em que um homem é capaz de pensar e seguir um processo de pensamento discursivo, ele sempre se apega aos mesmos princípios últimos de raciocínio que são aplicados por todos os outros homens".
Mises fornece a explicação correta para por que as teorias da "filosofia racializada" estão erradas, enfatizando que a razão humana é comum a todos os seres humanos:
Até meados do século XIX, ninguém se arriscou a contestar o fato de que a estrutura lógica da mente é imutável e comum a todos os seres humanos. Todas as inter-relações humanas baseiam-se neste pressuposto de uma estrutura lógica uniforme. Só podemos falar uns com os outros porque podemos apelar para algo comum a todos nós, a saber, a estrutura lógica da razão.
Isso fornece a única base possível para a ciência, para a coexistência pacífica e para a própria civilização.
*Este artigo foi originalmente publicado em Mises Institute.
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Nota: as visões expressas no artigo não são necessariamente aquelas do Instituto Mises Brasil.
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