Politicamente, só existe aquilo que o público sabe que existe
Nos últimos dias, o mundo tem sido informado dos mais recentes acontecimentos da guerra declarada entre o dono do X (antigo Twitter), e as instituições brasileiras, nomeadamente o governo e o mais influente magistrado brasileiro, sobre as ordens expressas que foram dadas à rede social para retirar conteúdos e remover contas. As ordens exigiam que se alegasse que tais conteúdos e contas teriam violado as políticas da empresa, o que é falso e acabou por levar Elon Musk a retaliar.
A situação não surpreende os europeus, especialmente os portugueses, que foram tendo contato com esta realidade por via de amigos e redes sociais. Aliás, é aqui mesmo que reside o cerne da questão: controle das redes sociais. O controle das redes sociais, vulgarmente mencionado com o eufemismo “regulamentação”, é essencial para a existência do apagamento de opinião no século XXI.
Em tempos idos, Portugal experienciou um regime ditatorial durante quase meio século, em que todos os conteúdos noticiosos tinham de ser pré-aprovados antes de serem lançados. Existiu um Secretariado Nacional da Informação, que tomava conta da censura. Na sua inauguração, Salazar dizia: “politicamente, só existe aquilo que o público sabe que existe”. Na época, controlar aquilo que o público sabia era muito mais fácil e ficava a cargo dos censores, que famosamente com um lápis azul decidiam o que podia ser apresentado ou não, consoante à sua sensibilidade pessoal e sem qualquer critério.
Atualmente, a tarefa de controlar a informação que chega ao público tornou-se muito mais difícil devido às redes sociais. Os órgãos de comunicação social tradicionais são hoje extremamente subordinados às agendas políticas e muitos canais de televisão e rádio pertencem mesmo ao Estado. As redes sociais são “terra de ninguém”, e é por essa razão que estão debaixo de fogo, não só nas Américas como também na Europa.
Parece uma realidade distópica, mas a União Europeia normalizou a censura nas redes sociais, promovendo-a, embelezando-a e suavizando-a, sempre com propósitos nobres, como o combate ao “discurso de ódio” ou à “desinformação”. Pobres cidadãos europeus, que devem resistir a todas as tiranias, especialmente àquelas relacionadas ao código de conduta contra a desinformação que foi assinado por Adobe, Google, Meta, Microsoft, TikTok e Vimeo, sendo abandonado pelo Twitter, quando este foi comprado por Elon Musk.
Imediatamente, os burocratas de Bruxelas anteciparam-se a ameaçar o Twitter. Thierry Breton, comissário europeu, afirmou que Elon podia “fugir, mas não se podia esconder” e acenou com as sanções – 6% da receita e, se continuarem, ficam proibidos de operar na Europa. Por exemplo, é obrigatório que as redes sociais a operar na Europa tenham “fact checkers”, coisa que o X não apresentou.
Os conteúdos são retirados das redes sociais arbitrariamente se mencionarem as coisas erradas. Ainda há poucos meses, um artigo que escrevi para o Mises Brasil foi removido dos meus stories do Instagram, do grupo Meta, por “ir contra as normas europeias”.
O X continua a ser “terra de ninguém”, como deve ser, e isso está enfurecendo os “donos do mundo”. A pergunta que fica é: o que é que assusta tanto os globalistas e que deve ser calado?
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Nota: as visões expressas no artigo não são necessariamente aquelas do Instituto Mises Brasil.
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