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A lição econômica esquecida em Os Caça-Fantasmas

29/11/2023

A lição econômica esquecida em Os Caça-Fantasmas

Os Caça-Fantasmas é um filme (hilário) que adverte sobre o que acontece quando capacitamos burocratas sem noção em vez de indivíduos com conhecimento local. 

 

Um amigo meu que é fanático pelos Caça-Fantasmas - a música foi tocada no dia de seu casamento - certa vez observou um tema esquecido no clássico dos anos 1980.

“É um filme bastante libertário”, ele me disse.  

Veja bem, meu amigo não é libertário. Mas ele estava no caminho certo. 

A primeira vez que temos um vislumbre do tema do filme é depois que os três caça-fantasmas originais - Peter Venkman (Bill Murray), Ray Stantz (Dan Akroyd) e Egon Spengler (Harold Ramis) - são demitidos pela universidade que os empregava.

“Dr. Raymond Stantz: Isto é uma grande vergonha – esqueça o MIT ou Stanford, agora. Eles não nos tocariam com um aguilhão de dez metros.

“Dr. Peter Venkman: Você está sempre preocupado com sua reputação. Einstein fez o seu melhor quando trabalhava como balconista de patentes.

“Dr. Raymond Stantz: Você sabe quanto ganha um funcionário de patentes?

“… Pessoalmente, eu gostei da universidade. Eles nos deram dinheiro e estrutura – não tivemos que produzir nada! Você nunca saiu da faculdade; você não sabe como é lá fora. Já trabalhei no setor privado… eles esperam resultados!  (ênfase adicionada)”.

Você percebeu? A universidade deu aos nossos heróis cientistas fundos e um lugar para trabalhar, e eles nem sequer tiveram de produzir nada – um nítido contraste com o setor privado, que na verdade espera que você crie valor! (No início do filme, os espectadores veem que a pequena “ciência” que Venkman está produzindo é pura besteira).

Fica ainda melhor, no entanto. Mais tarde no filme, depois que os Caça-Fantasmas ingressam no setor privado, eles começam a criar valor fornecendo um serviço: capturar fantasmas que assombram as pessoas. 

Por um tempo, tudo corre bem. Os Caça-Fantasmas começam a acumular tantos negócios que precisam contratar outro Caça-Fantasmas (Winston Zeddemore, interpretado por Ernie Hudson) para ajudá-los a lidar com todo o trabalho que estão conseguindo. Enquanto isso, seus clientes estão se livrando dos fantasmas incômodos que os assustam.

As coisas dão errado, porém, quando um terceiro entra na história: o governo dos Estados Unidos.

 

“Consiga uma ordem judicial!”

Walter Peck é um dos vilões mais deliciosos do cinema dos anos 80, ficando ao lado de Johnny Lawrence (Karate Kid), Biff Tannen (De Volta para o Futuro), Juiz Smails (Clube dos Pilantras) e Diretor Ed Rooney (Curtindo a Vida Adoidado).

Peck, interpretado por William Atherton, é um inspetor da Agência de Proteção Ambiental (EPA) que chega à sede dos Caça-Fantasmas para saber mais sobre o trabalho que eles estão realizando.

Ele imediatamente encontra o brincalhão Venkman, a quem Peck se recusa a chamar de “doutor”, mesmo depois de Peter, em resposta à pergunta de Peck, apontar que tem formação em parapsicologia e psicologia. 

Os espectadores rapidamente percebem que Peck é um sabe-tudo presunçoso que não acredita em fantasmas. Quando Peck exige ver as instalações onde os fantasmas estão armazenados, Venkman pergunta por quê.

“Bem, porque estou curioso”, Peck responde irritado. “Quero saber mais sobre o que você faz aqui! Francamente, tem havido muitas histórias malucas na mídia e queremos avaliar qualquer possível impacto ambiental de sua operação! Por exemplo, a presença de resíduos químicos nocivos e possivelmente perigosos em seu porão! Agora, ou você me mostra o que há lá embaixo ou eu volto com uma ordem judicial”.

Venkman, que claramente tem mais coragem do que cérebro, diz a Peck para ir embora. 

“Consiga uma ordem judicial! E eu vou te processar por acusação injusta”, diz ele. 

 

“Basta desligar”

As coisas não param por aí, é claro. A quase namorada de Peter, Dana Barrett (Sigourney Weaver) é possuída por um cachorro demoníaco chamado Zuul. Seu vizinho, Louis Tully (Rick Moranis), é possuído por Vinz Clortho, o Keymaster de Gozer. E juntos eles vão ressuscitar Gozer, um deus sumério que era adorado na Mesopotâmia em 6.000 a.C.

Isso é uma má notícia, mas as coisas pioram muito quando Walter Peck aparece de volta na sede dos Caça-Fantasmas. Ele tem uma ordem judicial e está acompanhado por um policial da NYPD e um funcionário público.

Egon tenta acalmar a situação, lembrando a Peck que ele está em uma propriedade privada. Peck não se importa. Ele diz ao funcionário da concessionária para desligar o depósito, embora não tenha ideia do que seja. Egon tenta impedi-lo.

“Egon: Estou te avisando. Desligar essas máquinas seria extremamente perigoso. 

“Peck: Não, eu vou lhe dizer o que é perigoso. Você está enfrentando um processo federal por cerca de meia dúzia de violações ambientais. Agora, ou você desliga essas máquinas, ou nós as desligaremos para você.   

“Egon: Tente entender, este é um sistema de contenção de laser de alta tensão. Simplesmente desligá-lo seria como lançar uma bomba na cidade. 

“Peck: Não me trate com condescendência. Não sou grotescamente estúpido, como as pessoas que você enganou!”

Neste ponto, Venkman entra em cena. Ele diz ao policial que é “um parceiro nesta instalação e que vou cooperar de todas as maneiras que puder”. Peck não está interessado.

“Peck: Esqueça, Venkman. Você teve a chance de cooperar, mas achou que seria mais divertido me insultar. Bem, agora é a minha vez, espertinho. 

“Dr. Egon Spengler: Ele quer desligar a rede de proteção, Peter. 

“Dr. Peter Venkman [para Peck]: Você desliga essa coisa e não seremos responsabilizados por tudo o que acontecer.   

“Walter Peck: Ah, vão sim, vou garantir que sim”.

Peck claramente não tem ideia do que é o depósito, mas exige que seja fechado. Pior, ele diz que não será responsabilizado por tudo o que acontecer. Os Caça-Fantasmas é que serão.

Peck, que diz ao policial que pode atirar em Venkman se ele tentar atrapalhar, tem uma última chance de evitar causar uma catástrofe quando o funcionário lhe diz que talvez eles devessem ouvir as pessoas que, você sabe, realmente projetaram o sistema.

“Funcionário: Eu nunca vi nada assim antes. Eu não tenho certeza… 

Walter Peck [interrompendo]: Não estou interessado na sua opinião, apenas desligue”.

 

Os Caça-Fantasmas e o uso do conhecimento na sociedade

O funcionário público faz o que lhe mandam – e é claro que o inferno começa. Mas observe quem realmente tomou a decisão. 

Não foram os cientistas que destruíram o depósito de fantasmas. Não foi o funcionário público, que pelo menos tinha algum conhecimento de sistemas de energia. Foi o burocrata do governo que não sabia absolutamente nada sobre o sistema.

Os Caça-Fantasmas é apenas um filme, mas a cena demonstra um problema muito real, que o economista ganhador do Prêmio Nobel Friedrich A. Hayek descreveu em seu trabalho de 1945, O Uso do Conhecimento na Sociedade.

Hayek compreendeu que o planejamento econômico racional exige quantidades virtualmente infinitas de dados que estão dispersos entre muitos indivíduos. Dado que estes dados são tão amplamente distribuídos e tão vastos, é impossível para qualquer autoridade central obter este conhecimento, que é altamente localizado.

Por esta razão, Hayek argumentou que a tomada de decisões econômicas deveria ser deixada a atores individuais com conhecimento local, e não a autoridades centrais de planejamento que trabalham com conhecimentos incompletos ou errôneos. 

“Se pudermos convir que o problema econômico da sociedade é basicamente uma questão de se adaptar rapidamente às mudanças das circunstâncias particulares de tempo e lugar, parece ser evidente que, por consequência, as decisões fundamentais devem ser deixadas a cargo de pessoas que estejam familiarizadas com essas circunstâncias, que possam conhecer diretamente as mudanças relevantes e os recursos imediatamente disponíveis para lidar com elas”, escreveu Hayek.

Infelizmente, percebeu Hayek, a sociedade moderna estava cada vez mais fazendo o oposto: delegando a tomada de decisões econômicas a planejadores estatais e burocratas – pessoas como Walter Peck.

Os resultados no mundo real revelaram-se tão sombrios – na verdade catastróficos – como em Os Caça-Fantasmas. O Grande Salto Adiante de Mao Tsé-Tung, o Plano Quinquenal de Stálin e, mais recentemente, o esforço dos governos de todo o mundo que tentaram “gerir” o vírus Covid-19 através do planejamento central são todos exemplos de estatistas que usam conhecimento incompleto (e o punho de ferro do governo) para substituir os planos dos indivíduos pelo seu próprio plano abrangente.

No final, os Caça-Fantasmas conseguem salvar a cidade da catástrofe criada pela intrometida EPA. No entanto, o filme é um conto hilariante de advertência sobre o que acontece quando capacitamos burocratas sem noção em vez de indivíduos com conhecimento local.

 

Este artigo foi originalmente publicado em AIER.

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Nota: as visões expressas no artigo não são necessariamente aquelas do Instituto Mises Brasil.

Sobre o autor

Jon Miltimore

É o editor-chefe do website Intellectual Takeout.

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