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Economia

A América bifurcada - e as péssimas perspectivas

08/11/2016

A América bifurcada - e as péssimas perspectivas

Hoje chega ao final a campanha mais asquerosa de uma eleição americana que já presenciei.

Em primeiro lugar, a escolha não será pela qualidade dos candidatos, mas pelo menor vício. Será uma escolha pelo menos mau caráter, menos corrupto, menos repugnante. Mesmo entre os apoiadores, quase ninguém considera a Hillary ou o Trump grande coisa.

Pela primeira vez, âncoras e repórteres estiveram em conluio com um dos candidatos (em geral a Hillary, uma vez que mais de 90% dos jornalistas são de esquerda). A independência da imprensa foi às favas por completo. Em vez de discutirem os verdadeiros desastres da política externa na Síria, Líbia, Iêmen e agora Irã, limitaram-se a reportar papos de vestiário e festinhas com orgia. E, também pela primeira vez, os esquerdistas ficaram exclusivamente grudados na CNN, e os conservadores na FOX News.

A eleição está apertada, mas Hillary tem 2/3 de chance de sair eleita amanhã. Porém, não se pode descartar uma surpresa na Flórida, na Carolina do Norte, no Colorado e na Pensilvânia (o que garantiria a vitória a Trump).

A disputa no Senado está ainda mais apertada. Hoje, os Republicanos controlam o Senado, mas os Democratas têm boa chance de tomar o controle (ainda que termine empatado em 50/50, o vice-presidente, mais provavelmente democrata, tem o voto de minerva no Senado).

Hillary assusta muito porque é parte da elite que bebe conselhos e embolsa grana de outros elitistas, que por sua vez optam por nem tentar entender por que Trump tem várias dúzias de milhões de seguidores. Hillary e sua trupe, em caso de vitória, devem agir na linha do "ganhamos mesmo, e vamos aprofundar a imposição da agenda do politicamente correto e da social-democracia à la francesa, e de quebra vamos continuar menosprezando e ignorando o outro lado.".

O problema é que, por incrível que pareça, a polarização estridente de hoje tende a piorar. E uma piora aumenta as chances de um impeachment, cenário que mesmo hoje já se pode enxergar ao longe. Pode-se chegar a um ponto de ebulição, dependendo de quem Hillary nomear à vaga atual na Suprema Corte.

E Trump? Bom, este foi um candidato que estava em último lugar há apenas um ano entre os dez pré-candidatos republicanos. Logo após os ataques em Paris, e em especial em San Bernardino, a onda mudou. Obama veio a público de imediato defendendo que "está com cara de ser um crime no ambiente de trabalho". Hillary teve atitude similar. Trump, por outro lado, disse "acho que devemos interromper temporariamente a imigração de países muçulmanos até entender que diabos está acontecendo".

O americano médio deve ter pensado: "este cara está dizendo exatamente o que penso". Trump tomou uma liderança que não mais perderia. Em seguida, descobriu-se que os "criminosos" tinham mesmo comprado uma passagem só de ida para o paraíso de Alá.

Trump não tem condições de ser um bom estadista, e não tem boas políticas públicas em geral, porém entendeu o Brexit, e também entendeu por que Angela Merkel está em maus bocados (a entrada de milhões sem a devida checagem); sobretudo, entendeu que as elites ignoram o americano típico.

E este americano se pergunta: "quem vai me proteger?"

Investidores, preparem-se.


Sobre o autor

Helio Beltrão

Helio Beltrão é o presidente do Instituto Mises Brasil.

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