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Economia

O "aedes unicampi"

04/01/2016

O "aedes unicampi"

Eles são terríveis por seu poder destrutivo, perigosos por sua capacidade de prestidigitação, assustadores por sua arrogância e aterradores por sua personalidade traiçoeira.

Podem ser encontrados em todos os cantos do Brasil, da América Latina e também, embora em menor número, na Europa e nos Estados Unidos, mas sua incidência é maior aqui entre nós, nas universidades, na mídia e em escritórios de órgãos e empresas estatais.

Os focos maiores dessa desastrosa mosquitama e nos quais as larvas há anos encontram ambiente favorável à reprodução, no entanto, se localizam em Campinas, no bairro carioca da Urca e nas universidades públicas de todo o país. Não voam, mas dão aulas; não picam, porém escrevem artigos; e não se reproduzem em águas paradas, mas nos livros e artigos em que aprendem suas falsas teorias. Falsas sim, porque todas foram -- para usarmos a linguagem de Popper -- falsificadas à exaustão, sempre que foram postas em prática no mundo real, aquele velho mundão da ação humana voluntária.

São os economistas heterodoxos, a mosquitaria de aedes unicampi, seres que se julgam tão inteligentes a ponto de crerem que podem refutar princípios elementares, substituindo-os por mirabolantes engenhocas, como os cinco congelamentos de preços da segunda metade dos anos 80 e início dos anos 90.

E não é que esses seres arrogantes, pretensiosos e despreparados, no primeiro mandato da senhora Dilma, foram ao lixão e recuperaram, uma a uma, todas as teses já tornadas putrefatas pela história, e as juntaram em um quebra-cabeças macabro a que deram o nome de "Nova Matriz Econômica"? E não é que o ministério da Fazenda, há poucos dias, foi entregue a outro desses exemplares? E que o anterior mosquito-chefe, da espécie Mantega mantegae, foi substituído, após um ano de levyandades, pelo seu ex-assessor, da espécie Barbosa barbosae?

Destruíram impiedosamente -- e criminosamente, via "pedaladas" -- fundamentos duramente conquistados, sob a alegação de que não são necessários e são recessivos e que as teorias que os sustentam são falsas verdades, que podem ser desmistificadas por sua heterodoxia de mágicos de quinta categoria.

Não aprenderam as lições nos anos 1940, por ocasião do famoso debate entre o saudoso Professor Eugênio Gudin e o protecionista Roberto Simonsen; não aprenderam nos anos 1950, quando JK resolveu colocar em prática o receituário torto da Cepal de Prebisch, Rangel, Furtado e outros para fazer o Brasil "avançar 50 anos em 5"; não aprenderam no final dos anos 1970 e início dos anos 1980, quando o "desenvolvimentista" Delfim derrubou Mario Henrique Simonsen e mergulhou a economia do país, entre uma "medida" e outra, na estagflação; não aprenderam na segunda metade dos anos 1980 e na primeira dos anos 1990, quando conduziram cinco desastrosos "planos" com congelamentos de preços; e não aprenderam com o sucesso do Plano Real, que criticavam irresponsável e acerbamente.

Quando a "nova matriz" foi anunciada, por volta de 2010, cobriram-na de aplausos; agora, que a economia passa por uma das maiores estagflações de nossa história, se fazem de rogados e atribuem o triste quadro atual da economia a um "ajuste fiscal" que sequer foi esboçado, dado o apego ideológico ao estado, serôdio, extemporâneo e demodée da senhora que nos governa e de seu partido e a uma pretensa "ortodoxia" levytica, que se limitava quase que exclusivamente a tentar ressuscitar a CPMF.

Entenderam? A culpa pela crise não é deles, de suas teorias estapafúrdias, nem da inépcia do governo para cortar seus gastos; a culpa é do "conservador" Levy -- o mesmo que passou um ano inteiro sem nada fazer de concreto. Mas eles são, afinal, "progressistas"...

Se eu tivesse sido o responsável pelo Cruzado II, sinceramente, teria vergonha até de sair na rua; no entanto, seu principal mentor -- o ministro da época -- deita falação contra o ajuste fiscal (em meio a suas surradas papoulas) e diz que não teve nada a ver com a matriz da Dilma. Se eu tivesse errado todas as previsões sobre a economia que fiz e, além disso, tivesse sido presidente de meu clube de futebol e o tivesse levado à falência, trataria de enfiar o rabo entre as pernas e estudar a boa teoria econômica; no entanto, o economista que se enquadra nessa incompetência profissional ainda tem a desfaçatez de negar a necessidade de um ajuste fiscal, além, obviamente, de "tirar o seu da reta", negando qualquer afinidade com a referida e desastrosa matriz.

A mais recente manifestação do aedes unicampi foi a "nota de repúdio" ao texto do economista Alexandre Schwartsman, em sua coluna semanal na Folha de São Paulo, "O Porco e o Cordeiro", uma fábula econômica com um diálogo entre animais. Uma infestação de 154 profissionais da espécie aedes unicampi, como relata Mansueto Almeida em seu blog, lançou-se contra Schwartsman, reclamando da linguagem cifrada e, segundo eles, desrespeitosa, com que teria tratado as pessoas de quem discorda, mas que, na verdade, é uma alusão à famosa obra de 1945, Animal Farm (A revolução dos Bichos) de Geroge Orwell.

Como observa Mansueto, o "interessante é que muitos dos que assinam a Nota de Repúdio não são também muito educados no debate público e costumam usar adjetivos bastante fortes para descrever ideias com as quais não concordam, seja em artigos, seja nos posts nas redes sociais".

Infelizmente, teremos de passar por mais dificuldades para que esses mosquitos mortíferos à economia e à sociedade sejam erradicados e mais algumas décadas para eliminarmos todos os seus possíveis focos de reincidência. Mesmo assim, esperando que, depois de 516 anos (sem contar os dois ou três seguintes, em que suas teorias certamente causarão ainda mais estragos), tenham aprendido a distinguir causas de efeitos.

Enquanto tivermos no governo esses exemplares de aedes unicampi ditando regras malucas na economia e enquanto esses perigosos insetos continuarem infestando nossas universidades e nossa mídia, iludindo muitos milhões de indivíduos que não entendem de economia, estaremos abrindo alas para um destino de atraso.

Quem semeia ventos colhe tempestades e quem semeia heterodoxia econômica, no tempo certo da colheita terá recessão, inflação, desemprego e estará roubando os sonhos de muitos milhões de inocentes.

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Sobre o autor

Ubiratan Jorge Iorio

Ubiratan Jorge Iorio é economista, professor associado da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e é um dos nomes mais importantes da Escola Austríaca no Brasil.

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