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Economia

À espera de um novo New Deal

20/01/2009

À espera de um novo New Deal

Por vários anos, muitos de nós ficamos perplexos com uma coisa: como algo tão estúpido e destrutivo como o New Deal pôde ter sido implantado?  A bolsa de valores despencou em outubro de 1929 porque havia sido hiperinflacionada durante toda aquela década.  Isso, já naquela época, não era novidade alguma.  A história está repleta de exemplos de bolhas de crédito que estouram.  Os recursos são então realocados de modo a refletirem a nova realidade econômica que se impõe e, após esse período doloroso e inevitável, porém rápido, a vida retorna ao normal.

Mas com o New Deal foi diferente.  Ele na verdade começou ainda na presidência de Herbert Hoover, que foi quem criou novos programas de gastos e novos programas de emprego, além de ter tentando inflar a oferta monetária e salvar os bancos.  A quantidade de políticas antidepressão criada por Hoover foi tanta que, durante a campanha presidencial de 1932, ele foi violentamente criticado por Franklin Delano Roosevelt (FDR) por causa desse inchaço estatal que vinha promovendo.  Isso talvez tenha garantido a eleição a FDR.  Mas quando chegou ao poder, FDR enlouqueceu e instituiu um programa de planejamento central que combinava elementos dos modelos soviético e fascista.

Foi um programa idiota atrás do outro.  Eles tentaram aumentar salários quando o certo era deixá-los cair.  Tentaram salvar bancos que deveriam ter quebrado.  Destruíram recursos no momento em que mais se precisava deles (no ápice da idiotice, o governo federal começou a pagar agricultores para destruir suas plantações - no intuito de manter os preços agrícolas elevados - enquanto pessoas desempregadas e famintas se amontoavam em estabelecimentos públicos em busca de um prato de sopa).  Estimularam a gastança quando o correto seria estimular a poupança.  Destruíram o dólar em um momento em que ele deveria ter se valorizado.  Cartelizaram a economia justamente quando a concorrência mais se fazia necessária.

Quais foram os resultados?  O crescimento econômico não foi a lugar algum entre 1933 e 1939, ano em que o produto real por adulto ainda estava 27 por cento abaixo da tendência de crescimento imaginada.  O PIB per capita em 1939 era menor que o de 1929 ($703 contra $850, em valores atuais).  O desemprego estava em 17,2% em 1939.  Esse número era de fato maior do que o de 1931, que registrou desemprego de 16,1%.  Tudo isso a despeito do aumento de 100% no estoque real de moeda.  Os impostos triplicaram.  Empregar mão-de-obra estava muito mais caro por causa dos sindicatos e dos programas de garantia de renda criados pelo governo.

A cada vez que a economia atingia seu ponto mais baixo e uma genuína recuperação estava prestes a começar, novas políticas intervencionistas surgiam e derrubavam a economia novamente.  Já os períodos de aparente crescimento foram inteiramente artificiais, estimulados em sua maioria por programas governamentais cuja única função era gerar empregos.  O crescimento jamais era baseado em trabalhos realmente produtivos que aumentassem o bem-estar da população.  O controle governamental se estendia por toda a economia para impedir a concorrência entre empresas, o que levaria à "temível" deflação de preços - algo de que os pobres urgentemente precisavam.  Nessa mesma linha, fazendeiros - sempre seguindo ordens do estado - matavam seus animais e destruíam suas colheitas e todos os dissidentes eram dedurados e devidamente reprimidos por meio de táticas dignas de um estado policial.

Em outras palavras, todo o projeto não apenas era completamente estúpido, como também atingiu objetivos opostos aos intencionados.  O que era pra ter sido uma pequena contração econômica acabou se tornando uma calamidade nacional com uma década de duração, cujo maior dos custos foi a perda da liberdade.  E então, para poder encobertar a calamidade, veio a guerra.  Finalmente FDR havia encontrado algum uso para os desempregados que se acumulavam: mandá-los à guerra para matar e serem mortos, à custa do contribuinte.  Quanto aos controles de preços e à nacionalização da produção ocorridos durante a guerra, ainda era o New Deal em ação, só que com outra roupagem.

(Para um relato completo, com todos os detalhes, e em prosa genial, veja o livro de John T. Flynn, The Roosevelt Myth).

Tudo isso se deveu a algum tipo de insanidade generalizada?

Não, foi apenas uma tomada explícita de poder, e o atual momento político mostra precisamente como isso acontece.  Um pequeno grupo de poderosos, isolados da realidade, decide fraudar o sistema para obter ganhos fáceis no curto prazo, ignorando o âmbito global e o longo prazo.  As pessoas sensatas tentam mostrar os fatos óbvios, porém suas vozes são seguidamente abafadas.

Mas nada disso acontece sem que haja alguma justificativa filosófica por detrás de tudo.  Mesmo antes de J.M. Keynes surgir para dar às idéias econômicas ruins um falso brilho científico, a noção de que o governo podia estimular a economia por meio de gastos e inflação já estava difundida.  As teorias econômicas laissez-faire não mais tinham apelo entre as elites que controlavam as universidades, as editoras e as agências governamentais.

Várias idéias malucas estavam no ar.  É notável constatar a quantidade enorme de livros favoráveis ao fascismo, por exemplo, que foram lançados durante os anos 1920 e 1930.  Era amplamente aceito que o futuro da boa sociedade estava ligado à idéia do "planejamento econômico".  Essa expressão era muito sedutora à época, pois abrangia todas as formas de socialismo e de intervencionismo estatal.  "Planejamento" era a moda intelectual, e poucos eram os dissidentes.

E quando uma crise surge, aquilo que é realidade intelectual se torna realidade política. (Robert Higgs descreve esse processo em Crisis and Leviathan).

Agora que praticamente todo o mundo está vivendo em meio a esse cenário, torna-se mais fácil entender como o New Deal surgiu.  Isso faz com que aqueles que conhecem o assunto se sintam completamente impotentes e desesperançados.  Olhamos para o que está acontecendo com as reservas bancárias americanas e já sabemos o que está por vir.  Quando a economia der sinais de recuperação - mesmo que puramente cosméticos - e os empréstimos retornarem, a dinâmica interna do sistema de reservas fracionárias entrará em operação.  Uma inflação de 10 a 20 por cento, ou até maior, é perfeitamente plausível, dependendo de como vai ser a psicologia do gasto.

E então ouvimos os discursos de Obama - em que ele fala sobre o grande pacote de estímulo que ele quer que o Congresso aprove - e o desespero aumenta.  É como ouvir um curandeiro propor o sangramento do paciente ao mesmo tempo em que o último curandeiro que acabou de sangrar o paciente está indo embora.  A sua vontade é gritar: será que tem algum médico de verdade por aqui?  Mas ninguém ouve.

O que impressiona é como os historiadores são os que têm o poder nesse momento.  Em seu último ano, Bush aumentou como nunca a inflação e a intervenção porque achava que essa era uma maneira de evitar o mesmo destino de Hoover. Porém, como já ficou extensamente comprovado, foi Hoover o verdadeiro pai do New Deal (ao contrário do que a maioria dos historiadores e suas fantasias querem fazer parecer), sendo que FDR apenas o expandiu.  Enquanto isso, a patota obâmica sonha em recriar o desastre rooseveltiano seguindo passo a passo o plano do mestre, ainda que o plano tenha se comprovado estúpido e sem resultados positivos. 

Ver tudo isso acontecendo é como ver um trem se movendo lentamente em direção ao precipício.  Só que você não pode gritar para impedir a tragédia porque os engenheiros estão com protetores de ouvido e máscaras de dormir.

Será que essa depressão vai durar dez anos, como da última vez?  Vai acabar em uma Terceira Guerra Mundial, como se estivesse seguindo um roteiro histórico?  É possível seguirmos o caminho da Alemanha da década de 1920, caindo no abismo da hiperinflação e dali indo direto para o colo de um ditador sanguinolento?  Realmente não dá para descartar essa hipótese.

E, no entanto, não devemos ser tão pessimistas.  É extremamente crucial perceber que há uma diferença agora.  Na década de 1930, as limitações tecnológicas impunham restrições severas à dispersão de informações.  A propaganda governamental era facilmente imposta a toda uma cultura.  Mas isso mudou.  Apesar de tudo, as pessoas simplesmente não mais confiam no governo como antes.  Obama irá desfrutar de uma pequena lua-de-mel que provavelmente já estará findada em meados do ano.

O que realmente está faltando é uma coisa importantíssima: um amor pela liberdade que perpasse toda a sociedade e que seja capaz de intimidar e assustar esse nocivo regime governamental.  As condições são favoráveis para que isso de fato ocorra e altere a direção das políticas atuais.  Mas isso demandará esforços.  Felizmente, todos têm hoje a oportunidade de fazer a diferença.  Os meios de informação e a acessibilidade a eles nunca foram tão fáceis e tão dispersos.

Espero que meu próprio livro ajude a fazer alguma diferença.

As últimas palavras de Mises em seu livro Socialismo merecem ser estudadas e refletidas:

"Todos carregam consigo uma parte da sociedade; ninguém está livre de sua quota de responsabilidade para com os outros.  E nenhum indivíduo poderá estar seguro se a sociedade estiver se encaminhando para a destruição.  Portanto, cada indivíduo, para seu próprio bem, deve se lançar vigorosamente nesta batalha intelectual."

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Para mais sobre o assunto, leia O New Deal ridicularizado (novamente) e Como Franklin Roosevelt piorou a Depressão

 

 

Sobre o autor

Lew Rockwell

Llewellyn H. Rockwell, Jr é o chairman e CEO do Ludwig von Mises Institute, em Auburn, Alabama, editor do website LewRockwell.com , e autor dos livros Speaking of Liberty.

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