Exemplo Clássico
A atual crise financeira americana ilustra de modo tão claro
as conseqüências das distorções que o estado provoca na economia que ela
deveria figurar em todos os livros-texto.
Vejamos.
Em 2001/2002, os EUA estavam em uma leve recessão provocada
pelo estouro da bolha da NASDAQ, pelo 11 de setembro e pelo colapso da Enron.
O que fez
então o Federal Reserve para tentar evitar a recessão?
(Adendo: os
governos, em todos os lugares, sempre partem do princípio de que recessões são
coisas infaustas que devem ser evitadas a todo custo - quando, na verdade,
recessões nada mais são do que desejáveis correções em uma economia que foi artificialmente
inflada por injeções monetárias do banco central).
Repetindo:
o que fez então o Federal Reserve para tentar evitar a recessão?
Ele trocou
o toner da sua impressora e colocou-a
em plena atividade. Tudo parte daquela velha ilusão keynesiana de que basta
imprimir dinheiro e toda a riqueza será criada. Dali em diante a impressora nunca
mais foi desligada.
Em dezembro de
Em agosto de 2007, ela já era de 860
bilhões de dólares. (http://research.stlouisfed.org/publications/usfd/page3.pdf)
Um aumento de 42%.
Em termos
de M1, o aumento foi de 24,5%:
Em termos de M2, o aumento foi de 46%:
Em termos de MZM (Money of Zero Maturity - Dinheiro de Maturidade Zero; é uma medida da oferta monetária criada nos anos 1990. É igual ao M2, menos os depósitos a prazo, mais todo o dinheiro em fundos mútuos que investem em dívidas de curto prazo. Inclui todos os tipos de instrumentos financeiros que podem ser facilmente convertidos em dinheiro sem penalizações e sem riscos de perdas de capital. Em resumo: ele mede a quantidade de dinheiro que está imediatamente disponível na economia para gasto e consumo), o aumento foi de 64,5%:
Porém, a inflação de preços, em todo esse período, foi de 17%. (http://www.measuringworth.com/inflation/#)
Ainda que as estatísticas do governo americano não incluam
alimentação, energia e imóveis em seus cálculos de inflação, por considerarem
que esses itens têm preços muito voláteis - o que por si só já mascara em muito
a inflação real - é válido perguntar: por que todo o aumento da oferta
monetária não se transmutou em aumentos de preços?
Resposta: porque boa parte desse dinheiro não vai direto
para a "economia real"; a maior parte é aplicada em modismos, como bolsa de
valores e imóveis. E foi justamente nessas áreas que vimos o surgimento de
bolhas insustentáveis.
A Teoria Austríaca explica que o aumento indiscriminado da
base monetária - que consequentemente causa o aumento dos agregados monetários
M1, M2, M3 E MZM - irá causar inflação de preços, investimentos errôneos e,
finalmente, ciclos econômicos.
E foi
exatamente esse tipo de distorção monetária criada pelo governo americano que
gerou a febre imobiliária. Como previsto.
E como se não
bastasse esse descontrole monetário, o governo ainda criou leis populistas que
obrigavam os bancos a conceder financiamentos a pessoas sem qualquer condição
financeira e/ou com histórico creditício duvidoso (ver mais aqui) - uma
insensatez típica do ideal americano que proclama que ser dono de um imóvel é
um direito natural.
Deu no que deu - e não tinha como dar algo diferente.
E o que fazer agora?
Nada. Absolutamente nada. Apenas deixar que o mercado
encontre sozinho a solução.
Infelizmente, não foi essa a opção do governo americano.
Lembre-se de que toda a crise (o estouro da bolha) começou no final de julho de
2007 e, desde então, o governo americano só fez intervir, crente de que assim
poderia resolver a situação. Ele já patrocinou a compra do Bear Stearns pelo JP
Morgan Chase, criou um programa de devolução de dinheiro de impostos (tax rebates), encampou as semi-estatais Fannie Mae e Freddie Mac,
emprestou $85 bilhões para a AIG e agora vem tentando aprovar esse pacote de
$700 bilhões de dólares para salvar seus camaradas das finanças.
Isso ajudou a melhorar a crise? Não. Ao contrário, piorou.
F.A. Hayek ganhou o Prêmio Nobel por ter demonstrado que é
a manipulação arbitrária dos juros por parte do banco central que cria os
ciclos econômicos. Em 1932, no auge da Grande Depressão, ele fez a seguinte
descrição a respeito das estúpidas políticas monetárias que estavam sendo
implementadas naquela época:
"Ao invés de facilitar a
inevitável liquidação dos investimentos errôneos que foram induzidos pela
expansão econômica dos últimos três anos, todos os meios imagináveis têm sido
utilizados para impedir que o processo de reajustamento ocorra; e um desses
meios - que tem sido repetidamente tentado, ainda que sem sucesso, desde os
primórdios até os mais recentes estágios da depressão - é justamente a política
da expansão deliberada do crédito...
"Combater a depressão por
meio de uma forçosa expansão do crédito é tentar curar o mal fazendo uso do
próprio meio que o criou; por estarmos sofrendo de uma má alocação da produção,
queremos criar ainda mais más alocações - um procedimento que só irá levar a
uma crise muito mais severa assim que a expansão creditícia acabar.... É
provavelmente por causa desse experimento, bem como por causa das tentativas de
se impedir quebradeiras logo que a crise surgiu, que estamos vivenciando uma
depressão de duração e severidade excepcionais."
Parece até que Hayek deu essa palestra recentemente.
A idéia por trás desse pacote de $700 bilhões que o
governo americano insiste em querer aprovar pode ser perfeitamente resumida da
seguinte forma: tirar dinheiro de pessoas que fizeram bons investimentos e dar
esse dinheiro para pessoas que fizeram maus investimentos na esperança de que essas
pessoas que fizeram maus investimentos irão fazer bons investimentos no futuro
e que as pessoas que fizeram bons investimentos irão continuar fazendo bons
investimentos ainda que elas tenham menos dinheiro para tal.
Nessa mesma linha, quando perguntado o que pensava sobre a
idéia de o governo socorrer os mutuários afundados em toda sorte de dívidas,
Ron Paul, inspirando-se em Bastiat, respondeu:
"Se eles gastaram mais dinheiro do que tinham e agora não
estão conseguindo pagar suas dívidas, restam-lhes duas opções: ou eles cortam
gastos e trabalham mais para quitar suas dívidas, ou, se necessário, entram com
pedido de concordata. Mas eles não têm o direito de requerer que outras pessoas
paguem a conta, pessoas essas que podem ser bem mais pobres e que mal estejam
conseguindo se manter. Quando você pede que o contribuinte faça isso, uma outra
pessoa fica em apuros para pagar a conta. Essa é uma verdade absoluta: Alguém sempre vai ter de pagar. Essa idéia de que não haverá
vítimas é uma completa falácia."
Em resumo: o que os EUA estão vivenciando agora é uma
auto-correção do mercado a toda violência e distorção que lhe foi imposta pelo
estado. O mercado pode ser enganado por algum tempo, mas, no final, sua
realidade sempre prevalecerá. E o mercado está dizendo que os preços atuais dos
imóveis e de todos os ativos baseados em imóveis estão artificialmente
sobrevalorizados (artificialmente
porque foi essa injeção monetária do Fed que causou esse fenômeno). Por isso, o
mercado está demandando a correção desses preços.
Se o governo não se intrometer, deixar que os preços caiam
normalmente e parar com essas nacionalizações de empresas insolventes, a
recessão (leia-se: correção) será profunda, porém curta. Mas, se o governo
ficar inventando paliativos, estratagemas e artifícios vários para manter os
preços artificialmente elevados - como esse pacote de US$700 bilhões,
felizmente reprovado - a recessão será muito mais longa, conquanto sua
intensidade possa ser ligeiramente menor.
Toda e qualquer recessão sempre vai durar o tempo que o
governo do momento estiver disposto a agüentar.
E os EUA estão vivenciando esse exemplo clássico.
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