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Economia

O governo destroça a economia - um estudo de caso

09/09/2008

O governo destroça a economia - um estudo de caso

Que o governo tem uma capacidade única para destruir a economia todos nós já sabíamos. Mas a atual situação americana fornece um estudo de caso completo, que deveria ser aprendido em detalhes.

Dados oficiais estão começando a revelar aquilo que observadores atentos já suspeitavam há mais tempo: as dispensas estão aumentando e o desemprego está em ascensão. Em julho estava em 5,7%, em agosto saltou para 6,1%, o mais alto em cinco anos. Não é alto em termos históricos, mas aflige quando se considera que a taxa mergulhou para menos de 4 por cento no final dos anos 90.

O que preocupa as pessoas é a tendência. Agosto foi o oitavo mês seguido a apresentar queda de empregos.

Instabilidade no mercado de trabalho é o fator número um a levar pânico às pessoas. É mais estressante do que um declínio na bolsa, um aumento generalizado de preços e toda uma gama de outras tendências ruins, pois atinge as pessoas da maneira mais direta possível: ameaçando pôr um fim no fluxo de dinheiro que coloca o pão na mesa.

Não culpe os empregadores. Eles são obrigados a cortar despesas em qualquer lugar possível. Eles têm de se preocupar em sobreviver aos maus tempos. E não são apenas os custos da mão-de-obra que devem ser cortados. As reduções devem ocorrer em todas as áreas.

Custos trabalhistas

Sabemos que, numa situação como a atual, o governo vai fazer exatamente o oposto daquilo que deve ser feito. Então, o que fez Washington? Em um ato de incrível estupidez (aliás, é possível esperar outra atitude do governo?), o Congresso aprovou uma extensão do seguro-desemprego. A velha regra permanece válida: se você subsidiar algo, vai ter mais daquilo. Assim, esse ato aumentará ainda mais o desemprego. Em 1992, Bush pai semelhantemente instituiu um aumento da duração do seguro-desemprego. Previsivelmente, o desemprego subiu. E agora isso vai acontecer de novo, sem dúvida. Portanto, o problema será apenas piorado e prolongado.

Basta apenas um pouco de raciocínio e lógica econômica para ver o porquê. Um ambiente recessivo precisa de um mercado de trabalho mais livre, e não um mais socializado. As empresas e os negócios em geral precisam poder contratar trabalhadores a preços mais baixos. Não se deve aumentar os custos de contratação; deve-se diminuí-los, especialmente com o desemprego ascendente. Benefícios como o seguro-desemprego equivalem a contar uma mentira para as pessoas: que elas podem continuar inativas e demandando salários maiores, quando a decisão correta e mais importante a ser tomada seria diminuir o preço de oferta da sua mão-de-obra no mercado. Portanto, o que o Congresso está fazendo é saquear os trabalhadores com a intenção de impedir que outros entrem no mercado de trabalho.

Isso não é apenas estúpido; é altamente perigoso. A Grã-Bretanha fez isso na década de 1930 e, mais do que qualquer outra ação, isso contribuiu para as altas taxas de desemprego que serviram de combustível para movimentos políticos socialistas que eclodiram por todo o país, o que levou à destruição daquela economia. O mesmo ainda pode ocorrer nos EUA ou em qualquer país do mundo.

"Um ambiente recessivo precisa de um mercado de trabalho mais livre, e não um mais socializado. As empresas e os negócios em geral precisam poder contratar trabalhadores a preços mais baixos. Não se deve aumentar os custos de contratação; deve-se diminuí-los, especialmente com o desemprego ascendente."

Porém, pode-se dizer que é irrealista esperar que as pessoas voluntariamente desvalorizem seu próprio trabalho, diminuindo suas demandas salariais. Assim sendo, há uma outra maneira de lidar com essa mesma questão: diminuir os custos de contratação no mercado. Os custos do emprego para um empregador vão muito além dos salários pagos.

Estamos falando dos encargos sociais e trabalhistas, tributos que o empregador deve pagar sobre a folha de pagamento. Nos EUA, esses tributos são - além do imposto de renda retido na fonte - a Previdência Social, o medicare, o seguro-desemprego e as indenizações, além do seguro-saúde que algumas empresas de grande porte são obrigadas a fornecer aos seus empregados. Tudo isso somado, o empregador acaba pagando 10% de impostos sobre o salário. (No Brasil, os encargos sociais e trabalhistas podem chegar a incríveis 102%(!) do salário, o que explica grande parte da informalidade e do desemprego sempre mais alto. Ver mais aqui.)

Apesar de alguns desses tributos serem também pagos na mesma porcentagem pelo empregado, essa divisão é puramente formal. Economicamente, o empregador acaba pagando todo o imposto. Mas a questão principal é que não há opção quanto a isso. Se alguém é contratado, o custo tributário é obrigatoriamente embutido no custo de contratação, e isso antes de o empregado ter acrescido qualquer valor à empresa em questão.

Os encargos trabalhistas são um imposto sobre o emprego porque acabam representando um aumento forçado no valor do salário. O salário nominal que o trabalhador quer ganhar terá um custo final bem maior para o empregador (no caso do Brasil, como visto acima, o custo total para o empregador é mais do que o dobro do salário nominal). Se esses encargos fossem eliminados, os custos de contratação despencariam, e os benefícios seriam sentidos direta e imediatamente pelo trabalhador. Ele não teria de diminuir suas expectativas salariais. Ao invés de dar o dinheiro para o governo, o trabalhador iria poder acrescentar esse dinheiro ao seu próprio cálculo remunerativo.

Em relação às empresas de grande porte que são obrigadas a fornecer seguro-saúde para seus empregados, a situação é ainda pior. Como os custos de um seguro-saúde subiram além do imaginável, essa exigência se tornou um grande obstáculo às contratações. Empregados tendem a achar que um seguro-saúde é um benefício gratuito ou até mesmo um direito. Ledo engano, é claro. O dinheiro pago sai do seu próprio salário. Quase todos os empregados estariam em melhor situação se tivessem de arranjar por conta própria seu seguro médico particular. A nova demanda por fornecimento privado tornaria o mercado de seguro-saúde mais competitivo e levaria a uma queda nos preços. Também faria aumentar o incentivo de as pessoas se cuidarem melhor, dado que a percepção de se ter um seguro-saúde "gratuito" tende a deixá-las mais relapsas, criando um risco moral.

Outra grande medida seria abolir o salário mínimo. Isso retiraria o controle do governo sobre o preço da mão-de-obra em geral. Isso permitiria aos trabalhadores oferecer seus serviços a qualquer preço, que seria negociado privadamente entre o empregado e o empregador. O salário mínimo simplesmente coloca um piso no valor dos salários, reduzindo sua flexibilidade no mercado. Ele funciona como um controle de preços: nesse caso, criando um excesso de oferta de mão-de-obra que não é comprado. Ele praticamente bane alguns empregos. (Ver mais sobre o salário mínimo aqui).

Além destes tradicionais, há também aqueles custos politicamente corretos, que são muito altos, porém incalculáveis na prática. Leis anti-discriminação, por exemplo, já deixaram de ser leis relativamente claras (ainda que errôneas) contra a discriminação racial e sexual, transformando-se em um enlouquecedor campo minado jurídico. Se você considerar todo o arsenal de "causas" que podem ser consideradas discriminatórias, absolutamente todo empregado se torna uma ação judicial ambulante.

"Quanto às receitas do governo para sustentar seus parasitas, sejamos duros: já está na hora de o setor público começar a sofrer um pouco."

Os riscos de se contratar alguém são enormes. Torna-se impossível contratar empregados sem ter a sensação de que provavelmente você terá de ficar preso a essas pessoas não importa o quão ruim sejam seus serviços e/ou o quão ruim fique a economia. Na margem, isso torna os empregadores mais avessos ao risco de se contratar, especialmente em épocas incertas. Se os reguladores, burocratas, juízes e jurados recuassem nesse ponto, haveria um grande aumento na mobilidade de empregos e uma nova disposição da parte de cada empresa em aceitar novos empregados.

Dito isso, um outro problema imediatamente aparece. O que fará o pobre governo se lhe forem negadas todas essas receitas? O que será dos direitos dos trabalhadores se o governo parar de proteger vítimas de patrões malvados? Bom, eis o problema. A escolha desse momento recessivo não é entre ter um emprego com um alto salário e muitos benefícios ou um emprego de baixo salário e sem qualquer benefício. A escolha para muitos está resumida a ter ou não ter um emprego. Quanto às receitas do governo para sustentar seus parasitas, sejamos duros: já está na hora de o setor público começar a sofrer um pouco.

Uma dramática iniciativa de se diminuir os custos de contratação poderia acabar tendo grandes efeitos. Além de forçar uma mudança na Previdência, no assistencialismo e nos gastos do setor público, haveria uma mudança de controle sobre os contratos trabalhistas: estes deixariam de estar sob a tutela do governo e passariam a ser exercidos por aqueles mais diretamente afetados por esses contratos - a saber, os trabalhadores individuais e as empresas para as quais eles trabalham.

É claro que o que foi sugerido até aqui é exatamente o oposto da atual tendência política, que é aumentar os custos trabalhistas, ao invés de diminuí-los. É assim que o governo acaba transformando uma situação ruim em outra ainda pior. É isso que ele tem feito por toda a história. E isso não vai mudar até que o público exija uma mudança das elites governantes. Um bom slogan anti-recessão seria: diminuam os custos trabalhistas já!

O Banco Central, a Grande Depressão e um bom presidente

Tendo analisado os custos trabalhistas, passemos para o grande responsável pelo início da bagunça: o Federal Reserve, o Banco Central americano. Neste, temos uma quadrilha de obsessivos que acreditam que a maior ameaça para o país atualmente é uma queda nos preços. E eles estão completamente dedicados a impedir que isso aconteça - exatamente em um momento em que uma queda de preços seria a melhor coisa que poderia acontecer ao país.

"O Banco Central americano é formado por obsessivos que acreditam que a maior ameaça para o país atualmente é uma queda nos preços. E eles estão completamente dedicados a impedir que isso aconteça - exatamente em um momento em que uma queda de preços seria a melhor coisa que poderia acontecer ao país."

E o que gera essa obsessão? Uma falta de conhecimento adequado sobre a Grande Depressão.

A Grande Depressão, como mostrou Murray Rothbard, foi o resultado de uma maciça injeção monetária perpetrada pelo Fed durante a década de 1920. O Fed foi criado no nefasto ano de 1913 - o mesmo ano em que foi criado também o Imposto de Renda, o que acabou de fato com a descentralização política que Thomas Jefferson e os outros pais fundadores haviam concebido para os EUA. O Fed foi criado por um conluio entre banqueiros e magnatas - J.P. Morgan e John D. Rockefeller, Jr. - com a clara intenção de inflar a oferta monetária, de modo a cartelizar todo o sistema bancário - que então já operava com reservas fracionários -, protegendo-o assim contra corridas aos bancos (ver mais aqui).

Freqüentemente ouvimos o presidente do Federal Reserve - atualmente Ben Bernanke, mas todos os outros ex-presidentes do Fed, bem como presidentes de bancos centrais de qualquer país do mundo, agem da mesma maneira - dizer coisas do tipo "Devemos nos preocupar com a inflação!", como se a inflação fosse uma força externa da natureza, completamente alheia a seu controle. Memorizem isso: a inflação é causada unicamente pelo Banco Central; apenas um Banco Central pode aumentar a oferta monetária. Pense em um banco central como uma gigantesca máquina de falsificar dinheiro. Ao imprimir papel pintado, ela dilui o valor de todo o dinheiro já existente. Quem ganha com isso? O próprio governo, que não precisa tributar; empreiteiras que prestam serviços ao governo, que são as primeiras a receber esse novo dinheiro, assim como os grandes bancos e todo o setor financeiro, além de todas as outras instituições que também têm laços estreitos com o governo federal.

"Memorizem isso: a inflação é causada unicamente pelo Banco Central; apenas um Banco Central pode aumentar a oferta monetária. Pense em um banco central como uma gigantesca máquina de falsificar dinheiro. Ao imprimir papel pintado, ela dilui o valor de todo o dinheiro já existente."

O Fed financiou a Primeira Guerra Mundial com uma inflação monetária maciça - se dependesse apenas da tributação, a participação dos EUA teria sido impossível -, o que levou toda a economia a ser direcionada para o esforço de guerra. Findada a Guerra, toda a produção bélica não mais era necessária. Ou seja: toda a economia agora tinha de se rearranjar. Com isso, houve uma recessão - isto é, a necessária correção da economia - em 1921.

Mas, por sorte, o presidente era Warren G. Harding, um dos meus favoritos. Ele está na minha lista justamente por ter sido um presidente que não fazia nada. Harding passava a maior parte do tempo bebendo, jogando e badalando - exatamente o tipo de coisa que um presidente deve fazer em tempo integral, ao invés de ficar regulando a economia, controlando nosso modo de viver e tentando salvar o mundo. Exatamente por Harding ter sido o presidente nessa época e principalmente pelo fato de o Fed ainda não possuir a monstruosa estrutura que depois viria a ter, eles não intervieram na economia. Ademais, o Congresso também era mais conservador, no sentido de ser relutante a intervir. Assim, após a Primeira Guerra, a recessão foi aguda, porém curta. Em menos de um ano a economia já estava rearranjada e a depressão tornou-se apenas uma nota de rodapé nos livros de história.

"Warren G. Harding foi um grande presidente. Ele passava a maior parte do tempo bebendo, jogando e badalando - exatamente o tipo de coisa que um presidente deve fazer em tempo integral, ao invés de ficar regulando a economia, controlando nosso modo de viver e tentando salvar o mundo."

Esse é um bom exemplo do que acontece em uma economia (quase) livre: se o governo não tenta intervir para "consertar" uma depressão, ela acaba rapidamente, criando uma base sustentável para um novo crescimento e para mais prosperidade.

Mas, infelizmente, a fácil recuperação da crise de 1921-1922 incitou o Fed a fazer a única coisa que ele sabe fazer bem: inflacionar a moeda. Assim, ele ligou com grande entusiasmo sua máquina de imprimir. Quando isso acontece, quando um banco central inflaciona o crédito através do sistema bancário (ver mais sobre isso aqui e aqui), ele diminui a taxa de juros para um nível abaixo do de livre mercado. E como resultado, os empreendedores são atraídos por vários tipos de empréstimos e se envolvem em vários tipos de projetos que aparentam ser muito lucrativos e economicamente sensatos (ver mais aqui). Mas tudo se revela um engano quando esse boom artificial acaba e todos esses empreendimentos se mostram desastrosos.

Assim, durante a década de 1920, apesar de toda a inflação monetária, não houve um aumento generalizado de preços - assim como também não o houve nesse último crescimento artificial dos EUA, que durou até meados de 2007 -, principalmente por dois motivos: houve um grande aumento na produtividade e uma parte do dinheiro foi aplicado em imóveis - houve uma forte expansão na Flórida - e a outra parte (a maior) foi aplicada na bolsa de valores, o que levou a um boom de especulação até então sem precedentes. Mas toda essa farra chegou ao fim na "Segunda-Feira Negra", 28 de outubro de 1929.

E então Herbert Hoover, o presidente na época, passou a agir como se tivesse em mente um objetivo único e muito bem definido: fazer com que a recessão fosse a mais longa, a mais intensa, a mais danosa e a mais horrível possível. Franklin Roosevelt também agiu com a mesma férrea disciplina (ver mais aqui e aqui). Uma das coisas que eles fizeram foi tentar manter os preços artificialmente elevados. Eles não entenderam que, durante uma recessão, é necessário que os preços caiam para que a economia possa se auto-corrigir. Além dos preços, os salários também deveriam cair. No entanto, o governo fez todo o possível para manter preços e salários altos, além de adotar tarifas protecionistas e se aliar aos sindicatos. Tudo isso teve o efeito de prolongar e intensificar a depressão. Aliás, a Depressão só acabou de fato em 1946; e apenas em 1954 as ações voltaram ao nível em que estavam em 1929, com 25 anos de atraso!

O governo em ação

O mesmo raciocínio é válido para o aumento explosivo - e insustentável - ocorrido nos preços dos imóveis americanos nessa década atual: é necessário permitir que seus preços caiam para níveis realistas. Assim como Hoover, Roosevelt e seus conselheiros, a atual equipe econômica do governo americano está convencida de que a atual queda nos preços dos imóveis é a responsável pela presente recessão. Da mesma forma, eles também acreditam que a Grande Depressão foi causada por uma queda generalizada nos preços. É a esse tipo de raciocínio que uma má educação econômica leva. Uma queda nos preços foi a melhor coisa que os anos 30 tinham a oferecer. Imagine aquela mesma depressão ocorrendo em simultâneo a uma inflação frenética! O sofrimento das pessoas teria sido incomensuravelmente pior.

"No que depender do governo, tenha certeza de que a próxima experiência com qualquer fenômeno econômico será sempre pior do que a última. Os burocratas estão se esforçando ao máximo para nos presentear com uma Grande Depressão, só que com uma tendência piorada: diminuição na produção e aumento no desemprego simultaneamente a preços ascendentes!"

Portanto, no que depender do governo, tenha certeza de que a próxima experiência com qualquer fenômeno econômico será sempre pior do que a última. Os burocratas estão se esforçando ao máximo para presentear o povo americano com uma Grande Depressão, só que com uma tendência piorada: diminuição na produção e aumento no desemprego simultaneamente a preços ascendentes!

O entendimento que Bernanke tem acerca da Grande Depressão não faz sentido, é claro. Mas é a única explicação plausível para entender por que o Fed está se esforçando ao máximo para inflar a economia por meio de truques ardilosos que levam os bancos a sair empestando dinheiro a qualquer custo, como se dinheiro e crédito fossem salvar o mundo. É de se imaginar se esses burocratas não vêem os infortúnios econômicos por que passam muitas nações africanas, com inflação por vezes na casa percentual dos milhares. A economia deles está longe da solidez. Mas um sujeito como Bernanke é capaz de olhar para um país como o Zimbábue e dizer: "Ei, pelo menos eles não estão atormentados pela deflação!"

É claro que, de acordo como o governo, o povo americano não deve se preocupar com a economia, pois está tudo sob controle. Enquanto isso, a impressora do Fed segue fazendo hora extra para dar conta de imprimir todo o dinheiro necessário para salvar as duas gigantes do setor hipotecário, as instituições fascistas Fannie Mae e Freddie Mac (leia mais aqui). Essas instituições compram hipotecas dos bancos para poder revendê-las como títulos para instituições de investimento. O que aconteceu já era previsto: por causa das regulamentações federais, bem como pela insanidade geral provocada por um período de rápido (e artificial) crescimento econômico, pessoas com histórico de crédito ruim, que não deveriam estar ganhando acesso a hipotecas - ou que não deveriam estar tendo acesso a hipotecas tão volumosas, ou com os baixos juros que conseguiram - acabaram, de fato, ganhando-as. Como resultado, assim que veio o declínio, essas pessoas não mais conseguiram pagar suas prestações e deram o calote. Daí vieram todas as execuções hipotecárias, com os imóveis caindo de valor. Mas ao invés de o governo deixar os preços caírem normalmente - o que pode ser uma notícia ruim para os que já têm um imóvel, mas é uma notícia ótima para aqueles que querem ter um -, ele passou a fazer de tudo para mantê-los artificialmente elevados, temerosos que estão de uma possível deflação no setor. (Ver mais aqui)

"Um sujeito como Bernanke é capaz de olhar para um país como o Zimbábue e dizer: "Ei, pelo menos eles não estão atormentados pela deflação!"

 

Entretanto, o índice de preços no atacado, de acordo com números do próprio governo, subiu 9% em termos anuais. Como as estatísticas do governo sempre minimizam esses números por razões políticas, esteja certo de que tanto o índice de preços no atacado como o índice de preços ao consumidor já estão em dois dígitos.

Mas o governo não se contentou em desmantelar apenas o setor imobiliário. Outras medidas realmente totalitárias já estão em discussão. Por exemplo, o governo está planejando banir as especulações baixistas (que ocorre no mercado de futuros quando um agente vende papéis que ainda não possui, na expectativa de que o preço caia para que ele possa então recomprá-los com lucro) com as ações da Fannie Mae e Freddie Mac. Alguns burocratas mais animados falam até em abolir todas as especulações baixistas. Trata-se de uma idéia totalmente populista, estatista e maluca, típica dos nazistas e dos comunistas, que - assim como o atual regime em Washington - sempre odiaram especuladores. Só para constar, especulações baixistas não derrubam o mercado; na verdade, até ajudam a equilibrar algumas volatilidades no mercado de ações, tanto na subida quanto na descida da bolsa. Portanto, proibi-las não somente é uma violação dos direitos dos investidores, como também piora a economia, tornando o mercado de ações bem mais volátil. (Ver mais aqui).

Mas a tendência é que os preços das ações caiam, assim como os preços de outros ativos que foram artificialmente inflados. Por outro lado, várias outras coisas estão encarecendo, como energia e gasolina - e isso porque o governo americano ainda não declarou guerra contra o Irã. Espere até lá.

Conclusão

Portanto, creio que já deu para pegar o espírito da coisa. Os EUA estão enfrentando problemas econômicos muito sérios. Há uma equipe em Washington empenhadíssima para piorar absolutamente tudo. A mídia, por sua vez, não vê absolutamente nada de errado com mais socialismo financeiro e mais inflação. Não vê o aspecto negativo desse maciço resgate que está sendo planejado para salvar a Fannie Mae e a Freddie Mac. Aliás, é bom lembrar que o governo federal vai assumir o passivo de $5 trilhões de dólares dessas duas instituições e jogá-lo na conta da dívida interna.

Portanto, nem é bom imaginar o que vem pela frente. O governo pode tentar de tudo - tudo mesmo - para dar a impressão de que está se empenhando. E nisso ele é eficiente. Um dos motivos pelo qual Franklin Roosevelt jogou os EUA na Segunda Guerra foi porque, sendo um keynesiano, ele acreditava que uma produção centralizada voltada para o esforço de guerra seria salutar para a economia. Quando os políticos pensam em Keynes, eles concluem que guerras e destruição da propriedade são coisas boas porque aquecem a economia. É claro que para a economia não é nada bom, mas para o complexo industrial-militar e para todas as empreiteiras com conexões com o governo, guerras e destruição da propriedade são coisas ótimas.

"Um dos motivos pelo qual Franklin Roosevelt jogou os EUA na Segunda Guerra foi porque, sendo um keynesiano, ele acreditava que uma produção centralizada voltada para o esforço de guerra seria salutar para a economia. Quando os políticos pensam em Keynes, eles concluem que guerras e destruição da propriedade são coisas boas porque aquecem a economia."

E talvez seja exatamente nisso que Bush, Cheney e seus asseclas estejam pensando quando olham para o Irã. É fácil esquecer que Bush é o responsável mais direto por todo esse fiasco. Suas guerras no Iraque e Afeganistão esvaziaram o estoque de capital, diminuíram a oferta de petróleo e desalojaram todo o investimento privado. O preço da gasolina disparou e todas as propostas para tentar reduzir os preços foram olimpicamente rejeitadas.

Ele compeliu o Fed a inflar ao máximo para assim poder dar prioridade às suas aventuras militares em detrimento de sólidas políticas econômicas. É uma simplificação grosseira, mas ainda assim contém a verdade: o estado belicista de Bush é a causa dessa recessão. Trata-se de uma simplificação no sentido de que não haveria uma recessão se a máquina de imprimir dinheiro, sob ordens da Casa Branca, não tivesse entrado em sobremarcha.

E, finalizando, uma palavrinha sobre o sistema bancário: não é coincidência que estejamos testemunhando corridas aos bancos, como a que ocorreu ao Indymac, na Califórnia. Nenhum grande banco regional é estável; todos eles estão enfrentando problemas. Na realidade, absolutamente todos os bancos são insolventes, pois a eles é permitido manter reservas fracionárias, que nada mais são do que uma fraude pura e simples (eles mantêm depósitos fictícios, pois o seu dinheiro não está lá). É o governo quem dá aos bancos essa permissão especial em troca da ajuda que os bancos dão ao governo, financiando-o através do Banco Central. Um Banco Central cuja impressora não é desligada apenas estimula ainda mais esse logro.

Qual seria a resposta certa a essa recessão? A primeira regra é: não causar mais danos. Em se tratando do governo, isso é pedir muito e já é o suficiente. Além disso, em um mundo ideal, o Fed deveria ser abolido, o custo do emprego deveria ser reduzido, assim como todos os impostos. Controles ambientais que impedem a exploração e a refinação de petróleo devem ser revogados - isso tudo já seria um bom começo. Sob essas políticas, seria de se esperar que a recessão durasse menos de um ano. Do jeito que está, podemos esperar uma recessão muito longa e intensa.

Os problemas à frente são muito sérios e os americanos fariam bem se se revoltassem contra aqueles que os colocaram nessa situação. O atual momento não é meramente fruto de um erro; não estamos falando de pessoas que erraram sem querer e, infelizmente, geraram a atual situação. Trata-se de pessoas que trapacearam e roubaram abertamente: roubaram os cidadãos através de suas inflações, de sua gastança, de suas guerras e de suas regulamentações - tudo para benefício do próprio governo, de seus parasitas e dos interesses especiais ligados ao governo. Isso ocorreu mais explicitamente nos EUA, mas nada impede que venha a ocorrer de forma semelhante em outros países. Basta que eles tenham a mesma estrutura de governo. E qual não tem?

Sobre o autor

Lew Rockwell

É o chairman e CEO do Ludwig von Mises Institute, em Auburn, Alabama, editor do website LewRockwell.com , e autor dos livros Speaking of Liberty.

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