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Os três cabos de guerra que vigoram no Brasil

Como consequência, marxistas e social-democratas voltaram a ser aliados

29/02/2020

Os três cabos de guerra que vigoram no Brasil

Como consequência, marxistas e social-democratas voltaram a ser aliados

A disputa política no Brasil envolve três distintos cabos de guerra. Todos estão sob a névoa do conceito da "polarização". 

"Nem toda briga é boa, mas nem toda briga é boba", dizia o poeta.

Há o perverso Cabo de Guerra da Máquina Pública, que opõe grupos sedentos por uma boquinha do estado, por verbas e pela distribuição de benesses. Esse cabo é de soma negativa, ao menos do ponto de vista do cidadão e pagador de impostos. Seus tributos se acumulam em um volumoso saco de ouro que fica no centro do cabo; leva o prêmio quem tiver maior poderio político.

Nas extremidades, fazem força as facções opostas que disputam poderosas canetas que liberam verbas, empregam aliados, determinam políticas públicas, baixam decretos e portarias. Objetivam o poder como um fim, e sua existência deriva do excessivo poder do estado.

Em cada um dos lados podemos encontrar funcionários públicos que querem maiores salários e maiores prebendas; grandes empresários que querem reserva de mercado, subsídios e nenhuma concorrência; empreiteiras que querem se fartar em dinheiro de impostos por meio de obras públicas; artistas que querem mais subsídios; reguladores e burocratas que querem mais poder para impingir suas regulações; políticos do segundo escalão que visam apenas ao curto prazo (ou seja, a ganhos pessoas diretos com o dinheiro de impostos); e sindicatos que querem receber mais dinheiro confiscado do trabalhador (estes são o único grupo que realmente está perdendo poder).

Esse cabo de guerra se intensifica toda vez que há troca do grupo político no comando. Depois do aparelhamento da máquina promovido pelos governos do PT, agora grupos que apoiaram Jair Bolsonaro, Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre e companhia cobram as verbas e os cargos pactuados. 

Em menor ou maior grau, vale sempre a lógica do infame "toma-lá-dá-cá", uma inevitabilidade do meio político que alguns creem ser possível dispensar. Enquanto o cidadão for condenado a prover o saco de ouro no centro do cabo, permanecerá desprezado. 

O segundo cabo de guerra está, por assim dizer, no "andar de cima". Este é o Cabo de Guerra do Voto, da disputa pelo comando máximo, a caneta das canetas. Nas extremidades, partidos e facções políticas antagônicos; esquerda, centro-esquerda, centro-direita e direita. No entanto, neste cabo a coisa é mais bagunçada e frequentemente todos acabam se pegando, inclusive aqueles de ideologia mais parecida: tem Ciro versus Lula, tem presidente versus governadores do Rio e de São Paulo, tem PC do B e PSOL versus PCO, tem PSL versus DEM etc.

É um cabo de guerra feroz e por vezes regado a xingamentos ou quebra de regras. O evento da retroescavadeira em Sobral colocou a família de coronéis que controla o Ceará contra um deputado que quer ser prefeito de Fortaleza aliado a um grupo de policiais amotinados.

Estes também desprezam o cidadão — exceto, claro, em ano de eleições, quando os animais do gabinete saem de seu habitat para visitar as comunidades.

O terceiro cabo de guerra é o mais relevante para os brasileiros que desejam um Brasil melhor. É o Cabo de Guerra das Idéias. Este contrapõe as atribuições do estado, de um lado, às da sociedade e do indivíduo, de outro. A disputa ocorre principalmente nas páginas da imprensa livre, na academia e nas redes sociais, mas também nas manifestações livres de artistas e cientistas, nas rodas familiares e de amigos.

A esquerda foi pega de surpresa nesse cabo de guerra nos últimos dez anos. Marxistas e sociais-democratas eram os únicos participantes absolutos e se antagonizavam sem concorrentes, mas acabaram se perdendo nas disputas pela máquina e pelo voto.

Pode-se dizer que a chegada das ideias conservadoras, liberais e libertárias ao centro do debate é resultado da prática do "zen" na arte do cabo de guerra. Com calma e tranquilidade após anos de reflexões, tomamos a corda pela beirada e colocamos marxistas e sociais-democratas juntos do outro lado. Com isso, o Brasil deixou de ser um dos poucos países do mundo em que a discussão de ideias liberais e conservadoras praticamente inexistia. Hoje, nosso cenário de embate de ideias ficou mais semelhante ao do resto do mundo.

Em nossa extremidade entraram os anarcocapitalistas e sua base consistente do laissez-faire, a utopia da liberdade. Em seguida os minarquistas, defensores do caminho ao estado mínimo. No meio da corda fazem força os chicaguistas e os neoliberais. Próximos ao outro lado da corda — onde transpira em bicas a esquerda— estão os left-libs, ou libertários de esquerda, que são liberais que priorizam a pauta dos costumes em detrimento da econômica.

Juntos, nos esforçamos para reduzir a excessiva intrusão do estado porque entendemos ser esse o caminho sustentável para a geração de riqueza, a diminuição da pobreza, a melhoria do ensino, a solução das questões sociais e ambientais

Um estado menor tem por consequência um indivíduo mais responsável e uma sociedade mais forte.

Esse cabo de guerra faz bem ao Brasil.

Sobre o autor

Helio Beltrão

Helio Beltrão é o presidente do Instituto Mises Brasil.

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