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Economia

Na verdade, é a esquerda progressista quem acredita que o mercado é perfeito e imune a falhas

Os intervencionistas são os verdadeiros fundamentalistas: de impostos a lockdown

12/03/2021

Na verdade, é a esquerda progressista quem acredita que o mercado é perfeito e imune a falhas

Os intervencionistas são os verdadeiros fundamentalistas: de impostos a lockdown

Nota do Editor

O artigo abaixo, originalmente de 2018, foi atualizado para incorporar o mais recente delírio fundamentalista dos progressistas: os lockdowns

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Rotular o oponente de maneira pejorativa tornou-se uma prática bastante comum. É muito mais fácil estereotipar o interlocutor, atribuindo-lhe rótulos depreciativos, do que engajar em uma discussão significativa e racionalmente honesta.

Por exemplo, se, em meio a um debate econômico sobre pobreza, saúde, educação, infraestrutura ou mesmo comércio exterior, você sugerir uma solução de mercado, dizendo algo do tipo "deixem o mercado cuidar disso", você será, na mais benevolente das hipóteses, rotulado de "fundamentalista" ou mesmo "reacionário".

Aparentemente, defender soluções de mercado faz de alguém um "fundamentalista" porque tal pessoa estaria se comportando de maneira ingênua e com uma devoção religiosa.

Só que a posição do "deixem o mercado cuidar disso", longe de ser ingênua, é a mais realista que existe. Ela reflete o entendimento de que qualquer problema que você possa imaginar -- reconstruir uma terra arrasada por um terremoto, fornecer educação e saúde de excelente qualidade para crianças e adultos, reduzir congestionamentos em ruas e estradas, fornecer uma moeda de qualidade, construir pontes e estradas, fornecer água tratada e encanada -- será mais bem resolvido, com muito mais eficiência, presteza e baixo custo, por indivíduos atuando livremente na arena das trocas voluntárias e pacíficas (mercado) do que por burocratas do governo.

Recomendar o mercado (a livre interação entre pessoas) em lugar do governo (a intervenção de burocratas) significa a humildade de reconhecer que ninguém possui informação e conhecimento suficientes para determinar, ou mesmo prever, quais métodos específicos são os melhores para lidar com o problema. Significa recomendar que se permita que milhões de pessoas criativas, cada uma com perspectivas distintas e com seus próprios conhecimentos e percepções, voluntariamente contribuam com suas próprias idéias e esforços para lidar com o problema. 

Isso é o exato oposto de ingenuidade e fundamentalismo.

Agora, em contraste a isso, se você analisar as principais posições dos estatistas e intervencionistas nas mais diversas áreas -- impostos, subsídios, agências reguladoras, tarifas protecionistas, leis trabalhistas e lockdowns --, você imediatamente perceberá que eles é que são os verdadeiros ingênuos e fundamentalistas de mercado.

Quem é o fundamentalista?

Impostos

Comecemos pela questão dos impostos. Aqueles que defendem aumentos de impostos acreditam sinceramente que eles não só não afetarão a economia, como também irão aumentar o bem-estar de todos.

Já a teoria econômica ensina que aumentos de impostos diminuirão a quantidade de capital disponível para financiar investimentos, expandir a capacidade produtiva e contratar mão-de-obra. Com mais impostos, há mais dinheiro nas mãos de burocratas e menos nas mãos de empreendedores e de consumidores. Isso, por si só, não tem como aumentar o bem-estar de todos e nem como tornar a economia mais rica.

No entanto, para os defensores de aumento de impostos, eles não geram problema nenhum. De alguma maneira, as empresas, mesmo sendo mais tributadas, irão dar um jeito de arcar com este ônus e ainda assim contratar mais pessoas, investir mais, produzir mais e, com isso, manter altas taxas de crescimento econômico.

Igualmente, os consumidores, mesmo tendo agora uma menor renda disponível, irão de alguma maneira consumir mais, gerar mais lucros para as empresas e, com isso, aumentar empregos e investimentos em toda a economia.

Para os intervencionistas, portanto, tanto empreendedores quanto consumidores irão se adaptar aos maiores impostos, de modo que as potenciais consequências negativas -- menor criação de riqueza e menores níveis de produção -- podem ser perfeitamente evitadas.

Sinceramente, isso sim representa uma extraordinária crença na capacidade do mercado. Tratar a economia como à prova de impostos significa colocar uma enorme e ingênua fé no mecanismo de mercado. Infelizmente, o mercado não é tão poderoso assim, não obstante essa profunda fé dos estatistas. Impostos, com efeito, geram consequências econômicas e significativos efeitos adversos.

Subsídios

Subsídios funcionam da mesma maneira.

Intervencionistas acreditam que o governo tomar dinheiro de uns e repassar a outros é algo que pode trazer enriquecimento para todos.

Eles ignoram que subsídios empobrecem aqueles de quem o dinheiro foi confiscado e beneficiam aqueles recebedores, os quais irão ser contemplados de acordo com suas conexões políticas. Igualmente, eles ignoram que subsídios aumentam a ineficiência da economia como um todo, pois quem recebe os subsídios não mais precisa se preocupar em agradar os consumidores para auferir receitas, e sim apenas fazer os conchavos com os políticos que estão no poder. Empresa beneficiada por subsídios tem de agradar a políticos (para continuar recebendo o butim), e não aos consumidores.

No final, os subsídios distorcem toda a economia e geram inúmeras ineficiências. Empresas eficientes são tributadas para bancar as ineficientes. As ineficientes se expandem (graças ao apoio do governo), adquirem maiores fatias de mercado (pois seus custos operacionais efetivos são menores graças ao dinheiro que recebem do governo) e com isso expulsam as mais eficientes. No final, empresas que tinham potencial são preteridas por aqueles que possuem conexões políticas.

No entanto, para os intervencionistas, nada disso irá acontecer e o mercado saberá arcar com esta intervenção distorciva de maneira sublime, sem sofrer nenhum distúrbio. E todos irão enriquecer.

Isso sim é ter uma crença fundamentalista na capacidade do mercado.

Agências reguladoras

Para a esquerda intervencionista, agências reguladoras criarem reservas de mercado -- impondo inúmeras regras e custos para estipular quem pode operar em determinados mercados -- é algo que trará mais bem-estar e maior qualidade de serviços para os consumidores.

Intervencionistas acreditam que agências reguladoras não só protegem os consumidores contra cartéis, como ainda fazem com que essas empresas se tornem mais eficientes e mais preocupadas em agradar os consumidores.

A esquerda intervencionista ignora que agências reguladoras nada mais são do que um aparato burocrático que tem a missão de garantir um oligopólio para as empresas favoritas do governo, protegendo essas empresas contra o surgimento de novos concorrentes, principalmente vinda de outros países.

A esquerda intervencionista genuinamente acredita que colocar o governo para regular preços e especificar os serviços que as empresas operando dentro de uma reserva de mercado devem ofertar é algo que trará um bem-estar muito maior aos consumidores do que simplesmente abrir o mercado para a vinda de empresas de todos os cantos do mundo, as quais disputariam consumidores via redução de preços e aumento da qualidade dos serviços. 

A esquerda, em suma, acredita que criar reservas de mercado nos setores de telecomunicações, de planos de saúde, bancário, aéreo, elétrico, petrolífero e de transportes não só não abalará a qualidade dos serviços ofertadas no mercado, como ainda aumentará o bem-estar de todos.

Isso é ou não é uma crença fundamentalista na capacidade do mercado de tolerar distorções?

Tarifas de importação

A esquerda protecionista acredita que proibir os cidadãos de comprar produtos baratos e de maior qualidade do exterior, forçando-os a comprar os produtos mais caros e de qualidade inferior fabricados nacionalmente, é algo que aumentará a riqueza de todos.

Eles genuinamente acreditam que criar uma reserva de mercado para o grande baronato industrial nacional não só não irá afetar em nada a eficiência econômica, como ainda aumentará o bem-estar de todos, principalmente dos mais pobres, agora obrigados a pagar mais caro por produtos de qualidade inferior.

Para a esquerda, estabelecer esse monopólio das grandes indústrias nacionais não criará nenhuma ineficiência econômica, não criará privilégios, não aumentará a desigualdade de renda (industriais e sindicatos mais ricos, e pobres mais empobrecidos) e não afetará o crescimento econômico.

A esquerda, em suma, ignora que quando a população é obrigada a comprar produtos nacionais artificialmente mais caros, sobra menos dinheiro para investir ou gastar em outros setores da economia, como lazer, alimentação, educação, vestuário, o que acaba reduzindo o emprego e a renda nestas áreas.

Isso é ou não é uma crença fundamentalista na capacidade do mercado de absorver tamanho privilégio garantido pelo governo?

Leis trabalhistas

De acordo com seus defensores, estipular um salário mínimo e impor vários encargos sociais e trabalhistas que oneram a folha de pagamento das empresas não trará nenhuma consequência negativa ao mercado de trabalho.

Para a esquerda, o governo estipular um preço mínimo para que se possa contratar legalmente mão-de-obra, e em cima deste preço mínimo acrescentar encargos que simplesmente dobram o custo legal desta mão-de-obra, não representa nenhum obstáculo ao emprego e não empurra a mão-de-obra menos qualificada para o mercado informal.

Miraculosamente, impor fardos adicionais aos empregadores não afetará a disposição deles em empregar mais pessoas. Um preço artificialmente mais alto para a contratação de mão-de-obra não irá afetar em nada a demanda por mão-de-obra, principalmente da menos qualificada.

Assim, para a esquerda, as empresas continuarão operando normalmente, ignorando por completo este aumento de custos. Afinal, quem se importa com custos operacionais mais altos? O mercado é tão forte e resistente que pode sobreviver a tamanho obstáculo. Sendo assim, nada nesta área deve ser alterado.

Acreditar que custos trabalhistas artificiais não impactam a lucratividade de empreendimentos, e consequentemente não afetam a disposição das empresas para contratar mão-de-obra, representa uma formidável crença (fundamentalista) na capacidade do mercado de absorver custos artificialmente impostos.

Lockdowns

Essa é direta: progressistas e intervencionistas acreditam que, se os governos simplesmente desligarem a economia, impedirem as pessoas de trabalhar e produzir, e o Banco Central simplesmente imprimir dinheiro para dar a essas pessoas e mantê-las em casa, a economia continuará girando normalmente, sem escassez, sem alta de preços e com mínimo aumento no desemprego.

Todo o necessário, portanto, é o governo apenas imprimir dinheiro e distribuir, pois, aparentemente, a simples criação de moeda tem o poder mágico de fazer surgir bens do nada. 

Distribuir dígitos eletrônicos e papeizinhos pintados fará milagrosamente surgirem bens de capital e bens de consumo para todos.

Imprima dinheiro, e computadores, caminhões, imóveis e comida surgirão como que por encanto. A escassez estará findada. Trabalho e produção serão equações já resolvidas. A transubstanciação do nada em produtos físicos será efetuada.

Com efeito, todo o necessário para fazer uma economia bombar é ter um Banco Central criando dinheiro. Todo o segredo para transformar as pedras em pães é criar dígitos eletrônicos e papeis pintados. Faça isso, e bens e serviços surgirão em abundância.

Acreditar que a simples criação de dígitos eletrônicos e papeis-pintados mitiga todos os problemas gerados pela proibição de se trabalhar, empreender e produzir é o ápice da crença fundamentalista nos milagres do mercado.

Conclusão

Quem, portanto, são os verdadeiros fundamentalistas que acreditam que o mercado é imune a falha? Quem é que acredita que intervenções estatais, não importa quão grandes e abrangentes, não têm o poder de afetar a eficiência do processo de mercado?

Pois é. Paradoxalmente, são os estatistas e intervencionistas de esquerda os verdadeiros fundamentalistas e apologistas do mercado.

Sobre o autor

Thiago Fonseca

É graduado em administração pela FGV-SP e é empreendedor do ramo de eletroeletrônicos

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