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Política

As perspectivas para a secessão estão animadoras

11/12/2014

As perspectivas para a secessão estão animadoras

Mesmo tendo perdido nas urnas, a recente campanha pela independência da Escócia deveria animar os defensores dos vários movimentos secessionistas que estão ganhando força ao redor do globo.

Nas semanas anteriores ao referendo escocês, as pesquisas indicavam que a maioria da população da Escócia iria votar pela separação do Reino Unido.  Para reverter essa situação e evitar a derrota no referendo, a elite política britânica veio a público com carga total.  Não apenas ela cooptou as várias forças secessionistas prometendo conceder maior autonomia à Escócia, como também fez uma maciça campanha de terrorismo para convencer os escoceses de que uma eventual secessão iria afundar o país em uma profunda depressão econômica.

O povo da Escócia chegou até mesmo a ser ameaçado de que a secessão iria afetar severamente o mercado internacional de uísque, que é a principal exportação dos escoceses.

Considerando todas as táticas utilizadas, toda a estratégia do medo e todo o ímpeto com que os oponentes se mobilizaram para desacreditar a secessão, chega a ser surpreendente que 45% da população escocesa ainda tenha votado a favor da secessão.

O resultado do referendo escocês não conseguiu desestimular outros movimentos secessionistas que estão se difundindo pela Europa, em países que vão desde a Noruega até a Itália.  Apenas alguns dias após o referendo escocês, a população da Catalunha decidiu fazer por conta própria um referendo para mensurar o apoio da população à secessão da região em relação à Espanha.  Com 80% dos votos favoráveis à secessão, o governo de Madri prontamente anunciou que não reconhecia o resultado.

O apoio à secessão também está crescendo nos EUA.  De acordo com uma recente pesquisa, um em cada quatro americanos defende que seu estado se separe do governo federal.  Movimentos e organizações que defendem que os governos estaduais se separem do governo federal, que os governos municipais se separem dos governos estaduais, ou que os governos municipais se separem tanto do governo estadual quanto do governo federal, estão surgindo por todo o país. 

Este ano, mais de um milhão de californianos fizeram um abaixo-assinado para que haja um referendo sobre a dissolução da Califórnia e sua subsequente separação em seis estados.  Embora a proposta não tenha conseguido ir à votação, pois não cumpriu todos os pré-requisitos burocráticos necessários, o esforço para se dividir a Califórnia continua ganhando apoio.

Vale ressaltar que os americanos que defendem a secessão estão agindo de acordo com uma grande tradição americana.  A Declaração de Independência nada mais foi do que uma declaração de secessão, e foi escrita para justificar a secessão em relação à Grã-Bretanha. 

Defensores da liberdade deveriam se regozijar com o crescimento do apoio à secessão, uma vez que a secessão representa a rejeição suprema ao centralismo governamental e às ideologias keynesianas, assistencialistas e militares.

Somente a aceitação maciça dos princípios da secessão pacífica e da autodeterminação dos povos poderia solucionar vários conflitos atuais.  Por exemplo, permitir que as populações do leste da Ucrânia e do oeste da Ucrânia decidam por conta própria se querem ou não se separar em duas nações pode ser a única maneira de resolver pacificamente suas diferenças.  Funcionou muito bem para a União Soviética e para a Iugoslávia, que se desmembraram em 22 nações.  E também funcionou para a antiga Tchecoslováquia.

A possibilidade de que uma população sempre possa se separar do governo central é uma das mais eficazes ferramentas de controle sobre o crescimento e a opressão do governo federal.  Não é nenhuma coincidência que a transformação dos EUA, que deixou de ser uma república limitada e hoje é um estado militarista e assistencialista, coincidiu com uma campanha de descrédito contra a secessão, que não mais é vista pela mídia como uma resposta adequada a um governo excessivamente intervencionista.

Dissolver um governo em unidades menores promove o crescimento econômico.  Quanto menor o tamanho do governo, menor seu poder para tolher a livre iniciativa com impostos e regulamentações.  E menos protecionista e mais aberta terá de ser economia. [Nota do IMB: vide os exemplos de Hong Kong, Cingapura, Mônaco e demais micropaíses; se suas economias não fossem abertas, sua população morreria de fome. Quanto menor for o território e seu mercado interno, maior a probabilidade de sua adesão ao livre comércio.]

O fato de as pessoas não quererem viver sob um mesmo governo federal não significa que elas não queiram ou não possam praticar um comércio mutuamente benéfico.  É justamente ao eliminar os conflitos políticos -- e as tensões internas geradas por discordâncias políticas -- que a secessão pode deixar as pessoas muito mais interessadas e dispostas a comercializarem entre si.  Você provavelmente não gostaria de viver sob o governo chinês, mas não vê problema nenhum em comprar produtos baratos da China.

A descentralização do poder do governo federal tende a promover o livre comércio e a acabar com o atual arranjo de "comércio controlado" por burocratas, políticos e grupos de interesse empresariais, os quais decidem em conluio quais as tarifas de importação que você irá pagar sobre cada produto estrangeiro.

A dissolução do poder federal em níveis menores de governo também tende a facilitar a escolha da moeda pelos indivíduos.  Em vez de serem obrigados a utilizar uma moeda desvalorizada imposta por um poderoso Banco Central e pelos políticos que o controlam, indivíduos de entidades autônomas poderão escolher a moeda que mais lhe aprouver, principalmente as mais robustas em termos de poder de compra.

O crescimento do apoio à secessão deveria entusiasmar todos os defensores da liberdade, uma vez que a dissolução de um poder centralizado e sua transferência para unidades menores de governo é uma das mais eficazes maneiras de garantir a paz, a propriedade e a liberdade -- e até mesmo um uísque mais em conta.


Sobre o autor

Ron Paul

Ron Paul é médico e ex-congressista republicano do Texas. Foi candidato à presidência dos Estados Unidos em 1988 pelo Partido Libertário e candidato à nomeação para as eleições presidenciais de 2008 e 2012 pelo Partido Republicado.

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