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Economia

A China no limiar de uma recessão industrial

28/08/2012

A China no limiar de uma recessão industrial

Uma forte recessão vem castigando a Europa e os EUA há anos.  Para piorar, tudo indica que a China entrou no radar.  O setor industrial chinês, que abrange uma substancial fatia da economia chinesa -- uma fatia muito maior do que a de todas as economias desenvolvidas (85% da economia americana, por exemplo, é formada pelo setor de serviços) -- vem apresentando inequívocos sinais de estagnação.

Produtos estão se amontoando nos portos.  Os estoques não param de crescer.  Os consumidores reduziram o apetite.  É o que relata o The New York Times.

Após três décadas de crescimento vertiginoso, a China está se deparando com um problema até então inédito em sua recém-enfraquecida economia: um acúmulo imenso de bens não vendidos que está abarrotando lojas, entupindo concessionárias de automóveis e enchendo os depósitos das fábricas.

O excesso de tudo, desde aço e utensílios domésticos até carros e apartamentos, está atrapalhando os esforços da China para sair de uma desaceleração econômica acentuada. Também está produzindo uma série de guerras de preços e tem levado os fabricantes a redobrarem os esforços para exportar o que não conseguem vender no país.

A seriedade do excesso de estoques na China tem sido mascarada cuidadosamente pela manipulação dos dados econômicos por parte do governo chinês -- tudo parte de um esforço para estimular a confiança na economia entre os empresários e os investidores.

A principal pesquisa feita por agências não governamentais afirma que os estoques estão crescendo a um ritmo nunca visto desde que a pesquisa passou a ser realizada, em abril de 2004.  Esta aceleração no crescimento dos estoques vem ocorrendo desde maio.  As vendas estão em queda.

"Por todo o setor manufatureiro que pesquisamos, as pessoas esperavam mais vendas durante o verão (no hemisfério Norte) e elas não aconteceram", disse Anne Stevenson-Yang, diretora de pesquisa da J Capital Research, uma empresa de análise econômica em Hong Kong. Com os estoques extremamente altos e as fábricas agora cortando a produção, ela acrescentou, "as coisas estão meio que parando".

A reação dos fabricantes tem sido racional: cortar preços.  Tentar reduzir ao máximo os estoques.  Mas isso não está acontecendo a um ritmo rápido o bastante.

Tudo está se estagnando: exportações, importações, emprego, demanda por matérias-primas.  Até mesmo o setor imobiliário começou a vivenciar uma queda de preços. [Já prevista, em ordem cronológica, aqui, aqui e aqui].

A China é a segunda maior economia do mundo e tem sido o maior motor de crescimento econômico desde o início da crise financeira global em 2008. A fraqueza econômica significa que a China provavelmente comprará menos bens e serviços do exterior em um momento em que a crise da dívida soberana na Europa já está prejudicando a demanda, aumentando a perspectiva de excedente global de bens, queda de preços e fraca produção por todo o mundo.

O crescimento das exportações chinesas, um esteio da economia nas últimas três décadas, desacelerou até quase parar. As importações também pararam de crescer, em particular para matérias-primas como minério de ferro para a produção de aço, enquanto os industriais perdem a confiança de que conseguirão vender se mantiverem suas fábricas funcionando. Os preços dos imóveis caíram acentuadamente, apesar de haver indícios de que chegaram ao ponto mais baixo em julho, e o dinheiro tem deixado o país por vários canais legais e ilegais.

Algumas empresas estão relatando declínios de 30 a 50% em suas vendas.  Isso não é nada insignificante.  Várias empresas estão falindo.

Os donos de empresas que produzem ou distribuem produtos tão diversos quanto desumidificadores, tubos plásticos para sistemas de ventilação, painéis solares, roupa de cama e vigas de aço para teto falso, disseram que as vendas caíram ao longo do último ano e exibem pouco sinal de recuperação, enquanto os bens não vendidos acumulam.

"As vendas caíram 50% em relação ao ano passado e o estoque está elevado", disse To Liangjian, proprietário de uma empresa atacadista que distribui molduras de foto e xícaras.

Alguns empreendedores parecem não entender a mensagem.  Um gerente de uma empresa atacadista de pias e torneiras disse que suas vendas caíram 30% no ano passado e que tem acumulado mercadoria excedente, mas seu fornecedor continua produzindo em ritmo acelerado e aumentando seus estoques.  "O estoque do meu fornecedor é imenso porque ele não pode reduzir a produção -- ele não quer perder vendas quando a demanda voltar".  Este fornecedor está brincando com a sorte.  A menos que a economia se recupere rapidamente, ele vai ficar sem dinheiro.

Os estoques de automóveis não vendidos estão inchando nas concessionárias por todo o país. Problemas de qualidade estão surgindo. E os problemas da indústria chinesa mostram todos os sinais de estarem piorando, não melhorando. Foram abertas tantas fábricas de automóveis na China nos últimos dois anos que o setor está operando a apenas cerca de 65% de sua capacidade -- bem abaixo dos 80% geralmente necessários para lucratividade.

Mas tantas novas fábricas estão sendo construídas que, segundo a Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma chinesa, a capacidade manufatureira do setor automotivo do país está a caminho de voltar novamente a crescer, nos próximos três anos, em uma quantidade igual a todas as fábricas de automóveis do Japão, ou quase todas as fábricas de automóveis nos Estados Unidos.

Os níveis dos estoques estão subindo rapidamente.

Os fabricantes, em grande medida, têm se recusado a reduzir a produção e estão pressionando as concessionárias a aceitarem a entrega de automóveis segundo seus acordos de franquia, apesar de muitas concessionárias estarem com dificuldades para encontrar lugares para estacioná-los em seus pátios abarrotados ou para encontrar formas de financiar seus estoques crescentes.

Qual foi a reação do governo?  Suspender a divulgação de dados sobre a queda no licenciamento de automóveis.

Minha avaliação: os exportadores chineses começarão a reduzir seus preços para aliviar seus estoques.  Tal prática irá se tornar cada vez mais agressiva.  Países que têm livre comércio com a China podem se beneficiar disso em termos de inflação de preços.  Itens fabricados na China, como vestuário, podem ficar mais baratos.  As indústrias destes países terão ainda mais dificuldades para concorrer com a China.  Mas o setor varejista irá se beneficiar.  Os consumidores irão se beneficiar.  Este fenômeno chinês irá ajudar a manter os índices de inflação de preços mundiais marginalmente menores do que seriam em outros contextos.

A recessão global tende a piorar nos próximos meses.  A concorrência de preços praticada pela China irá ajudar os consumidores a navegar por essa recessão.  Mas essa concorrência irá afetar uma pequena parcela do setor industrial da maioria dos países ocidentais.  Os efeitos sobre a maioria dos trabalhadores do setor industrial será periférico.

Aqueles investidores mais prescientes que ficaram vendidos na China irão ganhar muito dinheiro.

 

Não deixe de ler nossos artigos sobre a China.


Sobre o autor

Gary North

é Ph.D. em história, ex-membro adjunto do Mises Institute, e autor de vários livros sobre economia, ética, história e cristianismo. Visite http://www.garynorth.com

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