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Economia

Uma conclusão evidente: os bancos centrais devem ser abolidos

07/10/2011

Uma conclusão evidente: os bancos centrais devem ser abolidos

[O Instituto Mises Brasil e a Editora É Realizações lançam o livro O Fim do Fed: Por que acabar com o Banco Central?, de Ron Paul]

Ron Paul tem travado uma batalha heroica pela sanidade financeira desde o início de seu mandato no Congresso Americano; e em O Fim do Fed: Por que acabar com o Banco Central?, ele nos fornece discernimentos e constatações para serem usados nesta luta, os quais não são encontrados em nenhum outro lugar.  Desde muito cedo, o doutor Paul teve afinidade com o livre mercado. "Nos anos de 1960" ele nos diz,

Eu descobri os escritos de economistas como Ludwig von Mises, F.A. Hayek, Murray Rothbard e Hans F. Sennholz.  Aos poucos, encontrei as respostas que vinha procurando.  Mesmo para os especialistas, levou séculos para compreender completamente a natureza da moeda e dos ciclos econômicos. (p. 58)

Durante o tempo em que ele serviu na aeronáutica, Ron Paul pode assistir a palestras de Mises, e quando estava no Congresso, ele se encontrou com Hayek. "Eu tive o prazer de ouvir uma palestra de Hayek em Washington, por volta de 1980.  Após o encontro, tivemos um jantar privado e passamos juntos várias horas de sua visita." (p. 67)

Porém, o economista que mais o influenciou foi Murray Rothbard.

De todos os grandes economistas austríacos do século XX, aquele que eu conheci melhor foi Murray Rothbard. .Eu me recordo de sua surpresa ao descobrir que eu tinha lido o ensaio "Gold and Freely Fluctuating Exchange Rates." (Ouro versus Taxas de Câmbio Flutuantes)... Se há um livro que o establishment de Washington deveria ler imediatamente, esse livro é America's Great Depression, de Rothbard.  Nesse livro, ele demonstra que o Fed criou o boom econômico do final dos anos de 1920 que levou à crise, e que as intervenções de Hoover prolongaram a Grande Depressão. (pp.74-5)

Esta última declaração indica a razão principal de por que o Fed deveria ser abolido.  Longe de ser um meio de manter a estabilidade monetária, como seus defensores insistem em mentir, o Fed, através da expansão do crédito bancário, é a causa primordial dos ciclos econômicos.

A expansão temporariamente diminui a taxa de juros abaixo da verdadeira taxa de juros do mercado, predominantemente determinada pela preferência temporal das pessoas -- isto é, pelo fato de preferirem bens presentes a bens futuros.  Os negócios, com dinheiro disponível, se expandem; porém, os novos projetos não são sustentáveis.  Quando a expansão monetária cessa (se não cessar, teremos hiperinflação, com consequências desastrosas), estes investimentos têm de ser liquidados.  E este processo de liquidação é a depressão.

Como Ron Paul habilmente destaca,

O Fed pode, de fato, criar liquidez nesses períodos com uma simples operação de impressão de mais papel-moeda.  Se você pensar no ciclo econômico como o início do boom econômico -- quando o dinheiro e o crédito estão baratos, gerando empréstimos para financiar projetos insustentáveis --, as questões mudam substancialmente....

Quando os bancos centrais pressionam as taxas para baixo por mero capricho, a impressão criada é a de que as poupanças estão lá guardadas, quando na realidade não estão.  A crise resultante dessas atividades torna-se inevitável quando os bens que são produzidos não podem ser adquiridos, e as pessoas começam a se dar conta da realidade. O resultado é que as empresas têm suas falências decretadas, as hipotecas das casas são executadas e as pessoas resgatam as suas ações ou qualquer que seja o investimento da moda. (pp. 42-3)

No lugar do Banco Central e de sua falsa alegação de que precisamos de uma moeda "elástica", deveríamos remover completamente o governo da função de criação de moeda.  Em uma sociedade livre, a moeda seria uma commodity; e provavelmente esta commodity seria o ouro.

Na verdade, eu apenas observo a realidade: a ideia de uma moeda forte está vinculada à moeda-ouro na maior parte da história da humanidade.  Pode haver moeda forte sem um padrão-ouro?  Em princípio, sim.  E eu ficaria muito feliz com um sistema que permitisse aos mercados escolherem mais uma vez a moeda mais adequada, seja lá qual fosse.  Não sou favorável a que o governo imponha qualquer padrão específico, nem um banco central, nem uma moeda corrente, nem um privilégio para qualquer commodity escolhida como lastro para a moeda. (p. 91)

Ron Paul apresentou a visão austríaca da moeda de uma forma sucinta, precisa e efetiva; mas o que justifica a afirmação de que ele nos oferece insights que não são encontrados em nenhum outro trabalho?  Por acaso não existem muitos livros e artigos excelentes que explicam as opiniões de Mises e Rothbard sobre a moeda -- sem mencionar os trabalhos destes próprios economistas?  A resposta está nos muitos anos em que Ron Paul esteve no Congresso.  Na posição de congressista, ele teve inúmeras conversas com diversos presidentes do Fed, e uma dessas conversas nos permite elucidar este mistério.

Alan Greenspan é o exemplo perfeito do controle da oferta de moeda pelo governo.  Mas não seria isso surpreendente a primeira vista?  Greenspan era um discípulo de Ayn Rand e compartilhava de sua devoção pelo capitalismo laissez-faireEm um ensaio escrito para o boletim objetivista, reimpresso em Capitalism: The Unknown Ideal, Greenspan oferece uma sólida defesa do padrão ouro.  A vantagem essencial do padrão-ouro, diz Greenspan, é que ele evita que o governo manipule a oferta de moeda:

Na ausência do padrão-ouro, não há como o indivíduo proteger sua poupança do confisco que ocorre por meio da inflação.....  A política financeira do estado assistencialista requer que não haja maneiras com que os proprietários de riqueza possam se proteger.  Eis aí o prosaico segredo por trás das investidas dos estatistas assistencialistas contra o ouro.

Surpreendentemente, Greenspan contou a Ron Paul "recentemente havia relido o artigo e que não mudaria uma única palavra. (p. 106)".  Como é que Greenspan pode dizer uma coisa dessas ao mesmo tempo em que presidia um sistema que personificava o controle do governo sobre a moeda-- exatamente algo que seu artigo repudia?  Greenspan pensou que ele poderia conduzir o sistema financeiro do mesmo modo que o padrão-ouro iria operar.

Penso que você verá ... que os mais eficientes bancos centrais desse período da moeda fiduciária tendem a ser os mais amplamente bem-sucedidos porque temos uma tendência a repetir aquilo que provavelmente teria ocorrido sob um padrão-commodity em geral. (p. 108)

Em outras palavras, segunfo Greenspan, precisamos retirar o governo do fornecimento da moeda, a menos que, obviamente, eu (Greenspan) e outras pessoas como eu estejamos no controle.  A posição de Greenspan me faz lembrar de uma tradição judaica sobre o Rei Salomão; ele achava que as restrições impostas aos reis em Deuterônimo (17: 16-17) sobre esposas e cavalos não se aplicavam a ele. 

Como o mais sábio dos homens, Salomão achava que conhecia as razões da existência destas restrições; logo, ele podia evitar as tentações que as regras deveriam evitar e ter mais esposas e cavalos do que o permitido.  Sua arrogância presunçosa resultou em desastre, e Greenspan acabou sendo vítima da mesma síndrome.

Ron Paul não considera Greenpan o mais sábio dos presidentes do Fed que conheceu. "Eu tive mais interação com [Paul] Volcker.  Ele era mais bem-apessoado e inteligente do que os outros, incluindo os mais recentes Alan Greenspan e Ben Bernanke". (p. 63)

É notória a grande aversão de Ron Paul a Bernanke.  Ele suspeita que Bernanke agiu secretamente para manipular o preço do ouro, e fica furioso com a recusa de Bernanke em revelar suas operações ao Congresso.

Deste modo, quando Bernanke prontamente se recusa a fornecer informações sobre os trilhões de dólares em crédito que ele distribuiu recentemente no processo de resgate, alegando que isto seria "contraproducente", o que ele realmente está dizendo é "isto não é da sua conta". (p. 198)

O livro relata conversas incríveis não somente com os presidentes do Fed.  Quando Ron Paul participou da Comissão do Ouro durante o mandato do presidente Ronald Reagan, eles voaram de helicóptero juntos para a base da força aérea Andrews.

"Ron", disse-me o presidente, "nenhuma grande nação que abandonou o padrão-ouro permaneceu como uma grande nação".  Ele foi realmente simpático, como havia sido com muitas ideias libertárias constitucionais, mas também era influenciado pela pressão da equipe para ser pragmático na maioria das questões. (p. 94)

RonPaul_Revolution.jpgReagan, claramente, não podia romper com a ilusão de que o governo precisa estar no controle.  Esta ilusão é avidamente propagada por aqueles que lucram com ela.  Um desses era o notório George R. Brown, um financiador de Lyndon Johnson de longa data.  Brown se mostrou interessado na campanha de Ron Paul para o congresso em 1976 e, em uma conversa, contou a ele,

"Lembre-se, para que o sistema econômico funcione, os empresários e o governo precisam ser parceiros".  Recuei, desconfortável, e rapidamente me retirei.. Quando tomei posse, e meus votos e posições se tornaram conhecidos, a mensagem ficou clara, e ele nunca mais veio me procurar. (p. 182)

A luta de Ron Paul pela liberdade não ficou restrita ao tema da moeda sólida.  Ele também liderou a batalha contra a política externa intervencionista e imperialista.  Mas a luta pela liberdade não admite relativização -- e ele mostra que uma política externa agressiva depende do controle do governo sobre a oferta da moeda:

Não é coincidência que o século das guerras coincida com o século do banco central.  Quando os governos tinham que financiar suas próprias guerras sem depender de uma máquina de imprimir papel-moeda, eram obrigados a economizar recursos.  Encontravam soluções diplomáticas para evitar a guerra e, depois de iniciada, tentavam encerrar o conflito tão logo fosse possível. (p. 81)

O livro é repleto de outros argumentos contra o atual sistema monetário -- por exemplo, que ele viola a constituição.  Os leitores irão descobrir desde a infeliz opinião de Thomas Paine sobre o papel moeda, até como a adulteração da moeda influenciou na queda do Império Bizantino.  Aqueles que absorverem a mensagem do livro chegarão a uma conclusão evidente: os bancos centrais devem ser abolidos.

Tradução de Fernando Chiocca


Sobre o autor

David Gordon

É membro sênior do Mises Institute, analisa livros recém-lançados sobre economia, política, filosofia e direito para o periódico The Mises Review, publicado desde 1995 pelo Mises Institute.

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