FAQ: como comprar ouro no Brasil?
A informação realmente é difícil de ser encontrada; eu mesmo tive muitas dificuldades para encontrá-las. A mídia jamais fala sobre isso, pesquisas em sites de busca não apresentam resultados satisfatórios e muitas vezes os funcionários das corretoras jamais ouviram falar ou possuem qualquer conhecimento sobre o ouro.
Então vamos lá.
Existem duas maneiras de se comprar ouro físico por aqui. Uma simples, outra um pouco mais complexa:
1) Mercado de balcão
Esta é a maneira menos burocrática de se adquirir ouro físico no Brasil. A compra pode ser realizada através de sites (Reserva Metais, Ourominas etc.) que fazem inclusive o serviço de entrega. Ou seja, você recebe o ouro na sua casa após alguns cliques. Estas empresas normalmente garantem a recompra deste ouro, desde que não seja violado o lacre da barra. E a outra vantagem é que desta maneira o ouro físico pode ser adquirido em pequenas quantidades. Uma das empresas vende até cartões com uma micro barra de 1 grama.
A desvantagem desta modalidade é que o preço cobrado é cerca de 10% mais alto que o da maneira mais burocrática, e o preço pago na venda também é mais baixo. Ademais, compras de somas mais vultuosas (acima de R$ 10mil) são também burocráticas.
Eu diria que só vale a pena comprar no mercado de balcão se a pessoa não tem o suficiente ou não deseja investir o montante necessário para adquirir o ouro físico na BM&F. E se ela realmente crer em uma alta superior a pelo menos 20% no preço do ouro que ela pagou.
Não se deve esquecer também que há o custo do frete e do seguro do transporte (este último é de 1% da compra). Além disso, há o problema da segurança: algumas pessoas se sentem inseguras em guardar suas poupanças em casa. Se este for o seu caso, acrescente a tudo o que foi dito acima o preço de uma caixa depósito no cofre de algum banco.
2) BM&F
Não tão fácil quanto a alternativa anterior, mas nada que não se resolva em algumas semanas (com sorte, alguns dias). O primeiro passo é abrir uma conta numa corretora; porém, antes, é necessário se certificar de que esta corretora está habilitada para operar o ouro. Quando for fazer seu contrato na corretora, você terá de assinar, além do contrato que lhe permitirá negociar na bolsa, um outro que lhe permitirá negociar na BM&F.[1]
Feito isso, o contrato do ouro que lhe permite a retirada física tem um código ("ticker") na bolsa: OZ1D. Este é um contrato de 250 gramas de ouro,[2] e é o menor contrato que permite a retirada na BM&F -- ou seja, se a intenção era investir menos, esta não é uma opção, a não ser que você queira comprar apenas o certificado de 10 gramas (OZ2D) ou de 0,225 gramas (OZ3D), os quais não lhe permitem retirada (a menos que se junte 250 gramas).[3]
A compra ou a venda não podem ser feitas pelo homebroker; para fazê-la, é necessário utilizar o ultra moderno telefone!
A retirada pode ser agendada através da sua corretora, a qual lhe dará maiores informações sobre o procedimento. Pode-se também pedir o delivery (que tem um custo).
Os custos deste processo são:
1) a corretagem -- que varia de corretora para corretora, e
2) a taxa de custódia[4] -- que é cobrada mensalmente com calculo diário (todo o dia se adiciona a conta). Caso se deseje retirar o ouro da custódia não há a opção do delivery, só se pode retirá-lo fisicamente.[5] Caso sua preferência seja a de retirar o ouro da BM&F e você deseje vendê-lo novamente por lá, o processo é o mesmo: entra-se em contato com a corretora e devolve-se o ouro para a custodiante, o ouro volta a figurar entre seus ativos na BM&F e, ato contínuo, você já pode vendê-lo.[6]
Simples? Não, mas também nada impossível.
Muito se discute sobre como aumentar o número de negócios do ouro na BM&F, mas basta tentar comprar ouro para perceber um dos grandes motivadores desta dificuldade. Além da desburocratização da compra de ouro na bolsa, duas outras medidas poderiam aumentar a atratividade da compra do metal por lá: a primeira seria a diminuição das taxas de transação, e a segunda seria a criação de um contrato menor que permitisse a retirada -- o ideal seria que fosse um contrato de 31,1034768 gramas, ou seja, uma onça troy, para que pudesse ser muito mais fácil a visualização do preço em relação ao mercado externo, que trabalha com onça troy. Tal arranjo também facilitaria a percepção de qualquer possível distorção, além de atrair investidores de fora do país para comprarem ouro por aqui.
Espero ter ajudado aqueles que buscavam estas informações. Só desejo deixar novamente claro que não estou dando qualquer dica de onde investir seu dinheiro, e sim apenas respondendo às perguntas frequentes que recebemos por aqui.
Invistam apenas naquilo que conhecem, estudem bastante onde vão investir e só o façam quando estiverem bastantes seguros desta decisão. Acima de tudo, estejam preparados para arcar com as consequências destes investimentos (e espero que estas consequências sejam sempre boas!).
[1] Após a compra, você não verá seus contratos de ouro na página de saldo da sua corretora. Eu me assustei muito com isso, mas fique tranquilo que está lá. Esperamos que as corretoras corrijam este problema.
[2] Na verdade, o ouro negociado tanto na bolsa quanto no balcão aqui no Brasil é o ouro 0,999, ou seja, a cada contrato de 250 gramas na verdade se está comprando 249,75 gramas de ouro. O resto são impurezas. Pode haver também outros níveis de pureza à venda nos balcões; por isso é sempre bom estar atento ao que se está comprando.
[3] Existe a possibilidade de se retirar em lingotes de 100 e 400 onças do ouro. Mas, para tal, confesso não saber o procedimento. Porém, creio que deva ser o mesmo. Vale lembrar que estes lingotes possuem uma pureza menor que 0,999 -- se não me engano é de 0,995.
[4] Esta taxa é calculada da seguinte maneira: preço máximo do dia x 0,07% x número de gramas / 30 .
Por exemplo: R$ 90 x 0,07% x 250 (gramas) / 30 = R$ 0,52.
Estes valores são calculados diariamente e acumulados para serem pagos no quarto dia útil do mês seguinte, ou quando o investidor zerar a posição.
[5] Um leitor nos informou do procedimento sobre a retirada do ouro, que diferente do antes publicado, não há a opção do delivery. Para tal procedimento é necessário avisar a corretora, que avisará a BM&F e esta a custodiante (o Banco do Brasil), o cliente terá que fazer um cadastro junto ao custodiante (se ainda não for correntista) e ir pessoalmente à agência fazer a retirada. Os custos da custódia sobem bastante no periodo que o ouro ficar disponivel para a retirada (0,3% do preço máximo do dia x número de gramas/ 30 todos os dias; para não correntistas do BB, para correntistas é só substituir o 0,3% por 0,1%). A principio só é possivel retirar este ouro em São Paulo, mas essa informação carece de confirmação.
[6] O ouro vem embalado com um lacre e, caso se retire o lacre, há o custo de recertificação, que é passado pela fundidora (não sei qual é esse custo). Esta informação bem como o procedimento também carece de confirmação. Peço desculpas aos leitores mas como eu advogo que se compre ouro, fisico e o mantenha em local seguro (longe de bancos estatais) eu mesmo sou impossibilitado por uma regra pessoal de segurança de realizar tal prática.
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