A
primeira vez em que fui exposto completamente ao brilhantismo de Hans-Hermann
Hoppe foi em um seminário da Mises University, no qual ele deu a palestra
principal sobre metodologia. Naquela
ocasião, ele ofereceu uma nova abordagem sobre o método kantiano de Mises. Hoppe explicou a tipologia de proposições de
Kant, e mostrou como Mises, dando-lhes uma nova perspectiva, havia se
apropriado delas.
Em
vez de categorias de pensamento e categorias da mente, Mises foi ainda mais
longe do que Kant ao delinear categorias de ação, as quais são o fundamento do
raciocínio econômico. Nessa palestra,
todos nós descobrimos algo que até então não sabíamos sobre Mises, algo mais
formidável e mais grandioso do que tudo que julgávamos saber, e que nos fez pensar
de maneira diferente sobre um assunto que pensávamos dominar por completo.
Esse
mesmo efeito hoppeano -- aquela sensação de ter sido profundamente iluminado
por uma maneira completamente nova de entender algo -- aconteceu várias outras
vezes ao longo dos anos. Ele deu
inestimáveis contribuições à ética, à economia política internacional, à teoria
da origem do estado, aos sistemas comparativos, à cultura e sua relação
econômica, à antropologia e à teoria e prática da guerra. Mesmo um assunto sobre o qual todos pensam
mas que ninguém parece realmente entender -- o sistema da democracia --, Hoppe
esclareceu suas nuanças de tal forma que você passa a ver o funcionamento do
mundo sob uma luz completamente nova.
Não
há muitos pensadores que provocam esse tipo de efeito. Mises foi um.
Rothbard foi outro. Hoppe
certamente se encaixa nessa linhagem.
Ele é o tipo de pensador que nos relembra que ideias são coisas reais
que moldam a maneira como entendemos o mundo à nossa volta. Ouso dizer que ninguém é capaz de ler Democracy
-- The God that Failed, A
Theory of Socialism and Capitalism, e The
Economics and Ethics of Private Property e sair inalterado dessa experiência.
Normalmente,
quando você ouve algum de seus argumentos pela primeira vez, você tenta
resistir. Lembro-me de quando ele
palestrou em uma conferência que fizemos sobre a história americana, e ele
apresentou uma monografia sobre a Constituição dos EUA. Ninguém acreditava que um economista alemão pudesse
acrescentar algo de valor ao nosso conhecimento sobre esse tópico. Mas Hoppe o fez. Ele argumentou que a Constituição americana
representou um vasto aumento no poder governamental, e que esse era justamente
seu real intento. A Constituição americana
criou um poderoso governo central, utilizando a retórica da liberdade como
desculpa para sua criação. Hoppe citou a
Constituição americana como um exemplo característico de um argumento ainda
maior: todas as constituições possuem a mesma intenção. Em nome de estar limitando o governo -- que é
o que elas supostamente defendem --, elas invariavelmente surgem em períodos da
história em que as elites estão se reagrupando para emergir de uma situação que
consideram ser de quase anarquia. Uma
Constituição, portanto, representa uma afirmação de poder.
Quando
ele terminou, era possível ouvir um lenço caindo no chão. Não estou certo de que alguém ali presente
tenha sido instantaneamente persuadido.
Afinal, Hoppe havia acabado de desafiar tudo o que imaginávamos saber
sobre nós mesmos. Os aplausos foram
corteses, mas não entusiásticos.
Entretanto, seu argumento ficou cravado em nossas mentes. Ao longo do tempo, creio que todos nós que
estávamos ali finalmente conseguimos digerir esse desafio intelectual e concordar
com Hoppe. A Constituição americana
havia sido precedida pelos Artigos
da Confederação, os quais Rothbard havia descrito como sendo praticamente
anarquistas em efeito. Quem eram as pessoas que
improvisaram essa Constituição? Eram os
remanescentes da guerra: líderes militares, financistas e outros tipos sórdidos
-- pessoas bem diferentes daquelas que assinaram a Declaração de Independência. Thomas Jefferson estava fora do país quando a
Constituição foi aprovada. E qual foi o
efeito da Constituição? Restringir o
governo? Não. Foi precisamente o oposto, exatamente como
Hoppe havia dito. Ela criou um novo e
mais poderoso governo que não apenas não se restringiu (qual governo já fez
isso?), como também cresceu exponencialmente até chegar a essa monstruosidade
que temos hoje. Foi necessário fazermos
uma completa reconsideração sobre tudo o que julgávamos saber da história
americana. E o fato é que o que Hoppe
havia dito na década de 1980 e que havia chocado todos ali presentes acabou se
comprovando a mais absoluta verdade -- e este é apenas um exemplo dentre
vários.
Falo
em nome de muitos quando digo que ele me ajudou a entender que a democracia é
uma forma de nacionalização dos cidadãos.
Todos nós nos tornamos o governo -- ou, todos nós nos tornamos
propriedade pública. E o que acontece
com propriedade pública? Ela é utilizada
em excesso e descuidadamente, terminando destruída porque nenhuma pessoa ou
nenhum grupo de pessoas em particular é dono dessa propriedade. E é assim que, sob a democracia, os
indivíduos se tornam um mero alimento de gado.
Somos tributados sem limites. Não
há maneira alguma de restringir o estado, uma vez que ninguém em particular
pode ser responsabilizado pelo descalabro de nossa situação. Nossos governantes são meros gerentes -- não
proprietários, como são os monarcas -- que possuem todos os estímulos para
pilhar a população e ir embora. Eles
estão ali apenas como fachada do verdadeiro estado, o qual é um aparato
permanente e sem rosto, e que em nada se importa com o valor do povo de uma
nação.
Hoppe
contrastou essa situação à monarquia não porque ele defenda a monarquia, mas
sim para nos ajudar a entender a verdadeira face da democracia. Na monarquia, o monarca é o
proprietário. Ele possui um incentivo
para preservar o valor das coisas em seu território. Ele pode legar seu território valorizado para
um herdeiro. Herdeiros foram criados e
treinados para a governança, e, por sua vez, para legarem essa herança para
seus próximos herdeiros. Portanto, é de
se esperar que eles sejam relativamente mais civilizados quando comparados a
líderes democráticos.
A
história confirma isso. Hoppe data o
início da democracia moderna a partir da Primeira Guerra Mundial, e ele
escandalizou várias pessoas ao dizer que tanto os EUA quanto a União Soviética
e a Alemanha nazista são democracias; mas ele diz isso em seu sentido especial:
as pessoas não donas delas próprias e também não são propriedade de ninguém. Os cidadãos são propriedade pública e todos
são ordenados a participar de sua própria governança, elegendo um estado
executivo. Tal é a moderna forma de
governo que desalojou a antiga forma -- e ela explica o advento das guerras e
do estado totalitário.
Há
várias outras questões que Hoppe também ajudou a clarificar de maneira única --
seu Economics and Ethics of Private
Property ajudou as pessoas a imaginarem, como nunca antes, o funcionamento
de uma sociedade sem estado. Na questão
da imigração, ele mostrou como os governos modernos utilizam a imigração como
meio de expandir o poder do estado. Ele
também abordou a questão dos contratos e cláusulas de propriedade e suas
relações com a propriedade privada. Há
muito mais. Todos nós suspeitamos que
isso irá culminar em um arrebatador tratado sócio-econômico, um tratado magistral
e integrado, dentro das linhas do grandes livros austríacos do passado. Esse tratado já está sendo escrito.
Hoppe
é um pensador original, mas ele jubilosamente reconhece sua dívida para com
Mises, Rothbard, Eric von Kuehnelt-Leddihn e todos os pós-modernistas de sua
educação alemã. Ele se apoiou sobre os
ombros de gigantes e expandiu o pensamento econômico para muito além deles,
como Murray Rothbard frequentemente confessava.
Não existem muitos pensadores que podemos apontar como tendo sido tão
generosos na formulação de suas constatações e que tenham nos fornecido tantas
ferramentas para nos ajudar a compreender o mundo ao nosso redor de maneira mais clara.
Permitam-me
finalizar mencionando que Hans possui algo mais em comum com seus
predecessores. Ele é um homem de coragem
e convicção. Ele teve várias
oportunidades de se vender ao establishment em prol de promoções e cargos
honoríficos e lucrativos. Porém, ele
manteve sua dignidade e persistiu na batalha, comprometido com a verdade, com a
liberdade e com o livre mercado de ideias.
Ele é um guerreiro vigoroso, obstinado e inflexível, que todos nós
podemos e devemos admirar. Ele não tem
medo da verdade. É por tudo isso que
posso confiantemente prever que ele irá sempre emergir de suas batalhas como um
campeão.
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seguir, algumas fotos da recente passagem de Hoppe pelo Brasil, na ocasião do
II Seminário de Escola Austríaca promovido pelo IMB. Como as fotos oficiais ainda não estão
prontas, ficamos apenas com as fotos amadoras.
Caso algum leitor tenha interesse em compartilhar suas fotos tiradas com
Hoppe, mande-nos um e-mail e sua foto
será publicada.
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Em São Paulo, com sua esposa Guelcin Imre, Robert Murphy, Helio Beltrão, Fernando Chiocca e Leandro Roque
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Visitando as instalações do IMB, com Fernando Chiocca e Helio Beltrão
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Dando entrevista ao jornal Valor Econômico
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Ainda na entrevista ao Valor, sob intensa supervisão do editor Leandro Roque, seu consultor particular para assuntos econômicos
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No estacionamento do prédio do IMB, impressionando as mulheres
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Com Fernando Chiocca, experimentando a culinária gaúcha, sob o escrutínio de sua esposa
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Fernando Chiocca mostra, de maneira explícita, o quanto está honrado com a presença do mestre
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Falando sobre a situação do Oriente Médio. Mais tarde, o professor Ubiratan confessou sua conversão ao hoppeanismo
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Cristiano Chiocca ensina praxeologia e individualismo metodológico para Hoppe
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Ubiratan Iorio oficializa sua conversão ao hoppeanismo
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Bob Murphy acaba de disparar uma piada
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Antony Mueller reafirma que o euro não acabará
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Jörg Guido Hülsmann faz piadas sobre Angela Merkel
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Com o leitor Patrick Gappo
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Explicando para a cúpula do Partido Libertários como a política corrompe
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Com André Cardoso, de 16 anos, presente em todos os eventos do IMB desde 2009
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Explicando os malefícios das reservas fracionárias para uma dupla paulista
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Sob o atento olhar de Lucas Mendes
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Lucas Mendes é fã confesso
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Em ação
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O que fazer? Enquanto houver bancos centrais, as crises econômicas serão inevitáveis
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Mesmerizando a plateia
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Explicando que uma população só é genuinamente livre quando está devidamente armada
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Gente de classe
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Renovando a lua-de-mel
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É óbvio que, não fosse o genuíno acúmulo de capital gaúcho,...
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... a produção não teria sido possível. Uma questão de economia básica. (Feministas, tremei)
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Fotos: Daniela Villar
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