Esse site usa cookies e dados pessoais de acordo com os nossos Termos de Uso e Política de Privacidade e, ao continuar navegando neste site, você concorda com suas condições.

< Artigos

Política

Chávez joga a Venezuela em uma guerra por comida

26/09/2010

Chávez joga a Venezuela em uma guerra por comida

Ainda no final de junho, os bispos venezuelanos alertavam para as inevitáveis consequências das medidas do presidente Hugo Chávez para comandar a distribuição de alimentos: tal medida colocaria em risco a oferta de comida para todos os cidadãos comuns da Venezuela.

Hoje, os líderes eclesiásticos dizem que o fracasso da PDVAL -- uma estatal alimentícia subsidiária da estatal petrolífera PDVSA -- em distribuir alimentos importados, os quais apodreceram todos nos portos, é "um pecado pelo qual os céus choram".

Recentemente, descobriu-se que milhares de toneladas de carne em putrefação estavam entre as 80.000 toneladas de alimentos que foram deixadas deteriorando no porto da cidade de Puerto Cabello.

Um trabalhador local disse que o forte mau cheiro nas docas indicava que a carne já estava ali apodrecendo há semanas.  Disse ele: "Fedia como 100 cachorros mortos."

O escândalo surge apenas algumas semanas depois de Chávez ter decretada uma "guerra econômica aos burgueses" donos de supermercados, fábricas, plantações de arroz e empresas distribuidoras de alimentos.

A "batalha por comida" coincidiu com uma grosseira desvalorização da moeda venezuelana -- o bolívar -- em janeiro, uma medida que serviu apenas para elevar maciçamente o custo das importações.

O resultado até agora tem sido uma catástrofe econômica no único país da América Latina que está em recessão.  O próprio Banco Central venezuelano confirma que a inflação já ultrapassou os 20% só nesse ano, e já é maior que 30% para o período de um ano.  Nesse mesmo período de tempo (um ano), o preço dos alimentos já subiu 41%.  O governo destacou soldados para invadir casas e confiscar alimentos estocados.  Longas filas regularmente se formam nas ruas à espera de mercadorias básicas.

Chávez não se assusta com seus fracassos.  Recentemente ele inaugurou -- agora sob gerência estatal -- uma cadeia de supermercados que seu governo havia expropriado de um grupo franco-colombiano.  Ele vangloria-se de que, sob sua gerência, essa nova rede estatal já opera a uma margem de lucro maior do que operava sob gerência privada.

O ex-pára-quedista, fã confesso de Robert Mugabe, o ditador do Zimbábue, e de Fidel Castro, o tirano comunista de Cuba, jactou-se de ter inaugurado uma nova era de supremacia socialista.  Disse ele:

O socialismo é necessariamente melhor que o capitalismo em tudo, e é isso que estamos provando.

Os frequentes desabastecimentos e escassezes derrubaram a popularidade de Chávez para 45%, como demonstrou uma rara pesquisa desse tipo feita ainda em março.  Três anos atrás, ela era de 70%.  "Já estou cansado dessa falta de alimentos!", protestou um consumidor que não conseguiu chegar a tempo para uma fila que se formava para adquirir açúcar.  "As pessoas ficam desesperadas e começam a se comportar como animais."

Com a incontida escalada das reclamações, cada vez mais violentas, Chávez resolveu atacar os últimos bastiões de oposição que ainda restam no país que ele comanda desde 1999.  Guillermo Zuloaga, proprietário da emissora televisiva Globovision, foi forçado a deixar o país em junho após ter sido acusado de ofender Chávez ao divulgar "informações falsas".

O regime de Caracas agora está ameaçando o bilionário Lorenzo Mendoza, dono da Empresas Polar, a última cadeia de supermercado capaz de rivalizar com o sistema estatal inspirado no modelo cubano.  A rede rejeitou as acusações de Chávez de estar lucrando com a estocagem de alimentos, dizendo que tais acusações são "absurdas e irracionais".

O ditador de 55 anos ameaça regularmente o senhor Mendoza em seu programa semanal de televisão, "Alô, Presidente".  "Mendoza, se você continuar fazendo besteiras, eu vou tomar a Polar de você, absolutamente todas as instalações", disse ele ainda em março.

O sofrimento dos venezuelanos não afetou a adoração que Chávez desfruta no exterior.  Além dos intelectuais de praxe, o ex-prefeito de Londres Ken Livingstone, o presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad e o presidente boliviano Evo Morales comportam-se como genuínos chefes de torcida de Chávez em sua confrontação com o capitalismo.

Outro famoso admirador de Chávez é o cineasta americano Oliver Stone, que acaba de lançar "Ao Sul da Fronteira", documentário sobre a América Latina que nada mais é que uma verdadeira hagiografia de Chávez.


Sobre o autor

Damien McElroy

É correspondente de assuntos internacionais do jornal britânico.

Comentários (20)

Deixe seu comentário

Há campos obrigatórios a serem preenchidos!