As eleições presidenciais e o atentado à inteligência individual
A eleição presidencial deste ano promete ser, de
longe, a pior e mais estupidificante já vivenciada pelo povo brasileiro.
Não que as eleições anteriores tenham sido grandes coisas, muito pelo
contrário. Porém, em todas elas, havia ao menos algum discurso ou
comportamento um pouco mais interessante, algo que destoava um pouco do
inconsciente estatizante que sem dúvida irá dominar a eleição atual.
As eleições de 1989 até hoje foram as
melhores. Com um governo que usufruía módicos 7% de aprovação, todos os
22 candidatos eram obrigatoriamente do contra. É claro que era possível
ser contra Sarney à direita e à esquerda. E havia uma ampla leva daqueles
infatigáveis seres ansiosos para trazer o Muro de Berlim para cá. Porém,
também havia aqueles que falavam coisa com coisa -- e em uma quantidade que
jamais se repetiu.
Afif, cujo plano econômico havia sido elaborado
pelo economista Paulo Guedes, era de longe o melhor. Era o único, aliás,
que demonstrava entender genuinamente as causas das mazelas econômicas que
afligiam o país à época. Fernando Collor, por sua vez, apresentava um
discurso que falava abertamente em privatizações, redução do estado e cassação
de marajás, algo proibitivo hoje em dia. Liberal demais. Pena que
após sua posse, o carioca-alagoano -- que subiu a rampa do Palácio do Planalto
bufando modernidade -- resolveu entregar o comando da economia a uma
ex-integrante do PCB. O resultado não poderia ter sido outro. Por
fim, até mesmo Ronaldo Caiado tinha algumas ideias modernas.
Em 1994, FHC teve de adotar um discurso mais
liberal para se contrapor ao seu rival petista, que ainda sonhava com
Cuba. O mesmo ocorreu em 1998. Em 2002, foi a vez do PT mostrar que
estava ficando racional, o que trouxe um certo frescor. Mesmo em 2006
houve alguns (poucos) bons momentos no primeiro turno, nem que fosse a
participação de Luciano Bivar, do PSL. No segundo turno, é verdade, a
coisa degringolou geral.
E é nesse espírito que começará a campanha
presidencial deste ano. Dos quatro principais candidatos, todos têm DNA
100% de esquerda. José Serra foi trotskista na juventude e é de formação
econômica cepalina. Atualmente é pós-keynesiano.
Dilma Rousseff é de formação stalinista e, em sua juventude, participava de
assaltos a bancos e praticava invasão de domicílios. Ainda não se sabe o
que ela defende atualmente, pois não tem vida própria. Lula manda, ela
obedece. Marina Silva, como toda ambientalista, apenas limita-se a
repetir chavões sobre 'sustentabilidade', 'desenvolvimento responsável' e
xaropadas afins. Finalmente, há a imperecível figura de Plínio de Arruda
Sampaio, cujas ideias, que exalam naftalina, fazem com que Robert Mugabe pareça
moderado. E, como bom comunista, obviamente não dispensa o luxo: mora no
bairro Alto de Pinheiros, São Paulo, ao mesmo tempo em que defende o confisco
da propriedade dos "ricos".
Com a iminência do horário político, que será um
verdadeiro tormento para os seres inteligentes pelos próximos dois meses, o IMB
vem a público com a missão de poupar o leitor da aflição de ter de se informar
sobre o programa econômico dos nobres candidatos. Aqui vai um breve
compêndio de como pensam as esclarecidas mentes destes quatro adoráveis seres
que estão ávidos para comandar a sua vida e a economia pelos próximos quatro
anos.
José Serra
Comecemos por José Serra. Este talvez seja o
portador do enigma mais transcendental da política brasileira. Como pode
um indivíduo de passado trotskista e presente keynesiano ser considerado o
candidato liberal? Mais ainda: por que um homem claramente de esquerda é
odiado mortalmente pela ala esquerdista da sociedade brasileira?
A resposta à primeira pergunta é fácil. Na
falta de um discurso genuinamente liberal, pega-se para ocupar esta vaga o
representante do partido cujos membros são vistos pela mídia como sendo os
menos esquerdistas. Desculpem a simplicidade da explicação, mas a
resposta à primeira pergunta de fato é esta.
Quanto à segunda pergunta, sua resposta exige um
pouco mais de aprofundamento histórico.
A explicação simples, porém direta, é uma
só. Não é novidade alguma que o cenário político brasileiro está dividido
entre duas e apenas duas forças: comunistas e social-democratas. Esquerda
e esquerda. Qualquer coisa à direita disso está veladamente
proibida. A disputa entre uma direita e uma esquerda, ambas moderadas, é
a essência de qualquer democracia europeia, americana ou mesmo colombiana e
chilena. Mas, no Brasil, a coisa é mais progressista. A disputa se
dá apenas entre os espectros à esquerda do centro.
E é aí que vem a resposta: enquanto que nas
democracias consolidadas esquerda e direita brigam dentro das regras,
historicamente a briga entre social-democratas e comunistas sempre foi coisa
feia. Onde quer que essa briga tenha dominado o palco, houve carnificina.
Na Rússia, os comunistas trucidaram os social-democratas, impondo o
regime leninista. Já na Alemanha ocorreu o contrário, e, após a chacina,
o vácuo deixado pelos comunistas foi ocupado pelo populismo nazista.
Como no Brasil não há direita, nem conservadorismo
e muito menos liberalismo, qualquer social democrata de maior expressão
imediatamente ganha essa pecha. E, ato contínuo, recebe toda a fúria das
esquerdas originadas de movimentos comunistas, como é o caso do PT. E não
adianta: quanto mais o sujeito tenta aquiescer, quanto mais ele tenta
conciliar, mais fúria ele atrai.
Por mais que o sujeito defenda programas sociais
politicamente corretos, por mais que ele defenda banco central imprimindo
dinheiro para baixar os juros na marra (medida essa que, na verdade, acaba
tendo o efeito oposto, algo que keynesiano nenhum entende), por mais que ele
defenda crédito fácil e subsídios, por mais que ele defenda o aumento de gastos
e investimentos estatais, por mais que ele faça tudo isso, não tem jeito: ainda
assim o coitado não consegue o amor das esquerdas.
Justamente por não ser um genuíno conservador ou
mesmo um liberal light, mas apenas um social democrata, ele é capaz de
materializar toda a fúria esquerdista contra si próprio.
E quando olhamos seu plano de governo, vemos que
ele de fato vem se esforçando ao máximo para agradar essa esquerda que tanto o
odeia. Já disse que vai criar mais dois ministérios, sendo um deles
voltado para os deficientes físicos (como se um bando de burocratas
encastelados em Brasília e comendo dinheiro público ajudasse em alguma coisa um
sujeito numa cadeira de rodas vagando pelas ruas de Pirassununga). O
outro ministério seria voltado para a segurança pública. Esse, sim,
promete ser um monumental ralo de dinheiro público, pois os recursos certamente
nunca serão o suficiente para dar sequência à imbecil guerra às drogas, por
exemplo.
Aprofundando-se ainda mais em seu esforço, o
cepalino prometeu duplicar o Bolsa-Família. Atualmente, o
programa atende 12,6 milhões de famílias. A meta serrista é elevar esse
número para parcas 27,6 milhões de famílias. Ora, se imaginarmos que cada
família pobre é formada por pelo menos 4 pessoas, teremos então que num
eventual governo Serra nada menos que 110 milhões de pessoas estarão recebendo
dinheiro diretamente do governo. Se a esses números acrescentarmos o
número total de funcionários públicos, tanto na ativa quanto aposentados, que
até lá já estarão beirando os 11 milhões, temos que nada menos que 121 milhões
de pessoas serão "empregadas" do governo. Algo, no mínimo,
soviético. Sem dúvida, é assim que um país enriquece.
Mas, calma!, ainda tem mais. O social
democrata também prometeu criar um tal Bolsa-Adolescente,
que, segundo ele, seria uma ajuda para que jovens concluam o ensino
profissionalizante e entrem no mercado de trabalho. Mais um pouquinho e
ainda vão criar uma lei declarando a obrigatoriedade de se fornecer um emprego.
Ah, sim: segundo o próprio, tal programa está na
origem dos programas sociais do governo Lula. Ambos duelam pra ver quem
fez mais "pelo social", para ver quem é o mais progressista.
Em termos puramente econômicos, no que tange ao
papel do estado na economia, Serra já deixou claro em várias entrevistas que
acredita no "ativismo estatal", com um governo regulando rigidamente
a atividade econômica e investindo em infraestrutura. Meio que para
contrabalançar essas posições explicitamente interventoras, e também para não
assustar tanto a sua base eleitoral, formada predominantemente por
antipetistas, o tucano sempre recorre ao inefável "tucanês", e diz
que a estrutura do estado deve ser "eficiente" -- o que significa que
dá para "fazer mais com menos recursos." (Normalmente tal frase é
pronunciada com o punho fechado, demonstrando o vigor da ideia).
Isso significa que Serra irá cortar gastos?
De modo algum. Corte de gastos é palavra proibida no vernáculo
social-democrata, "pois causa muito sofrimento". Ademais, temos
de admitir, seria muita maldade parar de financiar amostras culturais,
festivais de curta-metragem e algum grupo de teatro avant-garde (social democrata que se preze é fluente
em francês). No máximo, com muito esforço, Serra concede que é preciso diminuir o ritmo do aumento dos gastos. E estamos
conversados.
Por fim, há aquele área que faz todo
pós-keynesiano salivar: crédito, juros e bancos públicos. Nesse quesito,
Serra garante que não haverá parcimônia. Juros baixos, concessão de
crédito subsidiado via BNDES e bancos estatais estão na pauta do programa
keynesiano tucano.
Privatizações? Nada. O debate atual
passa longe da necessidade de novas privatizações. A única discussão
permitida é perguntar por que o PT não desfez as privatizações que foram feitas
pelo governo FHC...
E esse é o candidato liberal. Analisemos
agora sua rival.
Dilma Rousseff
Dilma Rousseff defende as mesmas políticas
econômicas de Serra, porém é mais explícita em seu programa. Sabemos que
ambos vão aumentar os gastos, porém a petista não esconde que fará um
"reaparelhamento da máquina estatal", com a "valorização do
funcionalismo público", sendo que essa sempre foi historicamente a base
eleitoral do PT. Para ela, aqueles que falam que existe inchaço na
máquina estatal são necessariamente defensores de um estado mínimo utópico.
Para Lula, um bando de criminosos sem alma e sem piedade.
Caso Dilma seja eleita, prepare-se para sustentar
um exército de marajás que desfrutarão aposentadorias de R$ 18 mil e que
ganharão R$ 13 mil para serviços básicos. E contenha-se, leitor: se você
ficar irritado por ter de pagar salários magnânimos para parasitas, trata-se de
uma postura criminosa. Essa política, vale ressaltar, será uma mera
continuação da política iniciada por Lula ainda em seu primeiro mandato.
Em um possível governo Dilma, ela própria já garantiu
que não apenas não venderá nenhum bem governamental, como também fortalecerá
estatais como Petrobras, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e BNDES.
Para contrabalançar, Dilma costuma dizer que irá
diminuir a carga tributária sobre a folha de salário e sobre os setores
energético e de remédios. Por que isso sequer foi discutido nos oito anos
do governo do qual ela participou integralmente é algo que não deve ser
perquirido, pois há o sério risco da candidata se embananar nas respostas.
E quando isso acontece -- isto é, quando a petista
tenta formular alguma frase -- é um Deus nos acuda. As sentenças não
fecham, o raciocínio é torto e confuso, e o discurso não flui, perdendo-se em
intermináveis anacolutos.
Como seus marqueteiros já lhe disseram que ela não
pode atacar e nem defender nenhum programa em específico (por exemplo, ela não
pode desagradar aos ambientalistas e nem ao MST, mas também não pode hostilizar
os ruralistas e os pequenos proprietários de terra), a coitada fica perdida e
acaba dando respostas impossíveis, na vã esperança de que a embromação irá
fazer o espectador crer que ela tem um pensamento percuciente, opalescente,
refletido, pautado pelo rigor e pela temperança.
Em termos monetários, não há por que imaginar que
ela pense diferente de Serra, embora seja bem possível que ela venha a manter
Henrique Meirelles no Banco Central, apenas para manter a confiança dos tais
"mercados".
Por fim, vale lembrar que Dilma sempre gostou de
enfatizar que o estado deve defender o "interesse nacional" e "a
emancipação do povo brasileiro". Tradução: o governo vai encher o
BNDES de dinheiro para que este dê empréstimos subsidiados às grandes empresas,
cujos donos possuem ligações estreitas com o governo (o dono de uma famosa
cadeia de supermercados não virou um entusiasta petista à toa). A ideia é
criar um conglomerado de empresas nacionais que serão verdadeiras potências
mundiais, com o objetivo de dominar o mundo. É o velho conluio entre
estado e grandes corporações, política essa inventada por um cavalheiro chamado
Benito Mussolini.
O problema é que, como o BNDES vem sendo
financiado diretamente pelo Tesouro -- que está vendendo títulos da dívida e
dando o dinheiro arrecadado para o BNDES --, isso significa que, para manter
esse socialismo para os ricos, a carga tributária e os fardos regulatórios
sobre as pequenas empresas terão de seguir aumentando (afinal, alguém precisa
pagar pela farra).
Curiosamente, eis aí um arranjo que não só nenhum
partido político condena, como na verdade todos aprovam. Afinal, são
esses barões que, em troca do financiamento camarada do BNDES, irão encher de
dinheiro os cofres desses partidos.
O imenso espaço que isso abre no cenário nacional
para que algum partido faça um discurso genuinamente libertário em defesa das
pequenas empresas e contra subsídios e regulamentações não tem quem o
preencha. E é assim que chegamos ao inevitável arranjo que hoje domina a
economia brasileira: subsídios e regulamentações sempre prejudicando a vida das
pequenas empresas, e dando vantagens injustas para as grandes empresas. E
depois ainda acham estranho que as pequenas empresas paguem salários baixos...
Marina Silva
O que nos leva à senadora Marina Silva, que tinha
potencial para adotar, nem que fosse de forma fingida, esse discurso.
O problema é que a senadora parece um semáforo: às
vezes está verde, às vezes está vermelha. (Se bem que há pouca diferença
entre ambas as cores. Os vermelhos querem abolir a busca individual do
lucro e da felicidade pois acham que tal comportamento gera exploração,
monopólios e pobreza contínua. Já os verdes querem aboli-lo pois acham
que ele gera chuva ácida, destruição da camada de ozônio e aquecimento global).
Quando está verde, a senadora é inócua. Tudo
o que ela consegue com seus intermináveis discursos sobre a necessidade de
termos mais moinhos de vento e menos hidrelétricas é atingir aquela inocente
dignidade do ridículo.
Após 3 minutos de falatório -- no qual o
espectador é seriamente desafiado a mostrar que não sofre de Distúrbio de
Déficit de Atenção --, a senadora já descarregou uma pletora de substantivos
abstratos, recheados com vários termos técnicos modernosos sobre meio ambiente
e perfeitamente adornados por aquele linguajar poético que mistura o jacaré-do-peito-amarelo,
as populações indígenas, os sedimentos e as licenças ambientais. Tudo
isso, é claro, cuidadosamente expressado naquele idioma diretamente saído do
manual da agenda politicamente correta do novo milênio.
Aquela figura de aparência frágil e beata, com voz
um tanto sumida, ajuda uma enormidade a aumentar toda a mística em seu entorno,
blindando-a da necessidade de quaisquer explicações mais aprofundadas. Em
uma entrevista dada ao programa Roda Viva, a senadora foi perguntada sobre política
econômica. Qual seria a dela? Iria manter Henrique Meirelles no
Banco Central? A resposta foi um sorriso cândido e vitorioso, típico
daqueles que enxergam a política em outro patamar. O que Marina deu a
entender é que essas preocupações são mundanas demais, e já estão devidamente
superadas. O que importa é a nova agenda do milênio, isto é, a
sustentabilidade. Todo o resto é conversa fiada. Parodiando
Fernando Pessoa, em um hipotético governo Marina, mordomos invisíveis seriam
encarregados da administração da casa enquanto ela se dedicaria inteiramente
aos "temas do futuro", que é o que importa.
Ou seja, quando está verde, a senadora é
inócua. Porém, quando muda pro vermelho, a coisa fica mais séria. E
de modo contraditoriamente engraçado. Perguntada sobre redução de
impostos, ela manda ver: "Eu disse que aumentar, não. E, se
possível, reduzir. Temos que criar os meios para a redução".
Porém, logo após prometer que não irá aumentar impostos, a digníssima arremata
dizendo que irá elevar impostos sobre "indústrias poluidoras" e que
irá também promover a unificação do ICMS, numa clara intervenção federal na
soberania dos estados -- se é que existe alguma.
Tudo o que a economia mais precisa é que o governo
imponha custos extras sobre as indústrias e que os estados mais pobres tenham
seus ICMSs equiparados aos dos estados mais ricos. Aparentemente a
senadora ignora o fato óbvio de que esses custos extras repercutirão nos
investimentos e, consequentemente, nos bens produzidos e nos salários pagos por
essas empresas. Mais ainda: a unificação do ICMS seria péssima justamente
para os estados mais pobres. Afinal, sendo o custo tributário estadual o
mesmo, por que abrir fábricas em locais mais atrasados se é possível desfrutar
da mão-de-obra e das comodidades dos locais mais ricos?
Sim, de vez em quando ela fala que está preocupada
com o aumento da dívida. A solução? A mesma de Serra: reduzir o ritmo de aumento dos gastos. Ambos creem que,
dessa forma, o PIB irá crescer proporcionalmente mais que os gastos, reduzindo
a dívida. É tudo na base do achismo, sem qualquer sustentação
teórica. Afinal, por que achar que o PIB vai crescer mais que o ritmo de
aumento dos gastos? "Tudo dando certo, o endividamento tenderá a
ficar menor em relação ao tamanho da economia, com o passar do tempo",
disse um assessor.
Entendeu? "Tudo dando certo...".
Tudo dando certo, eu posso pular da janela, voar
até a lua e ainda voltar a tempo do almoço. E é isso que hoje em dia se
passa por plataforma econômica...
Os nanicos
Mas não se desespere! Caso ainda esteja
insatisfeito com essas três distintas opções, nossa democracia pluralista
permite que você possa escolher entre uma gama de partidos nanicos, cujas
plataformas são extremamente diversificadas, indo desde a implementação da
política econômica da Albânia da década de 1980 (aquela maravilha em que as
pessoas, de tão desesperadas, se jogavam ao mar utilizando toras de árvore como
bóias) até a restauração do regime maoísta.
Por exemplo, Plínio de Arruda Sampaio e seu P-SOL.
Eis aí um partido fundado inteiramente pela ala xiita do PT, com quadros
majoritariamente vindos do PT gaúcho e paulista, os mais radicais. Seus
membros defendem desavergonhadamente a tomada da propriedade dos meios de
produção.
Muitos dizem que Plínio é um sujeito caricato
demais e, logo, inofensivo. Ledo engano. Embora suas chances sejam
nulas, o fato é que sua simples presença na campanha serve a um propósito muito
mais avançado, a uma estratégia muito bem bolada: seu discurso de extrema-esquerda
serve para deslocar o fiel da balança para essa direção, fazendo com que
qualquer discurso mais à direita do PSDB seja visto como radical. Com o
fiel da balança violentamente girado para a esquerda, o lugar nominal do que
seria a "direita" foi ocupado pelos tucanos, os quais na Europa
seriam vistos como um partido social democrata qualquer -- e, naturalmente, de
esquerda.
Com esse o quadro de opções políticas
completamente falseado, a hipótese de um discurso genuinamente liberal se
tornou inviável e inconcebível no Brasil.
Conclusão
Pronto. Eis aí a nossa democracia em
ação. Eis aí a plataforma política de nossos potenciais chefes de
governo.
Estranhamente, ninguém vê esse processo como uma
anormalidade. Ao contrário: as pessoas, inclusive os bem pensantes, veem
aí uma saudável demonstração de pluralidade democrática. Para a mídia e,
principalmente, para o establishment universitário, o Brasil está perfeitamente
dentro do espectro político aceitável, com partidos que vão desde a
extrema-esquerda, de um lado, até a democracia socialista, do lado
oposto. E só. Acabam por aí as opções. Mesmo a
social-democracia escandinava, com sua economia privada altamente
desregulamentada, pouca burocracia, inexistência de salário mínimo e de bancos
estatais, e com ampla liberdade comercial, não possui representantes por aqui.
Mises sempre dizia que, para poder sobreviver, o
ser humano precisa ser capaz de pensar, precisa saber usar corretamente suas
faculdades mentais. Pelo visto, os brasileiros há muito já terceirizaram
essa função. Hoje, quem pensa pela população são a mídia e os
intelectuais universitários. E isso ajuda a explicar por que o país é uma
fonte tão escassa de pensamento original e significativo.
Isso é realmente assustador. E o que é ainda
mais apavorante é ver que mesmo o universo intelectualmente independente --
incluindo-se aí blogueiros famosos e muito lidos, professores de economia com
grande reputação, historiadores e filósofos, e todos os outros campos direta ou
indiretamente ligados à política -- está predominantemente contaminado pelo
mesmo nível de ignorância, o que o impede de identificar esse mesmo problema
nos candidatos. Aparentemente estamos vivendo em uma sociedade cuja
cultura econômica é comparável a uma mesa de sinuca, na qual bolas de bilhar
inconscientes se colidem ao acaso, sem que qualquer conhecimento ou compreensão
da situação estejam presentes.
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