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Economia

O Caminho da Vitória

05/05/2008

O Caminho da Vitória

 
"Idéias e somente idéias podem iluminar a escuridão." (Ludwig von Mises)

A liberdade sempre contou com poucos amigos verdadeiros. Estes raros defensores genuínos da liberdade muitas vezes desanimam diante da inglória luta contra os seus inimigos. O Mises Institute foi fundado por Lew Rockwell com a prioridade de manter um corpo de idéias liberais vivo, já que mesmo as grandes idéias não têm uma vida própria, ainda mais aquelas que desafiam os poderes estabelecidos. Estas idéias em prol da liberdade precisam circular para evitar a extinção. Em seu livro Speaking of Liberty, Rockwell explica melhor o que os liberais devem fazer para vencer a disputa das idéias e disseminar os ideais liberais de forma sustentável. Apesar da luta desigual, Rockwell mantém seu otimismo em relação ao resultado final.

Em primeiro lugar, Rockwell condena a reclusão de muitos liberais que, diante dos imensos obstáculos contra o sucesso, tendem a cair em desespero e buscar abrigo entre um grupo de amigos que falam apenas entre si. A postura é até compreensível, já que as barreiras colocadas pelos defensores do status quo dificultam enormemente a luta pela liberdade. Os liberais são minoria, é verdade, mas esta minoria está sempre crescendo ou diminuindo. Se diminuir demais, pode desaparecer. E nesse caso, será o fim definitivo da liberdade, com a vitória completa do totalitarismo. Logo, os liberais não devem se esconder atrás das sombras, partindo da premissa de que a derrota é certa, pois esse será o caminho da derrota mesmo. É preciso lutar, mostrar a cara, defender as idéias expondo seus argumentos, sem medo do inimigo e sem desânimo diante dos obstáculos.

Grandes defensores da liberdade foram pessoas corajosas que não recuaram diante dos riscos de fracasso. Thomas Jefferson e Thomas Paine entre os "pais fundadores" dos Estados Unidos, Bastiat e Benjamin Constant, Mises e Hayek, todos enfrentaram incríveis barreiras, mas seguiram sempre em frente. Todos eles evitaram a reclusão, engajando-se em debates públicos, levando as idéias liberais para mais pessoas. Eles acreditavam que havia muito em jogo para recuar somente aos estudos privados no conforto de suas casas. Os liberais não podem se conceder este luxo, justamente porque são minoria, e os inimigos da liberdade são organizados e poderosos. Achar que algum outro fará a tarefa de defender os ideais da liberdade, ou crer que ela sozinha irá predominar, é um grave engano. Todos aqueles que realmente acreditam na liberdade individual precisam agir, sob o risco de perderem definitivamente a batalha caso não o façam. Os governos avançam diariamente sobre nossas liberdades, e sem alternativas divulgadas claramente, o resultado pode ser a escravidão total.

Um problema comum que surge é a crença de que a resposta para o problema se dá pela organização política. A classe política não costuma se importar com idéias por si só. Os políticos normalmente estão em busca de interesses próprios e de seus aliados, até porque dependem dos votos para se manter no poder. Por isso mesmo, o fundamental é mudar a mentalidade dos eleitores. Os políticos terão que seguir esta mudança. Achar que as mudanças começam pela política, em vez de terminar lá, é inverter a ordem das coisas. Os liberais costumam reclamar - com razão - que não são nunca representados politicamente por candidatos nas eleições. É um fato, já que a política brasileira está totalmente dominada pela esquerda. Mas o problema é estrutural, e reside justamente nas crenças populares. Enquanto for praticamente pecado falar em privatização no país, nenhum candidato será louco de abraçar esta causa com vontade. Ao contrário, terão que vestir camisas e bonés de estatais, para deixar claro que não pretendem privatizar empresa alguma. Portanto, a solução não é esperar um messias salvador que desafie todos e use a bandeira das privatizações na campanha, e sim trabalhar no campo das idéias, mostrando que estatais interessam somente aos poderosos privilegiados, que exploram o restante do povo.

Outro problema diagnosticado por Rockwell diz respeito à tentação de muitos "liberais" diante da fama e reputação. Escrever para os grandes jornais, aparecer nos programas famosos de televisão, tudo isso conquista muitos intelectuais. Chegar aos maiores veículos da mídia sem dúvida é algo positivo, contanto que não seja sacrificando o conteúdo da mensagem. Quando chegar lá passa a ser o fim, e não mais apenas o meio para divulgar as idéias corretas, então tudo está perdido. Se um grande jornal ou canal de televisão pedir a opinião de um liberal, ótimo. Mas infelizmente isso não é o mais comum. Há uma exigência, ainda que tácita, por uma moderação da mensagem quando o veículo é a grande mídia. Isso pode ter um resultado nefasto para a defesa da liberdade no longo prazo, com a perda crescente da credibilidade dos seus defensores.

O que deve ser feito então? Antes de tudo, é preciso reconhecer que as idéias liberais são impopulares, pois não vendem sonhos falsos, promessas utópicas e nem retiram a responsabilidade dos indivíduos. Somos minoria. Nossos pontos de vista não são bem-vindos pelo regime. Com freqüência são ignorados pelo público indiferente. Mas algo deve ser feito, e Rockwell oferece algumas sugestões.

Para começo de conversa, todo estudante que estiver interessado nas idéias liberais deve ser educado e encorajado. Ninguém deve ser negligenciado. Não há como se saber quem poderá ser o próximo Mises ou Hayek. Além disso, é preciso encorajar uma proliferação de talentos. Cada um pode ser bom em uma coisa específica. Alguns são grandes escritores, outros possuem talento de oratória, outros são bons professores e outros bons pesquisadores. Até por coerência às crenças liberais, a divisão de trabalho deve ser estimulada, para maior eficiência na defesa da liberdade. Os meios disponíveis para divulgação dos nossos ideais não devem ser menosprezados também, desde uma pequena lista de emails até sites da Internet, ou mesmo Orkut e YouTube. Os inimigos são organizados e costumam ter a grande mídia ao seu lado. A Internet representa uma ótima oportunidade para acesso a mais ouvintes e leitores. Não há porque subestimar este importante meio.

Por fim, Rockwell lembra que é fundamental aderir ao que é verdadeiro, ou seja, evitar os modismos e tendências do momento para formar e divulgar suas idéias. Técnicas de vendas podem até ser úteis, contanto que jamais alterem o conteúdo de sua mensagem. É possível ser mais moderado na forma e radical no conteúdo. Os liberais devem defender aquilo que acreditam como verdadeiro, sem sucumbir às pressões do "politicamente correto". Não devemos temer a mensagem não-convencional, até porque a "sabedoria convencional" muitas vezes se mostrou errada no passado. Os liberais não devem trocar a construção sólida de longo prazo pela atenção no curto prazo. Devem permanecer fiéis aos seus princípios e valores, defendendo aquilo que entendem como correto. A luta é árdua mesmo, e os inimigos da liberdade sempre serão barulhentos e organizados, além de abusarem das mais baixas táticas para intimidar e calar seus opositores. Mas não podemos recuar jamais, pois isso seria entregar os pontos e sacrificar qualquer esperança por um futuro mais livre. Pode ser duro, mas é viável seguir um caminho de vitória pela liberdade.

Cada um daqueles que realmente deseja isso deve fazer algo, contribuir como for possível pela causa da liberdade. Rockwell ajudou a fundar o Mises Institute, que cresce a cada ano, espalhando mais e mais as idéias liberais pelo mundo. No Brasil, já temos agora o Instituto Ludwig von Mises Brasil ( www.mises.org.br ) , uma iniciativa louvável de alguns poucos amigos sinceros da liberdade. E você, prezado leitor? O que você está fazendo pela defesa da liberdade? Faça já a sua parte! Lembre-se que uma jornada de mil milhas começa com apenas um passo.
Sobre o autor

Rodrigo Constantino

Rodrigo Constantino é formado em Economia pela PUC-RJ e tem MBA em Finanças pelo IBMEC. Trabalha desde 1997 no mercado financeiro, primeiro como analista de empresas, depois como gestor de recursos. é autor de cinco livros: Prisioneiros da Liberdade.

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