Socialismo do século XXI
"Aqueles que ignoram o passado estão condenados a
repeti-lo." (George Santayana)
A Venezuela caminha a passos acelerados rumo ao completo abismo, fruto do
modelo socialista cada vez mais imposto pelo caudilho Hugo Chávez. Cuba está
logo ali. Empresas privadas, estrangeiras ou nacionais, foram tomadas pelo
governo. A imprensa foi amordaçada. Os petrodólares foram usados de forma
populista para comprar apoio da população. A inflação foi usada como mecanismo
de estímulo à economia. Com a situação saindo de controle, culminando na
maxidesvalorização de sua moeda, vimos essa semana a patética cena do Exército
fechando lojas para combater a "especulação". Para os socialistas, a inflação
ainda é um fenômeno derivado da ganância dos empresários, não da emissão
descontrolada de moeda pelo governo. Tem quem nunca aprenda com as lições da
história mesmo.
Na Babilônia, há cerca de quarenta séculos, o Código de Hamurabi impôs um
rígido sistema de controle de preços. Na Grécia Antiga, Atenas estava
constantemente enfrentando escassez de cereais, dos quais pelo menos metade
tinha que ser importada. Para combater a alta dos preços, um exército de
inspetores dos cereais, chamados Sitophylakes, foi nomeado com o
objetivo de estabelecer um preço "justo" para os cereais. Em ambos os casos, as
medidas fracassaram. Apesar da pena de morte que o governo de Atenas aplicava
aos desobedientes, era quase impossível fazer respeitar as leis que controlavam
o comércio dos cereais.
No Império Romano, sob o tribuno Caio Graco, foi adotada a Lex Sempronia
Frumentaria, que conferia a cada cidadão romano o direito de adquirir
certa quantidade de trigo a um preço oficial muito inferior ao preço de
mercado. O resultado, naturalmente, foi contrário ao que o governo esperava: a
maioria dos agricultores do campo migrou para Roma, para lá viver sem
trabalhar. Para resolver os problemas crescentes, os imperadores começaram a
desvalorizar a moeda. Nero começou com pequenas desvalorizações, e Marco
Aurélio intensificou o ritmo. O auge do controle de preços se deu no reino do
imperador Diocleciano. Em vez de cortar os gastos do governo, Diocleciano
preferiu desvalorizar a moeda, inflacionando a economia. Como os preços fugiam
de controle, ele apelou para o tabelamento, e prescreveu a pena de morte para
os que vendessem as mercadorias acima dos preços oficiais. O resultado foi um
fracasso total.
Como se pode observar com esses exemplos, a tentativa de governos de controlar
os preços das mercadorias com base em decretos não é novidade alguma. Para os
brasileiros, a memória é recente, com os famosos fiscais do Sarney averiguando
os preços praticados nos supermercados, em nome do combate à inflação. Claro
que foi um fiasco. Afinal, como os economistas austríacos e de Chicago já
tinham explicado faz tempo, a inflação é sempre um fenômeno monetário.
Mises explicou de forma sucinta o processo que ocorre quando um governo inflaciona
a economia. O primeiro passo será a sensação de prosperidade causada pelo
aumento dos gastos provenientes da impressão de moeda nova. Será uma
prosperidade ilusória. Quando os preços de alguns produtos começam a sair de
controle, a tendência é o governo partir para o controle daqueles preços
específicos, os "vilões" da inflação. Mas isso irá gerar apenas escassez desses
produtos no mercado, estimulando um mercado negro para eles. Outros produtos
substitutos ou que usam tais produtos como insumos começam a disparar de preço
também, e o governo precisa estender cada vez mais seu controle, até chegar à
totalidade da economia.
Como exemplo, podemos pensar no minério de ferro. Supondo que ele seja alvo de
uma expressiva alta de preços causada pelo excesso de moeda no mercado, o
governo resolve tabelar seu preço. Logo começará a faltar minério no mercado. O
preço do aço vai disparar também. O governo decide controlar o preço do aço
então. Falta aço agora, e o preço de todos os produtos derivados do aço dispara,
assim como o preço de seus substitutos. Em pouco tempo, o governo terá que
tabelar quase todos os preços da economia, gerando uma escassez generalizada. O
regime soviético, ícone dessa experiência de controle estatal da economia,
conseguiu produzir apenas armas para o próprio governo oprimir o povo, e
prateleiras vazias.
Eis a essência do socialismo. Miséria ao povo e armas para o governo controlar
os miseráveis. Milênios atrás, ou em pleno século XXI. As leis econômicas não
costumam ligar muito para esses detalhes. Pobre povo venezuelano. Servindo como
cobaia de um experimento que cheira à naftalina de tão velho. E esse é o modelo
que o governo Lula fez tanta questão de convidar para fazer parte do Mercosul.
O povo venezuelano não aprendeu nada com a história. Resta saber se o povo
brasileiro vai aprender com o triste exemplo do vizinho aquilo que não se deve
fazer!
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