O que está por trás da crise financeira de Dubai
Na quarta-feira passada, Dubai anunciou que iria pedir aos credores da Dubai World - o conglomerado estatal por detrás da rápida expansão imobiliária ocorrida naquele emirado (a entidade construiu o prédio mais alto do mundo) - e da Nakheel - a construtora das Palm Islands, as famosas ilhas em formato de palmas - para que aceitassem uma suspensão do pagamento das dívidas por seis meses.
Alguns comentaristas creem que os bancos que emprestaram dinheiro para o Dubai World poderiam sofrer prejuízos substanciais caso a empresa realmente dê o calote em toda a sua dívida de $59 bilhões - ou mesmo em parte dela. A dívida total de Dubai está em $80 bilhões. Se os credores rejeitassem as propostas de adiar o pagamento da dívida por seis meses, o governo de Dubai poderia ser forçado a fazer uma liquidação dos ativos imobiliários internacionais que possui.
Já alguns analistas creem que é improvável que outros emirados dos EAU - Emirados Árabes Unidos -, como Abu Dhabi, sejam afetados significativamente pela crise de Dubai, uma vez que os recursos financeiros destes advêm das exportações de petróleo e gás.
Mas o principal fator por detrás dessa crise é a política monetária expansionista adotada pelo banco central dos EAU. A base monetária, após fechar outubro de 2006 com um crescimento anual de 4%, pulou para um crescimento anual de 177% já em dezembro de 2007. Como consequência dessa enorme injeção monetária, a taxa de crescimento anual da oferta monetária verdadeira - também chamada de OMA[*] - saltou de 6% em outubro de 2006 para 62% em abril de 2008.
[*]A OMA - Oferta Monetária Austríaca, também chamada de oferta monetária verdadeira - foi formulada por Murray Rothbard e representa a quantidade de dinheiro na economia que está prontamente disponível para transação. A vantagem da OMA sobre as medidas convencionais é que ela considera apenas o dinheiro que está imediatamente disponível para transação e não faz contagem dupla. A OMA consiste nos seguintes agregados: o componente em espécie de M1, o total de depósitos à vista, os depósitos em poupança, os depósitos a vista do governo, os depósitos à vista em nome de bancos comerciais estrangeiros e os depósitos à vista em nome de instituições oficiais estrangeiras.
Essa maciça injeção monetária estimulou o surgimento de várias atividades que não teriam surgido caso não tivesse havido essa injeção. Ou seja: tais atividades não poderiam se manter por conta própria sem essa crescente injeção monetária.
A partir de janeiro de 2008, o ritmo das injeções do banco central dos EAU começou a diminuir. Já em janeiro de 2009, a taxa anual de crescimento da base monetária despencou para (-)36,5%, isto é, a base monetária estava 36,5% menor do que estava em janeiro de 2008. Como consequência, a taxa anual de crescimento da oferta monetária verdadeira caiu para (-)12,5% já em julho desse ano, o que significa que em julho desse ano a oferta monetária estava 12,5% menor do que estava em julho de 2008. Veja os gráficos.
À esquerda: variação anual da base monetária (em relação ao mesmo mês do ano anterior)
À direita: variação anual da oferta monetária verdadeira (em relação ao mesmo mês do ano anterior)
É justamente essa contração nas injeções monetárias que está atualmente colocando pressão sobre as várias atividades que surgiram em decorrência exatamente das volumosas injeções monetárias ocorridas anteriormente.
É de se esperar que outros emirados também não consigam escapar dos efeitos das políticas de expansão e contração praticadas pelo banco central - até porque, também nos outros emirados, essa política monetária frouxa estimulou o surgimento de novas e insustentáveis atividades econômicas, bem como a expansão das atividades que já existiam. Como resultado do declínio das injeções monetárias pelo banco central, essas atividades também estão atualmente sob pressão.
Conclusão
Um possível calote dos dois grandes conglomerados estatais de Dubai causou preocupações nos mercados financeiros, que ficaram temerosos com a possibilidade de uma nova rodada de turbulência econômica global. Dubai requisitou uma suspensão no pagamento de parte de sua dívida de $80 bilhões pelos próximos seis meses. O principal fator por detrás da crise em Dubai é a clássica política de expansão e contração que foi praticada pelo banco central dos EAU. A fenomenal expansão ocorrida em várias estruturas de Dubai ocorreu em grande parte como consequência da enorme injeção monetária praticado pelo banco central.
Assim, em dezembro de 2007, a taxa anual de crescimento da base monetária estava em 177%. O estouro da bolha veio como consequência da forte contração ocorrida nas injeções monetárias. Desde janeiro de 2008, o ritmo de injeções praticadas pelo banco central tem sido descendente. Em janeiro desse ano, a taxa anual de crescimento da base monetária despencou para (-)36,5%, isto é, houve uma contração da base monetária.
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