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Filosofia

Liberdade, ainda que tardia

24/11/2009

Liberdade, ainda que tardia

Quando me casei, levava comigo a certeza de que estava indo por um caminho onde os meus deveres não sufocariam os meus direitos de ter meus desejos e de lutar por eles. Desejos como prosseguir lado a lado com meu companheiro, mas ter como ele uma trajetória profissional com a melhora do meu curriculum e consequentemente da minha qualidade de vida, buscando sempre novos desafios. Uma vida onde a LIBERDADE caminhasse ao nosso lado.

Hoje fazendo uma análise da minha trajetória de vida, reconheço que me deixei levar pelas promessas do meu companheiro, promessas estas que nunca chegaram a ser cumpridas.

Enquanto casados, mudamos umas vinte e sete vezes, sempre indo ao encontro dos anseios dele. Seu trabalho exigia estas mudanças e eu fui seguindo-o, dando-lhe infra-estrutura, sempre com a esperança de que eu nesta mudança teria liberdade de dar os meus passos rumo ao meu crescimento.

Hoje tento encontrar o ponto onde deixei que ele dominasse minha vontade, porque eu sempre tive expediente para resolver qualquer problema que surgisse. E o que se tornou agora claro para mim é que ele usava da confiança que eu depositava nele em proveito próprio, fazia promessas e não as cumpria, usava de uma falsa bondade para com isto ir minando minha vontade própria. Delegava direitos que agora sei já estavam embutidos de muitos deveres. Enfim, foi me sufocando, me anulando e ficando com a fama de "Bonzinho", "perfeito" e qualquer resistência da minha parte seria taxada de rebelde sem causa já que, com tantos bônus, como eu poderia ser tão ingrata?

Enfim nosso casamento se acabou, pois ele encontrou, segundo suas próprias palavras, seu verdadeiro amor na pessoa de uma garota com a idade inferior à minha quando me casei com ele.

Me libertei? Imagine!

Qual não foi minha surpresa quando constatei que querem manter a mim e a todo cidadão presos, ignorantes, nulos e adormecidos como zumbis - zumbis sim, porque espero que acordemos todos antes que tenhamos todos os nossos direitos violados.

Minha indignação é porque:

Após a separação, fiquei com um imóvel que já era nosso e registrado. Ao passar para o meu nome e dos filhos, tive que pagar tantas taxas para a transferência, por volta de uns 5% do valor do imóvel, para que tivesse direitos de decisão sobre o mesmo - isto porque o pai dos meus filhos doou-lhes a parte dele. Sem contar que tenho que pagar uma taxa anual de IPTU para que o imóvel continue sendo meu e dos meus filhos.

Com dificuldades, minha filha comprou um carro para conseguir chegar ao término da faculdade, porque a mesma era de difícil acesso (longe). Só que, com a tal da crise mundial, foi junto com milhares de pessoas dispensada do emprego, ficando sem recursos suficientes por uns cinco meses e com isto não podendo pagar o seguro obrigatório de veículos e o IPVA. Consequentemente, ela foi impedida de transitar com o veículo porque se fosse autuada dirigindo corria o risco de ficar sem o mesmo até que tivesse dado a César o que o mantém no poder: IMPOSTOS.

Quando tentei abrir um pequeno negócio para meu sustento, fui obrigada a desistir, pois somando todas as taxas que teria de pagar para enfim ter um rendimento mensal, descobri que precisaria primeiro ter um rendimento mensal que me permitisse sustentar o negócio por um bom período para que depois ele me sustentasse. E aí se foi minha esperança de contribuir com o próximo, esperança de colocar no mercado nem que fosse uma vaga de emprego para um dos muitos cidadãos desempregados deste país. Acho que este seria um dos papéis de um governo - se é que precisamos de governo - que realmente quer fazer a diferença: deixar o empreendedor livre de tantos tributos para que possa investir mais no empregado, que é o seu capital de giro.

Aluguei nosso imóvel para uma pessoa que vive às custas de leis a seu favor. Exemplo: ela ocupa o imóvel com contrato e tudo mais registrado em cartório. A partir do segundo mês passou não mais pagar nenhum dos encargos (aluguel, luz, condomínio etc), e quando se entra com ação de despejo contra ela, as regras da justiça são favoráveis a ela, pois a partir daí ela tem de 3 a 6 meses para desocupar o imóvel, isenta de pagamentos - e vem vivendo assim sem se importar com as regras ditadas para pessoas de bem. E outra: se os lesados por ela alardearem isto, ela recorre à justiça e pode ser indenizada por danos morais. E o mais impressionante é que, nestes casos, a justiça trabalha com mais rapidez quando o caso favorece pessoas deste tipo, mostrando como a justiça é cega.

Mantenho os meus compromissos todos em dia, mas quando tenho algum problema com serviços que o governo regula descubro que, os deveres eu tenho de manter em dia, mas meus direitos, ah, aí são tão regulados e tão cheios de brechas, que acabam auxiliando aqueles que nos lesam.

Quando os direitos que instituíram para mim são violados, mesmo tendo cumprido com meus deveres, a indignação me visita e me sinto tentada a escrever como estou fazendo agora e perguntar: Quem sai ganhando com tantos regulamentos sem nos perguntar se queremos ou não ser taxados para sermos regulados? E com minha indignação eu mesma respondo:

  • Ganham aqueles que tudo fazem para que o povo não tenha acesso ao conhecimento, o que o levaria a pensar e escolher sem medo como melhor viver.
  • Ganham os filhos adotivos do governo sustentados por nós através das bolsas esmolas. Veja bem, no meu entender nenhum pai tem que receber bolsa alimentação para um filho freqüentar a escola; o próprio pai deveria se indignar com isto porque o pequeno ser que hoje o sustenta já está fadado a ser escravo sem direito a sequer se rebelar, pois não terá conhecimento e esclarecimento bastante para saber que nasceu livre e foi jogado na senzala para satisfazer aos inescrupulosos que tudo fazem para se manter no poder e que cuidam para que não se arrebente a cerca e nenhum dos seus escravos fuja em busca da liberdade que todo ser humano almeja e tem direito.
  • Ganham os marginais presos, cujas famílias recebem uma contribuição mensal; marginais que não precisam trabalhar para ter alimentação; que fazem rebelião, queimam colchões e fazem com que sejamos obrigados a pagar por mais colchões novos para eles. Digo mais: não me falta compaixão como podem estar pensando, porque o cidadão preso injustamente (e estes existem) se mantém no seu canto sem participar dessas barbáries; e se chega a fazê-lo é porque a turba o seqüestra e o obriga a fazer parte do tudo sem direito de escolha.

E como neste caso nós também somos obrigados a obedecer tantas regras feitas para nos "favorecer", acabamos confiando cegamente em falsas promessas de indivíduos que não querem o esclarecimento da grande maioria - aquela maioria que o elegeu. Não precisamos de quem nos faça promessas, temos que ter o direito de termos nossas próprias aspirações e o direito ainda maior de ter a liberdade para cumpri-las com o nosso próprio esforço.

O modelo de governo que ai se encontra se parece muito com o modelo usado por meu ex-marido. Só que com uma diferença: o marido eu tive a liberdade de escolher.

Não que eu venha agora a desculpar meu ex-marido; só quero mostrar que ele apenas seguiu o exemplo extraído do meio em que vivemos - um meio no qual tolher a liberdade do outro parece normal.

A duras penas estou aprendendo que não podemos abrir mão da nossa liberdade em prol da regulamentação de nossas vidas, algo que acaba sempre coroando de louros as minorias compostas por agentes do mal disfarçados em agentes do bem.

Chega de condicionamento!

Sobre o autor

Graça Varella

É uma mãe de família.

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