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Economia

O PIB é um indicador confiável de prosperidade?

15/10/2025

O PIB é um indicador confiável de prosperidade?

Quase nenhum outro termo molda tanto a discussão sobre política econômica quanto "crescimento". Quando o produto interno bruto (PIB, para abreviar) aumenta, isso é considerado prova de progresso, prosperidade e sucesso. Os políticos apontam para as taxas de crescimento para justificar suas ações, os bancos centrais confiam nelas para orientar sua política monetária e a mídia as relata como o pulso da nação.

Mas o que o PIB realmente mede? Ele reflete a prosperidade real de uma sociedade – ou apenas a soma de todas as atividades remuneradas, independentemente de serem úteis, prejudiciais ou meramente estatisticamente visíveis? Essas questões estão se tornando ainda mais importantes, pois muitos países ocidentais lutam há anos com a estagnação ou baixo crescimento. A Alemanha, por exemplo, registrou apenas um aumento muito pequeno em 2024, apesar dos gastos maciços do governo e de uma política monetária ultrafrouxa do Banco Central Europeu.

Governos e bancos centrais estão tentando reviver as estatísticas expandindo a dívida e criando dinheiro. Mas isso raramente leva à prosperidade real, mas sim a uma ocultação da realidade econômica. O crescimento é criado no papel – mas não o crescimento da produtividade, do capital e da riqueza sustentável. Crescimento não é o mesmo que prosperidade. Uma olhada nos números alemães ilustra a diferença. O PIB em 2024 rondou os 4,33 trilhões de euros, dos quais se subtrai a depreciação – ou seja, a perda de valor devido ao desgaste de máquinas, edifícios e equipamentos –, mantendo-se um produto interno líquido de cerca de 3,4 trilhões de euros. A diferença de quase 900 bilhões de euros mostra que uma parte significativa da produção é apenas utilizada para manter o que já existe. Isso significa que parte do crescimento é apenas um serviço de reparo. Somente o que vai além disso pode fluir para o consumo ou novos investimentos.

O crescimento não é, portanto, automaticamente um aumento da prosperidade. Também pode significar que são necessários esforços cada vez maiores para manter o mesmo padrão de vida. Além disso, o PIB mede apenas a atividade monetária, não sua qualidade. Quando uma tempestade destrói telhados, os gastos com reparos aumentam – o PIB cresce. Se, por outro lado, as famílias mantêm suas próprias casas sem gastar dinheiro, isso não importa. Essa cegueira para a substância é uma das maiores fraquezas do conceito comum de crescimento.

Para que os números de crescimento sejam significativos, a inflação deve ser levada em consideração. Porque quando os preços sobem, a quantidade de dinheiro cresce, mas não necessariamente a produção real. As estatísticas tentam corrigir esse efeito com índices de preços. O índice de Laspeyres calcula a variação de preço usando uma cesta de bens de um ano-base anterior. Por se basear em velhos hábitos de consumo, muitas vezes superestima a inflação. O índice de Paasche, por outro lado, usa a cesta atual de bens e, portanto, subestima a inflação. O índice de Fisher, uma média geométrica de ambos os métodos, é considerado a solução mais equilibrada.

Na prática, instituições como o Banco Central Europeu utilizam o chamado índice harmonizado de preços no consumidor (IHPC). Mas muitos economistas criticam esse índice por ignorar os aumentos de preços de ativos – como imóveis ou ações – e, portanto, subestima a desvalorização real do dinheiro. O resultado: oficialmente, o crescimento parece sólido, mas em termos reais o poder de compra está encolhendo. Muitas pessoas sentem essa discrepância diretamente – seus aluguéis, custos de energia e preços de alimentos estão subindo muito mais rápido do que a taxa oficial de inflação.

Nem todo crescimento é real. O verdadeiro crescimento capitalista ocorre quando mais é produzido, porque o conhecimento, a tecnologia e o estoque de capital se expandem. O crescimento ilusório, por outro lado, ocorre quando apenas mais dinheiro entra em circulação. Se o banco central mantiver as taxas de juros artificialmente baixas e aumentar a oferta monetária, o consumo e o investimento aumentarão inicialmente. Mas isso é enganoso. A queda artificial dos juros dá início a projetos que parecem lucrativos apenas sob as condições de dinheiro barato. Mais cedo ou mais tarde, fica claro que esses investimentos são construídos sobre a areia. Os preços estão subindo, a poupança está perdendo valor e a economia está entrando em crise. A teoria austríaca dos ciclos econômicos explica esse padrão como um "ciclo de expansão e recessão". O boom artificial, desencadeado pelo dinheiro barato, termina inevitavelmente na recessão – a fase de ajustamento em que os desenvolvimentos indesejáveis são corrigidos. Só esta crise voltará a criar espaço para um crescimento real e sustentável.

As fontes de prosperidade são a formação de capital e a divisão do trabalho. O crescimento não vem do gasto de dinheiro, mas da formação de capital. Isso significa que as pessoas economizam parte de sua renda para investir. Como resultado, máquinas e fábricas são construídas e novas tecnologias são desenvolvidas. Com cada aumento de capital, a produtividade do trabalho aumenta.

Em uma economia moderna, a prosperidade de cada indivíduo depende da produtividade de muitos outros. Um desenvolvedor de software em Munique se beneficia da precisão de um fabricante de ferramentas em Baden-Württemberg e do fornecimento de energia na Noruega. Essa divisão do trabalho é a verdadeira fonte do progresso. Quanto mais a divisão do trabalho se desenvolve, maior o padrão de vida. Crescimento, portanto, significa não apenas mais produção, mas uma coordenação cada vez maior entre milhões de decisões individuais – uma ordem espontânea que só pode emergir em uma economia de livre mercado.

Existem contadores de histórias na economia, assim como, por exemplo, a medicina tem seus charlatães. Aqui como lá, são proclamados remédios que não são bons ou mesmo prejudiciais. Mais recentemente, uma nova escola – a Teoria Monetária Moderna (MMT) – popularizou a ideia de que os estados podem criar dinheiro ilimitado, desde que haja recursos inexplorados. A ideia soa sedutora: sem falta de dinheiro, sem problemas de financiamento, apenas prioridades políticas. Mas essa abordagem confunde contabilidade com realidade. A criação de dinheiro não cria capital real e produtividade adicional. Apenas muda o poder de compra: aqueles que recebem o dinheiro recém-criado primeiro – geralmente bancos, estado e mercados financeiros – se beneficiam. Aqueles que pagam com ele mais tarde, como assalariados e poupadores, perdem valor. Esse "efeito Cantillon" leva à desigualdade e ao desalinhamento do capital. A MMT explica o crescimento no papel, não na realidade. Seu resultado é inflação, não prosperidade. O crescimento real não é um fim em si mesmo e não é uma quantidade puramente estatística. O fator decisivo não é que a economia cresça, mas como ela cresce. O crescimento do PIB não tem sentido se vier de dívidas, subsídios e bolhas de preços.

A Escola Austríaca de Economia é caracterizada pelo seu individualismo metodológico, subjetividade e teoria realista da ação. Enquanto a abordagem keynesiana se baseia em modelos matemáticos, suposições de equilíbrio e agregações estatísticas, a Escola Austríaca começa com o indivíduo que age. Ela não vê a economia como um sistema mecânico que pode ser controlado, mas como um processo vivo de decisões humanas caracterizadas por conhecimento, expectativas e incertezas. Em vez de modelar "a economia" como um todo, ela analisa como as pessoas agem com base em valores subjetivos, como os preços surgem como sinais e como ordens espontâneas, como mercados ou sistemas monetários se desenvolvem a partir de ações individuais. Essa perspectiva praxeológica – o estudo da ação humana – rejeita a ideia de que os processos econômicos podem ser controlados de forma eficiente pelo planejamento estatal, criação de dinheiro ou otimização matemática. Em vez disso, enfatiza a importância dos direitos de propriedade, do empreendedorismo e dos processos de mercado como agentes de coordenação e progresso econômico genuínos. O crescimento real nesse sentido é baseado em quatro pilares: poupança, investimento, inovação e livre comércio. Todos esses processos exigem tempo, confiança e direitos de propriedade estáveis. Se forem interrompidos pela intervenção do governo, política de dívida ou regulamentação excessiva, o crescimento não é promovido, mas impedido.

A Alemanha, como muitos outros países industrializados, está exatamente neste ponto hoje: impostos altos, burocracia excessiva, pressão demográfica e uma política monetária que alimenta a ilusão de crescimento. O que falta é um retorno à base da prosperidade real – formação de capital, empreendedorismo e responsabilidade pessoal.

O crescimento econômico é, em última análise, um processo intelectual. Começa com ideias que se traduzem em ações e confiança que possibilitam o investimento. O estado e o banco central podem criar condições estruturais – mas não podem comandar o crescimento. A prosperidade sustentável só pode ser alcançada onde a liberdade, a propriedade e os mecanismos de mercado estão em ação. O objetivo não deve, portanto, ser "mais crescimento" a todo custo, mas um melhor crescimento – crescimento baseado na criação de valor real, não em truques estatísticos ou monetários.

 

*Este artigo é baseado em uma palestra que o autor deu em 17 de setembro deste ano, em Münster, em um evento da Atlas Society em conjunto com o Hayek Club.

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Nota: as visões expressas no artigo não são necessariamente aquelas do Instituto Mises Brasil.

Sobre o autor

Antony Mueller

É doutor pela Universidade de Erlangen-Nuremberg, Alemanha e, desde 2008, professor de economia na Universidade Federal de Sergipe.

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