Economia
Dez lições que um liberal deve saber sobre educação financeira e investimentos
Dez lições que um liberal deve saber sobre educação financeira e investimentos
Nota do Editor:
Os investimentos não são uma ciência exata, mas tomar lições com as propostas pelo artigo a seguir e estudar uma teoria econômica sólida, como a Teoria Austríaca dos Ciclos Econômicos, ajuda a tornar bem-sucedidos aqueles que querem proteger seu patrimônio. Conheça a Imersão em Investimentos - teoria e prática do Instituto Mises Brasil, um curso presencial com o objetivo de prover as ferramentas para quem quiser se proteger da inflação e das crises. Acesse o site.
_____________________________________________
Sem a intenção de esgotar o tema, este artigo compila algumas das lições importantes que aprendi ao longo de minha jornada de estudos sobre investimentos e economia. Trata-se de pontos que considero essenciais para qualquer indivíduo que deseje planejar seriamente seu futuro financeiro — especialmente para nós, liberais, cientes dos diversos efeitos prejudiciais decorrentes da ação estatal.
- Entender como funcionam as previdências estatais
A Previdência brasileira, e outras ao redor do mundo, operam sob a lógica do pacto entre gerações: os trabalhadores ativos custeiam as aposentadorias de quem já saiu do mercado de trabalho. Trata-se de um regime de repartição, que só funciona bem enquanto houver muitos jovens contribuindo e poucos idosos aposentados — exatamente o oposto do que vem ocorrendo no Brasil e no mundo. Numa analogia, é possível afirmar que a previdência social se assemelha a um sistema de pirâmide, pois para ter condições de pagar os participantes antigos do sistema, ela depende, inevitavelmente, do fluxo de dinheiro vindo de novos entrantes.
Portanto, não faça planos de aposentadoria confiando no INSS. Com a dinâmica de rápido envelhecimento da população brasileira, a única forma desse sistema não quebrar é pagando cada vez menos aos aposentados — e cada vez mais tarde.
- Entender o impacto da inflação: no longo prazo, ela é o maior inimigo da sua vida financeira
E o causador da inflação é justamente o estado. Para se ter uma ideia, um aumento dos preços de 6% ao ano durante uma década faz com que um produto que custa R$ 100,00 passe a custar R$ 180,00. Com uma inflação de 6% ao ano, os preços praticamente dobram em 12 anos. Se repetirmos a taxa média de inflação dos últimos 10 anos, o valor de R$ 1 milhão hoje equivalerá a menos de R$ 200 mil em poder de compra daqui a 30 anos. Muitas pessoas planejam acumular seu primeiro milhão a longo prazo, sem se dar conta do efeito corrosivo da inflação.
- Esqueça rentabilidades nominais
Como a inflação dilapida nosso poder de compra, no fim das contas não importa quanto o investidor ganhou em termos nominais, mas sim o quanto ganhou em relação à inflação.
Uma rentabilidade nominal de 20% ao ano é excelente na Suíça, onde a inflação gira em torno de 2% ao ano. Esses mesmos 20% ao ano na Argentina - cuja inflação acumulada bateu 33,6% nos últimos 12 meses - significam que seus investimentos perderam poder de compra.
Portanto, não se paute por rentabilidades nominais.
- Além de causar inflação, o estado ainda cobra imposto sobre ela
Suponha que você comprou um imóvel por R$ 350 mil há 20 anos e o vende hoje por R$ 1 milhão. Sinto informar: você não teve lucro de verdade. Esse valor apenas acompanhou a inflação — ou seja, não houve valorização real. Mesmo assim, o estado cobrará imposto sobre esse “lucro”. É crucial diferenciar verdadeiros ganhos dos ganhos fictícios advindos da ilusão monetária (aumentos nominais que apenas repõem a perda inflacionária). E, infelizmente, os dois tipos de ganhos serão tributados pelo estado.
No Brasil, o investidor comprado em índice Bovespa desde janeiro de 2010 estaria com mais de 100% de valorização. Mas ao nos depararmos com a inflação do período, vemos que isso é um cenário de perda real. Mesmo assim, esse lucro nominal (inferior à inflação) sofreria tributação na carteira de um investidor no momento da venda.
- Ao investir em renda fixa, você está sempre emprestando dinheiro a um desses três entes
Governo (através dos títulos públicos); bancos (por meio CDBs, LCIs, LCAs etc.); empresas (através de debêntures, CRIs, CRAs etc.).
Costumo dizer que o investidor em renda fixa no fim das contas é um emprestador, e emprestar dinheiro ao governo é uma das atividades mais seguras que existem, simplesmente porque ele tem o poder de emitir moeda. Por isso, dificilmente ele dá calote de forma direta.
Já bancos e empresas apresentam maior risco de inadimplência, justamente por não terem esse poder.
Como disse um renomado gestor de fundos: “Governos podem fazer gol de mão — imprimir dinheiro para pagar suas contas.”
E, claro, isso tem uma consequência: inflação.
- O Tesouro Selic (LFT) é considerado o investimento mais seguro e estável da economia
Não existe investimento que renda mais do que o Tesouro Selic sem assumir riscos. Se a rentabilidade for maior, com certeza há risco envolvido — e você precisa entendê-lo.
- Mesmo o Tesouro Selic pode, em alguns cenários, não proteger da inflação
E isso já aconteceu no Brasil.
Geralmente, esse quadro ocorre quando os bancos centrais abrem mão da independência e passam a reduzir a taxa básica de juros com o intuito de auxiliar o governo a pagar menos encargos sobre a dívida pública.
Esse cenário é o que chamamos de repressão financeira: quando os juros pagos pelos títulos públicos pós fixados (a renda fixa mais conservadora) ficam abaixo da inflação.
Observe o gráfico abaixo:
No atual momento, a taxa básica de juros (Selic) está bem acima de inflação, oferecendo um bom rendimento real. Mas observe o que aconteceu entre 2020 e 2022 (repressão financeira).
- O governo também oferece títulos públicos que protegem da inflação, como os IPCA+ (as famosas NTN-B), mas é necessário cautela
Esses títulos corrigem o capital investido pela inflação (IPCA) e ainda pagam uma taxa de juros adicional. Mas atenção: esse ativo pode não oferecer proteção real se o governo passar a manipular o índice oficial de inflação. Neste tipo de investimento, sobretudo nos títulos com vencimento mais distante, também é importante compreender os efeitos da marcação a mercado e da tributação — aspectos um pouco mais aprofundados, mas merecem muita atenção do investidor.
- Mesmo sem manipulação, o IPCA quase nunca vai refletir a sua inflação pessoal
Cada pessoa ou família tem uma cesta de consumo própria, que pode ser muito diferente daquela usada para calcular o IPCA.
Por exemplo: se a gasolina e as mensalidades escolares tiverem alta forte, e esses itens tiverem um peso relevante no seu orçamento (maior do que na cesta do IPCA), sua inflação pessoal será maior do que a oficial, aquela que você verá divulgada nos jornais.
- Se você acha que seu dinheiro não deve financiar bancos ou governos, uma possibilidade é investir em ativos alternativos, como o ouro e o Bitcoin
Ouro e o Bitcoin são ativos cuja oferta não pode ser manipulada pelo estado — e, portanto, são alternativas contra a desvalorização monetária. Costuma-se dizer que não é o ouro ou o Bitcoin que se valorizam, mas sim as moedas fiduciárias (dólar, euro, real) que se desvalorizam ao longo do tempo. As famosas metas de inflação adotadas por governos nada mais são do que metas para a perda do poder de compra da população. Dessa forma, moedas estatais são como um cubo de gelo fora de geladeira que, inevitavelmente, se derretem com o tempo.
Porém, um ponto importante: principalmente no caso do Bitcoin, prepare-se para oscilações consideráveis de preço. É recomendável manter pelo menos uma reserva de emergência em ativos mais estáveis. Isso evita o risco de, em caso de necessidade, você ter que vendê-los em momentos desfavoráveis, como durante quedas abruptas de preço.
Conclusão
No mundo em que vivemos, a perda do poder de compra devido à inflação é uma constante em nossas vidas. Por isso, é tão importante entender formas de lidar e se proteger desse cenário. Conforme dito no início, este texto traz apenas algumas das muitas lições importantes para a vida financeira de um indivíduo. O objetivo jamais seria esgotar um tema tão amplo como o mundo dos investimentos. Outros assuntos, como disciplina financeira, ciclos econômicos, diversificação, juros compostos, tributação e finanças comportamentais, fazem parte desse universo e são tão importantes quanto para construirmos um futuro financeiro sólido.
_____________________________________________
Nota: as visões expressas no artigo não são necessariamente aquelas do Instituto Mises Brasil.
Comentários (0)
Deixe seu comentário