O fim do lastro em ouro e o início da inflação perpétua
O fim do ouro e o início da inflação
Em 15 de agosto de 1971, o presidente Richard Nixon anunciou a suspensão da conversibilidade do dólar em ouro, evento conhecido como o "Nixon Shock". Essa decisão encerrou o sistema de Bretton Woods, que desde 1944 fixava o valor do dólar em US$ 35 por onça de ouro. Para a Escola Austríaca de Economia, esse movimento representou o abandono definitivo de um padrão monetário sólido, substituindo-o por uma moeda fiduciária sujeita à manipulação governamental e à inflação crônica. Uma moeda fiduciária é baseada na confiança no seu emissor e não em lastro em algo como o ouro.
Em 1933, era proibido ter ouro nos EUA
Desde 1900, o dólar estava atrelado ao ouro, com o Federal Reserve obrigado a manter reservas de ouro equivalentes a 40% do valor da moeda emitida. Em 1933, durante a Grande Depressão, o presidente Franklin D. Roosevelt emitiu a Ordem Executiva 6102, proibindo a posse privada de ouro e exigindo sua entrega ao governo em troca de US$ 20,67 por onça, sob pena de 10 mil dólares de multa e/ou 10 anos de cadeia. Essa medida visava aumentar a base monetária e permitir a desvalorização do dólar, elevando o preço do ouro para US$ 35 por onça com a Lei de Reserva de Ouro de 1934.
Bretton Woods, o dólar como moeda global
Após a Segunda Guerra, os aliados com a liderança bélica dos EUA não tinham muita condição de opinar sobre um sistema financeiro global pareado no dólar. O sistema de Bretton Woods estabeleceu o dólar como a principal moeda de reserva mundial, com conversibilidade fixa em US$ 35 por onça de ouro. Esse arranjo proporcionou estabilidade cambial e facilitou o comércio internacional. No entanto, o aumento da emissão de dólares pelos EUA para financiar déficits fiscais e comerciais levou a pressões sobre as reservas de ouro, culminando no abandono do padrão ouro em 1971.
O Choque Nixon e as implicações econômicas
O Choque Nixon ocorreu em 15 de agosto de 1971, quando o presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon, anunciou a suspensão unilateral da conversibilidade do dólar em ouro. Esse evento foi um divisor de águas no sistema monetário internacional, pois representou o fim prático de Bretton Woods, acordo estabelecido em 1944 que vinculava o dólar ao ouro e as demais moedas ao dólar.
Até então, havia uma relação de confiança na qual o dólar era entendido como um título representativo de ouro, isto é, detentores de dólares, inclusive governos estrangeiros, tinham a expectativa de convertê-los em ouro a uma taxa fixa de 35 dólares por onça.
Os motivos que levaram a essa ruptura eram claros. A economia americana enfrentava pressões crescentes na década de 1960, em grande parte devido aos elevados gastos com a Guerra do Vietnã e com os programas sociais da chamada "Great Society". Essas despesas exigiram expansão monetária, o que despertou desconfiança entre os parceiros internacionais. Diversos países passaram a solicitar a conversão de seus dólares em ouro, percebendo que havia mais dólares em circulação do que reservas de ouro disponíveis para lastreá-los. Esse desequilíbrio expôs a fragilidade do sistema e minou a credibilidade dos Estados Unidos.
As consequências desse golpe global
As consequências foram profundas. Em primeiro lugar, a suspensão da conversibilidade abriu margem para uma expansão muito maior da oferta de moeda. Sem o limite imposto pelo ouro, o governo americano pôde financiar déficits e aumentar a liquidez sem restrições, o que resultou em inflação elevada ao longo da década de 1970. Essa alta de preços corroeu o poder de compra da população e gerou instabilidade em diversos setores.
Além disso, houve uma perda de confiança internacional. Vários países reduziram suas reservas em dólares, preocupados com a sustentabilidade da moeda americana como referência mundial. A transição para um regime de câmbio flutuante aumentou a volatilidade nos mercados financeiros, já que, até então, as taxas de câmbio eram relativamente previsíveis. A incerteza cambial passou a ser um componente permanente da economia global.
Outro efeito relevante foi o aumento da dívida pública. Com a possibilidade de emitir moeda sem amarras, o estado encontrou incentivos para expandir seus gastos e se endividar, transferindo o custo para as futuras gerações. A disciplina fiscal se enfraqueceu, e isso abriu espaço para ciclos recorrentes de déficits, endividamento e pressão inflacionária.
O "Nixon Shock" marcou o fim de um mundo onde a moeda estava vinculada a um ativo tangível e inaugurou a era da moeda fiduciária, baseada somente na confiança e no decreto governamental. Para os pensadores da tradição austríaca, a lição é evidente: quando não há limites à emissão de moeda, abre-se espaço para sua manipulação política, resultando em desequilíbrios recorrentes e crises cíclicas. A estabilidade monetária, defendem, depende de padrões sólidos e restrições reais, como o ouro, que contenham os excessos dos governos.
No contexto de dívidas recordes, inflação persistente e instabilidade nos mercados globais, a reflexão sobre 1971 permanece atual. O retorno a mecanismos mais disciplinados pode oferecer não apenas um antídoto para a perda contínua do poder de compra das sociedades, mas também uma via para restaurar a confiança e a previsibilidade nos sistemas monetários internacionais.
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Nota: as visões expressas no artigo não são necessariamente aquelas do Instituto Mises Brasil.
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