Krugman está errado sobre o Brasil, o PIX e as criptomoedas
Nota do Editor:
Os defensores e apologistas da coerção estatal estão por todos os lados, muitas vezes trajados de intelectuais e exercendo enorme influência. Esse é o caso de Paul Krugman, economista keynesiano vencedor do Nobel de Economia. Krugman é famoso por seus comentários contra mercados livres e suas previsões infundadas e erradas - como nas diversas vezes em que ele se levatou para dizer que estava tudo bem pouco antes da crise de 2008 derrubar mercados no mundo todo.
Desta vez, Krugman fala sobre o Brasil, mais precisamente sobre o sistema de pagamentos imposto pelo estado, o Pix, que lhe parece um sucesso absoluto. Claro, Krugman defende o estado forte e vigilante sobre as ações do indivíduos, e despreza completamente a liberdade. Para ele, não é um problema que o estado vigie todas as transações dos cidadãos e tenha o enorme poder de exlcuir o menor dos dissidentes.
Esse é o tipo de economista que influencia o debate econômico, pendendo a balança sempre para vez mais poder ao estado. E é esse tipo de economista que faz análises econômicas e financeiras sobre a necessidade ou o sucesso de políticas monetárias inflacionistas. Sua influência é destrutiva e seus erros são frequentes - o que pouco importa, desde que ele siga justificando intervencionismo e recebendo prestígio no meio dos políticos.
Mas qual o efeito que isso tem sobre a sua vida? Economistas como Krugman influenciam tomadas de decisões sobre investimentos, o que pode corroer seu patrimônio. É contra isso que nós criamos nossa Imersão em Investimentos, um curso que vai ensinar a aplicar a teoria austríaca dos ciclos econômicos e ajudar a proteger sua renda e seu patrimônio da inflação e das crises. A Imersão ocorre em São Paulo, nos dias 9, 10 e 11 de outubro. Clique no link para saber mais.
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Em uma coluna recente, Paul Krugman se maravilha com o sistema Pix do Brasil, uma rede de pagamentos digitais administrada pelo governo que rapidamente ultrapassou outros métodos de pagamento sem dinheiro vivo no país. Ele usa o Pix para zombar dos opositores das moedas digitais dos bancos centrais (CBDCs) e para desprezar o suposto fracasso das criptomoedas em cumprir suas promessas. Mas, ao fazer isso, Krugman ignora quase tudo o que realmente importa sobre as criptomoedas e sobre a própria liberdade.
Comecemos pelo núcleo do argumento de Krugman: o Brasil construiu um sistema público de pagamentos rápido, barato e acessível, portanto os Estados Unidos deveriam fazer o mesmo. Ele apresenta o Pix como uma versão superior ao Zelle, sendo melhor pelo fato de ser operado pelo Banco Central. E, já que 93% dos brasileiros utilizam o Pix, ele toma isso como prova de que sistemas públicos superam os privados e de que o dinheiro digital administrado pelo governo é o futuro.
Mas então surge uma comparação enganosa. Krugman contrapõe os 93% de uso do Pix no Brasil com os 2% de americanos que usaram criptomoedas para pagamentos em 2024, utilizando essa diferença para declarar as cripto um fracasso. Trata-se de uma falácia clássica do tipo “comparar maçãs com laranjas”, e revela um equívoco ainda mais profundo sobre o que as criptomoedas realmente buscam fazer.
O Bitcoin nunca foi projetado para substituir o dinheiro fiduciário em um mundo em que o fiat é sustentado por leis de curso forçado, monopólios impostos e infraestrutura subsidiada pelos contribuintes. É claro que as pessoas no Brasil usam mais o Pix do que o Bitcoin, assim como usam mais reais do que ouro. Popularidade sob coerção estatal não é o mesmo que preferência voluntária. Adoção nos diz muito pouco sobre legitimidade quando uma opção é legalmente obrigatória e as outras são ativamente desencorajadas ou excluídas.
Krugman também mistura as fronteiras entre stablecoins, CBDCs e criptomoedas, como se todas fossem intercambiáveis. Mas essa confusão é, no mínimo, preguiçosa. Uma stablecoin como a USDC, lastreada por instituições privadas e usada de forma voluntária, não é a mesma coisa que uma CBDC emitida pelo estado, que pode ser vigiada, censurada ou usada como arma política. E nenhuma dessas se equivale ao Pix, um sistema de pagamentos de varejo de propriedade do governo, construído sobre um monopólio da moeda fiduciária já existente. Comparar o Bitcoin ao Pix é como comparar o ouro ao Venmo. Eles resolvem problemas completamente diferentes e não competem sob os mesmos termos.
Krugman parece acreditar que, pelo fato de o Pix ser fácil de usar, ele resolveu exatamente o problema que as criptomoedas pretendem solucionar. Isso é como dizer que o Detran resolveu o problema do transporte apenas porque emite carteiras de motorista rapidamente. O que a cripto oferece é algo fundamentalmente diferente: a possibilidade de optar por não participar de sistemas controlados pelo estado. Isso significa privacidade. Isso significa soberania financeira. Isso significa não precisar de um governo.
Na verdade, o próprio sucesso do Pix revela o perigo que Krugman se recusa a reconhecer. Quando um governo controla não apenas a oferta de dinheiro, mas também os trilhos de todos os pagamentos digitais, ele detém o monopólio tanto do ativo quanto de sua transmissão. Isso é poder absoluto, e é incompatível com a liberdade individual.
O Brasil já começa a mostrar como isso pode se materializar.
Em 2020, o WhatsApp, usado por praticamente toda a população do país, tentou lançar seu próprio sistema de pagamentos. Foi bloqueado pelo Banco Central. Não porque representasse risco aos consumidores, mas porque competia com o Pix. Isso não é inovação. É protecionismo vestido com as roupas do estado. Como uma empresa privada poderia, de fato, competir com um sistema que o governo ao mesmo tempo opera e regula?
Krugman descarta os temores de vigilância ao assegurar aos leitores: “Se algum dia criarmos uma CBDC, ela certamente envolverá uma proteção de privacidade equivalente. Ou você confia no Estado de Direito, ou não confia”. Mas a história e a economia nos mostram que o poder tende a se expandir até que algo o contenha. Conceder ao estado ainda mais controle centralizado sobre o dinheiro, os pagamentos e a infraestrutura financeira não é progresso. É uma regressão para um sistema em que cada transação pode ser rastreada, cada dissidente pode ser punido e cada alternativa privada pode ser esmagada.
E sejamos claros: isso não é uma preocupação partidária. É estrutural. Uma vez que a infraestrutura esteja estabelecida, não importa qual partido esteja no poder; o que importa é que o governo poderá monitorar, congelar ou bloquear sua vida financeira com o simples apertar de um botão.
Ironicamente, a celebração do Pix por Krugman e o desprezo pelas cripto provavelmente terão o efeito oposto ao que ele pretende. À medida que mais pessoas perceberem a extensão do controle governamental sobre os trilhos do sistema fiat, a demanda por alternativas só crescerá. O Pix não mata as criptomoedas, ele as legitima como corretas. Apesar de ter mercados de capitais muito menos desenvolvidos, o Brasil lançou seu primeiro ETF de bitcoin antes dos Estados Unidos e também tem acesso a um ETF de altcoin, algo que a SEC já bloqueou duas vezes.
Krugman parece preso a uma visão de mundo em que todo dinheiro deve ser politicamente gerido, em que o valor deriva da autoridade governamental e em que a liberdade é algo concedido, não assumido. Mas a ideia central por trás das criptomoedas, especialmente do Bitcoin, não são baixas taxas de transação nem inclusão financeira, como Krugman define de forma limitada. A verdadeira inovação é a criação de um sistema monetário que ninguém controla e que ninguém pode derrubar.
A força do Bitcoin reside em sua incorruptibilidade. Suas regras não são aplicadas por homens, mas pela matemática, por garantias criptográficas, não por acordos políticos. Ele oferece o que nenhuma CBDC jamais oferecerá: liberdade monetária e financeira respaldada não por leis, mas por códigos.
E sim, talvez apenas dois por cento dos americanos tenham usado cripto para pagamentos em 2024. Mas isso é irrelevante. O Bitcoin floresce onde ele é mais necessário: entre venezuelanos fugindo da hiperinflação, ucranianos escapando da invasão e nigerianos contornando controles de capital. Ele ganha valor justamente onde o sistema falha, e é exatamente isso que o torna valioso.
Paul Krugman enxerga o Pix como o futuro do dinheiro. Mas o que ele realmente celebra é o futuro do controle estatal. Para aqueles de nós que valorizamos a liberdade, a privacidade e a concorrência, isso não é futuro algum.
Este artigo foi originalmente publicado no The Daily Economy.
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Nota: as visões expressas no artigo não são necessariamente aquelas do Instituto Mises Brasil.
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