Esse site usa cookies e dados pessoais de acordo com os nossos Termos de Uso e Política de Privacidade e, ao continuar navegando neste site, você concorda com suas condições.

< Artigos

Economia

Por que algumas nações crescem e outras permanecem estagnadas?

02/07/2025

Por que algumas nações crescem e outras permanecem estagnadas?

Há séculos economistas e pensadores tentam responder a uma pergunta simples, mas crucial: por que algumas nações prosperam e outras permanecem estagnadas? Desde os alertas de Thomas Malthus sobre a escassez de recursos frente ao crescimento populacional, até os modelos de crescimento de Harrod e Domar, que buscavam entender como manter a economia em equilíbrio entre investimento e poupança, a busca por essa resposta atravessa gerações. Na segunda metade do século XX, Robert Solow introduziu a ideia de que o progresso técnico — a produtividade — era o principal motor do crescimento de longo prazo. Mais recentemente, Daron Acemoglu e James Robinson ampliaram esse debate ao destacar o papel das instituições: países crescem quando criam incentivos para inovação, proteção à propriedade e participação ampla na economia.

Essas diferentes escolas têm algo em comum: todas reconhecem que crescimento sustentável não se dá por acaso — e, sobretudo, não é fruto de destino geográfico, raça, clima ou cultura. As nações que prosperam não o fazem por sorte ou por condições naturais, mas porque tomaram decisões institucionais acertadas. O crescimento é uma construção deliberada, resultado de escolhas políticas, estruturação de boas instituições e, acima de tudo, da capacidade de uma sociedade em produzir mais com menos. Em outras palavras: da sua produtividade.

Países como Coreia do Sul, Vietnã e Botswana são exemplos notáveis de decolagem econômica. Cada um a seu modo superou armadilhas institucionais e apostou em políticas de longo prazo voltadas à educação, infraestrutura, abertura comercial e estabilidade. Em 1920, a Argentina era cinco vezes mais rica que a Coreia do Sul; hoje, a Coreia supera a Argentina em mais de quatro vezes. A razão? Enquanto a Coreia investiu em indústria e capital humano, a Argentina viveu ciclos repetitivos de instabilidade e perda de competitividade.

No sudeste asiático, o Vietnã multiplicou por dez o seu PIB per capita desde os anos 1990. O salto foi possível graças à reforma Đổi Mới, que abriu a economia ao capital estrangeiro, estimulou a agricultura e atraiu a manufatura intensiva em trabalho. Estive recentemente em Ho Chi Minh City e pude observar de perto a vitalidade econômica e o dinamismo urbano de um país que decidiu trilhar um caminho de abertura com pragmatismo e foco em resultados. Enquanto isso, o Paquistão permaneceu estagnado, amarrado a uma economia extensiva, dependente de remessas externas e instabilidade fiscal.

O mesmo padrão se observa ao comparar Botswana e Níger. O primeiro aproveitou suas reservas de diamantes para financiar infraestrutura, diversificação econômica e educação. Já o segundo continuou preso à agricultura de subsistência e crises políticas. A diferença não está nos recursos, mas na forma como as instituições organizam esses recursos em prol do desenvolvimento.

Na América Latina, a história é menos alentadora. A região segue presa a um modelo de crescimento baseado na expansão da força de trabalho, não na produtividade. Segundo dados do Banco Mundial, a TFP da América Latina cresceu a uma média de apenas 0,6% ao ano entre 1990 e 2019, enquanto nos países do Leste Asiático esse avanço foi de 2,8% no mesmo período. Em vez de fazer mais com menos, a região seguiu dependente do aumento de mão de obra e capital, sem avanços significativos na eficiência.

No caso brasileiro, a estagnação é ainda mais alarmante. Como mostra levantamento da FGV, o Brasil tem produzido cada vez menos riqueza com os mesmos insumos — um claro declínio da TFP. A produtividade do trabalho estagnou desde meados dos anos 1980, e o país sequer conseguiu sustentar o impulso inicial trazido pela estabilização monetária dos anos 1990. Para se ter uma ideia da defasagem: são necessários três trabalhadores brasileiros para gerar o mesmo que um trabalhador norte-americano. Essa diferença não se reduz apenas com mais investimento, mas com eficiência sistêmica.

A origem disso tem nome e sobrenome: Custo Brasil. Trata-se de um conjunto de entraves sistêmicos que encarecem o investimento, desestimulam a inovação e punem a produção. Não se trata apenas de infraestrutura precária. O Custo Brasil inclui a complexidade tributária — com mais de 60 mil normas fiscais em vigor —, a lentidão do Judiciário — que torna imprevisível a resolução de contratos —, e o excesso de licenças e burocracias que atrasam projetos por anos. Para citar um exemplo prático, o custo logístico no Brasil representa 12,3% do PIB, enquanto na OCDE essa média gira em torno de 9,4%. O tempo médio para abrir uma empresa ainda ultrapassa 23 dias em muitas capitais. Tudo isso forma um ambiente de negócios onde o risco é alto e o retorno incerto.

Segundo o Fórum Econômico Mundial, o Brasil ocupa a 78ª posição em infraestrutura e segue mal colocado em pilares como eficiência institucional e ambiente regulatório. Estudos indicam que o custo da má infraestrutura representa 17,1% do custo total de se fazer negócios no país. É uma trava invisível que desestimula o setor produtivo e impede o florescimento de uma economia moderna, integrada e competitiva.

Diante desse cenário, é preciso repensar o foco da política econômica. Em vez de políticas pontuais voltadas à demanda — como desonerações temporárias ou estímulos de curto prazo — o Brasil precisa de uma estratégia centrada na oferta, ou melhor, na remoção das barreiras que impedem a oferta de prosperar. A principal política de crescimento do país deveria ser a redução estrutural do Custo Brasil. Isso inclui melhorar a infraestrutura, simplificar o sistema tributário, reformar o estado, modernizar marcos legais e tornar o ambiente de negócios mais confiável. Nenhuma política industrial será eficaz se a base institucional continuar minando a produtividade.

Quando o Custo Brasil cai, o investimento sobe. E com ele vem o crescimento sustentável — puxado pela eficiência, pela inovação e pela confiança do setor privado. Esse deve ser o norte da política econômica: criar as condições para que o Brasil seja um país onde produzir seja mais barato, mais simples e mais seguro. O crescimento virá não por decreto, mas pela liberação das forças produtivas hoje sufocadas.

_____________________________________________

Nota: as visões expressas no artigo não são necessariamente aquelas do Instituto Mises Brasil.

Sobre o autor

Fernando Freire Dutra

Professor, Mestre em Negócios Internacionais pela Georgetown University.

Comentários (4)

Deixe seu comentário

Há campos obrigatórios a serem preenchidos!