Economia
Autoridades ocidentais continuam pressionando nações africanas a descarbonizar
Autoridades ocidentais continuam pressionando nações africanas a descarbonizar
Autoridades ocidentais continuam a pressionar os países africanos a abandonarem os combustíveis fósseis em favor de fontes de energia renovável. No entanto, tal transição pode ser prejudicial ao crescimento econômico da África. As energias renováveis ainda são caras e pouco confiáveis, enquanto os combustíveis fósseis oferecem a energia constante necessária para a industrialização. A meta ocidental de alcançar "emissões líquidas zero" envolve trilhões de dólares, e é improvável que os países ocidentais compensem a África pelas oportunidades de desenvolvimento perdidas. Em vez de seguir políticas equivocadas, as nações africanas deveriam priorizar seu próprio progresso econômico e resistir às pressões externas.
A transição para energias renováveis enfrenta diversos obstáculos, conforme destacado em um estudo recente de Kayla P. Garrett e colaboradores. A pesquisa aponta a infraestrutura limitada, a congestão das redes elétricas e a competição por recursos como barreiras significativas para alcançar metas de energia renovável. Mesmo em países desenvolvidos, que possuem infraestrutura superior, as energias renováveis não têm conseguido atender à demanda de forma confiável. As necessidades energéticas da África são ainda mais pronunciadas, pois os países requerem eletricidade consistente e acessível para alimentar indústrias, residências e infraestrutura crítica. A natureza intermitente da energia solar e eólica, combinada com os altos custos de armazenamento e atualizações das redes, torna impraticável para nações com economias já sobrecarregadas dependerem exclusivamente de fontes renováveis.
Da mesma forma, o custo para alcançar emissões líquidas zero é astronômico. Segundo John M. Deutch, no artigo “Atingir emissões líquidas zero é uma solução possível para o problema climático?”, implementar políticas de neutralidade de carbono em escala global exigiria trilhões de dólares por ano, um gasto que até mesmo as nações mais ricas têm dificuldade em sustentar. Já os países em desenvolvimento simplesmente não podem se dar ao luxo de desviar recursos de setores essenciais, como saúde, educação e desenvolvimento de infraestrutura, para financiar uma transição verde que, na prática, se mostra inviável.
Além disso, as nações ocidentais prometeram oferecer assistência financeira para apoiar a transição energética dos países mais pobres, mas essas promessas, em sua maioria, continuam não cumpridas. Na Conferência das Nações Unidas sobre o Clima de 2009, os países desenvolvidos se comprometeram a destinar 100 bilhões de dólares por ano para apoiar iniciativas climáticas das nações em desenvolvimento. No entanto, esses compromissos financeiros não foram honrados, e os países em desenvolvimento afirmam ter mais de 1 trilhão de dólares em recursos prometidos que ainda não foram entregues. Além disso, não há expectativa realista de que o Ocidente vá compensar de forma justa a África por abrir mão do uso de combustíveis fósseis.
Forçar os países em desenvolvimento a descarbonizar é antiético, como argumentado por V. Ismet Ugursal no estudo "A ética da descarbonização para os pobres". A pesquisa demonstra que o acesso a energia barata e confiável é um motor fundamental para o desenvolvimento econômico e a redução da pobreza. Historicamente, as nações industrializadas dependeram dos combustíveis fósseis para alcançar os níveis de prosperidade de que hoje desfrutam. Negar à África essa mesma oportunidade é, ao mesmo tempo, hipócrita e imoral. Ugursal enfatiza que a superação da pobreza depende do aumento do consumo de energia; no entanto, as políticas climáticas atuais ameaçam aprisionar milhões de pessoas na miséria. As nações ricas continuam explorando combustíveis fósseis sempre que isso lhes convém, como ficou evidente com o retorno da Europa ao carvão durante a crise energética de 2022. Enquanto isso, tentam impor restrições energéticas à África, sem considerar os impactos sobre as economias africanas.
A pressão por uma transição verde não é apenas impraticável, mas prejudica ativamente a produtividade econômica do continente. De forma bastante pertinente, um estudo conduzido por Ligane Sene e El Hadji Fall, que analisa os custos de produtividade da transição energética verde na África, revela que a substituição por fontes renováveis levará a perdas de produtividade e à redução da produção econômica. As indústrias africanas dependem de energia estável e acessível para se manterem competitivas. A elevação dos custos energéticos paralisaria setores fundamentais como a manufatura e a mineração, que são pilares do desenvolvimento econômico.
As economias ocidentais já sentiram as consequências das políticas contra os combustíveis fósseis. O Reino Unido, por exemplo, aprovou leis com metas de emissões líquidas zero que resultaram em aumentos vertiginosos nos custos de energia para as empresas. Em contraste, os Estados Unidos recorreram à extração por fraturamento hidráulico (fracking) para manter os preços da energia relativamente baixos. As nações africanas devem aprender com esses fracassos e evitar o tipo de autossabotagem econômica que ocorreu no Reino Unido.
Os governos africanos também devem resistir à tentação de adotar metas relacionadas a critérios ambientais, sociais e de governança, conhecidas como ESG. Essas diretrizes muitas vezes são promovidas como financeiramente vantajosas, mas na prática têm se mostrado estratégias de investimento ineficazes. A Nigéria e outros países africanos precisam abandonar as políticas baseadas em ESG, pois elas impõem encargos financeiros desnecessários sem oferecer retorno econômico. Adotar estratégias de crescimento pragmáticas, com foco no desenvolvimento de combustíveis fósseis, tende a trazer resultados muito mais positivos para os Estados africanos.
Além disso, a mudança no cenário político dos Estados Unidos deve encorajar os líderes africanos a resistirem às políticas climáticas impostas pelo Ocidente. Com Donald Trump como presidente, a era da pressão americana por conformidade climática pode estar chegando ao fim. Sendo assim, as nações ocidentais que insistem na descarbonização estão, na verdade, apenas assumindo posições ideológicas. A África precisa evitar os erros cometidos pelos países ocidentais e traçar seu próprio futuro energético, agora com o respaldo de uma administração americana que apoia os combustíveis fósseis.
O caminho da África rumo ao desenvolvimento econômico deve priorizar fontes de energia confiáveis e acessíveis. As exigências do Ocidente por metas de emissões líquidas zero são irreais, custosas e, no fim das contas, prejudiciais ao progresso africano. A energia renovável ainda é insuficiente para atender às necessidades de industrialização do continente, e o argumento ético de impor a descarbonização aos países em desenvolvimento é indefensável. As nações africanas devem rejeitar as metas ESG, aprender com os fracassos das políticas energéticas ocidentais e aproveitar seus recursos fósseis para garantir prosperidade econômica. Ignorar o ativismo climático equivocado vindo do Ocidente não é apenas uma questão de interesse nacional, é uma necessidade para o futuro da África.
Este artigo foi originalmente publicado no Mises Institute.
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Nota: as visões expressas no artigo não são necessariamente aquelas do Instituto Mises Brasil.
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