A ajuda financeira do Ocidente só atrapalha a África
A Conferência de Berlim (1884–1885), que dividiu a África entre as potências europeias, permanece como uma das maiores indecências da história da humanidade — independentemente dos efeitos subsequentes do domínio ocidental sobre suas colônias africanas. O fato, incontestável, é que, mesmo após o fim da partilha e com o avanço do processo de descolonização, a maioria dos países africanos não conseguiu se desenvolver, apesar do tempo transcorrido e da contínua ajuda financeira do Ocidente.
O pensamento anticolonial acreditava que a independência política — chamada, com frequência, de “libertação” — impulsionaria naturalmente o progresso africano. Para alcançar a prosperidade definitiva, argumentava-se, seria necessário que os “usurpadores” europeus pagassem pelos crimes cometidos, e o fizessem em dinheiro. De fato, pagaram — em generosas somas que ultrapassam a cifra de bilhões de dólares em ajuda internacional. Mas o problema foi resolvido?
A resposta negativa veio, em boa medida, da própria África. Em 2002, o então presidente do Senegal, Abdoulaye Wade, declarou: “Nunca vi um país se desenvolver por meio de ajuda (...); os países que se desenvolveram (...) acreditaram em mercados livres.”
A economista Dambisa Moyo, pesquisadora de Harvard e nascida na Zâmbia, uma das mais proeminentes estudiosas da questão, chega à mesma conclusão de Wade. Em seu livro Dead Aid (2009), pergunta: “Mais de um trilhão de dólares em assistência ao desenvolvimento, nas últimas décadas, melhoraram a situação dos africanos? Não. Eles estão em situação muito pior.” Segundo Moyo, entre 1970 e 1998 — período posterior à presença colonial —, a pobreza no continente africano aumentou de 11% para 66%, enquanto o fluxo de recursos internacionais crescia de forma exponencial.
Outros autores corroboram essa perspectiva. James Ferguson, antropólogo e crítico das políticas de desenvolvimento, afirma: “As intervenções de ajuda externa, em vez de promoverem o progresso, frequentemente servem para reforçar o poder estatal centralizado e despolitizar a realidade social.” Já William Easterly, economista americano, aponta: “A tragédia da ajuda é que ela continua a ser comandada por planificadores que impõem soluções de cima para baixo, ignorando o conhecimento local e a demanda real.”
Este ponto levantado por Easterly é central para entender o fracasso da ajuda externa: boa parte dos países africanos, especialmente durante a Guerra Fria, adotou modelos socialistas, entregando seu destino a burocracias centralizadoras que acreditavam saber o que cada cidadão deveria produzir e consumir. Nenhum volume de recursos externos é capaz de compensar o desastre causado pelo planejamento estatal.
Outro aspecto frequentemente ignorado é o impacto da ajuda humanitária sobre a economia local. A entrada contínua de doações, promovida por ONGs e celebridades movidas por uma sensibilidade difusa, desestimula o empreendedorismo e prejudica o comércio interno. James Shikwati, economista queniano, adverte: “A ajuda ao desenvolvimento enfraquece os mercados locais e reduz o espírito de empreendedorismo de que tanto precisamos.”
Mas não é apenas a adoção de políticas econômicas equivocadas que afunda o continente. A corrupção endêmica das elites políticas africanas faz com que boa parte da ajuda internacional sequer chegue à população necessitada, servindo antes para sustentar as engrenagens autoritárias de regimes autocráticos.
Daron Acemoglu, Simon Johnson e James A. Robinson, laureados com o Prêmio Nobel de Economia de 2025, defendem que o desenvolvimento econômico depende fundamentalmente das instituições políticas e econômicas. Sociedades com instituições inclusivas — aquelas que promovem a participação popular, garantem os direitos de propriedade e asseguram o Estado de Direito — tendem a prosperar. Em contraste, instituições extrativas, que concentram o poder e os recursos em uma elite, comprometem o progresso.
Seria tentador imaginar que a simples transposição institucional do Ocidente para a África resolveria os problemas do continente. Melhores instituições trariam, em teoria, mais progresso social e econômico. No entanto, essa ideia ignora obstáculos profundos: tensões tribais, traços culturais coletivistas e a persistência de estruturas sociais refratárias ao dinamismo do mercado e ao espírito de inovação. Não basta importar modelos — é preciso criar condições internas para que eles floresçam.
Enfim, é necessário um debate franco e estratégico sobre os rumos da África. Existem experiências positivas — como a do Botsuana, que apostou na economia de mercado —, mas elas ainda são exceções. O que parece cada vez mais evidente é que a ajuda ocidental, ao invés de fomentar o progresso, tem contribuído para sua estagnação. Em vez de soluções paternalistas e paliativas, é preciso apostar na liberdade econômica, na responsabilidade institucional e no protagonismo dos africanos.
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Nota: as visões expressas no artigo não são necessariamente aquelas do Instituto Mises Brasil.
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