Tarifas alfandegárias são destruidoras da riqueza
Em 31 de janeiro de 2025, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou que imporia uma tarifa de 25% sobre as importações provenientes do Canadá e do México (com exceção do petróleo bruto canadense e das importações de energia do Canadá, que estarão sujeitas a uma tarifa de 10%) e uma tarifa de 10% sobre as importações da China. Tarifas são impostos sobre produtos que os americanos compram de produtores de outros países.
Seria de se esperar que, dentre todas as pessoas, o presidente Trump, que se orgulha de colocar a América em primeiro lugar, jamais cogitasse impor tarifas. Afinal, uma tarifa sobre qualquer bem importado implica restringir a oferta de produtos mais baratos e incentivar a oferta, no mercado interno, de produtos mais caros produzidos domesticamente (ou seja, punir os consumidores domésticos: os próprios americanos). Em seu livro Economia Numa Única Lição, Henry Hazlitt cita Adam Smith:
“É o princípio de todo chefe de família sensato nunca tentar produzir em casa aquilo que custaria mais para fazer do que para comprar. O alfaiate não tenta fazer seus próprios sapatos, mas os compra do sapateiro. O sapateiro não tenta confeccionar suas próprias roupas, mas contrata um alfaiate. O fazendeiro não tenta fazer nem uma coisa nem outra, mas recorre a esses diferentes artesãos. Todos eles consideram mais vantajoso empregar todo o seu esforço produtivo naquilo em que têm alguma vantagem em relação aos seus vizinhos, e adquirir, com parte do que produzem, ou, o que dá no mesmo, com o valor de parte dessa produção, tudo o mais de que necessitam. O que é prudente na administração de qualquer família particular dificilmente pode ser considerado tolice na administração de um grande reino”.
Além disso, como escreveu Murray Rothbard em Power & Market: “As tarifas prejudicam os consumidores dentro da área ‘protegida’, ao impedi-los de comprar de concorrentes mais eficientes a um preço mais baixo.” Ademais, ao erguer uma barreira de proteção para diversas indústrias domésticas ineficientes, as políticas de Trump acabarão por promover a ineficiência, comprometendo, assim, o processo de geração de riqueza. No artigo The Menace of Tariffs, Llewellyn H. Rockwell Jr. fez os seguintes comentários:
“Trump disse, em uma entrevista, que tarifas elevadas incentivariam empresas estrangeiras a se mudarem para os Estados Unidos, para que assim pudessem evitar o pagamento dessas tarifas. O que esse argumento ignora é que não há nenhum benefício para os consumidores americanos no simples fato de as empresas estarem localizadas aqui, em vez de estarem em países estrangeiros. O que realmente importa para os consumidores é pagar o menor preço possível pelos bens e serviços que desejam; e, se a empresa que oferece o menor preço está na China, e não na América, qual o problema?”
De acordo com Rothbard, em Smashing Protectionist “Theory” (Again):
“Invariavelmente, veremos que os protecionistas estão determinados a prejudicar, explorar e impor perdas severas não apenas aos consumidores estrangeiros, mas principalmente aos americanos. E, como cada um de nós é um consumidor, isso significa que o protecionismo visa extorquir todos nós em benefício de um grupo especialmente privilegiado e subsidiado — e ainda por cima ineficiente: pessoas que não conseguem se manter em um livre e desimpedido mercado.
“Tomemos como exemplo a suposta ameaça japonesa. Todo comércio é mutuamente benéfico para ambas as partes — neste caso, os produtores japoneses e os consumidores americanos — caso contrário, não haveria troca. Ao tentar impedir esse comércio, os protecionistas estão tentando impedir que os consumidores americanos mantenham um alto padrão de vida comprando produtos japoneses baratos e de alta qualidade. Em vez disso, seremos forçados pelo governo a voltar a consumir produtos ineficientes e mais caros que já rejeitamos. Em resumo, produtores ineficientes estão tentando nos privar dos produtos que desejamos, para que sejamos obrigados a recorrer a empresas ineficientes. Os consumidores americanos estão sendo saqueados”.
Considerando que o presidente Trump se vê como um empresário bem-sucedido, é certo que ele sabe muito bem que o objetivo final de todo negócio é obter lucro. Portanto, para ter sucesso como empresário, Donald Trump não permitiria atividades que comprometessem o valor patrimonial de sua empresa. Ainda assim, enquanto presidente, ele considera aceitável esse tipo de prática quando se trata da economia como um todo.
Se políticas como as tarifas enfraquecem o processo de formação de riqueza e prejudicam o bem-estar individual, isso é, obviamente, uma má notícia para a economia como um todo, que, segundo o próprio presidente Trump, é sua prioridade número um. Trump acredita que, por meio das tarifas, pode tornar a economia dos Estados Unidos próspera. Ludwig von Mises disse o seguinte:
“Na base do argumento intervencionista, há sempre a ideia de que o governo ou o Estado é uma entidade fora e acima do processo social de produção, que possui algo que não é derivado da tributação de seus súditos e que pode gastar esse algo mítico para fins definidos”.
O Peterson Institute for International Economics estimou que uma tarifa de 25% — mantida até 2029 — reduziria o Produto Interno Bruto dos Estados Unidos em US$ 200 bilhões. Segundo o Budget Lab da Universidade de Yale, os lares americanos perderiam aproximadamente US$ 1.200 em poder de compra.
A retaliação de países como China, Zona do Euro e Canadá às tarifas impostas por Trump aumenta a probabilidade de uma guerra comercial que irá apenas alimentar o ego dos políticos. Ao elevarem tarifas sobre importações americanas, esses países só tornarão as coisas ainda piores para si mesmos. Qual é o sentido de punir seus próprios cidadãos por causa de uma política econômica equivocada dos Estados Unidos? Restringir as importações americanas nos mercados internos não corrige os efeitos colaterais negativos das tarifas dos EUA.
Se todos os países do mundo impusessem tarifas sobre importações, isso rapidamente paralisaria o comércio internacional e levaria a um empobrecimento econômico em larga escala. Em Power & Market, Rothbard argumenta que o absurdo dos argumentos pró-tarifa pode ser ilustrado com o seguinte exemplo envolvendo dois indivíduos, Jones e Smith. Trata-se de um uso válido da reductio ad absurdum, pois os mesmos efeitos qualitativos que ocorrem quando uma tarifa é aplicada a uma nação inteira também se manifestam quando ela recai sobre uma ou duas pessoas, a diferença é apenas em grau.
“Suponha que Jones tenha uma fazenda, chamada ‘Terras de Jones’, e que Smith trabalhe para ele. Influenciado por ideias protecionistas, Jones passa a incentivar Smith a ‘comprar das Terras de Jones’. Expressões como ‘mantenha o dinheiro nas Terras de Jones’, ‘não seja explorado pela enxurrada de produtos vindos da mão de obra barata dos estrangeiros fora das Terras de Jones’ e outras máximas semelhantes tornam-se os lemas dos dois homens. Para garantir que esse objetivo seja alcançado, Jones impõe uma tarifa de 1000% sobre todas as importações de bens e serviços vindos do ‘exterior’, ou seja, de fora da fazenda.
“Como resultado, Jones e Smith veem desaparecer o tempo livre, ou os ‘problemas de desemprego’, ao trabalharem do amanhecer ao anoitecer, tentando produzir por conta própria todos os bens de que precisam. Muitos deles são totalmente impossíveis de produzir; outros só seriam viáveis com séculos de esforço. É verdade que eles colhem o prometido pelos protecionistas: a ‘autossuficiência’, embora essa ‘suficiência’ se resuma à mera subsistência, em vez de um padrão de vida confortável. O dinheiro é ‘mantido dentro de casa’, e eles podem até pagar salários e preços nominais altíssimos entre si, mas descobrem que o valor real desses salários, em termos de bens, despenca drasticamente.
“De fato, estamos de volta à situação das economias isoladas ou de escambo, como as de Robinson Crusoé e Sexta-Feira. E é exatamente isso que o princípio das tarifas representa. Esse princípio é um ataque ao mercado, e seu objetivo lógico é a autossuficiência de cada produtor individual, um objetivo que, se levado à prática, significaria pobreza para todos e morte para a maior parte da população mundial atual. Seria uma regressão da civilização para a barbárie”.
A imposição de tarifas vai prejudicar os consumidores americanos. Isso sufocará o comércio entre os Estados Unidos e o restante do mundo, além de enfraquecer o processo de geração de riqueza. Segundo Mark Hendrickson, no artigo Trump’s First Big Economic Mistake:
“Em 1850, Frédéric Bastiat escreveu, em seu ensaio clássico A Lei, que as tarifas são um passo em direção ao socialismo. Em suas palavras, ‘protecionismo, socialismo e comunismo são, basicamente, a mesma planta em três estágios diferentes de crescimento’. Os três modelos defendem a intervenção do governo no mercado com o objetivo de determinar quem ganha e quem perde”.
Este artigo foi publicado originalmente no Mises Institute.
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Nota: as visões expressas no artigo não são necessariamente aquelas do Instituto Mises Brasil.
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